Retornar ao seu apartamento não foi uma tarefa fácil. Cansado, machucado e mal vestido Gel não conseguiu pegar nenhum táxi e pra completar não há nenhum ônibus que opere durante a madrugada. São três e quarenta e dois da manhã, de um domingo anormalmente frio. Nem mesmo os ladrões devem estar espreitando as ruas. O ferimento em suas costelas apesar de estar estancado devido a poção de saúde ainda está aberto e bem feio. Ser atingido duas vezes no mesmo lugar com toda certeza vai deixar marcas em seu corpo. Visto a falta de opções, Gael decide ir caminhando de volta. As ruas estão vazias, nenhuma alma viva perambula pelas avenidas e ele se sente extremamente confortável com essa situação apesar da dor que faz seus ouvidos zumbirem. Passou um tempo considerável desde que partiu para sua primeira missão. Ao menos conseguiu resolver tudo de forma relativamente rápida e teria ainda o resto do domingo para descansar depois de concluir sua missão diária.
Enquanto caminhava pelas ruas e vielas mal iluminadas dos bairros que circulavam a estação, Gael ainda pensava sobre como tudo mudou tão repentinamente, nunca foi o tipo de pessoa a imaginar situações irreais e fantasiosas como essa, talvez seja por isso que algo assim está acontecendo justo com ele. O perigo ao que foi exposto dessa vez, extinguiu de vez de sua mente o seu desejo de viver uma vida tranquila. Conseguia sentir em suas costelas trincadas e no gosto de sangue em sua boca que essa realidade da qual faz parte agora é tão cruel quanto a antiga, mas muito mais empolgante. O medo que sentiu antes de entrar no covil atroz, e durante seus primeiros embates com as criaturas mágicas que habitavam aquele lugar desapareceram diante dessas novas possibilidades que se abriam indefinidamente à sua frente. Desde que era um adolescente cheio de sonhos ele não se sentia tão vivo, Talvez um propósito não seja a única coisa que irá ganhar em sua jornada como guardião.
A caixa de recompensas aleatória superior que recebeu como recompensa da conclusão de sua primeira missão tem uma quantidade superior de mana do que a da chave que o levou ao covil atroz. Não só a densidade e concentração de mana é diferente como também existe algo há mais. Embora possa sentir essa diferença, Gael não consegue entendê-la. Enquanto caminha ele a segura nas mãos.
Gael: Ei, Fyr… - O dragão o repreende cada vez menos por não falar seu nome completo. Ele percebeu que não adiantaria nada. - Tem alguma coisa diferente na mana que eu estou sentindo dessa caixa de recompensas. Não é só a quantidade de mana…
Fyrvax: Realmente… - O dragão está um pouco surpreso visto a rápida evolução da capacidade de percepção de mana de Gael. Seus sentidos estão acompanhando o crescimento explosivo de sua força e agilidade. - A frequência dessa mana é similar à que seu mundo gera, mas o objeto guardado dentro da caixa provavelmente veio de outro mundo.
Gael: Mas eu recebi outras coisas e não tinham essa diferença. As poções também foram feitas em outros mundos… Não é?!
Fyrvax: Sim, está certo em partes. As poções passam por um processo de fabricação diferente de objetos mágicos. As propriedades da mana utilizada para a fabricação de poções devem ser neutras ou poderão causar rejeição em certas espécies mais sensíveis a essa discrepância. Embora ainda seja um mistério para nós como esses itens são transportados até as suas mãos, eles devem seguir a mesma lógica comum indiferente a situação.
Gael: Então objetos mágicos mantêm as propriedades da mana dos mundos em que foram criados… Então o que eu vou receber só pode ser um item mágico?! - Está empolgado, Se tiver sorte pode até conseguir uma arma decente. - Abrir caixa de recompensa aleatória superior !- Não precisa se preocupar com descrição, já que não há ninguém próximo. A caixa emite um brilho leve do mesmo jeito que as caixas básicas e aos poucos muda sua forma para a silhueta do item que Gael vai receber. inesperadamente a caixa começa a diminuir consideravelmente até tomar a forma de um anel.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
O DEUS DA CAÇADA IMPLACÁVEL RECONHECE SEUS SERVIÇOS LHE AGRACIANDO COM UM ITEM MÁGICO DE ALTA QUALIDADE. ELE ANSEIA QUE CONTINUE CAÇANDO ETERNAMENTE.
NOVO ITEM RECEBIDO!
ANEL DA RESISTÊNCIA URSÍDEA SUPERIOR – categoria A – um anel feito com magia xamânica da tribo dos orcks, feito de minerais e processos mágicos desconhecidos para os estrangeiros e embebedado em mana e espíritos de centenas de ursos de chifre abatidos. Enquanto equipado ao usuário concede a ele a vitalidade dos ursos de chifre.
EFEITO: O ganho de nível de cansaço do portador deste equipamento é reduzido em 75%.
Gael: Parece que alguém ficou feliz! - Ele encarava o anel que estava transbordando mana, mais mana do que ele imaginaria ver em sua condição atual. A energia liberada do item faz o ar vibrar ao seu redor, é quase como se pura eletricidade estivesse solidificada na palma da mão dele. Gael e Fyrvax podem perceber uma aura roxa sendo emitida pelo item.
Fyrvax: Me parece uma recompensa apropriada. O deus que lhe incumbiu dessa tarefa divina ficou realmente satisfeito com seus serviços. É um resultado inesperadamente excepcional para uma primeira vez.
Gael: Verdade… Não que tenha sido fácil… ainda acho que tive um pouco de sorte no final de tudo.
Fyrvax: Indiferente ao grau de dificuldade… O seu controle de mana e percepção melhoraram consideravelmente, adquiriu até mesmo uma habilidade por conta própria e foi compatível com uma pedra rúnica de habilidade sem nenhum esforço. Sua progressão é rápida, acredito que os dados que coletará de suas experiências serão de grande ajuda para minha pesquisa.
Gael: Não precisa ficar me elogiando, não estou acostumado com isso vindo de você.
Fyrvax: Não foi um elogio. Não tenho nenhuma base de comparação, seu avanço só é rápido se comparado às outras raças que estudei. Até onde sei, todo humano tem o mesmo potencial que você. - Não há malícia nas palavras do dragão, ele diz apenas a verdade e nada mais. A mentira não é algo muito comum entre essa espécie.
Gael: Isso não importa. Sou um dos primeiros humanos a passar por isso. Não tenho nenhuma obrigação de ser excepcional… E outra coisa. - Gael retira de seu inventário o coração de Grevau. - A descrição dessa coisa tá falando que se eu consumir isso eu vou ganhar uns pontos em força. Eu vou ter que comer isso aqui mesmo? Desse jeito?... Eu não quero ter que fazer isso.
Fyrvax: Acredito que seja consumido de forma literal… Como sua raça não absorve nutrientes por outro meio… sua única opção é o consumo direto…
Gael: Se eu cozinhar essa coisa… será que ainda vai funcionar? -
Fyrvax: Alguns nutrientes se perdem durante o processo de cozimento, mas as propriedades mágicas devem se manter após isso. De qualquer forma será uma experiência interessante. Pode aproveitar que vai cozinhar o órgão do lobo e me fazer uma refeição também… - O dragão parece contente, pela refeição que vai receber e pelo experimento que vão conduzir. Ele esperou pacientemente até que eles chegassem no apartamento.
A refeição de Fyr foi aproveitada com prazer, assim como o espetáculo apresentado por Gael ao tentar comer o coração do lobo negro. Para sua sorte, o coração do lobo não perdeu suas propriedades mágicas após ser cozido e temperado. Para seu azar cozinhá-lo e temperá-lo não o deixou menos nojento. sua textura borrachuda e o um gosto de amônia tão forte que chega a arder. Segundo uma pesquisa que realizou pouco antes de começar a cozinhar. Carnes providas por animais carnívoros tendem a ter um gosto mais forte do que os outros, mas não esperava que o gosto permanecesse em sua boca pelo resto da semana inteira que estava para começar. Embora tenha ganhado os 5 pontos em seu atributo de força, o gosto de provar da carne dessa criatura mágica, foi ainda pior do que ter suas costelas quebradas e sua carne rasgada. O pior de tudo foi o enjoo que a carne lhe trouxe, talvez seja pelas propriedades da carne da criatura ou pela sua falta de costume com esse tipo de alimento, mas ela não lhe caiu nada bem.
Gael dormiu pelo resto do dia, após concluir sua missão diária. Seus ferimentos incomodavam bastante durante os exercícios, mas graças ao seu novo item ele tinha energia o suficiente para concluí-los. A benção que recebeu de Forstvax que garante sua boa saúde e aumenta seus poderes regenerativos enquanto dorme consomem muito de sua energia para realizar sua restauração, prolongando o tempo de sono de Gael caso seja necessário para curar suas feridas. Todo esse processo foi observado cautelosamente por Fyrvax que não o despertou a fim de aumentar os dados de sua pesquisa. Graças a isso Gael acordou atrasado para o trabalho na segunda-feira. Embora atrasado, carregava em seu corpo apenas as cicatrizes de sua última batalha, todos seus ferimentos estavam curados e ele já não sentia nenhuma dor. Seu corpo está leve e forte como nunca antes.
Fyrvax: Finalmente está conquistando um aspecto de guerreiro. Não apenas sua capacidade mágica está aumentando junto aos seus níveis. Seu corpo parece estar acompanhando sua evolução. O efeito da mana nos humanos é realmente fascinante. - O dragão sempre entra no quarto enquanto Gael está trocando de roupas, ele já aceitou que uma criatura que não usa nenhum tipo de vestimenta não vai ter o mínimo senso de pudor
Gael: Podia ter me acordado Fyr, não vai dar tempo nem para preparar o seu café da manhã… -
Gael saiu atrasado para o trabalho. Precisou pedir um táxi para chegar no serviço a tempo e não receber sua terceira advertência por atraso, agora que tem um dragão para sustentar não pode lidar com descontos em seu salário. Depois daquele dia, Fyr o acordou religiosamente todos os dias com meia hora de antecedência. O anel da resistência ursídea superior se mostrou um item muito poderoso e útil para os longos e tediosos dias de trabalho. Reduzia quase que completamente o cansaço físico que ele sentia após toda sua jornada de trabalho, graças ao aumento em seus atributos físicos a conclusão das missões diárias se desenrolaram de forma completamente tranquila. A cada dia que passa ele distribui seus pontos de atributo Gael diminui o tempo necessário para a conclusão da missão. Depois de uma semana, no domingo, ele se preparava para um compromisso nada atípico em sua rotina já decorada por Fyr.
Fyrvax: Vai em algum lugar atípico? - Perguntou o dragão quando viu Gael com roupas diferentes das que geralmente usa no domingo.
Gael: Vou… vou ter que almoçar com minha mãe hoje. Tô indo pra casa dela. - Gael parece bem desconfortável com a situação.
Fyrvax: Sua mãe… A comida dela é tão boa quanto a sua?! - As palavras almoço, café da manhã, jantar e lanche despertam tanto ânimo em Fyr quanto estudar os efeitos da mana em Gael.
Gael: É bem melhor na verdade. Eu só frito a sua comida Fyr, se você experimentar a comida dela é capaz de nunca mais querer comer o que eu faço… não sei como te falar isso, mas você sabe que ela não pode te ver né?!Com certeza ela vai surtar.
Fyrvax: Estou ciente. Imaginei que ela lidaria comigo da mesma forma que você lidou, mas não esperava tamanha sorte. - O dragão parece um pouco desapontado. - Tive um entendimento precipitado na verdade. Achei que os humanos espelham seus comportamentos no de seus parentes mais próximos, acreditei que sua atípica reação relativamente tranquila fosse fruto de uma criação diferente que recebeu…
Gael: As relações das pessoas são complicadas, sabe?! principalmente entre pais e filhos. - Gael sempre dedica seu tempo a explicar os aspectos da existência humana que o dragão desconhece. De certa forma se sente em dívida com Fyr, devido a devoção que o dragão tem em lhe explicar quantas vezes forem necessárias qualquer coisa na qual ele tenha conhecimento. - Nós como filhos temos a tendência de copiar os nossos pais ou rejeitar o que eles são completamente. No meu caso eu puxei muito do meu pai… minha mãe é mais reativa do que eu.
Os dois deixam o apartamento e se dirigem à estação. Depois de alguns minutos de viagem de metrô, os dois chegam juntos ao centro da cidade, a região onde a mãe de Gael mora. Já que os metrôs geralmente permanecem vazios durante os finais de semana, Fyrvax pode experimentar como é a sensação de andar nos transportes terrestres. Toda experiência nova pela qual ele passa é analisada calma e metodicamente pelo dragão que guarda os dados em sua memória para compartilhá-las com o dragão sábio depois, ciente desse objetivo de Fyrvax, Gael emprega grande esforço para contextualizá-lo nessas situações. As preciosas e interessantes informações que Fyrvax recebe diariamente só são possíveis serem transmitidas, graças a um dos talentos de Gael.
Ele é um comunicador nato, é paciente, flexível, confiante em suas palavras e acima de tudo consegue simplificar os assuntos nos quais tem domínio para que até criaturas que não pertençam a esse mundo consigam entender. Infelizmente todo esse talento comunicativo é geralmente desperdiçado devido às suas fortes tendências antissociais.
Ao chegarem próximo a casa da mãe de Gael, o dragão se envolveu na costumeira mana que usa para camuflar a sua existência. Exceto por Gael, cujo sua percepção mágica e física não era bloqueada pela habilidade do dragão, ninguém conseguia perceber sua presença. Comparada a casa em que sua mãe mora, o apartamento de Gael parece um canil. Em sua mente Fyrvax comparou o apartamento de Gael com as casas de plebeus dos mundos que visitou, em igual comparação a casa de sua mãe seria um palacete de um nobre.
"Por que mora em uma residência como aquela, se sua mãe desfruta de tantos recursos financeiros?" - O dragão pergunta telepaticamente.
Gael: Por que o apartamento é meu… Comprei com o dinheiro que meu pai deixou pra mim quando morreu. - Gael responde o dragão normalmente quando estão sozinhos.
"Tem uma relação conturbada com sua mãe?" - As perguntas sinceras e nada maldosas do dragão sempre pegam Gael desprevenido. Todas elas, principalmente as que têm um âmbito mais pessoal, requerem certa análise existencial para serem respondidas de forma honesta.
Gael: Quando meu pai morreu, uns anos atrás a gente teve um certo conflito por causa do que eu queria fazer da minha vida… - Gael suspira fundo, desanimado por ter que contar essa história. O dragão despertava nele uma incomum boa vontade em conversar. - Como resultado dessa discussão eu fui emancipado, fiz o curso de astronomia e consegui comprar aquele apartamento.
" Emancipado?! Eu desconheço esse termo." - Além dos costumes, o dragão também aprende muito sobre o vasto vocabulário humano.
Gael: Quando minha mãe e meu pai casaram, eles uniram seus bens… Quando eles morressem, se eu continuasse como seu único filho eu seria o herdeiro deles. Como meu pai morreu antes, eu entrei em acordo com minha mãe e ela me deu a parte que seria do meu pai. Foi um adiantamento da minha herança…
" Por causa desse adiantamento que a relação de vocês dois é tão desconfortável para você agora?"
Gael: Não… foi por causa da discussão que a gente teve… Ela me falou que eu ia jogar dinheiro fora estudando astronomia e comprando um apartamento naquela região. - Gael está visivelmente insatisfeito em dizer essas palavras.
" Vejo que as palavras dela lhe incomodaram profundamente." - O dragão se esforça ao máximo para interpretar a situação.
Gael: Não foi o que ela disse… - Ele reluta. - Foi porque ela estava certa.
" Imaginei que estava a almejar uma profissão de artista, visto que gasta tanto tempo tentando transcrever iluminuras no papel. Não consegui perceber que se dedicava ao estudo das estrelas. " -
Gael: Tá falando dos desenhos. Aquilo é mais um dos meus Hobbies sabe?!… nunca esperei ganhar algum dinheiro com aquilo… Na verdade eu queria fazer o curso de Física, mas não consegui passar. Então eu fui para a minha segunda opção...Astronomia.
" Pelo visto também não esperou ganhar a vida com a astronomia. Desde que comecei a lhe observar eu não testemunhei nenhuma prática nessa área de estudo. Como pesquisador eu reconheço um procrastinador quando vejo um ." - Gael aparentemente perdeu o pouco de respeito que o dragão tinha por ele após isso.
A conversa se encerrou subitamente sem que Gael pudesse se defender quando uma mulher saiu para fora da residência após os portões largos se abrirem sozinhos. Gael se parece bastante com a sua mãe. Os dois possuem o cabelo da mesma cor negra e os olhos dos dois são afiados e dotados de uma cor de mel quase dourada. Gael é um pouco mais moreno que sua mãe. Ela é uma mulher bonita e altiva. transpassa em todas as suas ações beleza e elegância.
Cíntia: Oi, meu filho… você cresceu um pouco desde da última vez que veio aqui? - Sua voz é forte ainda que suave. Dá um sorriso largo enquanto abraça Gael.
Gael: Acho que não. Já tem um tempo que a gente não se vê… Como você tá mãe? - Obviamente é mentira. Muitos repararam na súbita mudança física que ocorreu com Gael nessas últimas semanas, embora não seja algo gritante ele ficou mais alto e conquistou alguns músculos. Cresceu alguns centímetros nos últimos dias. O sistema estava conformando seu corpo para comportar sua força e agilidade crescentes. Fyrvax também reparou e analisou as mudanças físicas no corpo de Gael todos os dias enquanto ele trocava de roupa, claro que o dragão nunca se prontificou a explicar por que fazia isso, o que deixava o clima muito desconfortável.
Cíntia: Estou muito bem. Continua trabalhando na mesma empresa? - Ao passarem pelo jardim e entrarem na casa de Cíntia, ela como de costume já buscava se informar sobre a vida profissional do filho, um assunto que sempre causou certo atrito entre os dois. - O que você faz, lá mesmo?
Gael: Faço serviço administrativo… já tô lá há uns quatro anos. - Como aprendeu com a experiência, seria inútil tentar mudar de assunto. Dar respostas curtas sem demonstrar interesse em estender esse assunto é a melhor forma de suprimir esses temas. - Conseguiu folga no hospital no domingo… Que milagre!
Cíntia: Consegui tirar umas férias na verdade. Por isso queria almoçar com você hoje. Já fazia um tempo que não comíamos juntos, só você e eu. - Cíntia é uma cardiologista em um dos hospitais particulares do centro da cidade. Começou seus estudos em medicina quando Gael ainda era uma criança. Se formou alguns anos antes de seu marido falecer. - Vou viajar nessa semana e queria te ver um pouco.
Gael: Com o Bartô?! - Bartolomeu é o atual namorado de sua mãe. Um coronel da policia militar aposentado que agora trabalha como marceneiro por hobbie. É um homem tão reservado quanto Gael, os dois não sabem como interagir um com outro sempre deixando o clima desconfortável. Devido a isso ambos preferem se encontrar apenas em casos necessários. Ambos se respeitam e entendem essa falta de tato que os dois têm ao conversar um com o outro.
A refeição estava tão deliciosa quanto possível. Gael podia ouvir as constantes mensagens de Fyrvax o lembrando de levar algumas sobras para ele. A conversa entre os dois foi tranquila e prazerosa, já havia alguns bons meses que os dois não se viam e sempre tratavam de aproveitar ao máximo esses momentos em que se encontravam. Aparentemente ambos entraram em um consenso em relação às escolhas de vida de Gael, o que não acarretou mais nenhum atrito entre os dois. Ambos se dedicaram exclusivamente a assuntos triviais e acontecimentos de seu dia a dia. Claro que Gael não compartilhou com sua mãe as suas últimas e fantasiosas experiências, isso é algo que decidiu deixar para explicar depois. Quando o mundo inteiro estivesse sabendo. Não há porque ter pressa, um ano passa em um piscar de olhos.
Gael voltou ao seu apartamento no finalzinho da tarde, não conseguiria esquecer mesmo que quisesse trazer as sobras para Fyrvax. Enquanto o dragão se deleitava com as porções de frango assado, Gael se sentou em sua velha poltrona como não fazia a muito tempo e acendeu um cigarro. Naquele dia, talvez influenciado pelas perguntas de sua mãe sobre o que ele fazia na empresa na qual trabalha o fizeram pensar sobre tudo que lhe estava acontecendo antes de Fyrvax e o sistema fazerem parte de sua vida. Enquanto estava sentado na poltrona, enchendo e esvaziando seus pulmões com fumaça ele pensou.
" O que eu tava fazendo antes disso tudo?! Agora parece que tudo que eu faço é esperar pela próxima chave de missão. Faz semanas desde que eu desenhei pela última vez e ainda mais tempo desde que usei um telescópio," - Ele se lembra do seu ritual diário de rabiscar algo em uma folha de papel apenas para não gostar do resultado e jogá-la fora e também das várias tentativas frustradas de tentar uma vaga de estagiário em um dos poucos observatórios do estado. " Acho que já tava travado antes disso tudo começar, mas pelo menos eu tentava." - Quando o cigarro chegou ao seu fim, Gael foi dormir.
A próxima semana passou em um piscar de olhos. O trabalho entediante, as missões diárias cada vez mais fáceis de serem concluídas e as noites que apesar de rápidas eram o suficiente para que ele se recuperasse por completo encheram seus dias de forma que ele nem percebeu o tempo passar. Quando um novo domingo chegou ele o iniciou da forma mais preguiçosa possível. Comeu, dormiu e jogou o tanto quanto possível. Sua missão diária foi concluída à tarde após um sermão do dragão sobre como todo avançar é importante para sua pesquisa, como nenhum dos dois sabem quais serão os futuros efeitos do subir de nível de Gael não há mais nada a se fazer senão seguir em frente.
Além das tarefas monótonas, Gael treinou o uso das habilidades ganhas em sua última missão, continuou conforme a instrução de Fyr o uso constante de seus olhos dracônicos da visão verdadeira sempre que tinha mana suficiente para o seu uso. Todos os dias, sem exceção nenhuma ele consumia sua mana completamente utilizando os olhos dracônicos, no final da semana isso lhe garantiu duas coisas. Em primeiro lugar ele conquistou um entendimento maior sobre suas habilidades, já que o uso constante gera familiaridade com esse tipo de magia. As habilidades são o tipo mais primitivo de uso de magia, a tal ponto que as criaturas mágicas a utilizam da mana dessa forma, mesmo seres dotados de pouca inteligência são capazes de utilizar magia através das habilidades. Juntos eles descobriram que ao menos a magia de Gael mimetiza em seu corpo as habilidades dos dragões, como os olhos dracônicos e as garras de dragão furioso. Ao que tudo indica seu uso de habilidades mágicas é a sua principal características, o que não é afetado pelo revés de sua habilidade da ferocidade acuada, visto que o uso de habilidades mágicas não requer uso refinado de mana.
O segundo fruto desse uso constante em seus olhos foi a evolução da habilidade que agora atingiu o nível 2. Agora Gael não somente é capaz de ver o fluxo de mana e os atributos de seres para quem olhar como também é capaz de ver descrições de itens para os quais ele olha sem a necessidade de integrá-los ao sistema por meio do seu inventário. As informações, no entanto, não são exibidas da mesma forma. Objetos inanimados fitados por Gael quando não fazem parte do sistema tem apenas seus nomes, material de fabricação e condição revelados. A categorização de itens aparentemente é uma função inerente ao sistema. Com isso, aos poucos Fyrvax conseguiu começar a entender como os poderes mágicos de Gael estão se manifestando, mesmo que ele não seja um caso especial entre os humanos, certamente é alguém bastante apto ao uso da magia diante daqueles aos quais o dragão já estudou.
O domingo seguiu em uma paz melancólica como de costume. Gael aproveita preguiçosamente cada segundo que lhe resta de seu dia de folga plenamente consciente e triste pela nova semana de trabalho que vai se iniciar. As refeições de Fyr não são muito trabalhosas de se fazer visto que o dragão não é exigente, Qualquer coisa que contenha carne é apreciada por ele, mas ele tem uma grande tendência a gostar mais de carne frango, talvez pela refeição fornecida por Cíntia qualquer coisa que Gael tente fazer não vai ser tão apreciado. Embora a contra gosto, Gael sempre vai dormir cedo aos domingos para minimizar a infelicidade de acordar cedo com uma boa noite de sono ao menos.
Não conseguiu.
O sono foi turbulento e agitado, como na noite em que foi escolhido como um guardião. Só que dessa vez, não sonhou com cenas de guerra ou criaturas fantásticas. Não foi um sonho agitado capaz de fazê-lo acordar repetidas vezes durante a noite e depois voltar a dormir, esse sonho, não, essa visão o prendeu até o seu amargo fim.
Dessa vez ele não era apenas um mero observador, não via o desenrolar dos acontecimentos de forma indolor e longínqua. Estava na pele de quem sonhou, sabia que não era ele pois não se identificava com aquele corpo. Os sentidos que fortaleceu com o passar dos níveis não estavam presentes naquele corpo. Ouvia e sentia tudo que essa pessoa sentia e sabia em seu íntimo que não era aquela pessoa. As cenas que se seguiram e que ficaram marcadas em sua mente foram rápidas porém inesquecíveis. Dezenas de criaturas esverdeadas se juntavam ao seu redor, o perfuravam e o cortavam sem o menor pudor. Quem sofria os cortes e maus tratos não era ele de verdade, ele sabia disso e mesmo assim sentiu em sua alma cada um dos ferimentos, os que lhe eram infringidos e os que já estavam abertos. Sentiu a dor, o desespero e a solidão. sentimentos esses que não eram de verdade seus, mas que se enraizaram em sua memória. Sentiu ódio por ver aquelas pequenas criaturas se deleitando com esse sofrimento, seus sorrisos e olhos maldosos brilhando com a felicidade pela desgraça daquele pobre coitado que já estava rendido e mesmo assim não fora poupado. Gael sentiu tudo, até não sentir mais nada e de certa forma essa ausência de sentidos foi infinitamente pior. Esse vazio que sentia se seguiu até que ele não aguentou mais e acordou.
Estava encharcado de suor e ofegante. Sua garganta está doendo, como se estivesse tentando gritar desesperadamente por horas sem sucesso. Todo seu corpo doía, provavelmente tencionou seus músculos ao limite enquanto tinha essa visão. Tateou desesperadamente seu tronco procurando os ferimentos que causaram essa dor tão real. Olhou em volta para ver se achava essas criaturas verdes que tanto lhe maltrataram sem que pudesse fazer nada. Não havia a menor diferença em seu quarto. Estava vazio, escuro e silencioso como deveria ser, exceto pela mensagem a sua frente.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
UM GUARDIÃO FOI MORTO!
Não era um sonho de forma alguma. Gael se conectou ao guardião segundos antes de morrer.
" Será que foi só eu ou todos os outros sentiram isso?! "
Por qual motivo seria compartilhado tamanho desespero com os outros?! para mostrar o que os aguardava caso fossem fracos?! Não conseguiu nem ver como o guardião que foi morto era, não sabia ao menos seu nome?! Após se acalmar, Gael colocou seus sentimentos em ordem, apesar do choque dessa experiência, ele não sentia nada em relação ao guardião que se foi. Não sentiu tristeza nem pena ou compaixão pelo falecido, afinal não tinha qualquer conexão com o que quer que essa pessoa tenha sido. As únicas coisas em comum entre os dois é o sistema e o posto de guardião, que na realidade não quer dizer muita coisa já que ninguém sabe qual é o real propósito daquilo tudo. Naquele momento a única coisa que importava era a diferença entre os dois, o que levou a morte do outro?! Isso poderia acontecer com Gael já que ele enfrentou um inimigo bem mais forte que aquelas criaturas verdes. Talvez seja pela diferença de suas estratégias ou como encararam o sistema?! Talvez não tenha feito missões diárias o suficiente ou talvez esse guardião não tenha tido tanta ajuda quanto Gael teve de Fyrvax.
A morte do guardião abriu milhares de perguntas sem respostas, não adiantaria perguntar nada a Fyrvax já que seu conhecimento sobre o sistema é tão pequeno quanto o seu próprio. Gael não voltou a dormir naquela noite e apenas refletiu em silêncio tudo que conseguia se lembrar sobre o sistema. As horas passaram em vão, com tão escassa informação que recebeu tudo que ele conseguiu tirar de tudo que aconteceu é que ele precisa ficar mais forte. Não sabe quais habilidades vai despertar e nem que criaturas irão se interpor em seu caminho. Com esse universo se expandindo para ele e os outros dez guardiões restantes, tudo que podem fazer é o seu melhor. Para o bem ou para o mal, em menos de um ano a união se iniciaria e provavelmente todas as respostas que poderiam ter deverão esperar até que isso aconteça.
O mundo tem uma cor diferente agora. Cada segundo é irrelevante no mundo que Gael conhece, cada minuto, hora ou dia é apenas um sacrifício que ele tem que fazer para viver de verdade. Mesmo que o sistema faça parte de sua vida apenas quando está cumprindo as missões diárias ou quando está abrindo as caixas de recompensa. Vale a pena viver um dia inteiro apenas esperando por esses minutos de empolgação. Seja pelo medo que sentiu ao experienciar aquela cena ou pelos novos objetivos que conquistou agora ele pela primeira vez pensa seriamente no futuro. As mudanças que se acarretaram contra o mundo durante a união de mundos trazem grandes poderes e grandes inimigos.
Demorou mais vinte dias para que entre as recompensas de Gael ele ganhasse mais uma chave para missão. Durante todo esse tempo ele fielmente concluiu suas missões diárias cada vez mais rápido, distribuindo seus pontos de atributo e imediatamente abrindo as caixas de recompensa assim que as conseguia na esperança de conseguir mais uma chave. Os espólios que conseguiu durante a conclusão de suas missões diárias restauraram seu estoque de poções de saúde, vigor e mana. Dessa vez ele recebeu mais alguns itens incomuns. Pequenas pedras azuis brilhantes com uma grande quantidade de mana comprimida em seu interior, as quais Fyr reconheceu como pedras de mana mineradas em mundos onde a concentração de mana é tanta que ela toma forma sólida. Também recebeu uma runa de restauração do primeiro aprendiz de categoria D.
Segundo a descrição do sistema ele é usado em itens mágicos para restaurar sua durabilidade. Segundo Fyrvax, itens mágicos são muito mais resistentes que itens não mágicos e não se quebram apenas com um uso contínuo, mas a mana presente neles perde sua força com o tempo e apenas isso é capaz de comprometer a resistência dos itens. Levando isso para os termos do sistema, quanto menos mana um item mágico teria menor seria a sua durabilidade e para isso as runas de restauração foram criadas. São muito comuns nos mundos anões, que é o lugar que provavelmente deu origem a esse item. Como chegou às mãos de Gael através de uma caixa de recompensas ainda é um mistério.
Mesmo diante desses itens fantásticos, sem dúvida o mais precioso para Gael é a sua nova chave de missão.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
NOVO ITEM RECEBIDO!
CHAVE DE ACESSO PARA CAVERNA GOBLINÓIDE – categoria D – Item consumível
Permite ao guardião iniciar uma missão de invasão. Essa chave deve ser utilizada na gruta da fumaça. Uso único.
Já é sexta-feira, um dia ideal para se iniciar uma missão com essa chave. Após concluir a missão diária se teria dois dias inteiros para dar fim ao que quer que se encontre nessa caverna. A gruta da fumaça, pelo menos a que Gael conheceu quando mais novo em uma excursão da escola, fica a umas quatro horas de viagem de onde mora. Trata-se de um grupo de túneis e cavernas usada antigamente por mineradores de carvão. Os horários de ônibus consultados na internet revelaram que um iria partir em 40 minutos da estação de ouro velho. Em sua velocidade máxima atual ele conseguiria chegar lá em pouco tempo então começou a se preparar.
Fyrvax: Essas vestimentas que comprou… parecem mais fortes do que as que utilizou da última vez… Sabe que elas não vão aumentar sua proteção, não é? - O dragão novamente adentra o quarto enquanto Gael está se trocando.
Gael: Sei…, não é como se eu conseguisse comprar algo que me protegeria de qualquer coisa que estivesse lá. - Gael ao decorrer desses dias que passou apenas completando suas missões diárias e esperando por mais uma chave de missão comprou roupas mais resistentes em uma dessas lojas de acampamento e atividades radicais. Os tecidos que compõem as calças são muito mais grossos do que as que ele normalmente usa, afinal é uma calça tática que custou bem caro. Junto às calças ele também adquiriu um par de coturnos que imitam bem os que os policiais militares usam. - Pelo menos essas não vão rasgar a toa e também vai ser mais fácil de lavar.
Fyrvax: Compreendo, visto o estado em que suas vestimentas ficaram da última vez é sábio adquirir equipamentos mais resistentes. - Gael comprou mais de uma unidade das calças e o dragão começa a analisar. - Mesmo que isso não vá adiantar muita coisa. Os equipamentos de seu mundo são bem frágeis.
Gael: Não tenho muito dinheiro sobrando pra comprar coisas muito boas… não é como se em toda esquina tivesse uma loja de armaduras. Isso aqui não é um RPG. - O dragão parece desinteressado nas desculpas de Gael. - Sem falar que tenho menos dinheiro ainda sobrando, já que tenho que te sustentar de carne.
Fyrvax: Uma alimentação farta é necessária para um entendimento melhor das suas interações com a mana. Não esqueça que o alimento que me fornece é um preço pequeno a se pagar diante das instruções que lhe passei.
Gael: Sei… sei. Não tô reclamando. Meu pai sempre dizia que comida cozida não nasce. Não tem problema você comer quase toda comida que eu tenho aqui. É só sair pra comprar mais, então relaxa.
Fyrvax: Não compreendo o sentido desse ditado de seu pai… Claro que comida cozida não nasce… Parece algo extremamente óbvio mencionar uma coisa desse tipo.
Gael: Eu também não entendo, mas ele falava isso sempre que alguém que comia muito ia lá em casa. É tipo pra não ser pão duro.
Fyrvax: Pão duro?!
Gael: Deixa pra lá. Depois a gente separa um dia, só pra eu te ensinar as expressões que a gente usa… Se bem que eu vou precisar de mais de um dia.
Os dois partiram, mais uma vez, em direção à estação de ouro velho. Gael aprendeu a utilizar melhor seu inventário o utilizando para armazenar suprimentos como garrafas de água e barras de cereal. Na loja de artigos militares na qual comprou suas novas roupas ele também considerou comprar alguma outra arma, como um facão, ou outra faca, mas visto que teria de enfrentar o mesmo problema de falta de mana nas armas não teria nenhum sentido comprar outra arma que só consumiria mais a sua mana. Levando em conta que atualmente sua quantidade de mana é contada ele tem que reduzir o uso de suas habilidades ao mínimo possível.
Chegou a estação de outro velho em poucos minutos com seu nível de cansaço quase que inalterado. Sua resistência física aumentou absurdamente devido ao anel que ganhou com recompensa da última missão. O anel com o que parece ser a pata de um urso ornado em seu topo ostenta uma cor roxa metálica e opaca. É rústico, não é refinado e polido como os anéis que costuma ver nos dedos dos outros, parece mais uma peça bruta de metal que foi aos poucos sendo lascado até ficar da forma que está. Não somente o processo de construir fisicamente esse anel como também o esforço que foi necessário para comprimir tanta quantidade de mana em um espaço tão pequeno é incrível. Se sua percepção não estiver errada, esse anel tem mais de dez vezes a quantidade de mana que Gael consegue gerar, isso ele só consegue sentir depois que o colocou. Segundo Fyrvax os itens mágicos só emitem mana quando usados e sua energia só pode ser corretamente mensurada pelos seus usuários ou por magos com grande percepção de mana.
Enquanto ainda esperava o seu transporte, compartilhou alguns lanches da rodoviária com Fyr, aos quais ele aprecia profundamente. A viagem de ônibus até o lugar foi tranquila apesar das condições precárias das estradas, Gael dormiu durante todo o caminho só acordando com a comoção dos outros passageiros desembarcando. Como o ônibus estava bem vazio, Fyrvax também adormeceu ocupando uns três bancos. As poucas horas de sono lhe caíram bem, já que agora poucas horas de sono combinam a benção de Forstvax com os efeitos do anel da resistência ursídea o restaurando por completo. Assim que desembarcou, como aconteceu na estação quando partiu para a sua primeira missão, ele pode sentir de imediato o acúmulo irregular de mana no lugar aonde deveria ir.
Seguindo por uma trilha estreita cheia de pedras irregulares e galhos espinhosos, ele chega até um pequeno portão vermelho e enferrujado localizado à esquerda da entrada de visitantes da gruta. Obviamente essa área não é para visitantes, mas não haverá ninguém para vê-lo depois que entrar para o mundo onde concluirá sua missão. Não havia ninguém por perto, todos os passageiros que compartilharam o mesmo transporte se dirigiram diretamente para um restaurante próximo ao local, apenas alguns guias permaneceram conversando do lado de fora da gruta. Gael respira fundo enquanto retira a chave de missão de seu inventário. Não imaginava que sentiria isso a esse ponto tendo em vista tudo que já passou, mas estava com medo. A visão que teve da morte do guardião o abalou mais do que ele se permitiu perceber nas últimas semanas. Usou da empolgação que o impulsionava a continuar completando as missões diárias para não pensar no que viu e no que sentiu quando o viu. Agora tudo estava transbordando e as perguntas que ignorou a fazer para si mesmo durante as últimas semanas vieram à tona naquele instante.
Mesmo com o turbilhão de pensamentos rodando em sua mente, Gael se forçou a seguir em frente. O medo que sente agora não é nada comparado a quando ficou de frente com o primeiro lobo atroz que viu. Mesmo naquele momento ele fez o que tinha que fazer e o fará novamente agora. As dúvidas e perguntas que tem não são o suficiente para que ele se permita parar. Decidido a seguir em frente, Gael usa a chave. Um brilho esverdeado cobre Gael e Fyr por completo e a mesma sensação de estar sendo arrastado passa pelo seu corpo e pela sua mente.
Quando abriu seus olhos, os dois já estavam dentro de uma caverna, muito diferente da caverna onde ele enfrentou os lobos atrozes. É mais quente ao mesmo tempo que é bastante úmida. é iluminada precariamente por tochas feitas de ossos que exalavam um mal cheiro terrível. O lugar parecia mais um formigueiro iluminado, visto que não havia apenas uma passagem para seres do seu tamanho como também inúmeros túneis menores e mais apertados, túneis que mais pareciam ser utilizados por crianças. quando pousou seus olhos sobre a mensagem do sistema, Gael deixou escapar um sorriso apreensivo e um pouco desesperado.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
MISSÃO DE RETALIAÇÃO INICIADA
Dentro dessa caverna goblinóide há tropas perigosas responsáveis por dar fim a vida de um dos guardiões. Deixar que essas tropas aumentem seu número e força será perigoso, a deusa da magia suplica para que traga o fim para essas criaturas vis que ameaçam a sua terra a tanto tempo.
Recompensas:
5 pontos em todos os atributos
Caixa de recompensa aleatória superior
Gael: Tinha que ser essa né?! - Retirando sua faca do inventário Gael está apreensivo ao mesmo tempo que prova uma calmaria estranha. Embora sua mente esteja processando tudo que viu em seu sonho com o que a realidade lhe mostra de forma caótica e confusa, seu coração nunca esteve tão calmo. E um sentimento parecido com o que experienciou no covil atroz.
Fyrvax: Tem algum conhecimento sobre esse lugar?
Gael: Eu sonhei com ele, umas semanas atrás… Logo depois eu recebi uma mensagem do sistema me falando que um guardião foi morto. Acho que foi um tipo de…
Fyrvax: Visão… - O dragão não esboça nenhuma reação específica de revolta, mas claramente está descontente. - Parece que os guardiões de seu mundo estão conectados através do seu sistema… Eu apreciaria se não escondesse esse acontecimentos de mim. Os dados que conseguir coletar serão úteis para você também.
Gael: Eu sei… Sinto muito. Eu fiquei um pouco…
Fyrvax: Assustado. - As habilidades interpretativas do dragão em relação aos humanos aumentaram drasticamente desde que começaram a interagir. Fyrvax afinal, é um estudioso, sabe identificar padrões de comportamento facilmente. Sua pesquisa não envolve somente a interação da raça humana com a mana, mas sim a raça humana como um todo.
Gael: É, fiquei bem assustado. Eu não só vi o que aconteceu com o guardião. Eu senti. Eu estava no corpo dele quando essas coisas que vivem aqui o mataram. Foi diferente do que foi com os lobos atrozes…
Fyrvax: Está confuso porque tem medo dessas criaturas que aparentam ser mais fracas do que os lobos atrozes?
Gael: Não sei… não me deixei pensar muito sobre isso desde que aconteceu. Não esperava que fosse parar aqui nessa missão.
Não houve tempo para se adaptar ao lugar ou continuar a conversa, com seus sentidos mais aguçados que nunca Gael detectou a uma distância considerável o barulho de passos leves e rápidos vindo de todas as direções. Estavam tentando cercá-lo utilizando das brechas na iluminação que as tochas precárias geram. Se Gael fosse uma pessoa que contava apenas com sua visão ele provavelmente seria enganado, mas o barulho mesmo que discreto não passou despercebido por ele. Contando com seus sentidos apurados e os olhos da visão verdadeira não havia nada naquele lugar que ficasse oculto. As criaturas são pequenas e corcundas como pequenos idosos, seus tons de pele variam entre o verde e o azul claro, seus olhos são brilhantes e esbugalhados, possuem narizes e orelhas longas e pontudas. Seus dentes disformes e bestiais são amarelados e esboçam violência, vigor e bestialidade. Parecem até mais animalescos e selvagens que os lobos atrozes.
Pode-se notar a extrema maldade que exala de seus sorrisos e olhares, a imagem de ser esfaqueado como o guardião no qual teve a visão correndo pela sua mente por um instante. Os olhos da visão verdadeira revelam os nomes das pequenas criaturas que estão à sua volta, algo inútil, pois ele quase não consegue lê-los já que a pronúncia é difícil e eles se movem rapidamente entre as sombras. São goblins, todos eles formam uma tribo que espreitam esses túneis apenas esperando que algum desavisado entre em seus domínios. Pela confiança e jeito metódico de agir eles tiveram muito sucesso contra os últimos invasores.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
OS MEMBROS DA TRIBO GOBLINÓIDE DE DEGOLADORES O RECONHECEM COMO INIMIGO!
HABILIDADE DE TÍTULO: EXTERMINADOR DE ALCATEIAS ATIVADA!
TODOS OS SEUS ATRIBUTOS FÍSICOS RECEBERÃO BÔNUS DE 30% ATÉ TODOS OS INIMIGOS QUE PERTENCEM A TRIBO SEJAM ELIMINADOS.
As pequenas criaturas logo sentem a intenção de Gael. Aqueles mais próximos a ele, provavelmente os mais jovens e corajosos, mesmo que escondidos e teoricamente seguros recuaram no mesmo instante. Como reação ao medo dos mais jovens, os que permaneciam mais afastados rapidamente enviaram alguns outros para iniciar o ataque. Um pequeno grupo deles avançam de forma desordeira e nada sincronizada, apesar dos números superarem em muitos as tropas de lobos atrozes que eram enviadas para acabar com Gael, os goblins não eram tão fortes e nem tão coordenados quanto eles. São fracos e lentos como crianças, mas ao contrário dos lobos gigantes são dotados de extrema malícia. Enquanto desviava das investidas nada eficazes dos goblins que cada vez aumentavam seu número de atacantes, Gael conseguiu sentir um cheiro diferente vindo de suas armas, sabia que não podia se dar ao luxo de ser atingido sequer uma vez. Pelo cheiro forte eles costumam misturar suas próprias fezes e ervas venenosas para emboscar suas presas de forma covarde, porém efetiva. Suas armas eram feitas de pedras lascadas em sua maioria e apenas alguns deles, os mais velhos portavam armas feitas de metal, algo que devem ter retirado de suas vítimas ao longo do tempo.
Os goblins se assemelham a crianças esverdeadas e seu corpo humanoide poderia despertar o mínimo senso de compaixão em qualquer um que os enfrentasse, mas não Gael, não depois de tudo que viu. Suas mãos nuas foram o suficiente para despedaçar um das criaturas com um simples soco. Com sua pontuação em força atual sem nenhum bônus, ele já é mais do que quatro vezes mais forte que um ser humano normal no ápice de sua condição física, uma criatura com a estrutura similar a de uma criança sucumbe imediatamente com um simples golpe. Sem empatia, sem pudor. Atacando e golpeando por pura reação com a mesma ferocidade que seus inimigos, não há um pingo de piedade em cada soco e chute desferido por ele. Com o aumento de seu atributo de inteligência, sua capacidade de luta também se elevou. Apesar de não ter técnica, tem força e consciência de seu corpo.
As características de seus inimigos e estratégias que ele não costumava perceber antes, agora borbulham em seu cérebro capaz de acompanhar sua força e velocidade sobre humanas. Nenhum movimento é desperdiçado, cada avanço, recuo e ataque é dedicado a dar fim a existência das miseráveis criaturas que tiveram o azar de tentar emboscá-lo. As lâminas cegas e contaminadas não chegam sequer a arranhar a pele de Gael e ao decorrer de poucos minutos nenhum dos goblins que o atacou sobreviveu. A cada criatura que sucumbia pelas suas mãos, o medo que o cobria e entorpecia seus pensamentos se esvai. Como aconteceu quando enfrentou os lobos atrozes, Gael se deixou levar por aquela atmosfera que encobria toda a caverna. Seu talento natural para a violência se aflorou ainda mais naquela situação que enfrentava e no sentimento de ódio que despertou por aqueles seres..
Fyrvax: Como se sente agora? - Os ataques cessaram por enquanto, Gael permanece intocado, porém coberto de sangue roxo azulado das criaturas que tombaram pelo seu punho. Seus olhos dracônicos brilham em contraste com a má iluminação da caverna dando a ele uma aparência sinistra.
Gael: Não sei, Parece que as coisas ficam um pouco mais fáceis quando não preciso ficar pensando tanto. Quando eu tô lutando com essas coisas eu só preciso reagir ao que eles fazem.
Fyrvax: Ainda com medo?
Gael: Acho que não… eles são bem diferentes dos lobos atrozes, são mais fracos, mais burros e mais lentos, mas mesmo assim eu fiquei com… bastante medo deles antes disso tudo.
Fyrvax: O seu processo de adaptação é realmente impressionante. - É a primeira vez que Fyrvax elogia Gael abertamente. - Se adaptou bem a essa nova condição que se abateu sobre sua existência…
Gael: Tá falando da mana? No começo eu até achava tudo meio irreal, mas agora…
Fyrvax: Não me refiro a mana, ou ao sistema… Me refiro a essa condição que se encontra agora. - O dragão o encara de cima a baixo, o fazendo perceber o quão diferente está do que sempre foi. - A maioria dos humanos não está acostumada a enfrentar situações cujo a sua vida é colocada em risco… no início eu também achei que você não se adaptaria a tal desafio… Nem todos os seres são aptos a lutar pela própria vida… A sensação de ter a sua vida em cheque em uma situação que pode dar fim a ela é algo que nem eu próprio consigo imaginar..
Gael: Eu não tô entendendo aonde você quer chegar com isso…
Fyrvax: Estou dizendo que é natural sentir medo diante do perigo que está enfrentando. Embora seu mundo pacifico não lhe tenha preparado para enfrentar tais situações parece que você sempre teve algo necessário para que pudesse prevalecer diante dessas situações… Talvez seja por isso que tenha sido escolhido. Tenho fé que você irá conseguir seguir em frente, mesmo com medo.
Mais um grupo de goblins encontram os dois. Claro, eles não são capazes de perceber a existência de Fyr graças a sua habilidade mágica, então direcionam seus esforços para atacar Gael. As criaturas caem perante a postura selvagem e indiferente que Gael assume perante eles. Seus punhos já estavam encharcados de seu sangue de cor roxo azulada e sua mente estava apenas focada no próximo inimigo. O complicado sistema de túneis da caverna além de infestado pelas malditas criaturas também tem várias armadilhas ao longo de seus tortuosos caminhos. estacas de madeira, troncos rolantes, buracos no meio do caminho e até mesmo passagens discretas escondidas nas paredes e disfarçadas por tochas e totens. Nenhuma foi efetiva já que além de sentir a diferença entre os odores do ambiente comum e do ambiente em que as armadilhas estavam instaladas, ele também conseguia sentir as mínimas alterações de mana no ambiente. Enquanto avançava, as palavras de Fyr serviram para lhe manter em seu eixo, e não deixavam sua mente. O conformismo que o fazia se adaptar a tudo que lhe acontecia e ele próprio considerava ser um de seus piores defeitos finalmente lhe serviu para algo.
" Eu nunca pensei que algo do tipo iria acontecer comigo. Em uma caverna dessas, tendo que lidar com essas coisas nojentas que eu nem sabiam que existiam de verdade… " - Os padrões das criaturas eram tão simples que ele podia se permitir pensar enquanto as enfrentava. " Olhando pra trás minha vida costumava ser tão simples, tão confortável e previsível. As estrelas, desenhos, meu pequeno e confortável apartamento, mas eu estou aqui, me arriscando sem nem saber ao certo o porquê." - Ele desvia de uma estocada de um goblin barbudo, o agarra pela cabeça e o arremessa contra o outro, os dois se reduzem há uma pilha de carne fedorenta ensanguentada. não sente nada quando as mata. É um sentimento similar a quando se pisa em uma barata.
" É tão estranho como a vida muda, achei que estava bem do jeito que estava até o Fyr aparecer. Naquele mundo tranquilo, eu nunca imaginei que teria que lutar desse jeito, mas essas habilidades, esse sistema… O Fyr tem razão. Eu posso me conformar… não, eu posso me adaptar a isso." - Enquanto desencadeia uma sequência de movimentos para desviar de uma investida de alguns inimigos, ele percebe o quão inferiores eles são. " Eu deixei muita coisa para trás com o passar desses anos. desisti da astronomia e até mesmo dos meus desenhos. Parecia totalmente normal desistir dessas coisas que pareciam inalcançáveis, mas comparado a isso nada no meu mundo parece impossível. "
Os goblins tentam fugir diante da visão à sua frente. Os olhos dracônicos brilham em contraste com a breu da caverna e aos olhos daquelas malditas criaturas, Gael parece um verdadeiro monstro que veio dar fim às suas vidas.
" Eu não preciso abandonar nada, se eu consigo lutar com lobos gigantes e com essas coisas eu consigo fazer qualquer coisa. Se eu estou com medo é só seguir em frente."
Gael… não… Reilivre se lança a batalha, agora com confiança e coragem descobertas e despertas completamente.
Foram-se algumas dezenas de goblins ao decorrer das horas. Graças ao anel da resistência ursídea os seus pontos de cansaço mal atingiram os vinte e cinco pontos. Claro que seu corpo ainda estava sem nenhuma consequência pelas horas de caçada aos goblins, mas sua mente aos poucos estava se fatigando pela constante tensão e estresse que estava exposto. Os goblins eram tão fracos que não precisou recorrer ao imbuir e nem as garras de dragão furioso para eliminá-los, apenas o poder de sua habilidade do exterminador de alcateias que não se desativou desde que chegou ao local foi o suficiente para lhe garantir a força que precisava para dar cabo dessas irritantes criaturas que não paravam de tentar lhe emboscar. A estratégia das criaturas é de aos poucos fadiga-lo com ataques constantes sem permitir descanso. Até então foi uma batalha de resistência física e mental entre Gael e os habitantes desse lugar.
Conforme adentrava os mais profundos níveis daquele lugar, Gael parou de se guiar pelos seus sentidos físicos e passou a seguir inteiramente a sua percepção mágica. Os números de esquadrões goblins se reduziram à medida que seus equipamentos melhoraram, embora ficassem um pouco mais fortes que os primeiros eles ainda são fracos. Algumas centenas dessas criaturinhas foram mortas com o passar das horas, mas Gael ganhou poucos níveis desde então.
Gael percebe que o inventário recolhia os espólios das criaturas que ele derrubava com certas regras. De criaturas bestiais como os lobos atrozes, o inventário recebia deles qualquer coisa que poderia ser aproveitada como foi com suas presas, garras e peles, mas para criaturas humanoides como os goblins ele parecia funcionar de forma diferente já que não recebia nada de seus corpos. Aparentemente desse tipo de seres só era adicionado do inventário o que ele realmente saqueasse com suas próprias mãos e os goblins não tem nada de proveitoso. Suas roupas são trapos e suas armas são precárias e embebidas em merda e plantas venenosas.
Ele consegue se guiar em meio ao complicado sistema de cavernas utilizando de sua percepção mágica. Com isso ele chega há um ampla área que pelas marcas nas paredes foram abertas pelos próprios goblins, dentro dessa área estavam duas criaturas que não se comparavam aos outros que Gael enfrentou até o momento. Esses dois são enormes, parecidos com os inimigos que enfrentou até agora em vários aspectos, principalmente pelos olhos brilhantes, furiosos e esbugalhados. Seus narizes e orelhas também são alongados. Diferentes dos goblins, ambos atingiam os três metros e meio de altura, são musculosos e têm presas tortas e amareladas emergindo de suas bocas. Um deles carrega um grande tronco moldado porcamente para que possa segurar e o outro empunha um pedaço de metal afiado que deve usar como espada.
" Goblins campeões" - Informa Fyrvax por telepatia. "Uma subespécie mutante rara e bastante agressiva dos goblins. Se esses dois estão juntos aqui, o líder dessa caverna deve ser uma criatura bem mais forte. Será um experimento interessante ver como lidará com essas criaturas do modo que está agora." - Mesmo por telepatia o dragão não consegue esconder a satisfação que tem em testemunhar esses acontecimentos.
Gael: Obrigado pela preocupação…
Esses goblins campeões são criaturas verdadeiramente poderosas, pelos olhos dracônicos Gael descobre que o atributo deles, individualmente, superam em muito os de um humano comum. Força em quase trinta pontos. Sua agilidade e sentidos superiores aos quinze. Sua única fraqueza é sua pontuação em inteligência, mas como parecem aptos a lutar instintivamente, ambos juntos são uma ameaça que não pode ser enfrentada despreocupadamente. Com suas condições físicas eles não precisam de métodos complicados e estratégias para lutar, são como dois tanques de guerra ambulantes.
Os dois goblins campeões avançam furiosamente contra o invasor e rapidamente vencem a distância que os separa. O campeão que porta o tacape de tronco desfere um golpe horizontal desviado quase que instintivamente. O outro que vem logo ao lado tentou dividir Gael em dois em um ataque descendente. Mesmo não o acertando, Gael conseguiu mensurar sua força física extrema quando o chão inteiro tremeu devido ao impacto do golpe. Com sua agilidade quase ultrapassando os 60 pontos Gael consegue desviar deles com facilidade, mas causar um dano nessas criaturas com certeza vai ser um problema. Os olhos dracônicos apesar de úteis, ainda não revelam os atributos de ataques, defesa, ataque mágico e defesa mágica de seus alvos, então ele tem de basear sua estratégia apenas nas informações que pode ver. A força de seus inimigos permanece um mistério para ele.
" Não adianta usar a faca com eles… Essas duas pilhas de músculos não vão deixar eu perfurar direito. Eles com certeza vão proteger suas cabeças. " - Considera Gael entre uma finta evasiva e outra. " Vai ter que ser na força bruta."
Tendo consciência desde o princípio que esses inimigos são bem superiores aos lobos atrozes que enfrentou anteriormente, ele deixou certo suspiro de alívio quando percebeu que ambos não chegavam aos pés de Grevau. Embora seu trabalho de equipe não fosse dos melhores, os dois juntos representam uma ameaça maior que todos os goblins que enfrentou até o momento. Com o bônus do exterminador de alcateias ainda ativado, seus pontos de força ultrapassam os 95 pontos e sua agilidade é superior aos 75, mesmo os dois juntos não conseguiriam superar sua força apenas em combate direto. Com um avanço confiante e sem hesitação contra o campeão portador da espada, Gael desvia do primeiro e direto golpe e desfere um chute no joelho de seu monstruoso oponente que se prostra de imediato devido a potência do chute. Mesmo colocando força suficiente para destruir completamente um bloco sólido de rochas, o joelho do campeão goblin permaneceu inteiro após o golpe. Como imaginou, a defesa dos monstros não é condizente com seus atributos. Não se deixando abater pela estranha resistência de seus inimigos ele logo desfere um soco contra a mandíbula do campeão espadachim. Mesmo nunca tendo dado um único soco antes do sistema entrar em sua vida, ele praticou bastante contra os goblins mais fracos.
O goblin de tacape logo veio ao auxílio do companheiro que desabou no chão após o soco. Repentinamente a velocidade do campeão de tacape aumentou de forma explosiva, não o suficiente para superar a de Gael, mas o suficiente para que ele não conseguisse reagir devida e completamente ao seu ataque. O potente golpe horizontal acertou ele em cheio. Mesmo conseguindo bloquear o golpe colocando os braços na frente enquanto saltava na direção contrária, ele ainda foi arremessado longe contra a parede daquela área. Quando suas costas atingem a parede ele imediatamente se afunda em uma cratera criada pelo impacto. seus pulmões expelem todo o ar dentro deles causando uma imediata desorientação. Seu braços formigam e latejam com uma dor pulsante que logo se espalha por todo seu corpo. Sua visão começa a escurecer enquanto ele observa os dois tomando posição para iniciar uma nova investida.
" Que merda!" - Retirando uma das poucas poções de saúde que ainda lhe resta de seu inventário. Gael sente sua vitalidade voltando assim que o gosto doce da poção escorre pela sua garganta. " Tô confiando demais só nos atributos. Não consigo ver quais habilidades mágicas esses caras têm e nem os atributos que são aplicados em uma luta, não dá pra me garantir só com isso." - Dá pra ver a mana dos dois goblins campeões se agitando, enquanto os olhos dracônicos mostram seus atributos de força e agilidade subindo exponencialmente.
O goblin golpeado ainda tem um avanço lento devido ao golpe. Não tirando os olhos dos dois campeões fortalecidos, Gael se prepara para a investida que está por vir. O goblin de tacape emite agora uma mana de cor azulada que aparentemente dobrou seus pontos em agilidade, enquanto o espadachim externa uma mana roxa que dobra sua força. A mana no ar agora é densa e pesada, Gael já recomposto e agora ciente de ao menos uma das habilidades dos campeões está disposto a dar tudo que tem para findar estes inimigos. Em último dos casos pode até mesmo utilizar as garras de dragão furioso.
Os dois inimigos simultaneamente soltam um urro furioso e juntos avançam contra Gael sedentos pelo seu sangue. Rapidamente, o campeão de tacape, o mais rápido toma a dianteira e tenta esmagar seu crânio com um golpe só. Como sua velocidade aumentou com seus pontos de agilidade, o torque e poder de ataque aumentaram também. Ainda tendo alguns segundos até o espadachim o alcançar, Gael desfere um chute no queixo do monstro a sua frente. Com sua força extrema totalmente focada em um ponto tão vulnerável, ele conseguiu sentir a mandíbula da criatura se partindo. A resistência do campeão de tacape, aparentemente não tão alta quanto a do espadachim, cederia com mais alguns poucos golpes.
A janela de oportunidade aberta pelo possante chute foi aproveitada instantaneamente. Enquanto o campeão espadachim circulava seu companheiro e girava sua espada, Gael nesses poucos instantes socou o goblin prostrado à sua frente mais duas vezes com toda sua força. Seu crânio sucumbiu perante o punho que o atingiu com toda a força, sua vida se esvaiu de seu corpo antes que seu companheiro pudesse completar seu ataque. Como previsto, o espadachim desferiu um corte horizontal, sua espada que não passa de um pedaço largo de metal afiado em pedras não tem muito poder de corte, mas sua ridícula quantidade de força foi o suficiente para decapitar seu colega já morto com um único ataque.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
VOCÊ DERROTOU GOBLIN CAMPEÃO
Você recebeu os seguintes espólios:
. presa de goblin campeão x2
" As presas vieram parar no meu inventario?! Que estranho!" - Pensou enquanto sacava sua faca.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
HABILIDADE IMBUIR ATIVADA
TEMPO DE DURAÇÃO 2 min:59 seg
Antes que a cabeça do goblin de tacape tombasse completamente contra o chão, Gael já tinha se aproximado do inimigo remanescente. Com sua faca já em mãos ele se aproveitou da velocidade deficiente e do seu choque por ter decapitado seu companheiro para mirar três estocadas contra o crânio do campeão remanescente. O primeiro atingiu o olho direito, perfurando seu cérebro. O goblin campeão já estava morto depois do primeiro golpe, mas mesmo assim recebeu em sua cabeça mais duas apunhaladas. Gael foi mais metódico do que seria, já que não tinha como saber quais habilidades esses monstros poderiam ter. Entender que esse tipo de criatura conseguia utilizar de habilidades mágicas assim como ele, o pegou desprevenido uma vez, mas não aconteceria novamente.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
VOCÊ DERROTOU GOBLIN CAMPEÃO
Você recebeu os seguintes espólios:
. presa de goblin campeão x2
[MENSAGEM DO SISTEMA]
VOCÊ GANHOU UM NÍVEL!
Após o embate, Gael permaneceu parado por alguns minutos ainda um pouco atônito. Mesmo para ele que estava se forçando a seguir em frente, uma situação dessas com tudo que está enfrentando não é algo fácil de se entender.
Os goblins campeões protegiam mais outra entrada para a área mais profunda da caverna. O que Gael viu naquele lugar mudou completamente a visão que tinha sobre a união de mundos, o sistema e tudo que veio depois. Enquanto avançou pela passagem que apenas deu entrada para outra larga galeria dentro da caverna, o lugar que se revelou não podia ser imaginado por ele nem em seus piores pesadelos. Dezenas de goblins estavam espalhados pelo lugar, ao contrário de todas as outras passagens e galerias dessa caverna essa estava adornada de forma selvagem e bestial, mostrando o quão sádicos e cruéis aqueles pequenos monstros podem ser.