Chereads / Herdeiros de Hartia -Versão Traduzida / Chapter 4 - ** A preparação para a Guerra**

Chapter 4 - ** A preparação para a Guerra**

"A guerra é um mal horrível, mas não o pior dos males. O pior é a disposição moral e patriótica que acredita que nada vale a pena ser guerreado."

John Stuart Mill

Após os desafios na Floresta Negra, o exército finalmente chegou ao território de Greenland. Eles foram surpreendidos pelo som de cavalos e carruagens se aproximando, que na verdade pertenciam a uma caravana real do reino de Greenland.

Com a caravana estavam o Rei Yoseph Von Greenland e seus dois filhos, Caleb Von Greenland, de 16 anos, "mesma idade de Sebastian na época", e Catherine Von Greenland, de 13 anos. Os herdeiros de Greenland tinham como característica cabelos escarlates, pele pálida e olhos verde-musgo. Eram exímios na arte da política e frequentemente se envolviam em revoltas e conquistas de reinos. Mas, naquele momento, eram aliados.

Ao se aproximar dos líderes do exército aliado, o Rei Yoseph declarou:

-Permitir que um exército formado contra um reino vizinho fique no meu território é como declarar guerra ao reino de Whitefield junto com vocês!-Ele afirmou, em um tom explicativo e pouco preocupado. Então, continuou:

-Mas também, já estou farto da soberania dos Whitefields no oeste! Isso me leva a algo que desejo saber... Assim que destituírem a atual família regente Whitefield, quem tomaria conta daquele território? Pois, é claro que, se um único reino o tomar para si, só estaremos adiando uma nova guerra ou confrontos futuros devido à diferença de poderes entre os reinos, não concordam? - Ele finalizou, olhando para os líderes aliados. Foi então que Sebastian, sem relutar, respondeu com voz cansada:

-Estive pensando em oferecer o território à família D. Alder!- Pode-se ouvir um burburinho e, então, ele continuou: - Sem eles, não poderíamos atravessar o deserto nem derrotar os inimigos e monstros que enfrentamos até aqui!- Um grande silêncio se fez.

Então Eldara, apesar de ferido desde o confronto com o Ogro, resolveu falar:

-Estou de acordo com o Rei de Ashrose!- Formou-se um novo burburinho, mas ele deu pouca atenção e continuou: -Se não fosse a jovem Leonor D. Alder ou seus irmãos, eu não estaria aqui! Eles nos salvaram inúmeras vezes e também foram a família com menos baixas durante essa jornada, deixando claro a força e altruísmo necessários para que se tornem regentes! Não queremos novos tiranos no lugar dos anteriores, correto?- Disse olhando para Yoseph.

Dessa vez, o jovem Daren decidiu falar e somar suas palavras às de seu pai:

-Eu também confesso que prefiro ser um conselheiro real ou guerreiro no reino D. Alder do que viver solto nos territórios Ashrose. Sem ofensas, Sebastian, mas já tive prova das feras que vivem lá e entendo que o Rei não poderá liberar tropas para fazer nossa guarda a todo momento!- Os demais guerreiros vindos do deserto que ouviam o discurso do jovem ponderaram sobre suas palavras e consentiram.

Mesmo assim, o Rei Yoseph, que parecia contrariado, disse rapidamente:

-Bem, primeiro temos que tirar os atuais regentes do poder antes de eleger novos. E não lembro se alguém já me informou, mas vocês já têm um plano?

Dessa vez, foi Kraig von Bluestorm quem se pronunciou. Ele parecia sério e falou com uma postura e moral que faziam parecer que ele não tinha apenas 17 anos e era bem versado em guerras.

— O plano em que estive pensando é bem simples. Primeiro, vamos espalhar boatos entre os cidadãos que ainda vivem no reino de Whitefields, dizendo que um dragão, acompanhado por uma horda de monstros, marcha naquela direção. Podemos utilizar alguns dos nossos guerreiros aliados, que estão com poucos ferimentos, para dizer que mal conseguiram fugir e que seria melhor ir para outro território, pois os monstros irão atacar o reino em breve. Acredito que será suficiente para criar caos e tumulto. Alguns fugirão de imediato, enquanto outros, mais céticos, esperarão até avistarem os monstros para saírem de lá.

Ele fez uma pausa, certificando-se de que todos estavam acompanhando, e então continuou:

— Aí entra a segunda parte do plano. Um pequeno grupo vai voltar para a floresta e atrair alguns monstros para fora dela, mantendo uma distância mínima para que os monstros não desistam da caçada. Iremos prender esses monstros e transportá-los até o reino de Whitefields. Quando os primeiros partirem em desespero e restarem apenas os céticos, soltaremos os monstros no reino.

Nesse momento, ele foi interrompido por Leonor, que consternada, disse:

— Mas as pessoas vão se machucar assim! E não há provas de que isso vai funcionar!

Kraig, firme em suas convicções, ignorou Leonor e seguiu explicando o plano.

— Assim que os monstros forem soltos, nossos melhores caçadores irão se espalhar e caçá-los. Assim que os matarem, devem criar um pânico geral, dizendo que esses monstros menores foram afugentados por gigantes que estão vindo naquela direção. Creio que será o suficiente para que todos que não têm envolvimento direto com os Whitefields deixem a cidade. Nesse momento, cercaremos o reino com nosso exército. Ninguém mais entra ou sai do reino! Enviaremos duas pessoas para falar com o Rei e a Rainha de Whitefields, propondo que se rendam, ou nosso exército avançará. Daí em diante, não dá para prever o que vai acontecer, mas temos que estar preparados caso eles não se rendam!

Finalmente, Kraig finalizou o plano para a tomada do reino de Whitefields.

Não houve outras interrupções; todos pareciam ponderar sobre aquelas palavras. Mesmo para os mais resistentes, o plano parecia sólido e difícil de refutar. Então, Daren decidiu quebrar o silêncio:

— Está bem, nesse caso serão cinco avanços, correto?

Antes que Kraig pudesse responder, ele completou:

— No primeiro avanço, precisamos de uma equipe de caça tática para retornar à Floresta Negra e atrair monstros menores para fora, onde estaremos esperando com armadilhas para prendê-los. No segundo avanço, precisamos de poucas pessoas para se infiltrarem no reino de Whitefields e espalharem as notícias sobre a chegada dos monstros. Esses devem tomar cuidado para não serem pegos pelos guardas reais, ou o plano não terá efeito. No terceiro avanço, precisamos tomar muito cuidado para não ferir inocentes quando liberarmos os monstros dentro do reino. Daremos uma vantagem de uns três minutos e, então, os caçadores seguirão para exterminar os monstros, responsáveis pela segunda parte do ato sobre a chegada de mais monstros. Aguardaremos os cidadãos saírem do reino, dando uma vantagem de três horas. Após esse período, iniciaremos o quarto avanço, quando nosso exército cercará o reino em todas as direções. Precisamos de navios no mar com alguns soldados para impedir a saída pelo porto. Só então terá início o quinto avanço, quando tentaremos propor a rendição dos Whitefields. Acho que os nobres seriam mais eficientes para esse papel. Daí em diante, será improviso. Os nobres que entrarem no reino para tentar convencer os Whitefields a se renderem levarão algo que sirva como sinal para os exércitos caso a rendição não funcione, para que as tropas avancem. Todos temos que desempenhar nossos papéis sem falha, ou não teremos outra chance como esta. Esse é um plano bem eficiente, príncipe Kraig. Será melhor começarmos os preparativos o quanto antes!

Mais uma vez, ninguém interrompeu o monólogo detalhado sobre as etapas do plano. Todos esperavam mais orientações sobre em qual parte dos avanços cada um se encaixaria. A noite caiu rapidamente, e então armaram um grande acampamento para descansar, decidindo separar as equipes de avanço pela manhã.

Enquanto todos se aconchegavam ao redor da fogueira ou se retiravam para suas tendas, Sebastian decidiu sair furtivamente e visitar um vilarejo próximo no reino de Greenland. Ele caminhava calmamente, observando o céu noturno e as paisagens ao redor, tão imerso em seus pensamentos que não percebeu estar sendo seguido.

De repente, uma voz feminina chamou seu nome:

— Sebastian... — disse Leonor em um tom baixo. Ele se virou, surpreso, e viu a moça o acompanhando. Sem entender suas razões, ele não soube o que dizer, permanecendo confuso enquanto ela completava:

— Por que está andando por aí sozinho? — Ela parecia verdadeiramente preocupada.

— Amanhã será um longo dia. Eu queria aproveitar o que talvez sejam nossos últimos momentos de paz antes de uma possível guerra — respondeu Sebastian, com olhos tristes.

— Você não gosta de guerras, não é? — Leonor se aproximou mais, percebendo a melancolia dele.

Sebastian tentou parecer despreocupado e brincalhão:

— Acho que ninguém gosta! Mas é como dizem: "Quando as palavras já não conseguem alcançar os ouvidos dos que se mantêm cegos diante dos fatos, arranquem-lhes suas cabeças antes que usem sua voz para condenar os tolos!"

— Bem, às vezes as pessoas apenas não foram ensinadas a enxergar os fatos da maneira certa. Poucos têm bom senso tão jovens como você — disse Leonor, olhando-o nos olhos. Após um breve silêncio, ela continuou: — Aliás, eu nem sei se deveria, mas queria agradecer por você ter indicado minha família para se tornar regente do reino de Whitefield, se as coisas derem certo.

Sebastian sorriu de volta e disse:

— Bem, após tantas coisas que passei ao lado de seus parentes do deserto até aqui, achei que seria apropriado que sua família cuidasse daquele território. Todos vocês são altruístas e hábeis em batalhas. Sempre achei que era a escolha mais sábia.

— Então, se as coisas derem certo, você continuará sendo o rei de Ashrose, e eu me tornarei o quê? Princesa de um reino da minha família? — Leonor corou, animada ao falar.

Sebastian a olhou com confiança e despreocupação:

— Ah, não, você não será princesa do reino D. Alder.

Leonor o olhou contrariada e, inclinando-se irritada em direção a ele, respondeu:

— Ora, majestade, não acha que estou à altura de me tornar uma nobre, junto de meus parentes que você mesmo disse serem tão altruístas?

Antes que ela pudesse terminar seu discurso, Sebastian interrompeu:

— Você será rainha em Ashrose!

Surpresa, Leonor parou seu discurso, corou e deu um passo para trás:

— Por que você vem com essa de rainha de repente? Você não me conhece direito! — disse ela, olhando para o chão, envergonhada.

Sebastian riu e respondeu:

— Bem, não me peça para explicar, mas desde a primeira vez que vi você montada naquele cavalo no meio do deserto, eu soube que me casaria com você.

Leonor, ainda mais corada e gaguejando, falou:

— Pare de dizer bobagens! Casamento é algo sério. Na minha família, os casamentos duram a vida toda! Não brinque com algo assim!

Dessa vez, com um tom de voz gentil, Sebastian falou sério:

— Talvez você não esteja certa disso nesse momento, mas desde que te vi pela primeira vez, eu já sabia. Ou talvez foi quando vi você deslizar por baixo dos pés daquele ogro com correntes nas mãos com tanta agilidade que ele nem percebeu que estava sendo preso. Talvez também quando, diante de duas serpentes titânicas, em vez de fugir, você permaneceu ao meu lado e tentou puxar meu braço para longe das serpentes... Não sei ao certo. Mas sei que no final você será minha rainha, e juntos governaremos Ashrose. Não me vejo fazendo isso com mais ninguém além de você.

Antes que ele terminasse de falar, Leonor deu um passo à frente e o beijou. Sebastian, surpreendido, a beijou de volta instintivamente. Então, Leonor se afastou, corada, e disse:

— Bem, se é isso que deseja, espere! Eu só tenho 14 anos, não posso me casar ainda. Meus irmãos não deixariam... — Enquanto falava, Sebastian a olhava incrédulo e com ternura. — Ah, e você deve saber que, para uma moça da família D. Alder se casar, o pretendente deve enfrentar um de seus irmãos em batalha e sair vitorioso. Caso contrário, a família não permitirá a união.

Disse ela, orgulhosa de seus costumes e de sua família. Sebastian, agora mais pálido, pensou nos irmãos de Leonor, os guerreiros mais fortes que já vira, e em como parecia impossível derrotar qualquer um deles.

Afastando o pensamento naquele momento, Sebastian olhou animado para Leonor e disse:

— Quer ir ao vilarejo comigo? Soube que lá está havendo um festival! Como ainda é cedo, não deve ter acabado. Podemos ver algumas coisas interessantes ainda! — disse Sebastian, estendendo a mão para Leonor.

Ela sorriu para ele, pegou sua mão e respondeu:

— Então vamos lá!

Os dois seguiram a trilha até o vilarejo, que estava todo decorado e iluminado. As pessoas usavam máscaras representando monstros, e a música que ecoava era alta e vibrante. Chegando a uma tenda que vendia máscaras, Sebastian olhou para Leonor, que, apesar de segurar sua mão, estava fascinada com o festival ao redor. Ele a puxou mais para perto de si e disse:

— Que tal a gente se divertir também? O que acha dessas máscaras, alguma lhe agrada? — disse Sebastian, mostrando as diversas máscaras na tenda do vendedor.

Enquanto ela olhava admirada as máscaras e escolhia uma, o vendedor disse:

— Para um jovem casal, faço um desconto especial em duas máscaras! — Ambos coraram e sorriram.

Eles continuaram escolhendo as máscaras e decidiram por um par de máscaras draconianas. Enquanto Leonor colocava a sua no rosto, Sebastian pagou as máscaras. Antes que ele pudesse colocar a sua corretamente, Leonor o puxou para dentro do festival.

O vilarejo estava vibrante, com luzes e cores por todos os lados. Havia barracas de comida exótica, dançarinos mascarados e performances de malabaristas e acrobatas. O aroma doce de maçãs caramelizadas e especiarias preenchia o ar, e a alegria das pessoas ao redor era contagiante.

Leonor, com sua máscara draconiana, se misturava perfeitamente ao ambiente festivo, e Sebastian não conseguia desviar o olhar dela, admirando sua felicidade e animação. Eles se aproximaram de um palco onde um grupo de músicos tocava uma melodia envolvente, e antes que percebessem, estavam dançando juntos, esquecendo por um momento as preocupações da guerra iminente.

Enquanto dançavam, Leonor ria e girava, seu rosto iluminado pelo brilho das lanternas ao redor. Sebastian, com sua máscara, sentia-se livre e feliz, como há muito tempo não se sentia. Ele sabia que aquele momento seria uma lembrança preciosa, algo para se apegar nos dias difíceis que viriam.

Após algumas horas de diversão, eles se afastaram um pouco da multidão e encontraram um lugar tranquilo para sentar. Olhando para o céu estrelado, Leonor tirou a máscara e disse, ainda ofegante da dança:

— Obrigada por me trazer aqui, Sebastian. Este é o momento mais feliz que já tive em muito tempo.

Sebastian, também tirando sua máscara, respondeu com um sorriso:

— O prazer é todo meu, Leonor. Eu queria que você tivesse uma noite inesquecível.

Eles ficaram ali, lado a lado, aproveitando o silêncio da noite após a alegria do festival, sentindo-se mais próximos e confiantes para enfrentar o futuro incerto.

Antes do amanhecer, Sebastian e Leonor retornaram ao acampamento, onde foram pegos por Daren, que estava de vigília naquela direção. Ele os olhou com um sorriso malicioso e disse:

— Sebastian... Imagina só se os irmãos dessa donzela soubessem que você saiu com ela durante a noite e só retornou ao raiar do dia... Nossa, imagino que haveria pedaços do Rei de Ashrose daqui até Whitefield! — falou, olhando diabolicamente de um para o outro.

Aproximando-se dele e sussurrando, Sebastian perguntou:

— O que você quer para ficar de bico fechado?

Daren começou a rir de um modo cheio de segundas intenções, fazendo um arrepio percorrer as costas de Sebastian. Então Daren disse:

— Acho que não há preço que pague. Afinal, os irmãos de Leonor são como irmãos para mim... E se você a desonrou, tenho o dever de alertá-los! — disse Daren, olhando despreocupadamente para Sebastian.

Foi quando Leonor interveio:

— Acho que se você falar sobre isso, terei que dizer a Olívia e Glenda, que ficaram aguardando o resultado dessa guerra lá no deserto, que você prometeu que se casaria com as duas! Se não me engano, Glenda é filha de Draken, o melhor caçador do deserto... Bem, vamos ver o que ele acha disso! — Sebastian olhava para Leonor cheio de admiração, enquanto Daren a olhava com espanto e terror.

Consternado, Daren perguntou:

— Como você soube sobre isso? — disse, olhando para Leonor.

Ela respondeu:

— Meninas conversam sobre essas coisas. Já foi difícil para mim evitar que as duas falassem sobre você no mesmo lugar! Mas sabe, pode ser bem fácil mencionar seu nome para elas! — Dessa vez, o sorriso malicioso estava no rosto de Leonor.

Dando-se por vencido, Daren disse:

— Espero que não tenham feito algo que desonre o nome da sua família, e peço que não façam mais isso! — disse ele, derrotado, olhando para Leonor.

Ela respondeu:

— Não se preocupe, eu sei cuidar de mim! Não deixaria nem mesmo um rei me passar a perna, mesmo que nos fôssemos casar! — Ela disse e então saiu correndo em direção à sua tenda.

Sebastian, que ficou para trás junto a Daren, estava incrédulo com a maneira como ela havia resolvido a situação. Então Daren disse:

— Casar, hein... — Novamente o sorriso malicioso voltou ao seu rosto e ele completou: — Não sei se você sabe, mas na família D. Alder você tem que vencer um dos irmãos dela para poder pedir a dama em casamento! Me diz aí, qual dos três você prefere que eu acorde? Drake, o irmão mais velho, é nosso guerreiro mais habilidoso. Isaac, seu meio-irmão, é um dos nossos arqueiros mais habilidosos. Ou Dorian, bem, Dorian é um assassino psicopata que adora matar tudo que vê no caminho... Qual deles você prefere enfrentar?

Engolindo em seco, Sebastian respondeu:

— Nesse momento, vamos nos preocupar com a guerra contra os Whitefields. Quando chegar a hora de eu me casar com Leonor, eu decido como será feito! — disse ele com um tom mais confiante do que realmente sentia.

Daren disse:

— Bem, é seu enterro. Só não esqueça de me chamar para ver quando for acontecer! Não é todo dia que vejo um amigo nobre morrer! — disse, saindo em seguida, rindo.

Sebastian afastou os pensamentos iminentes sobre sua morte e seguiu em direção à sua tenda para tentar descansar um pouco.