A caminho da fronteira com o estado de Mato Grosso no trem-bala nacional pelo túnel escuro, iluminado apenas pelas luzes intermitentes que passavam pelas janelas.
Sentado em sua poltrona, Koji lia os papéis de informações que Ava havia lhes dado. Ao seu lado, Saik estava inclinado para trás, quase deitado, e com um tapa olhos para dormir.
— Eu consigo sentir sua preocupação de olhos fechados — comentou Saik.
— Não consigo tirar o Conclave da minha cabeça. Se o que Ava nos disse for verdade, estamos enfrentando algo muito maior do que poderíamos imaginar.
Saik mexeu a cabeça, discordando.
— Então acho melhor você parar de ler esses papéis… ficar nervoso só vai piorar as coisas.
— O Tahiko estaria morrendo de empolgação se estivesse aqui — falou Koji, enquanto dobrava os documentos informativos.
— Não tenho dúvida.
O som do trem-bala ressoou pela estação de Araguaiana, anunciando a chegada. O estrondo da frenagem fez com que Koji e Saik levantassem os olhos, ajustando as mochilas às costas.
— Acho que chegamos — Koji levantou.
O vagão finalmente parou e as portas se abriram. Eles desceram do trem para a movimentada plataforma da estação nacional de Araguaiana, já dentro do estado de Mato Grosso.
— Tsc. Por que tá tão cheio? — disse Saik sobre o verdadeiro entrelaçamento de pessoas que chegavam e partiam rapidamente.
— Talvez estão fugindo por causa do Conclave. Não sabemos como estão as coisas mais para dentro do estado.
Então seguiram em direção ao vão onde esperariam o próximo trem-bala, com suas mochilas balançando com o ritmo de seus passos.
Koji se apoiou casualmente em um pilar próximo, observando a movimentação ao seu redor com um olhar pensativo.
— Você sabe — Saik falou serenamente, olhando para o ambiente — estou mais calmo do que imaginei. Achei que esse rolê de ser chamado para a Torre ia ser um pesadelo, mas para mim, está tranquilo.
— Eu não concluí meu feedback ainda sobre isso — Koji comentou num tom descontraído, mas calmo como Saik.
— Eu sabia que a gente era os únicos portadores independentes em Dynami. Era só uma questão de tempo até que alguém da Torre visse o que a gente fazia.
— Bom, concordo contigo… mas o nosso navio de carga chegou.
Saik olhou para o relógio digital na plataforma e, não muito depois como era esperado, o trem-bala entrou na estação, deslizando suavemente até parar diante deles.
As portas se abriram e os dois entraram rapidamente, encontrando seus assentos.
— Vamos para onde agora? — novamente com seu tapa olhos em mãos, Saik perguntou.
Koji consultou o bilhete antes de responder.
— Estação de Campo Verde. E depois disso, vamos chegar em Cuiabá ainda hoje.
— É… Cuiabá. Não vejo a hora de sentir um calor escaldante — em tom irônico, Saik resmungou.
Durante a viagem rumo à estação de Campo Verde, Koji e Saik estavam repousando confortavelmente em seus assentos. Só que a calmaria foi abruptamente quebrada quando um estrondo violento sacudiu o trem, fazendo-o tremer completamente antes de parar de repente.
O impacto foi tão forte que Koji e Saik despertaram imediatamente, com seus corpos sendo projetados contra os assentos. A mesma coisa ocorreu com as demais pessoas, que foram jogadas fortemente no chão ou contra suas poltronas com agressividade.
— O que foi isso? — com o tapa olhos torto na cara, Saik perguntou no instinto.
— Vamos, levanta.
Koji levantou-se de sua poltrona e, com um olhar determinado, caminhou rapidamente em direção à cabine do maquinista.
Os passageiros ao redor, que até então estavam relaxados ou dormindo, se levantaram em pânico, gritando e se movendo de um lado para o outro. O trem estava em caos, as pessoas procuravam entender o que havia acontecido e gritavam perguntas.
"O que está acontecendo?"
"O que aconteceu?"
"Explodiu alguma coisa?"
"Bateu em quê?"
As perguntas em meio aos gritos de desespero pelo vagão fazia Koji, que ainda estava atordoado e confuso, mais inquieto e preocupado.
Ignorando o tumulto crescente ao seu redor, ele chegou na cabine e bateu na porta.
— Oh, maquinista! Abre a porta! O que foi isso? — gritou ele, somado com várias batidas apressadas.
Por sua vez, Saik encontrava-se agachado perto de uma janela, tentando olhar para fora na esperança de entender o que havia causado o estrondo.
— Não vai dar! — exclamou em voz alta para Koji ouvir — Ele não vai nos ouvir e não podemos esperar. Eu vou abrir uma passagem aqui, certo?
— Vai usar sua técnica? — Koji não entendeu.
— É bom, pra não ficarmos presos aqui.
Com semblante sério e posicionado perto da janela, Saik disse.
— Elatós: Energia Maleável.
Assim, ativando sua técnica.
Ele esticou os dois braços e, instantaneamente, uma aura brilhante e azulada envolveu os seus antebraços, convertendo sua energia interna em uma forma afiada e poderosa.
— Olhem aquilo! — falou uma mulher de meia idade, com o rosto pálido de surpresa e impressionada com a aura que saía da energia interna de Saik.
— Cara, eu achei que nunca ia ver isso na minha frente! — com as mãos na cabeça, um jovem moreno disse.
Uma mulher adulta, com um olhar de desespero, perguntou ao seu marido.
— Você já ouviu falar de algo assim antes? Isso é uma técnica de portador? Ele está usando energia para cortar o trem!
E com uma precisão, começou a cortar a estrutura metálica do trem ao redor da janela, ignorando a existência das portas de emergência que poderiam não estar funcionando devido ao impacto.
O metal foi cortado com facilidade pela lâmina de energia criada, e as pessoas gradativamente saíram do trem. Quando terminaram de evacuar todos, Koji e Saik andaram para a frente do trem e viram as pessoas paralisadas, olhando para um único lugar.
— O que é isso? — Koji disse espontaneamente, e com seu olhar arregalado.
— Koji, acho que chegamos no território do Conclave.
— O que é isso…
Eles depararam-se com algo diferente, uma onda altíssima e extremamente massiva de energia interna que estava se expandindo a cada minuto.
— Mas como um portador consegue usar tanta energia interna assim? Até onde sei, essa especialidade é tua, não é, Saik?
— Originalmente, sim. Só que deve ter outras formas de fazer isso, mas confesso que isso é assustador.
A onda de energia tinha no mínimo 15 metros de altura e era quase transparente. Seja lá o que isso significava, a expansão encontrava-se em andamento, e eles tinham que evitar isso.