Parte 1
William estava de pé ao lado da mesa, observando Ed enquanto ele organizava seu equipamento com um olhar concentrado.
"Eddy." começou William, sua voz quebrando o silêncio enquanto ele se aproximava da mesa onde Ed estava trabalhando.
"Você precisa se preparar. A caçada deve começar em alguns dias, quando a próxima lua cheia aparecer."
Ed ergueu a cabeça, seus olhos encontrando os de William. "Estou pronto. Só preciso saber o que esperar. O que você acha que o monstro é?"
William fez uma pausa, parecendo considerar a melhor forma de responder. "Não importa exatamente como ele é, Eddy. O que importa é que ele é brutal e violento. Mais do que qualquer predador que já encontramos. A força e a ferocidade dele são além do que podemos imaginar."
Ed franziu a testa, mexendo em um dos itens sobre a mesa. "Então, como devemos abordá-lo? Alguma ideia de como matar ele?"
William balançou a cabeça lentamente, seu olhar grave. "Sabemos que ele é um predador noturno, com uma força monstruosa e uma velocidade impressionante. As marcas que encontramos indicam que ele é grande e extremamente perigoso. Mas além disso, ele é imprevisível e mortal."
Ed olhou para suas armas, concentrado. "O que podemos fazer para nos preparar melhor para isso?"
William deu um passo mais perto da mesa, seu tom de voz firme. "Certifique-se de que suas armas estejam em perfeitas condições. Verifique se tudo está afiado e funcional. Prepare também armadilhas e qualquer outro recurso que possa dar uma vantagem. E mais importante, mantenha-se alerta. O monstro pode atacar a qualquer momento, e precisamos estar prontos para reagir."
Ed assentiu, sua determinação evidente. "Vou revisar tudo e garantir que estamos prontos. E quanto à estratégia de caça? Vamos só esperar pela lua cheia?"
William cruzou os braços e olhou para o chão por um momento, pensativo. "Não temos uma estratégia definida ainda. Teremos que esperar por um aviso de Pallas. Ele será o responsável por coordenar a caçada e nos dar as instruções necessárias quando chegar a hora."
Ed levantou uma sobrancelha, ligeiramente frustrado. "Então, ainda não temos um plano específico? O que faremos se algo inesperado acontecer antes da lua cheia?"
William deu um pequeno sorriso, tentando acalmar Ed. "A flexibilidade será nossa aliada. Enquanto não recebemos ordens específicas de Pallas, a melhor coisa que podemos fazer é manter nossos sentidos aguçados e estar prontos para agir a qualquer momento. Pallas parece conhecer bem essas criaturas e saberá como nos guiar."
Ed deu uma última olhada em seu equipamento. "Entendido. Vou me manter alerta e revisar tudo até que Pallas nos dê mais detalhes. Não quero estar despreparado quando a hora chegar."
William se acomodou na cama ao lado de Ed, observando-o com um olhar atento. "Eddy, já que estamos esperando pela lua cheia e há um tempo até a caçada começar, como tem sido seus dias por aqui? Fez alguma amizade ou algo assim?"
Ed olhou para William, com um olhar pensativo. "Os dias têm sido um pouco chatos, na verdade. Eu tenho me dedicado ao treinamento e à preparação. Conheci algumas pessoas, sim, mas não me aprofundei muito. Todos estão ocupados com suas próprias tarefas."
William assentiu, a expressão ficando mais séria. "Isso é compreensível. Mas eu preciso te dar um conselho. Não crie muitos laços fortes por aqui. Não é que eu esteja sendo insensível, mas a verdade é que a nossa vida é imprevisível e perigosa. A qualquer momento, algum de nós pode morrer. É melhor manter certa distância emocional para que o impacto seja menor quando as coisas derem errado."
Ed franziu a testa, absorvendo as palavras. "Você acha que a situação é tão grave assim? Eu sempre pensei que criar conexões seria importante para o moral."
William balançou a cabeça lentamente. "Claro, conexões são importantes, mas em uma vida como a nossa, é fundamental se proteger também. Eu vi muitas pessoas que se perderam porque se prenderam demais às pessoas ao seu redor. Mantenha-se focado e preparado, e não deixe que a proximidade te enfraqueça quando as coisas ficarem difíceis."
Depois de um silêncio pensativo, William se levantou um pouco, endireitando as costas. "Eddy, há algo mais que eu quero te dizer. Se, por algum motivo, eu não puder voltar para a sua mãe, se algo acontecer que me impeça de cumprir nossa promessa, você deve voltar e contar a ela. Não a deixe sem saber o que aconteceu. É importante que ela tenha uma explicação, pelo menos."
Ed olhou para William, compreendendo a gravidade das palavras. "Eu entendo. Vou me lembrar disso. Quero garantir que ela saiba a verdade, mesmo que não seja a que ela espera."
William deu um pequeno sorriso, a expressão suavizando um pouco. "Bom. Agora é melhor a gente descansar. Temos um trabalho duro pela frente, e não adianta estarmos cansados quando a hora chegar."
Ele se espreguiçou, dando uma última olhada no ambiente. "Vou para minha cama. Durma bem e descanse. Precisaremos de toda a energia que pudermos obter."
Ed assentiu, levantando-se para se preparar para a noite. "Claro. Boa noite, pai."
Parte 2
Acordei no fundo do mar, a areia fria e pegajosa grudada em meu corpo como uma prisão líquida. Pequenos peixes passaram por mim, seus corpos cintilando como sombras no escuro. Eu me contorci, lutando contra a sensação de sufocamento e o peso da água que parecia me empurrar para baixo. Cada movimento era um esforço doloroso, mas finalmente consegui me desgrudar do fundo.
Meu coração disparava enquanto eu nadava freneticamente em direção à superfície, minhas pernas e braços pesados como chumbo. O ar parecia um sonho distante, uma promessa de alívio que me escapava a cada braçada.
Quando finalmente atingi a superfície, um jato de ar frio e salgado atingiu meu rosto, e eu me lancei para a margem. O mar estava implacável, mas eu consegui alcançar a areia, caindo de joelhos enquanto a respiração começava a se normalizar.
Eu estava na praia de uma cidade portuária. A Ilha de Fen se estendia diante de mim, suas construções se erguendo sombrias contra um céu ameaçador. Meus olhos se ajustaram ao ambiente, e o horror começou a se formar à minha frente.
A praia era de areia preta, fria e abrasiva sob meus pés. Mas o que realmente capturou minha atenção foi a visão de Helena, caída no chão, o corpo parcialmente enterrado na areia. A cena era surreal, uma mistura de beleza e horror. O corpo de Helena estava coberto por uma massa negra de areia, e o que restava dela estava sendo devorado por uma figura monstruosa.
O Demônio d'água, uma entidade que me persegue por todas as noites, estava sobre Helena, sua forma em movimento enquanto engolia a carne e os ossos dela com uma ferocidade predatória. Seus olhos brilhavam com uma luz horrenda, fixados em mim com uma fome insaciável.
Ela percebeu meu olhar e, com um movimento abrupto, levantou-se. Seus longos membros se estendiam em minha direção com uma velocidade assustadora. A criatura estava vindo na minha direção, seus pés afundando na areia preta enquanto corria com uma graça perturbadora.
Eu tentei fugir, minhas pernas pesadas e desajeitadas na areia. A cidade portuária parecia um labirinto de ruas estreitas e sinuosas, mas eu não conseguia escapar da sensação de que a criatura estava sempre um passo atrás de mim. Meu coração batia descompassado, a adrenalina correndo em minhas veias enquanto eu corria desesperado, mas o Demônio d'água parecia inevitável, sua presença quase opressiva.
Eu entrei em uma rua escura, o medo me sufocando enquanto corria. O som dos meus passos ecoava contra as paredes de pedra, mas o som das pegadas da criatura era ainda mais aterrador, um ritmo constante e implacável que se aproximava cada vez mais.
Finalmente, fui encurralado. A rua estreita acabou em um beco sem saída, e eu me virei para enfrentar a criatura que estava agora na minha frente. Ela se aproximou, seus olhos fixos em mim. Seus lábios estavam estendidos em um sorriso cruel, e ela se preparava para me beijar com uma força avassaladora e horrível.
Eu não tinha para onde correr, o medo era tão palpável que parecia quase uma força física, e a criatura se lançou sobre mim, sua presença dominando cada sentido. O beijo não era um gesto de afeição, mas de consumação, uma promessa de aprisionamento que parecia prestar um tributo àquilo que eu temia mais.
Enquanto o Demônio d'água se aproximava, eu me preparei para o toque gelado de seus lábios, o desespero me consumindo por completo. O mundo ao meu redor desmoronava, e eu estava prestes a ser tragado por um pesadelo sem fim.
A sensação de frio e morte parecia consumir cada fibra do meu ser. Quando o Demônio d'água estava prestes a tocar seus lábios gélidos nos meus, um grito estridente rompeu o silêncio.
De repente, a visão se desfez em uma névoa escura, e eu me vi sendo sacudido de volta à realidade. Acordei com um sobressalto, o coração batendo com uma força quase dolorosa no peito. Eu estava deitado em meu leito no dormitório, o ar ao redor tão quente e familiar que parecia uma cruel ironia depois do pesadelo.
Mas, à medida que minha mente começava a clarear, percebi que algo estava terrivelmente errado. Meu corpo estava coberto de suor frio, e uma sensação de terror continuava a me assombrar. Levantei-me com dificuldade, o quarto parecia girar ao meu redor, e uma sensação de pânico iminente me dominava.
Então, olhei para o canto do quarto e congelou meu sangue. Algo estava ali, transformado em um ser monstruoso. Suas garras afiadas brilhavam sob a luz fraca que entrava pela janela, e seus olhos ardentes estavam fixos em mim com uma fúria predatória. A boca do monstro estava aberta, revelando fileiras de dentes afiados como lâminas, prontos para atacar.
O rugido baixo e ameaçador do monstro ecoou no quarto, e eu pude ver a saliva escorrendo pelas bordas de sua boca. Cada movimento dele era carregado com uma tensão feroz, e o medo se alastrou por mim como um incêndio incontrolável.