O jantar havia sido cancelado, e depois de um mês que Laila estava recuperada, Alexia marcou novamente, estavam todos lá, até mesmo o pessoal da limpeza que fizeram questão de comemorar a volta da Alexia. E ali no meio de todos ela percebeu que seu pai nunca a deixou sozinha realmente.
— O jantar foi um sucesso, pessoal, pessoal. Obrigada a todos por virem e por todo o trabalho árduo que vocês sempre colocaram nos seus afazeres. Agora é hora de descansar e aproveitar o resto da noite.
— Obrigada por tudo, Alexia. É sempre um prazer estar com você.— Uma das advogadas da empresa fala.
— Antes de vocês irem, quero dizer que me arrependo muito não ter visto que estou rodeada de pessoas incríveis. Sei que fui rude com cada um de vocês... mas era o jeito que aprendi a me proteger. Me desculpem por isso. E hoje sei que sempre tive uma família imensa ao meu lado. Obrigada.— Ela fala um pouco emocionada. Todos da mesa sorriem e as mulheres se emocionam.
Com a despedida Matheo fica do lado de fora esperando para leva-la embora.
— Pode ir Matheo. Eu vou dar uma volta, desde que cheguei não pude fazer isso.
— A última vez que te deixei sozinha você sumiu. Não vou correr esse risco de novo.— Matheo fala se negando a ir embora sem ela.
— Qual é tiozão.— Ela provoca e ele revira os olhos.— Eu estou bem, não bebi nada, se eu não chegar até a meia noite é por que perdi meu sapatinho de cristal, ou minha abóbora se desfez no caminho. Ela brinca.
— Você voltou tão engraçadinha. Eu vou, mas meia noite é meia esteja em casa.
— Ah, pronto. Incorporou o senhor Mael em você. Não é atoa que são irmãos.
— Teimosa.
Alexia se despede deixando Matheo contrariado, caminhando pelas ruas iluminadas percebe que parou de frente da Torre Eiffel. Lá, ela fica olhando a paisagem e as luzes da cidade, deixando as lembranças que tem daquele lugar surgirem nos seus pensamentos. A memória daquele é dolorosa, foi a última vez que viu o pai com vida, mas também é onde ela encontra a força para superar seus momentos mais difíceis. Sem esforços ela vê como se fosse um filme o dia que Benício a pediu em casamento. Seus olhos estavam inundados de lágrimas.
— Por que você fez isso comigo? Eu te amava tanto... por que tudo teve que acabar assim?— Ela sussurra abraçando seu próprio corpo. Um leve vento balança os cabelos, mesmo estando sozinha ela sentia que havia alguém ali, a observando e cuidando dela. Alexia se senta em um banco próximo e olha para a torre iluminada, lembrando-se do momento especial que compartilhou ali.— Eu prometi a mim mesma que não choraria mais por você. Mas é difícil esquecer... mesmo depois de tudo que aconteceu.
Benício, que estava observando Alexia de longe, sente um aperto no peito ao vê-la em um momento tão vulnerável. Ele sabia que a ferida causada por suas mentiras ainda estava aberta dentro dela, e se sentia impotente diante da situação.
Benício decide se aproximar, mas ao ver Alexia se levantar e começar a caminhar em direção a ele, ele entra em pânico e vira as costas para que ela não o veja. No entanto, Alexia percebe sua presença, ele o reconhece a distância mesmo sem fazer esforços algum.
— Benício...— ela sussurra, com um misto de surpresa e confusão na voz. Benício cerra os punhos, lutando contra a enxurrada de emoções que o assolam. Ele se vira lentamente para encará-la, e ao ver a expressão de incredulidade nos olhos dela, tudo o que ele consegue fazer é engolir em seco.— O que você está fazendo aqui? — a voz de Alexia soa frágil e carregada de emoção.
— Eu... eu só queria te ver... — Benício gagueja, sua voz falhando.— Estava com tanta saudade.
— Saudade? Não importa, eu não estou preparada para conversar com você, não agora. — Alexia corta, as lágrimas que estavam prestes a transbordar novamente. Benício luta contra o nó na garganta, buscando desesperadamente as palavras certas para se desculpar. Mas ele se sente paralisado, incapaz de expressar o turbilhão de emoções que o invade. — Por favor, Benício, vai embora, acho que já falamos tudo que tinha que ser dito. — Alexia murmura, virando-se para afastar-se dele.
Benício assiste impotente quando ela começa a se afastar, sua mente atordoada com a magnitude de toda a dor que ele causou a ela.
Enquanto Alexia caminha sozinha pelas ruas iluminadas, ela se vê inundada por uma enxurrada de sentimentos contraditórios. Sua mente está repleta de memórias dolorosas misturadas com momentos felizes que ela pensou ter superado. Mas nesse momento, diante da Torre Eiffel, ela se sente como se estivesse revivendo todas as emoções que um dia a consumiram.
Alexia sussurra palavras cheias de tristeza, ela percebe que alguém se aproxima silenciosamente. Ela olha para cima e vê Benício parado à sua frente, sua expressão repleta de angústia e remorso.
— Alexia, por favor, me ouça. Eu sei que fui um covarde. Eu sei que te magoei mais do que poderia suportar. Mas eu amo você. Eu sempre amei. Eu sei que as palavras não são suficientes para consertar o que fiz, mas eu... eu preciso saber que me perdoou.
Os olhos de Alexia se enchem de lágrimas, seu coração se debatendo entre a dor e a mágoa.
— Eu não sei se posso esquecer tudo que aconteceu, Benício. A dor... ela ainda está aqui. E é difícil... é difícil esquecer, eu confiei em você é você traiu minha confiança. — a voz dela falha enquanto ela luta para manter a compostura.— Mas... quero que saiba que já te perdoei.
Benício se ajoelha diante dela, segurando suas mãos com delicadeza.
— Eu entendo. E eu prometo, Alexia, que vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para merecer você de novo. Eu não posso mudar o passado, mas eu posso mudar o futuro. Eu te amo, Alexia. E eu vou passar o resto da minha vida tentando provar isso a você.
Alexia olha nos olhos de Benício, vendo a sinceridade genuína em seu olhar.
— Eu também te amo! Mas esse não é o momento para te dar mais uma chance. Minha vida está uma bagunça e não quero me distrair com você. Eu te amo e eu te perdoo, mas não quero voltar. Não agora. Me de um tempo, é tudo que eu peço. Quem sabe as coisas aqui dentro parem de doer.
Benício olha nos olhos de Alexia, vendo a dor e a confusão refletidas neles. Ele respira fundo, lutando contra a enxurrada de emoções que o assolam. Depois de um momento de silêncio, ele finalmente fala.
— Meu amor, eu entendo. E respeito a sua decisão. Eu sei que ainda há muita mágoa em seu coração, e eu não quero ser mais um fardo para você carregar. Eu só quero que saiba que não importa o tempo que demore, sempre estarei aqui, esperando por você.— Ele segura as mãos dela com carinho, olhando profundamente em seus olhos.
Alexia olha para Benício e fica uns segundos presa em seus olhos. Ela sente uma mistura de tristeza e duvidas, mas ao mesmo tempo grata por saber que ele está disposto a respeitar seu pedido.
— Obrigada, Benício. Eu não esperava que você compreendesse. Ainda há muita dor aqui dentro. Se retornarmos nosso relacionamento vamos só nos machucar e eu já estou tão cansada de me machucar. — Ela sussurra, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
Benício a abraça, segurando-a com cuidado.
— Eu sei que não posso apagar o passado, mas eu prometo que vou te dar o espaço que você precisa. Eu nunca mais vou te forçar em nada. E, se um dia, a dor se tornar menos intensa e se você decidir me dar outra chance, eu estarei aqui. Eu prometo. — Ele beija suavemente a testa dela. Os dois se olham por um longo momento, sentindo toda a história e as emoções que compartilharam. Então, Benício se afasta suavemente, olhando para ela mais uma vez. — Adeus, Alexia. Eu espero que um dia você possa me perdoar verdadeiramente e seguir em frente, juntos ou não. Eu te amo, e sempre vou esperar por você. Todo o mês dia 25 estarei aqui te esperando. Se você aparecer saberei que está me dando mais uma chance.
Alexia observa Benício ir embora, seu coração pesado e seus pensamentos girando. Ela fica ali, olhando para o carro de Benício se afastando, sabendo que essa despedida é apenas o começo de um novo capítulo em suas vidas.