5 minutos antes de Hiro entrar na cidade
"Cara, eu realmente não sinto uma sensação agradável por aqui, será que somos sensíveis demais ou esse povo é tão desleixado ao ponto de notar nada? E aliás, cadê a ameaça?" Kieran resmungava o que parecia ser pra si mesmo, apesar de que Gylf já teria ouvido todas as suas questões, ele colocava sua mão sobre o queixo e começava a pensar.
"Agora que mencionou, realmente é estranho, não só o povo está tão distraído e simplesmente não sente essa aura negativa, como permanecem celebrando como se já não tivessem feito isso o dia inteiro, além do mais..." Gylf pausava um pouco para olhar para as estrelas no céu, enquanto caía um suor em seu rosto, com uma expressão indignada e perplexa com a situação atual.
"O tempo...passou. Muito rápido." Kieran olhava, pensando nos momentos antes de adentrar na cidade, onde em apenas um segundo, já tinha passado dos guardas no local.
"Ei... É verdade, e talvez por esse povo sempre estar festejando, não notaram que tem algo acontecendo, e Alaskard é conhecida por ter sua segurança intocável em milênios." Enquanto discutiam mais sobre o tempo ocorrendo de forma instável, Hiro entrava logo em seguida, olhando aos arredores para procurar a coisa que ele acha que está sendo chamado.
Hiro caminhava lentamente pela estrada em direção à cidade.
Hiro segurava sua espada com firmeza, olhando para os portões abertos da cidade de Alaskard. Ele já havia ouvido falar sobre a segurança impenetrável daquele lugar, mas não havia guardas, nem inspeções — apenas uma música distante, que parecia entorpecer o ar ao redor.
"Isso tá errado. Muito errado. Mas... por quê só eu tô sentindo isso?" Hiro murmurava enquanto franzia as sobrancelhas, os dedos apertando o cabo da sua humilde espada.
Mais distante da festa, em um beco mais escuro, as três figuras perceberiam um fluxo inusitado que tinha acabado de chegar na cidade, onde eles logo observaram o garoto.
"Oh...parece que temos um convidado sem nome, por quê ele não foi afetado também pela a minha manipulação?" Virdar questionava enquanto vidrava sua atenção à Hiro, Maghras colocava sua mão no ombro do mesmo, dando algumas tapas do que parecia ser uma forma de conciliação.
"Não se preocupe Virdar, ele pode não ser normal enquanto esses humanos insignificantes que não servem pra nada, mas não deixa de ser apenas um garoto de roça, ele não será uma ameaça para nós, agora devemos focar nessa noite... Ei, Chronax."
Maghras chamava a atenção da outra figura que estava um pouco mais pra trás, olhando para as estrelas e da lua em sua forma minguante, soltava um leve suspiro enquanto retirava seu capuz de sua cabeça, revelando ter uma aparência sem vida, com seus cabelos brancos e seus olhos completamente brancos, acompanhados de cicatrizes em seu rosto e queimaduras, a única coisa que era normal era sua boca e um lado de sua bochecha, que também continha uma cicatriz em forma de quadrado.
"Tudo bem senhores, não vamos se apressar tanto, afinal..." Ele subia seu dedo indicador diretamente para a lua, que apenas um instante, soltava uma aura invisível ao redor de toda a cidade, cobrindo ela em uma barreira invisível, ele abaixava sua mão e começa a rezar. "Devemos orar para a gratidão de todos estes voluntários ao sacrifício para a sucessão do nosso mestre, o homem cujo será nomeado pelo universo como o rei dos monstros, e da mais alta patente, humanos..."
Maghras também retirava seu capuz, logo se metamorfando para o que parecia ser sua forma original, fazendo crescer mais um par de braços, seus músculos apertavam drasticamente a sua roupa e era rasgada em algumas partes, e o outro par de braços também fariam buracos pra sair de baixo da roupa, Maghras era da raça demônio, que foi misturado com uma outra raça que já tinha sido extinta, titãs de sangue, sua pele ficava num tom vermelho escuro, e seu rosto se deformava, criando chifres e dentes tão grandes que saía da boca.
"Sério... Eu não sei como você ainda tenha alguma consideração com esses vermes, como nosso mestre sinceramente os considera uma raça de monstros melhor que a nossa?!" Maghras antes de falar qualquer outra coisa era interrompido por Virdar, que estava constantemente sussurrando algo para si mesmo enquanto também retirava seu capuz, seus cabelos castanhos com mechas azuis e seu rosto era sereno, como se ele fosse um humano mesmo, porém com algumas escamas saindo de suas bochechas e olheiras, seus olhos eram um azul marinho bem destacados, onde suas pupilas dilatariam em uma forma como se fosse um réptil.
"Não subestime a ideologia do nosso mestre dessa forma, obviamente ele tem seus motivos de achar que os humanos tem seu espaço para serem considerados "monstros". Apesar de serem tão fracos, eles são imprevisíveis e carregados de maldade e ódio, tanto que eles fazem barbaridade com a sua própria raça, eu posso entender um pouco a visão dele."
Maghras quando estava prestes a falar, Chronax colocava ambas as mãos nos ombros deles.
"Vamos meus irmãos, não é a hora de discutimos de coisas que não é relevante na nossa missão atual, a noite será longa, então podemos causar o maior caos que Luminaria já viu, a sociedade Ordo também não poderá fazer nada além de olhar as chamas subirem, cada sangue irá aumentar nossas preces, e no fim, seremos aqueles que transcenderemos apenas para servir nosso mestre, e teremos a oportunidade perfeita para espancar este herdeiro maldito." Com aquilo, toda a cidade tremeria, a tal ilusão de festividade eterna de Virdar finalmente dissiparia, e cada morador estavam questionando sobre o que está acontecendo, Gylf e Kieran logo notam aquilo e vão correndo ao local que mais estava sendo afetado, junto com Hiro.
"Essa sensação... é como se a cidade estivesse presa em um ciclo. Alguma coisa ou alguém está manipulando o tempo aqui." Kieran dizia com os olhos semicerrados, correndo enquanto ia examinando cada rosto no meio da multidão assustadas e confusas do que estava acontecendo.
"Sim, e essa manipulação não é natural. Está alinhada com algo muito mais antigo e maligno. Já vi esse tipo de magia antes." Gylf ajeitou sua capa, seu tom apressado e firme contrastando com a gravidade de suas palavras.
Hiro, seguindo os instintos, se aproximou.
Os tremores guiaram seus passos. Ele passou pelas multidões, desviando de rostos confusos e assustados. Quando chegou à praça, notou duas figuras já no local.
Um deles, de cabelos escuros bagunçados e armadura desgastada, estava de pé, encarando as rachaduras no chão. O outro, um homem mais velho, com um ar de sabedoria, parecia murmurar algo enquanto analisava o espaço. Hiro parou por um instante, sem saber o que fazer, mas a sensação de perigo iminente o obrigou a agir.
"Vocês dois aí!" Hiro gritou, aproximando-se. "O que está acontecendo aqui? Vocês sabem de alguma coisa?"
Kieran virou-se lentamente, seu olhar sério, porém surpreso ao ver a aparência de Hiro. Ele analisou o jovem por um momento antes de responder. "Deveria ser eu a perguntar quem é você. Não é comum encontrar alguém que não esteja completamente entorpecido por essa manipulação."
Gylf cruzou os braços, um pequeno sorriso no rosto. "Interessante. Ele também não foi afetado... isso é raro. Talvez você tenha mais importância nessa confusão do que pensa, garoto."
Hiro estreitou os olhos, irritado com o tom de superioridade dos dois. "Eu não sou nenhum 'garoto'. Só estou aqui porque senti algo errado vindo desse lugar. E vocês claramente sabem mais do que eu."
Antes que mais palavras fossem trocadas, o chão tremeu violentamente. As rachaduras se abriram, revelando um brilho vermelho-vivo vindo do subsolo. Uma energia escura subiu no ar, fazendo os três colocarem as mãos nas armas.
"Não temos tempo para apresentações formais." Kieran disse, já se posicionando em guarda. "Se quiser sobreviver, melhor lutar ao nosso lado, garoto."
Hiro bufou, mas não teve tempo de responder. Do centro da rachadura, uma figura grotesca começou a emergir — uma criatura de forma indefinida, coberta de sombras e com olhos brilhantes que encaravam os três.
"Ah, ótimo." Hiro murmurou, erguendo sua espada. "Exatamente o que eu precisava." Kieran notava que Hiro não tinha ficado nem de perto assustado com um bicho daquele tamanho.
"Ohh, então parece que tu não tem medo disso, huh?!" Kieran avançava, e em apenas um movimento, fazia aquele mesmo monstro de classe inferior em pedaços, antes mesmo do monstro notar
Com o rosto sério e os olhos fixos no movimento do monstro que acabara de ser derrotado, Hiro comentou sem hesitação, enquanto limpava o sangue em sua roupa:
"Estou acostumado a enfrentar monstros. Eles nunca me causaram medo. Toda vez que aparecem, sempre sobra pra minha vila. Não conseguem ultrapassar a cidade, então acabam indo pra lá."
Kieran e Gylf trocaram um olhar rápido, mas antes que pudessem responder, novos tremores sacudiram o solo. Fendas surgiram ao redor, e mais monstros semelhantes começaram a emergir das profundezas. Suas formas grotescas e rugidos ensurdecedores preenchiam o ambiente.
"Tem algo errado..." murmurou Gylf, franzindo a testa enquanto olhava ao redor.
Kieran cerrou os punhos, sentindo o Bestiário pulsar em seu interior como se o avisasse de algo maior. Ele então afirmou com convicção:
"Todo o subsolo... isso é um ninho de monstros."
Antes que pudessem se preparar completamente, as criaturas começaram a atacá-los em grupos, investindo com violência. Kieran e Gylf lutavam lado a lado, cada golpe de suas armas derrubando um monstro após o outro. No entanto, enquanto estavam focados em eliminar a ameaça à sua frente, uma das criaturas escapou, disparando em direção a Hiro.
Com passos firmes, Hiro manteve sua calma. Sem hesitar, segurou a espada que estava empunhada em seu braço enfaixado. Concentrando-se, ele desferiu um único corte vertical, rápido e letal. O monstro foi partido ao meio, suas metades caindo pesadamente no chão enquanto sangue e tripas voavam, sujando Hiro completamente.
Kieran observou a cena, claramente impressionado. Ele nunca havia visto tamanha força vinda de um humano comum.
"Isso... isso não é normal." comentou Kieran, ainda processando o que acabara de presenciar.
Hiro limpou o rosto com as costas da mão, encarando Kieran e Gylf com seriedade.
"Pra mim, isso é só mais uma semana. Toda semana passo por uma horda de monstros. Isso não é nada além da minha realidade. "
No outro lado, observando tudo de uma distância segura, estavam Maghras, Virdar e Chronax. Maghras batia os dedos no braço, claramente impaciente, enquanto seus olhos estavam fixos no trio.
"Não aguento mais assistir isso." resmungou ele. "Já vou esmagar esses três agora."
Virdar cruzou os braços, lançando um olhar sério para Maghras.
"Ir sozinho não é uma boa ideia. Ainda nem começamos a implementar o caos que queremos aqui."
Maghras, no entanto, deu de ombros, sua expressão carregada de desprezo.
"Eu não vou morrer para três vermes como aqueles."
Sem esperar mais, ele partiu em direção ao campo de batalha, desaparecendo em um salto poderoso. Virdar soltou um suspiro irritado, enquanto Chronax apenas abriu um sorriso divertido.
"Maghras é tão forte que poderia facilmente dominar um continente inteiro." comentou Chronax, seus olhos brancos brilhando com uma confiança sombria. "Nem nos meus sonhos mais absurdos eu consigo imaginá-lo perdendo."
"Eu sei, mas não é este o nosso objetivo, não podemos simplesmente matar logo a falsa esperança deste povo... Não teria graça em alimentar nossos monstros de caos." Chronax permanece quieto, apenas observando o campo de batalha.
O caos consumia o local enquanto mais monstros emergiam do chão, espalhando terror entre as pessoas. Gritos de desespero ecoavam, e o cheiro de sangue começava a se misturar ao ar pesado. Kieran, suando e ofegante, tentava se mover rápido o suficiente para salvar os civis ao mesmo tempo em que eliminava os monstros. No entanto, por mais que lutasse, parecia impossível evitar todas as mortes.
"Não é justo!" gritou Kieran, frustrado, ao ver outro grupo de pessoas ser atacado por uma das criaturas. Ele cortava o monstro ao meio, mas já era tarde demais para alguns.
Gylf, ao seu lado, continuava lutando com maestria, mas sua voz soava firme e implacável.
"Kieran, não podemos salvar todos. Não importa o quanto você tente, sempre haverá perdas. O importante agora é que a cidade não caia e apodreça de dentro pra fora. Precisamos achar o núcleo disso tudo e acabar com a fonte."
Antes que Kieran pudesse responder, Hiro, que observava os arredores com atenção, arregalou os olhos. Ele percebeu algo vindo numa velocidade desumana.
"Ei, cuidado!" gritou Hiro, avançando sem hesitar.
"Mas o que?!-"
Antes de Gylf reagir, ele puxaria o mesmo para o lado, apenas no momento exato para defender o ataque. Maghras, com um soco duplo devastador, acertou o braço enfaixado de Hiro com tanta força que o ar ao redor estremeceu. O impacto jogou Hiro com violência contra uma casa, destruindo-a completamente.
Gylf e Kieran ficaram paralisados por um momento, chocados pela força do golpe e pela reação de Hiro, que, mesmo como um humano, conseguiu defender um ataque tão poderoso.
Maghras, por sua vez, olhava para sua mão e depois para os escombros onde Hiro havia caído, incrédulo.
"Como um humano conseguiu reagir ao meu ataque?" murmurou Maghras, intrigado.
Sem perder tempo, Gylf e Kieran tentaram atacá-lo em conjunto, um mirando sua cabeça e o outro seu abdômen. Mas Maghras, sem esforço, leu os movimentos de ambos. Ele parou as lâminas dos dois com um par de braços, segurando suas armas no ar, enquanto seus outros braços permaneciam cruzados, sem demonstrar preocupação.
"Patético." disse Maghras, com um sorriso frio.
"Vocês são previsíveis."
Enquanto isso, ele continuava pensando naquele humano que havia conseguido defender seu soco. Sua curiosidade foi interrompida quando um som de escombros se movendo chamou sua atenção. Hiro emergiu dos destroços, seu braço enfaixado mais solto do que antes, revelando parte da pele abaixo, que era completamente negra, cheia de rugas monstruosas.
O braço de Hiro estava completamente quebrado, mas, diante dos olhos de todos, começou a se regenerar em questão de segundos. As veias pulsavam com uma energia incomum, e o osso parecia se reconectar sozinho.
Maghras estreitou os olhos, intrigado e, ao mesmo tempo, impressionado.
"O que diabos é você?" perguntou ele, com um sorriso de excitação se formando em seus lábios.
Gylf e Kieran, igualmente surpresos, olharam para Hiro, que mantinha uma expressão calma, embora seus olhos demonstrassem determinação feroz.
"Não importa o que eu sou." respondeu Hiro, caminhando lentamente em direção a Maghras.
"O que importa é que você não vai destruir esta cidade."