Dezenas de mulheres penduradas pelos pulsos no teto, não são humanas, têm orelhas pontiagudas e cabelos brilhantes das mais variadas cores, cores essas que não pareciam nada artificiais. A maioria estava morta, mas algumas tiveram sua atenção tomada pela súbita entrada de Gael no lugar, elas estavam portando um olhar de completa desilusão e desespero, algo que lhe partiu o coração. Todas estavam completamente nuas e cobertas de ferimentos que variam de cortes a marcas de mordidas e hematomas. Aquela cena brutal é capaz de fazer qualquer um ter seu estômago revirado por completo, mas tudo que despertou em Gael foi um aperto em seu peito que impediu qualquer devaneio de sua parte, essa cena o prendeu naquele momento que pareceu durar uma eternidade. Mesmo atento aos inimigos ele não pode deixar de passar os olhos em cada uma das mulheres que estavam sendo vítimas de tamanha selvageria. Seus olhos dracônicos se pousaram sobre cada uma delas, mostrando que essas pobres mulheres pertenciam à raça dos elfos e também dando a esperança de que alguma delas embora enfraquecidas ainda poderiam ser salvas. Uma delas, ainda ostenta um olhar firme de coragem determinada. Seus olhares se cruzam por um instante e isso despertou Gael de seu transe nauseante. O olhar daquele homem, embora preenchido com fúria, demonstrou por ela uma compaixão que não esperava ver naquele lugar.
Embora enfurecido pelas vítimas e a felicidade que seus captores ostentam, Gael percebeu de imediato quem é o seu real inimigo e o comandante dessas criaturas tão sedentas pelo sofrimento dos outros. Um hobgoblin de nome Revor. Uma criatura de pele branca esverdeada ostentando orgulhosamente inúmeras cicatrizes por todo seu corpo. Sentado em um altar tribal simulando um trono ele usa apenas um saiote de pelos grosso e sujos de sangue seco. Tem cabelos platinados longos e armados em forma de inúmeras tranças que lhe caem sobre os ombros até a altura de sua cintura. Carrega em seu rosto, olhos cruéis da cor amarela e um sorriso deformado cheio de dentes afiados. Seu rosto e postura exalam violência e selvageria, nenhum goblin sequer se aproxima do hobgoblin que se ergue lentamente revelando ter mais de dois metros de altura. Não é tão alto como os goblins campeões, mas definitivamente é mais forte que eles em todo sentido da palavra. Seus atributos são quase três vezes maiores que qualquer um dos inimigos anteriores.
Revor: Outro deles… Chegou até Revor. - Sua voz é alta e grave. Suas palavras fazem com que os goblins comecem a saltar e gritar loucamente. O líder deles começa a caminhar em direção a Gael. - Esse parece forte… Conseguiu passar por Orgu e Volo. A última nem deu tempo… de brincar.
As palavras do hobgoblin sequer foram ouvidas por Gael. Sua visão e atenção estavam completamente focadas na grotesca cena atrás do hobgoblin e do altar em que estava. Uma mulher… não… uma garota, humana. Pregada como um espantalho nas paredes da caverna. Suas entranhas estavam para fora de sua barriga e a última expressão que teve permanece em seu rosto mesmo após sua morte. Mesmo que seu corpo esteja frio e sem vida, Gael ainda pode sentir todo o horror que essa jovem sentiu antes de finalmente partir. Não somente por ter testemunhado e sentido seus últimos momentos, como pelo peso incomensurável que agora espreme seu peito ao ter ela desse jeito na sua frente. Desde que teve aquele sonho, sabendo que era real, o coração de Gael foi infectado com um medo. Mesmo quando enfrentava os inimigos que exterminava sem dificuldade, ele ainda tinha ciência desse medo em seu coração. Quando derrotou os goblins campeões ainda sentia medo, mesmo que escondido pela confiança que aos poucos conquistara e suprimido pelas palavras de Fyr. Ao ver aquelas mulheres todo receio e medo desapareceram, tudo que sentiu até aquele momento parecia insignificante perto do que aquelas mulheres passaram. Tudo pareceu mínimo diante do que aquela menina aguentou antes de finalmente sucumbir à violência a qual foi exposta.
Gael nunca fora dos seres humanos mais empáticos. Desejava acima de tudo viver sem se intrometer nos problemas dos outros para que ninguém se envolvesse em seus problemas. Essa indiferença que até então cultivava em seu coração é fruto de uma vida de paz e prosperidade ao lado dos seus pais sem nenhuma grande tragédia em seus poucos anos de vida. Nunca antes testemunhou tamanho ato de violência contra outra pessoa. Enquanto Revor se vangloriava para seus inúmeros goblins que batiam com suas armas no chão e chacoalhava suas cabeças de um lado para o outro, Gael permanecia atônito. Sua cabeça girava e seu coração batia tão forte que ele o conseguia sentir pulsando em seu ouvido. Estava paralisado de raiva, sentiu algo que nunca imaginou sentir até hoje. A vida comum que agora reconhece como vazia e tediosa lhe poupou de tantas coisas, tantas experiências que para aquelas criaturas é tão natural quanto respirar. A sensação da caça que experimentou quando adentrou no covil dos lobos atrozes não iria se repetir naquele lugar, aquilo é maldade. Pura e repugnante maldade. Ele iria sentir cada segundo que está por vir, iria sentir essa raiva que percorre seu corpo. A sensação que aperta sua garganta é como se afogar em um lago congelado, mesmo que suas entranhas queimem por dentro. O único jeito de respirar novamente é dar um fim a tudo isso.
" Não se deixe levar…" - Fyrvax percebeu a intenção de Gael. Sua mana se agitava de uma forma que nunca esteve antes. " Isso é um acontecimento comum, nesses mundos…"
Gael: Comum?! - Seus dentes rangem enquanto ele se esforça para não gritar. Suas palavras abafadas são ouvidas apenas por Fyrvax. O hobgoblin ainda se exalta perante as malditas e constantes criaturas que lhe servem. - Como fazer isso é uma coisa comum?!
" Goblins fêmeas são raras… É assim que essas criaturas se reproduzem. Não se deixe levar por esse sentimento… Isso é tão natural quanto a…"
" É claro que pra ele isso é comum. Claro que pra esse mundo… esse tipo de coisa é comum… Esses desgraçados. Agindo como se não fosse nada… Eu vou… Eu vou matar todos esses malditos." - As palavras de Fyrvax foram interrompidas pela ação de Gael. Mesmo que o dragão não pudesse ouvir os pensamentos que não lhe eram direcionados ele soube o que se passava na cabeça de Gael.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
HABILIDADE FEROCIDADE ACUADA ATIVADA
BÔNUS DE 30% EM ATRIBUTOS FÍSICOS ATÉ INIMIGOS SEREM MORTOS.
TEMPO DE DURAÇÃO 31 min:59 seg.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
HABILIDADE MIMETISMO DRACÔNICO: GARRAS DE DRAGÃO FURIOSO ATIVADA
TEMPO DE DURAÇÃO 59seg
A mana ao redor de Gael ficou densa e se agitou em um brilho rubro escuro, no mesmo instante todos os goblins pararam com a algazarra e sentiram simultaneamente um frio gélido em suas espinhas. Revor deformou seu rosto em um sorriso e do altar em que estava sentado tirou uma espada brilhante. Diferente do pedaço de metal afiado que o campeão goblin carregava, aquela era uma arma de verdade, provavelmente roubada de uma de suas vítimas. A espada emite um brilho mágico enquanto o hobgoblin a brande no ar. Aos poucos os goblins voltam a se agitar ao ver a demonstração de habilidade de seu líder. A agitada energia emitida por Gael se condensa ao redor de seus braços, ao contrário do que quando a utilizou pela primeira vez, a habilidade não cobriu seus braços com uma mana quente e confortável. Seus braços ardiam assim como seu peito. Sua mana se espalhava pelos arredores de forma agressiva, tão agressiva quanto suas atenções. O brilho rubro de seus braços e olhos ficaram marcados nas ultimas lembranças dos seus inimigos e nas mentes das elfas que nunca foram capazes de esquecer aquela demonstração de pura ira. Aos olhos daqueles presentes naquela sala, Gael parecia um verdadeiro monstro.
O embate entre Gael e o líder dos goblins acabou em segundos. Unindo ambos os bônus que ganham, unindo os acréscimos conferidos pelas suas três habilidades fazem com que seus atributos de força e agilidade ultrapassem os 200 pontos cada. Seu ataque nunca foi tão alto. Está embebido em poder e fúria, seu avanço foi como um raio. O simples impulso de seus pés contra o chão cria uma cratera devido a onda de impacto poderosa. Gael cortou toda a distância da galeria que os separava em um piscar de olhos. Nem os goblins e nem o confiante Revor foram capazes de perceber seu imparável avanço. Como percebeu antes o ardor em seus braços estava mais forte que o normal, não chegou sequer a doer, pois naquele momento ele estava mergulhado em seu ódio por aqueles animais. As garras afiadas de mana geradas pela sua habilidade cortam o ar e sibilam com um assobio mortal. Seu avançar violento e indiferente a qualquer risco desencadeia um inútil golpe do hobgoblin. Com uma finta tão veloz quanto sua investida, Gael desvia do corte que tem a intenção de o decapitar. A finta não foi seu único movimento. Unindo seus dedos agora dotados de afiadas e resistentes garras rubras, ele desfere uma poderosa estocada em direção ao braço dominante com toda a força que detém.
Pela força e velocidade aplicada e pelo impacto gerado, a área atingida pela estocada de garras é dilacerada. Seu braço portando a espada foi separado do resto de seu corpo. O hobgoblin incrédulo urrou de dor e desespero, tentou abocanhar o inimigo que lhe feriu, exatamente como a fera cruel e selvagem que é. Os reflexos de Gael estão acompanhando seus atributos incrementados pelos efeitos de suas habilidades, antes que o braço de Revor tocasse o chão, ele pegou sua espada e com um movimento veloz desferiu um corte horizontal na altura dos joelhos do seu inimigo. A espada é afiada ainda que mal cuidada e mesmo que sua lâmina esteja coberta de ferrugem e sangue seco ela ainda emite um brilho mistico quando brandida. O corte foi limpo e não teve nenhuma resistência, foi como utilizar uma faca afiada para cortar papel. O arrogante Revor caiu prostrado e como um verme ao chão tentava se arrastar para longe de seu inimigo de forma patética e nada condizente com a atitude que teve a poucos instantes.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
NOVO ITEM RECEBIDO!
PRESA DE REVOR – categoria D – Outrora uma arma feita por um dos maiores mestres ferreiros élficos de todos os tempos. Roubada e utilizada indevidamente por anos, a poderosa obra de arte em forma de arma e grande orgulho de toda uma raça agora é apenas um resquício do que já foi um dia.
EFEITO +30 DE ATAQUE
Obviamente os goblins não esperavam tal resultado e entraram em pânico assim que seu líder foi reduzido a um simples verme rastejante. Começaram instantaneamente a correr desesperados e perdidos por toda a galeria em direção a única saída que tinham. Expostos a mesma violência e selvageria que empregaram as vítimas durante sabe se lá quanto tempo, eles foram impiedosamente massacrados. Foram impiedosamente caçados e mortos por uma força esmagadora contra a qual não poderiam fazer nada. Gael continuou os esmagando e os cortando mesmo depois de suas garras de dragão furioso se desativarem. A sua fúria implacável só cessou quando o último goblin em seu campo de visão foi esmagado pelas suas mãos ou cortado pela sua lâmina. Após isso, e somente após isso ele se permitiu descansar. Seus músculos doem pelo esforço, e sua mente finalmente toma devida consciência sobre o ambiente ao seu redor. Quando voltou completamente a si, se encontrou em um lugar que não reconhecia. Em meio a aqueles inúmeros corpos de criaturas mortas ele não tinha tempo para se deixar mais abalado do que já estava e se pôs imediatamente a ajudar as mulheres violentadas que ainda estavam vivas.
Naquele maldito lugar haviam vinte e três mulheres amarradas pelos pulsos sem contar a guardiã. Dessas vinte e três mulheres, apenas três delas ainda estavam vivas. Com uma delicadeza e zelo que elas não imaginavam que o homem capaz de desempenhar tamanha violência seria capaz de ter, Gael as cobriu com as peles de lobos de seu inventário, cortou suas amarras e as pegou em seus braços de forma carinhosa, sem tocar diretamente nelas. Após colocá-las no chão da maneira mais confortável possível e utilizar de todo seu pequeno estoque de poções de saúde para dar a elas os primeiros socorros, Gael se dedicou completamente às que não sobreviveram. Com delicadeza e respeito igual ao que deu às elfas sobreviventes, ele retirou cada uma das amarras que prendiam seus pulsos. As botou no chão, fechou seus olhos e as cobriu por completo. Algumas tinham uma aparência ainda mais jovem do que a guardiã pregada no fundo da galeria.
As elfas estão assustadas e machucadas de várias formas diferentes devido aos dias ou semanas de tortura que passaram. Gael não as tocou exceto quando as libertou e as colocou sobre o chão. Não teve coragem de as olhar em seus olhos, sabia que ao mesmo tempo que eram gratas por ele ter as salvo, elas ainda teriam medo pelo que ele fez antes de resgatá-las e pela aparência que tem agora coberto de sangue e entranhas de goblins. Após cuidar das elfas que estavam vivas e das que estavam mortas, ele seguiu para o lugar onde a guardiã que fora morta estava vulgarmente exposta e para onde Revor ainda se arrastava deixando atrás de si um rastro de sangue e excrementos. Ao colocar novamente os olhos sobre Revor toda a vergonha pelo que fez se esvaiu perante o ódio que subitamente tomou seu coração. Com um indiferente pisão desferido enquanto direcionava seu olhar para a guardiã violada, Gael pôs fim a essa existência miserável esmagando seu crânio.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
VOCÊ DERROTOU REVOR, O CRUEL!
Você recebeu os seguintes espólios:
PEDRA RÚNICA DE INTIMIDAR– categoria D – Pedra rúnica contendo uma habilidade que é comumente utilizada por líderes de hordas tribais de goblins para manter a ordem diante de seus subordinados.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
VOCÊ GANHOU UM NÍVEL!
[MENSAGEM DO SISTEMA]
O GUARDIÃO ALCANÇOU O NÍVEL 20!
NOVA HABILIDADE DE CLASSE ADQUIRIDA!
HABILIDADE - MIMETISMO DRACÔNICO: ESCAMAS CROMÁTICAS
O guardião pode mimetizar a principal característica dos dragões cromáticos de metal. Quando essa habilidade for ativada, todo seu corpo será coberto por escamas de mana que se assemelham às escamas de um dragão cromático vermelho. Durante a duração da habilidade, o guardião recebe bônus em seus atributos de defesa e defesa mágica de 50%. A duração de habilidade é de 1 minuto por 400 de mana.
Gael retirou a guardião do lugar onde essas criaturas a prenderam. Com cuidado e pesar, ele a envolveu em uma das peles de lobo e a colocou no altar tribal. Colocou-a em uma posição fúnebre fechando seus olhos e lhe afagando os cabelos, embora não tivesse certeza antes ele agora sabe que essa guardiã com certeza era mais nova que ele. Como se finalmente soubesse que seu corpo não estaria mais sob a posse daquelas horrendas criaturas, sua expressão de horror e tristeza foram substituídas por um semblante de tranquilidade. Seu peito estava apertado, presenciou apenas os últimos momentos dela e não havia como saber pelo que aquela jovem garota tinha passado antes daquilo, seu coração estava partido de uma maneira que normalmente não se partiria por causa de uma pessoa desconhecida. Não pode deixar de se colocar na situação dela, uma jovem que diferente dele poderia ter tantos sonhos e aspirações ter um fim violento desse não poderia ser justo.
As três elfas ajudam umas às outras e aos poucos se aproximam de Gael que em silêncio continuava a fitar o rosto da guardiã morta. De alguma forma elas conseguiam compartilhar de seu sentimento de luto que é inexplicável até para ele próprio. Mesmo perdido em seus pensamentos, os sentidos de Gael ainda estavam totalmente funcionais e ele conseguia ouvir ruídos vindos de um lugar mais distante. Um local próximo de onde a guardiã estava pregada, assustando as elfas que apesar de complacentes com sua situação ainda estão um pouco assustadas com ele, Gael subitamente se desloca em direção ao lugar de onde os barulhos ouvidos por ele se originam. Ao inspecionar um pouco a parede ele descobre uma parede falsa, porcamente coberta por tralhas. Enquanto tira os obstáculos que lhe impedem acesso a esse compartimento, Gael é capaz de ouvir certa comoção se elevando.
Dentro de um buraco na parede estavam alguns espólios que os goblins juntaram e a razão pela qual o exterminador de alcateias não tinha se desativado até então. Dentro desse buraco estavam os últimos goblins da caverna, ainda menores e com suas feições não tão deformadas quanto daqueles que foram mortos. São nove crias de goblins. Seus olhos vermelhos e providos de certa inocência mostravam temor diante daquele homem banhado no sangue de seus semelhantes.
Gael: Vão embora! - Se utilizando de palavras simples e ciente de sua habilidade de poliglota Gael, não viu nenhum motivo para descontar sua raiva e tristeza contra essas pequenas criaturas que, afinal de tudo, não fizeram nada. Não somente os goblins, mas também as elfas entenderam as suas palavras, duas delas se escondem atrás da única que permaneceu resoluta, pronta para se defender.
Fyrvax: É uma péssima ideia! - Fyrvax apareceu subitamente, desativando sua habilidade de furtividade. Agora todos conseguem vê-lo e não somente Gael. Até mesmo a elfa que permaneceu firme estremeceu quando a sua frente o dragão de escamas azuis brilhantes apareceu.
Gael: Decidiu aparecer agora?!
Fyrvax: Está ciente desde o começo que meu papel durante suas tarefas divinas é apenas lhe observar. Não deve esperar nada além disso. - As palavras do dragão são sempre sinceras e geralmente dotadas de uma razão indiscutível. Ciente disso, Gael foi desarmado de seus argumentos. Principalmente pelo fato do aviso que Fyrvax lhe deu pouco antes de enfrentar Revor.
Gael: E se eu quiser deixá-los ir? - Gael se vira para o dragão de forma resoluta. Não é uma ameaça ou afronta, é uma pergunta direta e sem floreios, assim como o dragão faz.
Fyrvax: Não o impediria. Mas os sobreviventes de ninhos goblins destruídos se tornam excepcionalmente agressivos no futuro. Mesmo que sua tarefa divina não estivesse em risco por libertar essas criaturas eu não recomendaria que as libertasse.
Gael: Quer que eu mate elas então. São tipo… uma crianças… uns filhotes. - Sua garganta dá um nó só de falar.
Fyrvax: Não fez o mesmo com os outros?! - as palavras do dragão lhe atingem como um soco. Não há resposta plausível para essa dura realidade que o dragão esfrega em sua cara. - Para eles não vai fazer a mínima diferença. Adultos, crianças, filhotes ou não, todos são a mesma coisa. O valor de suas vidas é o mesmo.
As elfas conseguiam entender as palavras de Gael, mas não as de Fyrvax, pois ele não possuía a habilidade do poliglota. Ela entende o que o jovem que as salvou está enfrentando, e mesmo com uma posição bem clara elas não se manifestaram. Todas perceberam que a decisão que se pôs a sua frente já é o suficiente penosa e pesada para que elas acrescentem mais esse fardo em suas costas. Não é de responsabilidade dele se vingar pelo que elas sofreram, já fez mais do que elas poderiam esperar as salvando e se enfurecendo de tal maneira com a condição que elas estavam. As mulheres foram fortes e permaneceram em silêncio.
Gael: Já tomei minha decisão. - Ele mais uma vez se dirige aos pequenos goblins. - Vão embora agora!.
Gael virou as costas e seguiu em direção ao altar onde as elfas estavam. Elas estavam apreensivas pela situação e Gael se sentiu ainda mais culpado por deixar essas criaturas escaparem. Um sentimento de culpa misto com dúvida toma conta de seu peito até que sente um impacto contra sua cabeça. Ao se virar ele vê um dos goblins segurando uma pedra enquanto os outros se escondem atrás dele. Aquele que segura a pedra tem um semblante de ódio que transformou seu rosto em uma carranca semelhante aos mais velhos que foram abatidos. Gael não nutre ódio pelas crias como teve pelos mais velhos que exterminou sem pesar, na falta de ódio para nublar seu pudor ele agiu por sua justiça. Pelas elfas que morreram e pela guardiã que sofreu tanto nas mãos daquelas criaturas.
"Monstros, são monstros. Não sei por que eu ainda tento discutir com o Fyr." - Gael, conformado com a situação que deve enfrentar sente o peso de sua arma, junto ao peso dos pequenos goblins que tiveram suas vidas findadas com o seu brandir.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
MISSÃO DE RETALIAÇÃO CONCLUÍDA!
RECOMPENSAS RECEBIDAS:
5 pontos em todos os atributos
Caixa de recompensa aleatória superior
[MENSAGEM DO SISTEMA]
MISSÃO DE RETALIAÇÃO CONCLUÍDA, GUARDIÃO RETORNARÁ AO SEU MUNDO EM 4 min:59 seg.
Em seu inventário Gael ainda tinha várias peles de lobo atrozes que recebeu como espólios das criaturas abatidas de sua última missão, pegou mais um punhado delas e se esforçando para esboçar um sorriso ele entregou para que as elfas se protegessem melhor do clima, afinal elas teriam que sair daquele lugar em algum momento. Embora pudesse se utilizar dos espólios que os goblins juntaram, não havia nenhuma garantia que pudesse ter algo que as mantivesse aquecidas. As duas que se escondiam atrás da única que tinha coragem de encarar Gael nos olhos, foi ela quem aceitou as peles.
Gael: Podem me fazer um favor?! - Se aproximando mais uma vez do corpo da guardiã enquanto seu tempo de permanência naquele mundo diminuía constantemente ele contemplou em silêncio por mais alguns instantes esperando a resposta de algumas das elfas. Agora que a raiva havia se extinguido, só restou certa tristeza em seu peito, uma angústia de origem desconhecida.
Ele não tira os olhos dela, agora que seu rosto não estava mais deformado pela faceta de horror e indignação, Gael pode ver que se tratava de uma moça muito bonita. De cabelos claros e curtos e aparência frágil, ele não podia deixar de se perguntar o que ela pensava quando aceitou ser uma guardiã. Para ser sincero consigo mesmo até aquele momento, nem ele saberia dizer os motivos pelos quais aceitou se submeter a essas situações. Além dos argumentos irrefutáveis de Fyrvax não teve nenhum motivo específico para que ele aceitasse tal função. Ao observar o corpo sem vida daquela jovem mulher ele questionou os motivos do porque o sistema existe, do porque foi escolhido e até se havia real motivo. Naquele momento precisou de respostas mais do que precisava ser forte.
Elfa: Se pudermos fazer algo para lhe ajudar, certamente o faremos. - Gael se surpreendeu com a suave voz que quebrou o silêncio mortuário que tomou conta do lugar. A elfa que permaneceu resoluta diante de tudo que enfrentou, que teve coragem de se pôr à frente das outras e não recuou do medo de Gael ou do dragão se manifestou. Embora esteja magra e machucada, ela é, de certa forma, altiva. Tem uma presença nobre e diferente das outros. Não é sobre beleza, todas são lindas, mas essa elfa é diferente em algo, Como não tem mais mana, não consegue conferir com os olhos dracônicos.
Como aconteceu com Grevau e Revor, Gael percebe que ela não fala o mesmo idioma que o dele, sua habilidade de poliglota permite que ele e quem ele conversa entenda o significado de suas palavras, mas mesmo assim ele ainda escuta o idioma original da pessoa com quem está falando. De sua pequena boca as palavras são entoadas de forma melodiosa e harmônica. O idioma élfico parece um cantar coordenado e suave se comparado aos grunhidos e rosnados soltados pelos outros dois seres de outro mundo que encontrou em suas missões. Em meio a melancolia que Gael sente no momento, ouvir uma voz tão tranquila e melódica serve quase como um abraço.
Gael: Se puderem… providenciar um enterro para ela eu ficaria muito agradecido. - Quando Gael se vira para a elfa após falar seu pedido, o seu tempo naquele lugar está prestes a acabar. Os olhos de cor de mel de Gael se cruzam com os olhos cor de violeta da elfa e naquele instante ambos não precisam trocar mais nenhuma palavra. Apenas com seu olhar Gael entendeu o quão forte aquela mulher é e que não fora nenhum acaso a sua sobrevivência. Quando o brilho que lhe trouxe aquele mundo o engoliu junto a Fyrvax ele teve a impressão de que ela tentou lhe falar algo, mas agora já estavam separados por algumas galáxias de distância.
O brilho que trouxe Gael de volta ao seu mundo serviu como despedida para ambos, embora mínimas sempre haveria uma chance para que eles se encontrassem de novo. Quando Gael se viu no mesmo lugar por onde entrara para a caverna goblinóide, ele sentiu que pingos de chuva começaram a tocar seu corpo. Naquele momento todo o cansaço espalhado por seu corpo é insignificante se comparado ao peso de seu coração. Já faz alguns anos que viveu sua vida com um simples objetivo, ver o dia seguinte da forma mais tranquila que pudesse. Evitando conflitos e objetivos frustrantes, ele escolheu um caminho que lhe rendeu um vazio que o envolveu por completo, sem que ele próprio o percebesse. Uma criança talentosa e tranquila, cresceu e virou um jovem educado e socialmente inapto, até que se tornou um adulto indiferente às dores que não eram suas. Nem a precoce e inesperada morte de seu pai lhe causou tanto abalo em seu coração quanto essas experiências que viveu e sentiu. Foi como se algo dentro dele morresse junto a essa guardiã desconhecida. O garoto indiferente que imaginou ser um homem morreu junto a essas dores que ignorou por tanto tempo.
Gael: Eu sou muito sortudo, Fyr… - Suas palavras foram um pouco abafadas pelo barulho das gotas de chuva que caiam em cada vez maior quantidade.
Fyrvax: Não acredito que o sucesso em sua tarefa divina se deva por sorte…
Gael: Não estou me referindo a só essa missão. Tô falando de tudo… Se não fosse por você, essas habilidades e tudo que a gente descobriu junto… Talvez fosse eu no lugar daquela guardiã.
Fyrvax: Certamente, acredito que sua jornada seria um pouco mais complicada se não tivesse meu auxílio técnico. - Fyr não tem objetivo de se exaltar, o que fala é só a verdade. - Mas tenho o pressentimento que se adaptaria bem a qualquer situação que enfrentasse. Essa é a sua maior qualidade, afinal.
Gael: Não sei se isso seria de todo um bom. Me acostumar com tudo que me foi empurrado pela vida até agora não me levou por um caminho muito bom para mim. - A chuva finalmente desce, as gotas frias entram em contato com seu corpo quente. - Obrigado Fyr…
Fyrvax: Não existem motivos para me agradecer. Ambos estamos nos beneficiando com nossas interações.
Gael: Claro… claro. Tô te agradecendo por que você tava certo. Eu acho que encontrei um sentido nessa coisa toda. O propósito que eu não tinha antes… eu... eu encontrei agora.
O dragão permanece em silêncio enquanto a chuva ensopa seus corpos de água fria. Ele sentiu que Gael precisava apenas concluir sua linha de raciocínio em voz alta para finalmente abraçar sua descoberta.
Gael: Eu não vou deixar essas coisas acontecerem nesse mundo. Posso estar sendo ingênuo em ignorar tudo que os próprios humanos fazem uns com os outros, mas eu não vou deixar esses monstros fazerem o que quiserem aqui. Eu sou um guardião… e eu vou fazer o que quer que for. Para evitar que esse tipo de coisa se torne comum nesse mundo.
A descoberta da força e o desejo de buscar poder fez com que Reilivre nascesse, mas somente o sofrimento e a dura realidade que aguarda seu mundo fez com que ele entendesse seu papel como guardião, fez com que ele finalmente o aceitasse.
Fyrvax: Bom… se sente-se realmente grato, poderia conseguir que sua mãe preparasse para nós uma refeição como a última.
Gael: Tá, vou falar com ela, mas não prometo nada… - Gael consegue soltar um sorriso sincero graças as palavras do dragão.
[MENSAGEM DO SISTEMA]
NOME: REILIVRE
CLASSE: -
SUBCLASSE: GUARDIÃO
NÍVEL: 20
SAÚDE: 820
MANA: 570
VIGOR: 670
CANSAÇO: 0
FORÇA: 82
AGILIDADE: 67
INTELIGÊNCIA: 57
SENTIDOS: 37
SORTE: 0
ATAQUE: 115
DEFESA: 82
ATAQUE MÁGICO: 144
DEFESA MÁGICA: 110
TÍTULOS:
Exterminador de alcateias
HABILIDADES:
Benção de Forstvax, inventário, Poliglotismo, olhos dracônicos da visão verdadeira nível 2, Imbuir nível 1, Mimetismo dracônico: garras de dragão furioso nível 1, Exterminador de alcateias, Ferocidade acuada, Mimetismo dracônico: Escamas cromáticas nível 1