A chegada de Saik foi uma boa notícia, e o Nahome, vulnerável como estava, agradeceu a ajuda oferecida.
— Saik, agradeço a preocupação.
— Estamos do mesmo lado, agente. É isso que vale — respondeu Saik.
A ventania no alto do edifício se intensificou, ficando mais agressiva, enquanto Zarek continuava a rir.
— Nahomezinho, você está mal das pernas, hein? Precisa de um portador de última classe para o ajudar. Ha! Ha!
— Então, você é o famoso Zarek? O portador temido por todos os outros portadores — disse Saik, em tom provocativo, esticando os braços, deixando sua energia interna fluir livremente ao redor de seu corpo.
— Eu amo fazer dessa minha fama um tipo de aviso, normalmente não me faz perder tempo brigando com peixes menores — respondeu Zarek com um sorriso malicioso e contido.
— Lâminas! — exclamou Saik.
Saik não perdeu tempo. Moldou sua energia interna em lâminas afiadas que avançaram em direção a Zarek. As lâminas de energia cortaram o ar com uma precisão assustadora. No entanto, Zarek apenas levantou a mão, e com um uma fala simples.
— Desfaz!
As lâminas se desintegraram antes de alcançá-lo.
A habilidade "Desfaz" de Zarek na técnica General Attacks permitia-lhe dissipar ataques de qualquer forma e tamanho, basicamente anulando-os. Esses ataques eram "coletados" e armazenados em um "Buraco na Realidade" que Zarek podia abrir. Posteriormente, ele podia reutilizar esses ataques dissipados, lançando-os novamente quando desejasse.
— Você vai precisar fazer melhor do que isso — disse Zarek.
Saik franziu o cenho e reformulou sua abordagem.
— Certamente, vou precisar ser mais defensivo do que ofensivo — sua atenção estava dobrada.
Usando sua técnica, ele criou um escudo de energia maleável ao seu redor, tornando-se uma fortaleza móvel. Em um movimento rápido, ele avançou em direção a Zarek, transformando a frente de seu escudo em uma ponta de lança.
— Essa era a piada que tinha para mim? — sorrindo e debochando, comentou Zarek.
Zarek não se moveu até o último segundo, quando simplesmente desapareceu e reapareceu ao lado de Saik, dizendo baixinho para ele.
— Você é lentinho.
— Ahm? — Saik olhou para o lado, com sua surpresa instigada e seus olhos espelhando preocupação.
— Onda Explosiva! — murmurou Zarek.
BOOM!
Uma onda de energia explosiva emanou de Zarek, jogando Saik para trás. Ele bateu contra um edifício adjacente, destruindo a parede no impacto. Saik rapidamente se levantou dos escombros, moldando sua energia interna para curar os ferimentos.
— Eu nem vi ele se mexendo.
— Você tem bastante resistência, admito — disse Zarek, aproximando-se lentamente — Mas não posso dizer que você vai acabar bem por muito tempo.
Saik respondeu criando várias flechas, formadas por sua energia interna ao seu redor, que ele lançou agilmente contra Zarek em rápida sucessão. As flechas se moveram com o seu controle a todo momento, tentando cercar Zarek de todos os lados.
Zarek, no entanto, desfez as flechas uma a uma com sua habilidade.
O comando do combate entre eles era completamente de Zarek, que não se surpreendia e muito menos se preocupava com as tentativas de Saik.
— Como que vence um cara desse? Desfazer ataques é uma habilidade muito acima de qualquer coisa que posso tentar — questionou Saik.
E para Zarek, as coisas começaram agora.
— Cortes de Ar! — disse Zarek, o sorriso de sádico estampado em sua face mostrava como ele agia e se sentia.
Uma série de golpes rápidos e precisos no ar foram direcionados diretamente na direção do Saik. Contudo, ele ligeiramente esquivou, conseguindo evitar os cortes que poderiam ser fatais.
— Merda. Aquilo ainda me pegou — Apesar de sua agilidade, alguns golpes o atingiram, rasgando seu bíceps e costela direita.
Nahome e o drone estavam no outro edifício, pois Saik e Nahome já se encontravam dentro de um prédio vizinho. No entanto, o agente pegou seu celular e, prontamente, acionou com urgência a sede da Torre em Brasília.
— Brasília, Torre. Nahome, agente da unidade principal da Torre, notifico urgentemente a chegada de reforços para a região leste de Dynami. Repito, é urgência, preciso de reforços.
De volta ao embate, Saik começou a suar, percebendo a superioridade técnica e estratégica de Zarek.
— Não tem como ganhar — pensou ele. — Preciso achar uma brecha.
Zarek, por sua vez, parecia estar se divertindo.
— Você é persistente, garoto. Mas não é uma boa persistir numa situação dessa, não acha?
Saik fechou os olhos por um momento, concentrando sua mente e pensou.
— E se eu usar minha energia interna em forma tangível, como usei para chegar no prédio?
A pergunta que ele fez para si mesmo, na verdade era uma resposta.
De repente, ele abriu os olhos e, com os gestos de suas mãos, surgiu um gigante de 16 metros feito de pura energia interna em forma vívida, e apareceu atrás dele.
Esse gigante era criado de energia interna de maneira que se tornava visível e substancial e controlado pelo Saik, capaz de interagir fisicamente com o ambiente, permitindo-lhe realizar ataques devastadores, defender-se de ameaças e manipular o campo de batalha com uma presença imponente e quase indestrutível.
— Agora sim! — Saik sorria esperançosamente.
— Um gigante de energia vívida? Esse garoto é realmente impressionante — disse Zarek, seus olhos maldosos, mas surpresos diante desse momento.
No outro prédio, o drone informou algo para Nahome.
— Nahome, meu sistema de evolução detectou um aumento de concentração de energia interna e de poder no portador de nome Saik.
— Um aumento… o que isso quer dizer? — perguntou Nahome.
— Saik não é mais um portador de última classe. A técnica dele evoluiu, agora ele é um portador de quarta classe.
No corpo de Saik, uma parte da escrita de seu demônio surgiu como uma tatuagem no pescoço. Embora fosse apenas o começo da escrita, era grande e nitidamente visível. Zarek notou e, com seu sorriso constante, comentou.
— Olha a sua escrita, ela apareceu, garoto.
Saik não entendeu de imediato, pois não tinha percebido ainda. Contudo, após o comentário de Zarek, ele se virou para olhar em um espelho quebrado encostado na parede do prédio.
— O que é isso? — Ele perguntou, admirado com a escrita.
— Quando um portador evolui sua técnica, automaticamente sobe de classe. Você agora é um portador de quarta classe — explicou Zarek.
Enquanto Saik continuava a se olhar, completamente entretido, Zarek prosseguiu.
— E a cada classe subida, mais a sua escrita surgirá em seu corpo como uma tatuagem eterna. Quando alcançar a primeira classe, a escrita estará completa em você.
Toda essa surpresa e impacto distraíram Saik. Aproveitando-se disso, Zarek atacou rapidamente, chutando Saik fortemente para fora do prédio e quebrando os vidros do edifício. Saik entrou em queda livre, mas o gigante de energia o pegou com sua grande mão esquerda.
Com aversão à espera, Zarek novamente abriu o buraco na realidade, que jogou uma lança feita de energia pura no chão, bem em frente dele. Pegou a lança e caminhou até onde Saik havia caído após a queda livre do prédio.
Sem demora, Zarek observou Saik presente na mão esquerda do gigante de energia e arremessou a lança com extrema velocidade e potência na direção da testa do gigante.
Saik, ao ver o ataque, gesticulou, fazendo a mão direita do gigante segurar e impedir o avanço do ataque.
— Essa foi por pouco — sussurrou Saik.
— Hi! Hi! Hi! Desfaz! — riu Zarek estranhamente ao ver a situação.
Repentinamente, a mão direita do gigante de energia foi totalmente dissipada, desequilibrando o resto do corpo e fazendo o gigante tombar para a direita.
— O que? — Saik se surpreendeu.
Com isso, Saik foi lançado com as costas contra uma van abandonada na avenida onde o prédio se localizava.
— Lá vai a segunda! — gritou Zarek, sorrindo sem parar e segurando outra lança, prestes a jogá-la.
O gigante ainda estava tombado, e Saik, quase desacordado, não conseguia controlá-lo. A segunda lança foi arremessada por Zarek e atingiu certeiramente a cabeça do grandão.
— Desfaz! — exclamou Zarek, enquanto caía alegremente do prédio em queda livre para a avenida.
Dissipando-o instantaneamente.
— Aaah... Por que minha cabeça tá doendo se foi nas minhas costas que bati mais forte? — Saik se queixava de dor, caído e com as costas escoradas na van, ainda sentindo a força do impacto.
— Você me deve uma, hein? Foi por minha causa que evoluiu sua técnica — brincou Zarek, se aproximando de Saik, sorrindo e com as mãos nos bolsos do seu sobretudo.
— Tchauzinho, garoto. Eu preciso ir agora porque sei que o Nahome, aquele velho de outras primaveras, já chamou reforços. Isso é quase um script que já decorei — falou Zarek, agachado em frente a Saik com seu constante sorriso de satisfação.
Ele se levantou e saiu andando para longe, calmamente, como se nada tivesse acontecido.
No outro prédio, enquanto Nahome estava no elevador esperando descer para correr até Saik, o drone voltou a informar uma nova descoberta.
— Sr. Nahome, eu codifiquei o que pode ser o objetivo de Zarek e da Fundação por trás desse caos na cidade.
— Vai, fala! — disse o agente, enquanto corria da recepção do prédio para a saída.
— Recapitulando o que Zarek disse ao senhor quando viemos avisar do prazo de três horas em tom não tão confiável por conta de sua personalidade difícil de compreender…
"Nosso objetivo está um pouco distante daqui, talvez em um lugar espaçoso e importante".
Zarek, Cap. 11
— E analisando as últimas concentrações de energia de portadores sentidas por mim nas horas mais recentes, posso afirmar que há uma grande possibilidade de o objetivo estar presente na região norte da cidade.
— Mas o que tem de demais no norte?
O drone revelou o que talvez fosse a carta no jogo que ainda não tinha sido percebida.
— A Biblioteca Estadual. Talvez tenha algo lá que os interesse a ponto de terem causado propositalmente esse caos para instigar a evacuação completa da cidade e facilitar a ida deles para o local.
— Todo esse tempo, o objetivo deles nunca foi aqui no leste como imaginávamos, e sim no norte…