Hallowvile é uma das cidades mais perigosas de Tailwind, o comportamento do rei atual contribuiu ainda mais com isso, trazendo um período ainda mais rígido aos seus cidadãos tornando a pobre cidade um inferno pra qualquer visitante, a cidade foi tomada pela criminalidade enquanto o seu rei era tomado pela loucura da violência e seu prefeito pela ganância, acompanhando e se aproveitando da criminalidade local.
Pelas ruas que cheiravam à mijo infestadas por pessoas que mal se nutriam corretamente e se afogavam na própria luxúria, um camponês com roupas até um pouco intactas caminhava lentamente, seus olhos e cabelos tinham uma cor escura, seu rosto no entanto continha uma expressão leve, marcada por um leve sorriso que mostrava um pouco de malícia e olhos quase fechados revelando parte de suas intenções ao que invés de um brilho vívido seus guardavam um profundo vazio, ódio e nojo. Logo um outro homem machucado se agarrava em sua perna interrompendo em seu caminho, a única coisa que se podia ver em seus olhos era desespero e escapismo, suas feridas ainda não completamente cicatrizadas, doíam mas eram quase esquecidas por seu estado atual, ele fedia assim como as ruas, em uma de suas mãos ele segurava uma garrafa vazia de corote, sua aparência e odor entregavam o estado atual de sua mente, então esse homem alcoolizado abria sua boca desejando um pouco mais da garrafa vazia que segurava em suas mãos:
"Me desculpa meu amigo, você tem algum trocado pra mim?"
O camponês mantinha seu olhar afiado enquanto observava o homem com pena, ele sabia que mesmo que entregasse dinheiro à ele, o bêbado só iria comprar mais algo para satisfazer seu vício e seguir com o ciclo vicioso até a sua eventual morte, ouvir as pobres palavras daquele homem era tão doloroso quanto uma facada:
"Não senhor, estou procurando um emprego, eu não tenho mais nada"
O bêbado apesar de seu estado deplorável soltava a perna do jovem camponês, momentaneamente o observando com um leve brilho de esperança, mas ele seguia e apenas voltava a sentar em seu lugar, frustrado por ter falho em conseguir mais uma garrafa de corote, enquanto isso o camponês seguia seu caminho, uma padaria local.
Ao chegar em seu lugar designado ele é bem-vindo pela dona, uma mulher baixinha e levemente acima do peso com cabelos ruivos parecendo estar entre 40-50 anos, ela reconhecia seu rosto naquele mesmo instante e ficava surpresa:
"Sunny!, há quanto tempo não é mesmo? Quanto tempo que não te vejo, faz... dois? três dias?"
O rosto que ele carregava se tornava mais leve e genuinamente feliz diferente de seu estado anterior enquanto passava pelas ruas, rindo enquanto olhava pra Dona de seu serviço:
"Sabe como é né? Acabei me metendo numa furada, mas pelo menos eu to inteiro, mas nem fiquei fora tanto tempo assim"
A mulher continuava sorrindo em resposta ao garoto o observando com um leve tom de preocupação, mas era rapidamente trocado por outra pergunta:
"As coisas andam rápidas por essa cidade, sabe como é né? Eu achava que nunca mais ia ver você, não tenho notícias do meu marido faz quatro dias haha, você disse que ia achar ele, pensei que tinha perdido você também"
Ela colocava a mão em sua cabeça, nervosa e um pouco triste, aliviada pelo fato do garoto ter retornado, mas triste pela ainda ausência de seu cônjuge. Sunny um pouco nervoso passava a procurar algo em seu bolso, algo enrolado em um pano, seu rosto feliz perdia sua cor enquanto o mesmo se revertia:
"Eu o achei senhorita Olivia"
A mulher se animava com a informação enquanto a dúvida subia em sua cabeça sobre o que estaria guardado naquele pano que o garoto carregava consigo, sua expressão ficava nervosa enquanto lentamente ele se aproximava do balcão qual ela estava:
"De fato foi bem difícil, as pessoas são bem cruéis"
Entregando o pano ela sentia um pouco do conteúdo interno gelado, desenrolando enquanto seus olhos brilhavam de emoções fortes até finalmente revelar a mão de seu marido com o anel de casamento, ela tremia, mas não largava de forma alguma, segurando com força sentindo o seu frio, enrolando no pano novamente e abraçando com força. Ela se agachava no chão de joelhos olhando ao chão enquanto friamente o jovem observava o seu rosto cheio de tristeza:
"Meus pêsames senhorita Olivia, eu fiz tudo que estava ao meu alcance"
A voz emocionada da mulher em choque e luto, enfraquecida tentava soltar alguma coisa:
"Obrigado Sunny, agora eu sei que eu não preciso espera-lo mais..."
Ela caía em lágrimas enquanto segurava da mesma forma que o bêbado uma das pernas de Sunny, ele se agachava junto a ela abrindo seus braços, a mulher chorava em seu ombro, chorando por um tempo, até finalmente falar alguma coisa novamente:
"Sabe Sunny, eu fiquei tão feliz quando te encontramos, todos os nossos filhos morriam cedo e desapareciam, nos achávamos pais horríveis e defeituosos, incapazes de cuidar de uma única criança... até o dia que encontramos você novamente, que nos guiou pra um caminho melhor e nos mostrou, que não éramos tão horríveis quanto pensávamos, sozinho, você... com aquele seu sorriso, no fez acreditar novamente nos outros e esquecer alguns dos nossos pecados"
"Obrigado Sunny, por ser o nosso filho..."
"Eu esperei muito... eu não tinha coragem de te chamar de filho, achei que você ia nos abandonar..."
Ele apesar de ouvir aquelas palavras ainda se sentia vazio, a culpa de não ter conseguido encontrar o seu pai, mas ainda assim suas palavras ainda se mantinham em pé e alto som:
"Senhorita Olivia, eu também não tenho coragem, por isso eu vim até aqui, eu queria conhece-los e saber o motivo daqueles que eu amei terem me deixado pra trás, mas não se preocupe, eu não te odeio, agora eu sei, o motivo de eu seguir em frente"
Ela abraçava ainda mais forte o garoto enquanto as lágrimas lentamente desciam de seu rosto, sentindo sua incapacidade de para-lo:
"Você... vai me deixar?"
O garoto se levanta enquanto sem reação sua mãe perdia o contato físico, a olhando nos olhos com determinação enquanto sua expressão quando chegou ao bar retornava aos poucos:
"Não se preocupe Senhorita Olivia, eu encontrei o que eu precisava, agora eu só preciso seguir em frente, vou tomar cuidado"
Um manto escuro surgia em seu corpo enquanto ele virava as costas pra sua mãe, o manto era escuro como a noite, com poucos toques dourados nas pontas, mas o que mudava principalmente era aura negra ameaçadora vazando de seu corpo, finalmente revelando o que se escondia por trás dos seus olhos, Sunny desaparecia daquele lugar, cortando de vez a sua última ligação familiar e finalmente revelando quem era, Sunny era Sun Eater.
Ao anoitecer ele se esgueirava em um teto observando o que parecia uma prisão, e também uma das maiores bases de bandidos de Hallowvile, Sun Eater já era uma figura conhecida pela cidade, um homem que se dizia algo além de humano, essa baboseira toda levou os bandidos a caçoarem de tal nome, mal sabendo que acima de suas cabeças, ele os observava como presas:
"Que coisa feia..."
Uma voz feminina era escutada ao seu lado com o tempo ficando mais grossa até parecer a de um senhor de idade:
"Não é? Eu achei que eles ao menos iam juntar muito mais gente aqui, mas parece que me enganaram direitinho"
Sun Eater nem ao menos se virava sabendo já da identidade da pessoa ao seu lado:
"Grey, me conta vai, já foi todo o resto?"
A voz que parecia de uma mulher bem nervosa finalmente se transformava de vez na de um senhor, então começava a dissertar o seu relatório à seu chefe:
"Foi uma loucura, fui quem mais teve trabalho, o resto ficava quase praticamente vagabundeando por aí, mas de alguma forma a gente conseguiu destruir as outras bases, só sobrou... a prisão"
Sun Eater não mudava de forma alguma seu tom, novamente sem nem olhar na cara de seu companheiro para responde-lo, enquanto observava atentamente a base dos bandidos, uma prisão:
"Você tava com o Des e a Tiny, eles vão subir pro mesmo cargo que você no futuro, mas fico feliz que tenha terminado tudo, agora volta pro personagem antes que alguém te perceba"
Nervosa, a voz ia embora deixando Sun Eater por si só, terminando de observar o local ele se joga em direção ao chão próximo em meio à todos.
Sua queda é barulhenta e nada elegante, destruindo os restos do chão, espalhando fumaça e detritos que atingem alguns dos bandidos próximos. Os bandidos confusos olham pro local onde houve tamanha agitação sem nem ideia do que aquilo poderia ser, mas logo a figura lentamente é revelada enquanto a fumaça desaparecia. O antes homem simples com vestes de camponês e um manto escuro com toques dourados, tinha seu corpo inteiro coberto pela escuridão da noite e possuída por uma aura que exclamava até o fundo da alma dos bandidos que sentiam a sua presença, aquele monstro sem sombra de dúvidas, era Lúcifer.
"Estou procurando um homem, sabem? Seu nome é Gavon Smith, já ouviram falar?"
Os bandidos apesar de abalados com sua presença, ainda tinham fôlego para contestar a força daquele que os mostrou o quão pequenos eles eram, era demais aceitar alguém daquele porte, logo não demorou muito para um deles avançar pra cima. Acertando na cabeça em cheio, o som de metal batendo em carne ecoava no meio dos bandidos que subiam um sorriso nervoso ao acerta-lo, no entanto o resultado era previsível, o homem se mantinha em pé e intocado, enquanto percebiam sangue caindo no chão, afinal o homem que o acertou foi perfurado por uma estaca de escuridão em suas costas, determinando seu óbito por danificação de órgãos internos e perda de sangue:
"Vou perguntar mais uma vez, onde está Gavon Smith?"
Seguido da morte de seu companheiro, os outros bandidos avançam em histeria, avançando e acertando Sun Eater impiedosamente que sem nem menos suspirar os observa com o seu olhar vazio de nojo e ódio, somados à aquele sorriso que a cada acerto ficava ainda mais sombrio:
"Que pena não é, parece que eu vou ter que descobrir por conta própria"
Uma magia de fogo era solta em suas costas, qualquer um pode ser um bandido, até mesmo um mago de classe alta. Ao receber o ataque, ele não era diferente dos outros, mas ele enxergava algo a mais naquele homem, o fazendo caminhar para cima dele, o mago tentava novamente soltar bolas de fogo em direção de Sun Eater, apenas para serem defletidas em direção aos bandidos companheiros à sua volta, até finalmente ele alcança-lo. A encarnação de Lúcifer colocava a sua mão sobre o peito do mago, arrancando algo do mesmo que nem ele sabia exatamente o que era, um núcleo em formato de esfera estranho feito de energia:
"Vocês devem ter dúvidas não é? pelo meu nome ser Sun Eater, dentro de cada pessoa, nasce um potencial não completamente definido, esse é o Sol interno"
O mago sem aquele objeto dentro de si, perde a consciência e logo após a sua vida:
"Algo como uma alma e eu as devoro, então se não quiserem ser os próximos, podem ir saindo da minha frente"
Ele engole o "Sol" daquele homem, o saboreando como se fosse um petisco e logo após o engolindo. Logo ele levanta a sua mão e aponta para aqueles que estão próximos
"Antes que eu use a magia desse idiota pra matar todos vocês"
Os bandidos saem de sua direção e um se aproxima com medo, se curvando à Sun Eater em pavor:
"Eu... sei onde ele está, então... por favor, não nos mate"
Sun Eater mexe sua cabeça parecendo que concorda e passa a seguir o homem. Sendo levado até o fundo da prisão, vendo todos os tipos de criminosos, algumas celas estão soltas, outras ainda fechadas e algumas estavam destruídas. Mas finalmente chegando no fim ele se depara com uma cela no fim do corredor, contendo um homem com uma barba enorme ruiva, características que viriam geralmente de anões, mas ele era alto, alto o suficiente para sair dessa categoria brincando, ele vestia simples roupas rasgadas de detentos, mas ao observa-lo melhor ainda assim ele ainda tinha um pouco de presença:
"Gavon Smith, Gavon Smith, quem diria que o homem por trás da Hydra seria traído por seu rei não é?"
Gavon ficava nervoso ouvindo aquelas palavras, negando qualquer relação com o rei atual:
"Aquele imbecil ditador imundo não tem nenhuma relação comigo, ele matou o meu verdadeiro rei e me jogou nesse lugar fedido"
O sorriso de Sun Eater intensificava ficando mais assustador enquanto o bandido ia embora, mas o senhor continuava falando:
"Você já sacou né? Eu mando nessa parada, o que você quer fruto do pecado?"
Sun Eater tirava por hora o seu sorriso e observava atentamente o homem à sua frente:
"Sabe, é como se eu pudesse te oferecer um acordo, eu tiro aquele idiota do poder e tomo em seu lugar, então você pode fazer o que quiser"
Gavon fica ainda mais nervoso olhando para o monstro em sua frente:
"E que tipo de mundo você iria criar?"
Sun Eater abria lentamente seus olhos quase fechados, demonstrando seu olhar completo em seriedade:
"Quero acabar com todos, um por um, logo eu preciso de você ao meu lado, você sabe que não quer recusar"
Gavon nervoso ainda, finalmente perde o seu tom agressivo, olhando gentilmente ao garoto:
"Tudo bem, você me pegou moleque catarrento, mas, eu só quero matar aquele maldito com algo que eu criar, nada além disso, pode ser usado até mesmo por você, eu não me importo, mas eu quero que seja algo que venha diretamente criado por mim"
Sun Eater, o observa enquanto o seu sorriso retorna junto à sua expressão diabolicamente pacífica, se aproximando do homem, assim ambos apertam as suas mãos com força, chegando em um acordo mútuo, juntando todos os bandidos de Hallowvile à seu favor e podendo finalmente iniciar sua caçada ao trono e ascensão.