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Chapter 3 - Burning Ashes

Pouco tempo após liberar Gavon, Sun Eater e ele iniciam longas negociações, que duram cerca de algumas horas dentro de uma sala fechada simples. Duas cadeiras quais ambos se sentavam e uma mesa, nada mais. Gavon estava gargalhando de algo que Sun Eater o disse naquele momento, mas aquele humor muda rapidamente para uma expressão frustrada e ele acerta a mesa no meio da sala com seu punho, a quebrando completamente. Nervoso expressando seus sentimentos, Gavon diz com longas pausas:

"Que droga... então era isso? Eu deveria, eu deveria... droga... eu tô contigo moleque, mas aí, a igreja e o resto, como que vai fazer?"

Gesticulando sobre o atual estado de Hallowvile, ele questiona o plano do moleque à sua frente:

"Cê ta ligado que vai dar problema ficar mexendo com tudo assim né? Hallowvile não é tão simples a ponto dos bandidos dominarem tudo de forma unilateral e todos nos obedecerem o tempo todo"

Sun Eater respondia calmo, sua expressão era a mesma de sempre, mantendo um sorriso e olhos fechados, quais impediam os outros de enxergarem suas intenções:

"Mas é claro que eu sei, o prefeito nem vai ser problema, creio que mesmo sem você eu já tenha uma forma de ameaça-lo, por mais inteligente que pareça, ele é fraco demais, o homem que recusou a ajudar as pessoas dessa cidade, é muito mais patético do você mesmo já achava"

Gavon ficava curioso, mas resolvia deixar o assunto pra lá:

"E a igreja?, não vai me dizer que você já sabe exatamente como lidar com aquela garota, claro, com a sua força não é algo que duvido muito, mas ela é bem peculiar eu te digo, alguém tão perigoso já dominado pela religião, se vendo incapaz de ajudar os outros todos os dias, finalmente encontrando uma oportunidade de exterminar Lúcifer? Não acha que, seria um problemão?"

Sun Eater mantém seu sorriso, olhando para Grey que estava fora da sala. Grey entrava, revelando sua forma, um senhor estranhamente preservado, vestindo um terno com gravata preta e cabelo curto grisalho. Assim Sun Eater confirmava, olhando para Grey:

"É claro, você já sabe o que fazer não é?"

Gavon olha para Grey, acompanhando a visão de Sun Eater, curioso sobre o que aquele senhor seria capaz de fazer, o mesmo apenas acena com a cabeça e anda pra fora do lugar já sabendo das ordens de Sun Eater antecipadamente. Mas Gavon ainda não havia terminado tudo, continuando a falar:

"Não se esqueça da pessoa que a retornou também, o velocista é bem durão"

Sun Eater ainda não muda sua expressão e seu tom se torna um pouco mais ríspido:

"Aquele cara é?... eu lido com ele, vou deixar Grey cuidar disso por agora, tem uma coisa que eu tenho que preparar até lá, vou precisar da sua ajuda"

Estalando sua língua, Gavon entrelaça seus dedos, sentando em uma posição ereta, seu rosto perde a cor, já sabendo do que Sun Eater estava dizendo:

"Que saco... Mas é jeito não é? Eu quero matar logo aquele desgraçado, então não vamos enrolar muito"

Dentro de uma igreja aos pedaços, havia uma mulher pássaro coruja, apesar de ser Hallowvile, ela ainda era relativamente bem vestida, com roupas pretas de clérigo e um chapéu, ela se ajoelhava sobre uma estátua, rezando e cuidadosamente segurando um terço em seu peito, enquanto já esperava uma certa pessoa aparecer. Grey finalmente coloca seus pés dentro da igreja, observando a garota pelas costas:

"É engraçado, alguém tão baixo como você ainda se considera uma criação de Deus"

A garota se levanta lentamente ainda observando a estátua à sua frente, mas logo virando a cabeça completamente para trás, abrindo seus olhos e revelando sua forte cor laranja:

"Sou algo feito pelo homem, mas mesmo alguém como eu, fui digna de receber a sua benção, no final, ele foi o único qual me escutou e quem me trouxe aqui"

Ela pisca seus olhos com seu rosto livre de expressões, seu tom se torna um tanto grosseiro, finalmente se referindo ao visitante:

"Eu consigo ver dentro dessa sua fantasia lobinha, você não é quem diz ser de forma alguma, mas o que esperar de um servo daquele que tanto desprezo?"

No rosto de Grey, um sorriso maléfico se abria, qual a garota igualmente respondia com uma expressão de puro desprezo. Grey logo começava a provoca-la:

"E o que alguém tão baixo quanto você sabe sobre mim? mas eu sei muito sobre você"

Ele suspirava e com um sorriso malicioso começava a expor a garota:

"Project Phoenix, um projeto que buscava reviver a fênix morta há mais de 50 anos atrás, os alquimistas e bruxos loucos de Tailwind sequestraram harpias crianças durante o grande extermínio dos fracos, o tipo não importava, mas o que importa é que você uma dessas harpias"

A cada palavra que saia da boca de Grey, mais incomodada ficava a garota, ao ponto que sua paciência finalmente se esgota, revelando sua agressividade. Ela move suas asas como se estivesse arremessando algo, ejetando diversas penas de suas asas em direção à Grey, que facilmente desviava dos ataques. As penas eram duras e afiadas como adagas, certamente uma arma extremamente letal caso acerte o alvo. Apesar de tudo, Grey ainda não tinha terminado:

"Fea não é? Esse é o seu nome, ou devo dizer peninha, ou 651, sei lá"

As afiadas penas se recuperavam rapidamente no corpo de Fea, ardendo na sua carne intensamente enquanto cresciam outra vez, mas era a única forma de atacar que ela conseguia pensar, destruindo a igreja aos poucos, junto de sua mente já debilitada. Lutar era uma tarefa dolorosa em todos os sentidos, mas para se proteger e proteger aquele lugar, ela precisa derrotar o inimigo à sua frente, desistir de lutar, era desistir de sua crença e tudo que ela tinha, assim ela continuava jogando suas penas com esperança de acertar.

Grey ainda não atacava, observando Fea, que finalmente tentava algo diferente, qual começava a juntar algumas penas em suas costas enquanto jogava outras, as escondendo como um ataque surpresa. Confiante de sua força, Grey continuou provocando ela ainda mais expondo seu passado:

"Mas um dia essa palhaçada de Project Phoenix acabou, por intervenção da igreja, logo eles guardaram sua maior arma em um lugar onde ninguém iria esperar"

A expressão de desprezo no rosto de Fea se tornava ódio uma vez só enquanto ela rangia os seus dentes, os ataques com as penas se tornavam ainda mais intensos, mas mesmo assim ainda eram incapazes de acertar Grey. Infelizmente para o azar de Fea, seu oponente era muito mais forte e ela se cansava. Grey finalmente partia pra cima com um soco, mas Fea habilmente com seu esforço restante tentava bloqueá-lo com suas asas, apenas para serem aparadas e a mesma ficar vulnerável. Quando Fea percebia a dor em seu peito, o braço de Grey já estava entre suas entranhas, penetrando em sua carne, enquanto a seu corpo incansavelmente sentia todas aquelas dores. Logo Grey ainda em provocação, continua a humilhar a pequena clériga que sofria em suas mãos:

"Sabe, até mesmo para uma aberração, seus batimentos cardíacos são até um pouco adoráveis, imagino a sua expressão, quando eles pararem"

Mantendo a consciência com muita dificuldade, Fea ainda respira, enquanto Grey se aproxima do seu ouvido lentamente:

"Que pena... uma aberração como você não nasceu para continuar viva nesse mundo por muito mais tempo"

Sangue saia da boca de Fea, ela se agarrava em Grey, lançando seu último ataque desesperado. Acertando Grey com todas as penas guardadas em suas costas, o corpo de Grey ferido, cai ao chão parecendo apenas um amontoado de sangue e carne. Mas ao tentar se mover um pouco, Fea percebe seu cansaço e fraqueza, sentindo que havia algo faltando dentro de seu corpo. Grey se levanta, tirando todas as penas de seu corpo, que parava de sangrar enquanto a sua aparência de um senhor se revelava como um disfarce, desde o começo a garota estava certa, Grey não era um senhor de idade como dizia ser, mas isso já não era mais importante, pois ao olhar a mão de Grey, ela via o próprio coração. Fea cai ao chão enquanto seu corpo funciona por aquele ínfimo tempo restante, sentindo sua consciência desaparecer:

"Que frio... Devolve..."

Grey o esmaga e o joga contra o chão próximo à garota, que ainda tenta alcançar o que sobrou daquele órgão, um esforço inútil, logo seu corpo para de se mover, cedendo ao doce abraço da morte. No entanto Grey percebe que alguém estava lhe observando naquele instante. Antes que possa ter qualquer reação, um chute extremamente poderoso acerta seu torso, o jogando contra a parede da igreja. O autor é um outro ser pássaro, com características dessa vez que lembravam um Falcão-peregrino, vestindo uma armadura leve, mas claramente sendo um paladino dado o seu capacete e suas vestes vermelhas e brancas. Então nervoso, olha até Grey incrédulo, quase consumido pela ira:

"O que você fez?"

Ele olhava pra garota sangrando ao seu lado, já morta, se aproximando e analisando seu rosto de dor e sofrimento em seus últimos momentos. Assim novamente ele tenta avançar para atacar, finalmente cedendo ao seu ódio:

"EU VOU TE MATAR!"

Mas ao tentar atingir Grey mais uma vez, em seus pés e asas surgiam tentáculos escuros, o segurando firme, o impedindo de se mover. Sun Eater finalmente se revela junto à sua expressão de sempre:

"Ora ora, não se é o Velocista, te conheço amigo, preciso que faça um trabalho pra mim"

O Velocista nervoso, ainda se forçava, tentando se soltar dos tentáculos, apenas para eles o prenderem com ainda mais força. A aura de Sun Eater então vaza de seu corpo, devorando até mesmo o ódio do pássaro, que com dificuldade tentava falar alguma coisa:

"Por favor, me solta, ela, ela..."

O coração da garota qual já deveria estar dada como morta, estranhamente aumentava sua temperatura rapidamente, pegando fogo até se tornar cinzas. Sobre seus olhos e boca o fogo surgia como um lança-chamas, quais recuperavam o seu corpo em questão de segundos. Suas penas se tornavam umas só com o fogo enquanto o buraco em seu peito era coberto novamente por carne e pele. Logo ela se levanta sem consciência alguma, gritando de dor, agonia e sofrimento. Sua voz era completamente alterada pela transformação e suas lágrimas eram evaporadas por conta da temperatura. O corpo de Fea, coberta pelas chamas revelava a sua identidade como parte do Project Phoenix, suas penas antes marrom, agora queimavam intensamente como uma chama viva, seus olhos laranjas, se tornavam ainda mais intensos, brilhando como um fogo inapagável. A antes inocente clériga se tornava um monstro voador de chamas ardentes. Então Fea suplicava por ajuda:

"Socorro Ether! Socorro! Me ajuda! Eu to... sozinha!"

Ether, o velocista, fica completamente em choque vendo sua irmã naquele estado, mas ele ainda era incapaz de se mover. Logo Sun Eater dava suas ordens:

"O seu trabalho é simples, faça o caminho pra fora daqui, encontre uns idiotas e os mate, nós iremos evacuar todos nesse lugar de qualquer forma, então só vai, se não, eu mato você aqui e agora, deixando ela sozinha para se queimar nas próprias chamas, entendeu passarinho?"

Sua expressão mudava um pouco se tornando mais séria por alguns segundos e tirando dentro de seu manto ele joga um objeto em Ether, qual sujava o seu rosto com um líquido vermelho, Ether observava melhor e percebia que, aquilo era nada mais nada menos que a cabeça do prefeito de Hallowvile, ficando mais apavorado. Por mais rápido que seja, Ether ainda sentia aquela aura o apertando até o fundo de sua alma, por mais que quisesse ajudar a sua irmã naquele momento, ele sabia que tinha caído em uma armadilha junto da mesma, era tarde demais, ambos já foram pegos em suas gaiolas, tendo como sua utilidade atual e única, servir o seu novo mestre. Com ainda muita dificuldade, ele aceita acenando a cabeça, Sun Eater retorna à aquele sorriso distorcido, apavorando ainda mais o velocista. Após o mesmo aceitar a sua missão, Sun Eater solta Ether, que prepara suas pernas e asas para ir com tudo, dando suas últimas palavras antes de partir:

"Por favor, não deixem ela destruir ainda mais coisas"

Assim, Ether disparava desaparecendo daquele lugar, deixando Sun Eater, Grey e Fea sozinhos. A igreja era dominada pelas chamas enquanto Fea se mantinha parada, sentindo aquelas dores horripilantes por todo seu corpo, chorando por ajuda qual ela jamais iria obter tão cedo. Sun Eater olha até Grey que estava machucado, dizendo algumas palavras, ignorando completamente a existência de Fea:

"É forte aquele cara não é? Olha o que ele fez com você"

Grey retrucava bem calmo:

"Ele só me pegou desprevenido, vamo vazar daqui, vou precisar consertar esses furos"

Ambos iam embora daquele lugar, deixando Fea à própria dor, qual destruía completamente o lugar que mais amava, junto de suas poucas memórias mais felizes, sendo todas consumidas pelo fogo, pouco a pouco:

"Eu não... quero ficar sozinha..."

A ave se encolhe, abandonada enquanto tudo à sua volta se torna cinzas.