Na cela fria e austera da Central de Contenções da Torre, Tovah, o agente responsável pela prisão de Tahiko, andava lentamente até a porta de aço da cela de Tahiko. Ele parou em frente à cela, observando o portador, que estava sentado no canto, encurvado, com os olhos de raiva focados em algum ponto indefinido no chão.
Tahiko mal se movia, mas havia uma tensão palpável em sua postura.
— Tahiko, precisamos conversar sobre o portador que você enfrentou. Aquele que matou o Capitão Williams e tantos outros em Dynami — disse Tovah calmamente, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras que iria usar.
Com seu olhar encontrando o de Tovah, ele levantou a cabeça lentamente e continuou calado. O agente estava com uma pasta de documentos nas mãos e começou a tirar uma série de fotos.
— Estes são os três portadores da Fundação que participaram do caos em Dynami — disse ele, espalhando as imagens no chão frio da cela.
As fotos mostravam Zarek, Hideki e Tramen. — Qual desses matou o Capitão Williams? — Tovah perguntou ao Tahiko.
— Esse. — apontou para a fotografia de Hideki, mas ele continuou — Ele fez mais alguma coisa? Vocês sabem algo dele? Localizaram ele?
— Não, Tahiko. Não o localizamos ainda, mas capturá-lo é uma de nossas prioridades.
Tovah voltou sua atenção para a pasta de arquivos, puxou outro documento e o segurou à altura dos olhos de Tahiko.
— Eu sou um agente da Torre. Recebo informações detalhadas de centenas de pessoas por dia, e já sabia que um dia receberia um papel com informações suas.
E apesar do silêncio cair entre eles, Tovah contou ao portador, que se mantinha concentrado e pouco falante.
— Este documento fala de um ocorrido no interior de Wüst, sobre um menino chamado Tahiko que desapareceu após uma catástrofe não humana e não natural. Algo que envolve pactos, ocultismo e uma destruição que lembra muito os casos que investigamos aqui.
Os olhos de Tahiko se arregalaram, e por um momento, ele parecia mais jovem do que realmente era. Ele assentiu lentamente, confirmando com um simples gesto de cabeça seguido da fala.
— O que você quer que eu diga? — Tahiko não estava confortável.
— O que eu acabei de falar é exatamente sobre você? Ou aconteceu com outro homem chamado Tahiko?
— Sim… sou eu.
Tovah inclinou-se para frente, olhando fixamente para Tahiko, e falou.
— Preciso que você me conte tudo, desde o início. Preciso entender para poder ajudar você.
Tahiko soltou um suspiro de raiva, seu olhar não era nada receptivo, mas ele respondeu.
— Eu nasci no interior de Wüst. Era uma cidade pequena chamada Tauá, onde todos se conheciam... Na noite do aniversário da minha mãe, meu pai me deu uma arma, porque eu era uma criança humana que gostava de armas… Todo humano curte uma arma. Naquela noite, ele disse que eu deveria usar para me proteger.
— Pouco tempo depois, meu pai decidiu sair de casa… Acho que foi por isso que ele me deu uma arma de presente. Não demorou e uma tempestade anormal atingiu nossa casa, e o teto desabou sobre minha mãe. Eu a vi ser esmagada... e uma criança como eu era, não podia fazer nada.
Tovah mantinha-se em silêncio, mas seus olhos demonstravam empatia e uma compreensão profunda do horror que Tahiko havia enfrentado.
— Eu sobrevivi e me deparei com a cidade em que nasci e cresci varrida, devastada e quase apagada do mapa. Só que na pequena praça central da cidade tinha um velho, sentado no único banco que milagrosamente não voou.
O olhar cada vez mais vazio e distante de Tahiko, enquanto contava a história, chamava a atenção do agente.
— Andei até o velho, Henry era o nome dele. Ele estava calmo e perguntou se eu queria sair de Tauá para uma vida melhor… Eu só falei que sim, e ele disse que havíamos feito um acordo. Mas eu não entendi, como um menino ia entender?
— Você fez um pacto com ele? — Tovah observava atentamente cada reação de Tahiko, cada pausa em sua fala, cada mudança de expressão.
— Sim. O acordo que ele citou era o pacto. Só que até hoje não entendo como isso funcionou, porque normalmente tem uma negociação para haver a conclusão do pacto… Mas com aquele velho foi instantâneo.
Tovah levantou, esticou as pernas e disse.
— Uma hora ou outra, você terá que escolher lutar pela Torre. Sei que nos odeia pelos nossos erros recentes, mas não adianta negar que não temos inimigos em comum. Espero que pense nisso, eu volto amanhã.
Na sede da Torre, ainda pela noite, a comandante Ava estava prestes a sair. Pegou sua bolsa e, quando estava prestes a atravessar a porta, seu telefone tocou. Era Nicolas, o novato.
— Comandante, Koji e Saik foram levados ao quarto com vigia especial. Tudo está sob controle.
Ava deu um breve "ok" e desligou, mas algo prendeu sua atenção. Em sua mesa, uma carta embalada e fechada esperava.
— Ahm?
Seu olhar fixou-se na carta, como se soubesse que seu conteúdo mudaria algo importante. Pegou a carta e leu.
— "Remetente: Sam. Destinatário: Koji."
Pouco abaixo, um aviso.
— "Sei que essa carta cairá primeiramente nas mãos da Ava. Mas, por favor, deixe que Koji a abra e leia."