— Quem é a garotinha? — disse Cerella, olhando pela janela.
Charlotte estava brincando com outras crianças no lado de fora, com supervisão da Septa.
Sor Lymond deu um olhar carrancudo a Gwayne.
— Eu cuidarei do assunto. — disse ele, olhando pela janela. — ela parece feliz aqui.
— Você precisa contar a ela. — disse o avô.
— Eu vou... — disse Gwayne, saindo para fora.
Estava um dia perfeito, o sol tornando o dia quente e as árvores sobrando um vento refrescante.
Charlotte estava recuperando o fôlego na sombra de uma árvore, duas garotinhas estavam com ela e a Septa a olhando de longe.
Gwayne chamou por ela e ela véio correndo, estava com seus vestidos sujo de areia, mas com um enorme sorriso no rosto.
— Olá, Charlotte... — disse ele, se abaixando até a altura dela. — precisamos conversar sobre um assunto importante, venha comigo.
Gwayne caminhou com ela por uma das estradas do vilarejo, rumo ao Septo de pedra do vilarejo. As pessoas paravam para reverenciar ele, e sorriam para a garotinha suja. Homens carregando caixas de um lado para o outro, comerciantes em suas vidas ocupadas, soldados patrulhando as ruas passavam por eles, muitas casas de madeira e outras de pedras. Algumas de dois e até três andares, uma enorme cervejaria aberta, cobria uma das ruas.
Após uma breve caminhada eles avistaram o Septo do vilarejo, um rústico Septo de pedra, mas relativamente grande, se comparado com o do castelo. Eles entraram e se sentaram, fizeram uma breve oração com o Septão, era um lugar agradável, uma vidraça na parte de trás do altar fazia entrar luz arco íris em todo o ambiente, tinha algumas mulheres rezando em alguns bancos atrás.
— Charlotte...
— Sim? — retrucou ela, em seu rosto um sorriso inocente.
Após um silêncio desconfortável, ele falou.
— Eu...
— Você?
— Seu pai está morto. — disse, por fim.
— Como... — seu rosto estava em um choque de surpresa e incerteza.
— Eu o matei... — Gwayne estava aflito, temia causar dor na garota. — seu pai era...
— Um homem mau... — disse ela, com lágrimas nos olhos.
Ela o abraçou enquanto chorava.
— Você era o cavaleiro que protege os inocentes — disse ela, choramingando. — eu sabia desde o início.
— Você não me odeia agora? — disse Gwayne, com um rosto espantado.
— Odiar? — ela disse, sem entender. — É errado dizer isso, mas ainda bem que ele está morto. Agora, minha mãe está livre, Every também e meu meio irmão.
O rosto dele congelou após ouvir o nome.
— Charlotte, me conte sobre ela... Como ela está?
— Agora que ele está morto, sim, está bem... Eu a odiava no início, achei que era uma mulher ruim que tentava ocupar o lugar de minha mãe. — ela fez uma pausa e colocou as mãos entrelaçadas no colo.
— Ela sofria muito... Mas agora está livre.
Gwayne ficou perdido em pensamentos após ouvir essas coisas.
— Quem era ela para você? — indagou ela, enquanto colocava a mão no braço dele.
— Alguém... — disse ele rapidamente, então se forçou a dar um sorriso e passou a mão na cabeça dela. — Não se preocupe com isso.
Gwayne sabia que não podia se dar ao luxo de ficar triste, ele tinha coisas importantes para fazer que necessitava seu foco completo.
— Vamos. — disse ele, a colocando de pé. — te levarei de volta para suas amigas.
— Eu acho que é melhor eu ficar, ele era um monstro, mas ainda era meu pai... — disse ela enquanto olhava ao redor e seu rosto era iluminado por um arco íris. — eu não tive nenhuma boa memória com ele, mas acho que é meu dever ficar de luto... Eu acho...
Ela começou a chorar.
Gwayne a abraçou e ficou com ela, em silêncio, respeitando seu tempo.
Depois de um tempo, ela quebrou o silêncio.
— O que vai ser da minha mãe agora... O irmã de meu pai não é tão ruim quanto ele, mas com certeza não é uma boa pessoa.
Gwayne ergueu o rosto dela com a mão.
— Não se preocupe, criança. — disse ele, com confiança na voz. — irei te ajudar com isso, mas primeiro eu tenho que ir para o leste...
— Você vai para a guerra... Não morra, você é um bom cavaleiro... — disse ela, soluçando.
— Eu não cairei tão facilmente — disse ele, sorrindo.
A Septa apareceu na porta, Gwayne sinalizou para ela com a mão.
— Eu tenho que ir agora, preciso me arrumar para partir.
— Eu irei poder ir embora, de volta para minha casa? — indagou ela, com a voz chorosa.
Gwayne não soube responder, então apenas beijou sua testa.
— Vou te deixar com a Septa. — disse ele.
Então, saiu para fora.
Gwayne foi ver como estava Mark no castelo, encontrou com Daeron e Jacks no lado de fora da sala do Meistre.
— Como ele está? — perguntou ele, em tom preocupado.
Daeron se levantou imediatamente ao ver ele.
"Gwayne" murmurou ele.
— Ele está bem, mas não graças a você. — disse Jacks, em tom irritado.
— Cuidado com suas falas, Jacks. — alertou Daeron.
— É a verdade. — disse ele, bufando e voltando a se sentar.
— Não era para vocês participarem da batalha, o papel de vocês era me proteger! — exclamou Daeron.
Gwayne abriu a porta da sala do Meistre, e olhou para dentro, depois olhou para Jacks.
— Se isso tivesse acontecido com Daeron, vocês dois teriam as cabeças arrancadas e colocadas nas muradas do castelo por insubordinação. — Gwayne estava com um olhar frio. — desobedeça novamente e é isso que irá acontecer.
Jacks ficou em silêncio e depois se desculpou.
— Como ele está, Meistre? — indagou Gwayne.
— Ele vai ficar bem, o processo de cicatrização vai demorar mas vai curar.
— Graças aos Deuses... — Gwayne se aproximou e tocou na mão de Mark, ele parecia aliviado. — que os sete te protejam, meu amigo.
Então, voltou ao corredor.
— Pode esperar ao lado dele, Jacks. — disse Gwayne.
Jacks fez uma reverência e entrou rapidamente na sala.
Deixando o Meistre irritado.
— Daeron, você virá comigo para o Rochedo? — indagou Gwayne. Eu irei entender se você não quiser, é mais seguro para você ficar.
— Eu não deixarei você sozinho... Estarei contigo! — disse ele, animado.
— Vá e busque suas coisas, dormirá aqui hoje e partiremos ao amanhecer.
— Claro... Eu vou fazer isso agora mesmo! — disse ele de forma animada, então saiu correndo.
Gwayne riu e foi procurar por seu avô, queria deixar tudo arrumado para a viagem.
Eles conversaram sobre muitas coisas, Sor Lymond chamou por Sor Patrick e mandou ele arrumar tudo, os homens, as armas, cavalos e provisões.
— Você terá cinquenta homens e cinco cavaleiros para te auxiliar, Gwayne. — disse ele.
— É o suficiente. — disse ele.
— Você não deve ser imprudente, não se arrisque. — disse ele, em tom de ordem.
— apenas leve seus homens para onde Sor Jaime mandar, é o suficiente.
— Eu irei fazer como o senhor diz.
Sor Lymond olhou para o Meistre.
— Mande uma carta para Lorde Wulf, está na hora deles virem. — disse ele.
— Wulf? — indagou Gwayne.
— Precisaremos deles, eu prometi a eles um local para eles construírem uma fortaleza e está na hora de eu cumprir a minha parte. — Sor Lymond suspirou. — está na hora de formarmos o nosso próprio exercito.
— Uma pena eu não estar aqui para os reencontrar...
— você fará isso quando retornar, Gwayne.
Eu disse que poderia ampliar meu exército e, é isso que irei fazer.
— E depois? — Gwayne franziu o cenho.
Sor Lymond não respondeu, apenas olhou para o Meistre e disse.
— Envie um corvo, eles devem estar estacionados em Vilavelha.
— Será feito, meu senhor.
— Eu terei mil homens aqui em Forte Orgulho quando você retornar, e com os homens de Lorde Wulf e dos Rotherly, esse número pode chegar perto dos dois mil... Isso é o suficiente para atrair as outras casas cavaleirescas juradas aos Sarsfield para o nosso lado.
— É um ótimo plano, senhor. — Gwayne estava com rosto animado.
— As casas Dutterwell, Highwood e Purplehart sempre foram mais favoráveis ao nosso lado, só tenho que convencer os outros a sair da neutralidade... Será feito.
— E ainda tem os Roxton, avô. — disse Gwayne. — eles estão conosco.
— Bem lembrado, Gwayne. — Sor Lymond estava com um sorriso no rosto.
— O que vocês dois estão fazendo? — disse Cerella com olhos semicerrados. — vocês tem que começar a me incluir nessas conversas...
— Você será, eu te contarei tudo. — disse Sor Lymond gargalhando.
Eles se juntaram ao riso.
— Bom, eu tenho que arrumar algumas coisas para minha partida. — Gwayne se aproximou e beijou ela na bochecha.
— Vejo vocês mais tarde. — disse ele, saindo.
Gwayne encontrou Daeron na entrada, carregando suas armas e armadura. Um dos soldados o ajudava, enquanto ele quase tropeçava.
Gwayne riu.
— deixe que eu te ajudo. — disse Gwayne, e dispensou o soldado.
Ele ajudou Daeron a levar para cima, no quarto de Gwayne.
— Lança... Espada... E arco, parece estar tudo aqui. — disse ele.
— Você disse para eu me preparar... — disse Daeron, com um sorriso no rosto.
— isso é bom, mas não irá poder usar todas essas armas... — Gwayne parou em uma pose pensativa. — vai ter que escolher entre o arco e a lança, é muita coisa para você usar e a espada é essencial.
Daeron se ajoelhou e escolheu, apontando para a lança.
— vou levar ela.
— Ela?
— Sim, a espeto de carne. — Daeron riu e olhou esperando a reação de Gwayne.
Daeron gargalhou após ouvir esse nome.
— Bom nome. — disse Gwayne, enquanto ria.
Gwayne ajudou ele a colocar a armadura dele encima da mesa.
— você cuidou bem delas. — disse ele.
— Bem, é de família.
Depois disso, eles se sentaram na varanda e ficaram olhando o vilarejo.
— Você conhece o nome Aerea? — indagou Gwayne.
— Não... Mas parece Valiriano, eu acho.
— Targaryen, então. — Gwayne parecia satisfeito. — vamos descer e ver o que prepararam para nossa despedida.
Eles saíram do quarto e notaram que o castelo estava agitado por causa dos sons de passos para lá e para cá.
Uma brisa suave trazia o cheiro de carne assada e pães frescos, atravessava as portas entreabertas do grande salão.
No grande salão do castelo, o som das chamas nas lareiras misturava-se ao som abafado das conversas dos servos e ao tilintar de copos. A mesa, coberta de pratos generosamente servidos, parecia reluzir. Um banquete para eles.
Sor Lymond, avô de Gwayne, ocupava a cabeceira da mesa. Seu olhar, apesar de firme, refletia a preocupação de um homem que já vira muitas batalhas e perdera um filho e muitos amigos. Ele observava Gwayne com um misto de orgulho e tristeza, sabendo que aquela poderia ser a última vez que o veria. Ao seu lado, Cerella, tentava manter um semblante calmo, mas seus olhos constantemente o seguiam, como se quisesse gravar cada detalhe dele em sua memória.
Gwayne, sentado em posição de destaque, mantinha uma expressão serena.
Ele levantou o cálice para brindar, mas antes que pudesse falar, Septa Lorren, levantou-se também. "Que os Sete guiem seus passos e te protejam Gwayne. Lembre-se sempre daquilo que te ensinei", disse ela, com a voz suave, mas firme. Gwayne assentiu, grato pelas palavras de conforto.
A pequena Charlotte, estava sentada ao lado de Gwayne, com os pés balançando na cadeira. Ela puxou a manga de seu vestido e, quando ele se virou para ela, entregou-lhe um pequeno amuleto da fé. "É para te proteger", disse ela com uma voz tímida, mas cheia de esperança. Gwayne sorriu para ela. "Obrigada, pequena Charlotte. Vou guardá-lo comigo."
O banquete prosseguiu, quando a noite se aproximava do fim, Sor Lymond ergueu-se. "Hoje celebramos a bravura e o dever dos nossos jovens, Gwayne e Daeron, sua voz, forte, ecoou pelo salão. "Que o caminho que trilham seja guiado pela honra, e que retornem a este salão como heróis. Gwayne, Daeron, mas lembrem-se de que a honra de nossa casa vai com vocês. Voltem para nós, se os deuses assim permitirem."
Gwayne e Daeron levantaram os cálices em resposta, assim como todos os outros a mesa.
Com essas palavras, a noite termino. As despedidas foram feitas, e o castelo, que outrora ressoava de alegria, agora estava envolto em um manto de apreensão, à espera de um novo amanhecer e dos ventos da guerra.
Confidente de Gwayne desde a infância, a Septa Lorren estava em pé na saída do salão, ligeiramente afastada, mas com os olhos fixos em Gwayne. Ela mantinha uma expressão serena, como se estivesse recitando uma prece silenciosa. Seus dedos brincavam com uma estrela de sete pontas de cor arco íris, ela finalmente se aproximou, oferecendo uma bênção discreta para Gwayne, murmurando palavras de proteção que somente ele poderia ouvir.
Ele a abraçou forte e a beijou na bochecha e depois beijou a ligeiramente nos lábios.
— Iremos voltar a se reencontrar, não se preocupe. — disse ele, segurando a mão dela.
Ela sorriu.
— Cuide de Cerella, vigie seus caminhos e a conduza para lugares melhores...
— Eu estou bem aqui! — exclamou Cerella, atrás deles. — eu sei me cuidar, Gwayne.
Ela o abraçou depois de dizer isso.
— Você! se cuide. — exclamou ela, afastando o rosto, e beijando ele nos lábios de forma afetiva. — Eu cuidarei da sua nova filhinha!
Gwayne riu.
— Eu acho bom você fazer isso — disse ele, a abraçando novamente e se afastando para perto de Sor Lymond.
Cerella correu para abraçar Daeron, enquanto Gwayne se afastava.
Charlotte estava agora em pé, ao lado da mesa.
— Olá, garotinha... — disse ele, de forma agradável. — gostou da comida?
— Sim, as cozinheiras aqui são claramentes maravilhosas... — ela sorriu.
— você vai partir?
— Sim... — Gwayne apontou para Cerella. — Você vê aquela garota bonita, é minha prima e prometeu cuidar de você. Eu já vi vocês duas conversando antes, então você já deve gostar dela pelo menos um pouquinho. Estou certo?
— Sim, ela é amável... Ela disse que irá deixar eu dormir com ela.
Gwayne beijou a bochecha dela e bagunçou seu cabelo.
Ela bufou e riu, depois correu para perto da Septa na saída do salão.
— Algumas dicas, vô?
— Assim que você chegar no Rochedo envie um dos cavaleiros para anunciar a sua presença, depois monte seu acampamento e erga o nosso estandarte. — Sor Lymond colocou a mão no queixo. — acho que é só isso... Se tiver mais dúvidas pergunte aos cavaleiros que irei mandar junto de você.
Ele se levantou e abraçou Gwayne.
— Eu tenho orgulho de você!