Masmorras, coletas de recurso, extermínio de monstros... missões perigosas que requerem pessoas que não se importam com a própria vida. Esses são os motivos pelos quais a guilda dos aventureiros existe.
Ser um aventureiro é uma profissão perigosa, na qual diversos tipos de pessoas se encontram um destino trágico, tendo todos os ossos quebrados por um orc, sendo envenenados por uma flecha ao cair em uma armadilha, ou sendo devorados por monstros, esses e mais outros são alguns dos perrengues que os aventureiros passam todos os dias. Um trabalho nada flexível e com taxa de fatalidade altíssima, mas a falta de comprometimento do rei quanto ao seu povo, somado ao dinheiro e fama que a guilda lhes oferece, acabaram sendo fatores determinantes do início da era de ouro dos aventureiros há mais de 10 anos.
Apesar disso, poucos entram nessa vida sozinhos, seja por falta de propósito, sanidade, ou até mesmo após serem abandonados por seus grupos, embarcando em aventuras sozinhos, dependendo apenas de si mesmos, os fazendo morrer mais cedo, até mais do que um aventureiro em um grupo incompetente, não apenas por serem incapazes de cuidar de si mesmos, mas por estarem sozinhos.
E entre todos esses loucos havia a Loba prateada, uma demi-humana, descendente do clã dos lobos, entrando na guilda aos 14 anos, seu nome verdadeiro ninguém sabe, mas o motivo de se tornar uma aventureira com tão pouca idade, provavelmente é a queda do clã dos lobos da floresta em Tailwind. O rei buscava descartar os fracos que não lhe apetecia, eliminando cruelmente essa e outras raças sem pudor, mas permitindo alguns poucos saírem por mero capricho.
Mesmo recebendo diversos convites de grupo, a loba prateada ainda recusava, como um lobo solitário trilhando um caminho de auto destruição, determinada à algo que ninguém sabia, sobrevivendo com a mesma determinação por longos 4 anos seguidos, um feito de fato impressionante, até finalmente ela completar 18, a idade em que ela poderia finalmente aceitar missões de grau especial.
De forma agressiva, a garota abriu as portas da guilda, entrando com um olhar ameaçador que brilhava à azul, sem esboçar qualquer sorriso, sua aparência consistia em um corpo relativamente bem definido, orelhas, rabo e pelos brancos quase prateados, quais remetiam ao seu apelido, vestindo armadura leve e botas de couro, por cima coberta por um haori com detalhes de lua bem gasto, carregando uma espada curta junto à um arco, flechas e por fim, no meio de seu rosto redondo havia uma enorme cicatriz, apenas grande o suficiente para deduzir que não foi algo feito por um humano.
A noite barulhenta dos aventureiros consumia a guilda, elfos, anões, humanos e até mesmo orcs brindavam e tomavam juntos, o clima era de comemoração, cercado de mesas, cadeiras e o balcão da recepcionista, mas a abrupta aparição da garota, transformava o ambiente, ao invés de sorrisos, nas incontáveis mesas, saiam apenas murmúrios, que baixos, já era o suficiente para os ouvidos de um membro do clã dos lobos ser capaz de ouvir:
"É ela de novo"
"História triste com cara emburrada em pessoa"
"Aquela maluca?"
"Será que ela sabe soltar alguma magia?"
"Sem classe alguma, tinha que ser um cachorro"
Mesmo não querendo, ela ouvia, não querendo causar confusão alguma e manter de bom humor, era o dia em que ela finalmente ia aceitar a sua primeira missão de grão especial, na qual ela já tinha seus olhos marcados há muito tempo, em Hallowvile, haviam pistas sobre o aparecimento da encarnação de Lúcifer, Sun Eater, pelo perigo que a cidade apresentava, somada ao nível de ameaça que tal entidade oferecia, sem dúvidas era de grau dragão, no entanto, a loba prateada não fraquejava, como se aquilo fosse o motivo de seu esforço e sobrevivência. Animada pegando o papel, seu caminho até o banco é interrompido por uma dupla curiosa, os dois mais fortes, a famosa dupla carmesim, ambos aventureiros de ranque alto.
Formada por uma elfa e um homem alto, a elfa era um pouco menor que a loba, continha cabelos e olhos vermelhos, vestia um robe e chapéu vermelho-escuro com detalhes dourados, por dentro uma camisa de couro cobrindo um manto de lã preto escondendo sua pele, em seu braço se podia observar diversas cicatrizes e o seu cajado vermelho gritava que ela era uma usuária de magia de sangue praticamente. O homem alto por outro lado, tinha um tamanho enorme, vestia uma armadura pesada de metal por todo o corpo, enquanto segurava o seu capacete e escudo quase do tamanho do seu corpo, assim como a elfa, seus cabelos e olhos também eram vermelhos, destacando o motivo para título de Dupla Carmesim. A classe de ambos eram óbvias, um defensor e uma maga.
A maga puxa o braço da garota enquanto seu companheiro em silêncio as observa:
"Qual a sua hein lobinha, ta querendo virar churrasco de domingo é?"
Ela retrucava enquanto assumia uma expressão frustrada por terem interrompido o seu caminho:
"Você que diga orelhuda, eu não tenho tempo"
O Homem alto levanta a voz, tentando acalmar a situação:
"Calma, a gente só ta tentando te ajud-"
Ainda frustrada a loba interrompe a fala, soltando o braço segurado pela maga facilmente:
"Eu recuso, não preciso da ajuda de dois panacas de vermelho"
A elfa estava bem irritada vendo aquela situação, tentando ajudar ela foi ofendida de graça, por ser uma maga e no calor do momento tentando encontrar algo com objetivo de ofender a loba, ela tenta detectar a sua alma, o seu "sol" para entender o motivo da mesma agir daquela forma, mas, algo a intrigava:
"Você... não tem sol?"
Apesar de nervosa, a curiosidade tomava conta da mente da loba ouvindo aquelas palavras:
"Sol? do que você ta falando orelhuda?"
Era estranho, um aventureiro sem sol, sozinho e sobrevivendo há tantos anos? Tinha claramente algo errado com aquela garota, a facilidade com que ela havia soltado seu braço a fez pensar que havia algum uso de magia, mas um ser sem sol, era um ser sem magia, algo tão surreal quanto encontrar um demônio:
"Um sol! Você não sabe nada de magia?"
A loba permanecia em dúvida, confusa após a elfa lhe perguntar sobre magia, fazendo uma de suas orelhas se abaixar e levemente inclinando sua cabeça:
"Eu... eu sei? por que?"
De fato algo além de anormal, um ser vivo sem sol e usando magia, mas era demais pra aceitar, afinal, significava que ela era uma verdadeira desalmada. O choque era grande, mas a elfa não podia se deixar levar por isso:
"Mas você não tem o mínimo que precisa pra ser capaz de produzir um feitiço, um sol, pera aí... me mostra"
A loba ainda confusa, olha diretamente nos olhos da elfa como uma tentativa de intimidação falha, logo acaba cedendo, fazendo força, ela forma uma pequena chama no ar, que desaparece no mesmo segundo:
"Assim?"
A elfa entra em completo choque por um segundo, movendo lentamente a sua cabeça ao seu companheiro:
"V-vo-você viu isso Troy? Ela, não tem sol! eu não sei se eu fico horrorizada ou sei lá, feliz por uma descoberta dessa"
Troy, o homem alto também fica confuso:
"Ué, como assim? ta certo isso?"
A elfa verifica de novo tentando encontrar alguma coisa na loba, mas ainda não encontra nada, como se fosse uma casca vazia que não fazia parte daquele mundo, animada então, ela toma uma nova decisão:
"É, tá certo, aí... uuh... então garotinha"
A loba ouve a palavra garotinha e fica levemente brava, mas não deixando suas emoções a tomarem por hora, tenta corrigir a elfa:
"É Tsuki, meu nome"
A elfa ouve o seu nome com clareza e finalmente consegue compartilhar sua ideia genial segurando ambas as mãos de Tsuki e se infiltrando de forma desconfortante no espaço:
"Eu mudei de ideia, me deixa entrar no seu grupo, eu quero muito saber sobre você, mesmo que seja só de forma acadêmica"
Os olhos da elfa brilhavam, Troy olha até a sua companheira de forma decepcionada, observando a sua curiosidade tomar conta, como se fosse algo recorrente e bem irritante de lidar:
"Vai abandonar o próprio irmão desse jeito? Bem que eu imaginava que cê ia uma hora, que triste Robin..."
Olhando pra Troy com uma expressão bem triste, ela diz com uma voz chorosa:
"Mas, você não vem junto? Você vai me deixar sozinha?!"
Tsuki observa os dois brigando com uma expressão de dó, tirando as mãos de Robin dela mesma com cuidado:
"Eu nunca concordei que algum de vocês viria junto, eu não me importo com seus estudos e mais nada, só me deix-"
A maga a interrompe, apontando o dedo para o seu rosto, como se estivesse repreendendo um cachorro:
"É o seguinte, eu já tava atrás dessa missão faz tempo também viu, mas o saco de lixo ficou insistindo que não era hora, hoje que eu finalmente consegui convencer ele, você chega lá e estraga tudo, é o seguinte, eu gostei de você, então deixa a gente se unir, eu realmente to afim de ir e nem planejava levar você junto agora, além disso somos um grupo maior, roubamos a sua missão como e quando quisermos"
Frustrada mais uma vez, Tsuki se vê obrigada a concordar com a elfa, abaixando sua cabeça com lágrimas tentando cair de seus olhos:
"Bem injusto, não é... 4 anos..."
Troy chega perto pra confortar a garota, com sua mão extremamente pesada carregando sua armadura, ele coloca seu escudo no chão, qual treme a guilda inteira e tira sua manopla revelando sua mão, em seguida acariciando a cabeça da loba:
"Não esquenta muito, confia na gente, não vamos te atrapalhar, somos fortes"
Ela acena a cabeça, concordando e aceitando seu destino finalmente, seu rosto fica um pouco mais calmo e Troy tira a mão de sua cabeça, equipando novamente sua manopla e segurando seu escudo. A elfa ainda curiosa, decide explicar à garota o motivo de tal surpresa:
"Sabe, é meio que conhecimento geral entre os magos, você sente a energia de seu núcleo e a solta pra fora, liberando com um feitiço verbal ou apenas um círculo mágico, mas você não tem esse núcleo"
Apesar de abalada, Tsuki ainda presta atenção no discurso da elfa, que sentindo seu olhar, se anima um pouco, acabando de vez com a tensão:
"Por isso eu fiquei tão interessada em você, enfim, mesmo se você não souber agir em grupo, vai ter que arrumar um jeito de nos acompanhar, espero , a propósito, meu nome é Robin, prazer em te conhecer Tsuki"
A loba prateada suspira após a derrota, de fato, ela sabe que é uma missão complicada que ela estava se enfiando sozinha, se jogando em um buraco sem fundo e sem informação alguma, mas agora ela tinha alguma luz pra enxergar, mesmo que esse buraco ainda não pareça ter fundo, pela primeira vez, ela se viu obrigada a se juntar à um grupo. Robin estende sua mão até a mesma que aceita.
Com a missão aceita o grupo sai da guilda em direção sem pausa à Hallowvile, pegando carona em uma carroça. Para finalmente encontrar Sun Eater e por fim, completar a missão.