Koji caminhou até a janela da cabine do maquinista, quando ele finalmente se aproximou e olhou através do vidro.
— Que merda.
O maquinista estava morto, com seu corpo arremessado violentamente contra a janela e fragmentos de vidro quebrado espalhados por todo o banco. Ao se afastar da janela, ele avistou Saik se aproximando da grande barreira de energia que continuava a se expandir lentamente.
— Olha isso, Koji. A onda não causa nada em mim — comentou Saik, com o braço esquerdo estendido para dentro da onda.
— O que mais me impressiona é você arriscar perder o braço tão facilmente — disse Koji, disfarçando sua ansiedade com um tom levemente irônico.
Saik apenas sorriu de canto e retirou o braço da onda, enquanto Koji tirou sua mochila das costas, se agachou e começou a remexer dentro dela, buscando o equipamento de comunicação da Torre.
— Vou tentar falar com a Torre. Essa onda pode não causar nada na gente, mas com certeza, os passageiros não saem ilesos disso.
Enquanto Koji se concentrava em estabelecer contato, Saik e os demais passageiros permaneciam parados e fascinados pela barreira de energia que não parava de crescer.
Até que…
Bbrrzz!
Alguém entrou na linha.
— Torre aqui. Quem está buscando se comunicar?
— É o Koji. Eu e o Saik somos os portadores que a comandante ordenou que vocês da comunicação ficassem de olho, caso precisássemos de ajuda, lembra?
— Sim, claro que lembro. O que aconteceu? Como posso ajudar?
— O trem em que estávamos bateu em uma onda de energia, certamente obra de um portador. E muito provavelmente, este portador faz parte do Conclave.
— Entendido. Koji, você e o Saik precisarão tirar os passageiros da proximidade dessa onda. Em poucos minutos, uma equipe de resgate terrestre e aéreo estará a caminho para trazê-los a salvo, entendeu?
— Sim, entendi.
Mas de repente, Saik interrompeu Koji.
— Koji, pergunta da nossa localização e da distância para a Estação de Campo Verde e Cuiabá.
Então, Koji voltou sua atenção para o operador.
— Uma última pergunta, por favor. Pode me informar sobre a nossa localização atual em relação à Estação de Campo Verde e Cuiabá?
O operador consultou rapidamente seus registros, e respondeu.
— Vocês estão próximos da cidade de Primavera do Leste. No entanto, essa cidade está à frente, já dentro do vasto território que a onda de energia dominou. Com isso, podemos confirmar que tanto Campo Verde quanto Cuiabá, e todas as outras cidades a frente, foram tomadas pela expansão.
Bip!
A comunicação de maneira repentina, caiu. Koji levantou, guardou o fone, caminhou até Saik e explicou tudo o que ouviu do operador.
— O cara disse que estamos próximos de Primavera do Leste, mas como essa cidade fica mais a frente, ela foi tomada pela onda, assim como Cuiabá, Campo Verde e todas as outras cidades.
— Eles vão mandar uma equipe de resgate terrestre e aéreo para retirar os passageiros daqui. O operador recomendou que a gente mantenha todo mundo afastado da onda, só que nós vamos ter que continuar, atravessar essa onda e encarar os responsáveis por isso.
— Sem problema.
Depois disso, ambos se aproximaram dos passageiros, que já estavam inquietos com a presença daquela energia misteriosa.
— Todos, por favor, ouçam! — Koji chamou a atenção, com o braço direito totalmente levantado — Precisamos nos afastar do trem e da onda de energia. A Torre está enviando uma equipe de resgate para nos tirar daqui. Peguem suas malas e me sigam.
Eles andaram uma certa distância, mas as pessoas não estavam se sentindo seguras.
— Como podemos confiar na Torre? Depois de tudo que aconteceu em Dynami, como sabemos que eles realmente virão? — falou uma senhora de idade com um lenço na cabeça devido ao sol.
— É, não podemos acreditar totalmente neles, né? — um homem de óculos escuro esboçou sua desconfiança.
Koji, que já estava de costas andando ao lado de Saik, virou-se para os passageiros e disse.
— Eu entendo a desconfiança e o medo, mas a Torre é a única chance para vocês agora, pois eu e o meu amigo não viemos para protegê-los… mas a Torre sim. Eles sabem o que está acontecendo aqui, e estão a caminho. Eu garanto que eles vão levá-los todos ilesos daqui
Com os passageiros a uma distância segura da onda, Koji e Saik se afastaram um pouco deles e sentaram numa pequena parte verde do solo.
— Tá melhorando — disse Saik, com os braços cruzados e um leve sorriso positivo.
— Melhorando o quê?
— Você parece mais convencido da situação que estamos, e sobre o que podemos ver de ruim.
— Não é que eu tô convencido, só estou aceitando aos poucos. Mesmo que já tenha visto muita ruindade dos humanos, sinto que nós, portadores, podemos ser bem piores que eles.
— Com certeza.
Para a surpresa deles e dos outros, o som das hélices de helicópteros e sirenes ao longe foi o primeiro sinal de que as forças de resgate estavam se aproximando.
"Já chegaram?" um passageiro gritou.
Koji e Saik se levantaram instantaneamente, com um grande espanto por parte da chegada rápida.
— Admito. Não esperava isso — disse Saik, passando a mão pelos cabelos, que se agitavam mais e mais com o vento das hélices se aproximando.
— Nem eu.
Vários helicópteros militares pousaram nas proximidades, enquanto uma coluna de veículos de transporte das Forças Especiais da Torre se aproximava, organizados em uma fila disciplinada.
Com o barulho das hélices diminuindo à medida que as aeronaves aterrissavam, e os veículos começavam a parar para receber as pessoas. Saik olhou para os passageiros, percebeu que eles ainda estavam hesitando, e disse para Koji.
— Olha para eles. É melhor você ordená-los logo se não vão ficar parados ali.
— Aah…
Koji deu alguns passos à frente e ergueu a voz.
— Pessoal, me escutem! Não precisam desconfiar deles, eles estão com a gente! E se por acaso, não quiserem ir, vocês vão morrer debaixo desse sol… então, vão logo.
Os passageiros, ainda um pouco relutantes, começaram a se mover em direção às aeronaves e veículos, guiados por membros das Forças Especiais.
— Agora vamos para a parte mais difícil — Saik virou-se para a direção da onda de energia.
— É o que tem pra nós…