Chereads / Herdeiros de Hartia -Versão Traduzida / Chapter 8 - **Lugar misterioso**

Chapter 8 - **Lugar misterioso**

"Todo homem que fez alguma coisa grandiosa foi guiado pelo subconsciente."Orison Swett Marden

Enquanto isso, no interior da Floresta Negra, Killian, que já havia despertado assim que o sol surgiu no horizonte, estava calmamente olhando para os itens que ainda restavam em sua mochila. Ele se certificava mais uma vez de que não havia esquecido nada e que as porções, agora reduzidas por ter dividido com Ruby, durariam até que ele encontrasse algum vilarejo próximo à Floresta Negra, no território de Korya.

Assim que teve certeza e guardou novamente todos os itens, ele reparou que Ruby, em sua forma de um pequeno gato branco, o encarava com curiosidade. Sabendo que não podia se comunicar com ela de modo que ela entendesse, ele a pegou gentilmente, colocou-a no colo e disse:

"Nós temos que ir agora ou ficaremos sem mantimentos antes de sairmos da floresta! E tem mais uma coisa: apesar de eu estar quase certo, não sei se realmente estou seguindo a direção certa!" Disse ele, enquanto a pequena gata em seus braços o encarava de um jeito alarmado.

Cuidadosamente, ele encontrou outra forma, mais segura, de descer a montanha e passou a seguir a direção que a bússola apontava. Algumas milhas adiante, ainda seguindo sua rota, ele ouviu um som que parecia ser de uma cachoeira ou água corrente. Decidiu então fazer um pequeno desvio e foi lentamente até a fonte daquele som.

Após adentrar o que parecia ser uma passagem na montanha e desviar de algumas rochas gigantes, ele se viu diante de um cenário paradisíaco. Era uma cachoeira, mas a água que corria nela parecia estar repleta de pó de ouro. Plantas exóticas e seres mágicos que faziam parte daquele belíssimo cenário, não notaram sua presença. Pequenas criaturas com asas brilhando em um tom quase dourado, semelhantes a humanos, mas pequenas demais – fadas, pensou ele! Além das supostas fadas, no lago dourado que se formava sob a cachoeira, havia peixes que pareciam carpas, mas com escamas que lembravam diamantes. Ele reparou que as rochas por ali, ou até as plantas que antes só descrevera como exóticas, pareciam pedras preciosas!

O ambiente parecia um paraíso feito de tesouro! Ruby, tão admirada quanto ele, pulou de seus braços para o chão.Ela começou a brincar com a areia fina, brilhante e dourada que compunha o chão naquele lugar. Foi quando Killian se abaixou para tocar essa areia que notou: era ouro! Ouro em pó junto com alguns outros metais preciosos, uma mistura linda e de valor inestimável que combinava perfeitamente com aquele lugar.

Apesar da beleza estonteante daquele lugar, que parecia nunca ter sido descoberto ou explorado antes, Killian não sentiu a presença de perigo, e os seres ali existentes pareciam estar preocupados demais consigo mesmos. Então lembrou que já não tomava um banho fazia três dias e, olhando para aquela água de brilho dourado, pensou: mal não deve fazer! Ele se despiu, o que fez a pequena Ruby, que estava brincando agora com uma fada que tentava desesperadamente fugir de suas garras, parar por um momento, preocupada com ele.

Ao entrar naquela água, ele sentiu como se estivesse sendo abraçado por ela, não um abraço qualquer; aquela água trazia a sensação de um abraço fraterno e intenso, quase como o de uma mãe, pensou. Mas logo lembrou que não fazia ideia de como era a sensação de ser abraçado por uma mãe. Nesse momento, agora submerso nas águas, ele começou a ver dentro da água uma mulher adulta, com a pele num tom oliva, cabelos pretos longos dançando na água e olhos de cor verde âmbar. Ela usava um vestido longo branco que também flutuava numa dança como seus cabelos. Finalmente, ela pareceu notar que ele a estava encarando e, num gesto gentil, olhou-o com ternura, expressou um sorriso tranquilizante e, em seguida, sumiu como se estivesse sendo apagada por uma forte luz dourada.

Ele então emergiu e procurou a mulher ao redor, mas não havia ninguém. No entanto, Ruby e algumas fadas daquele lugar estavam na beira do lago olhando para ele com um olhar que expressava espanto e preocupação. Ele instintivamente levantou as mãos e acenou para elas, então deu as costas e começou a nadar novamente na água. Pouco tempo depois, sentindo-se completamente acolhido nas águas, decidiu mergulhar mais uma vez, ir mais fundo. Então o fez, mas forçou-se a manter os olhos abertos. Foi quando avistou um brilho azul, destacando-se, vindo do fundo do lago.

Nunca fora um exímio nadador, mas se arriscou mergulhando mais fundo para checar do que se tratava aquele brilho. Ao se aproximar, viu que não se tratava de algo em si, mas parecia mais o fluxo de algum líquido que também não era um líquido, algo que ele não conseguia explicar. Foi quando essa luz azul começou a cercá-lo. Ele se assustou e deixou um pouco do ar que acumulava fugir, liberando ainda mais uma sensação de urgência. Sensação essa que se misturava com a onda acalentadora que aquela água trazia, deixando-o num estado de dúvida sobre o que fazer. Fazia um tempo que ele não se sentia inseguro sobre algo. Foi quando, instintivamente, novamente ele pensou: queria que minha mãe dissesse o que fazer de agora em diante. Mas antes que esse pensamento se completasse em sua mente, a luz azul que o cercava começou a se depositar em sua pele, e em um momento ele estava brilhando, brilhando na cor azul como a luz que vira antes.

Pensou em nadar para fora do lago e se livrar daquilo, mas não conseguia se mover. Foi quando a luz se tornou mais intensa, tão intensa que o fez fechar os olhos. Nesse momento, ele se viu em outro lugar, uma espécie de sala onde o céu e o chão pareciam uma única coisa. Apesar de ser um lugar, não parecia ser finito, gerando em Killian uma mistura de medo e admiração. Então, nesse momento, surgiu uma figura na frente dele: ele mesmo.

Uma segunda versão de si mesmo, como se ele estivesse olhando diretamente para um espelho que era sua imagem, mas não necessariamente espelhava suas reações ou atos. Ele tentou se afastar daquilo, mas não era como se ele pudesse se mover naquele lugar. E então a versão espelhada dele, que até o momento estava parada o observando, falou:

"Então foi assim, você finalmente chegou aqui," disse o Killian espelhado. Mas Killian, em choque por ouvir sua própria voz e estar diante de toda aquela situação irracional, respondeu de imediato:

"Eu morri… Então quer dizer que morri naquele lago." Ao ouvir as palavras de Killian, o Killian espelhado riu e então disse:

"Você não morreu, nós não morremos ainda! Só parece que finalmente você conseguiu desbloquear uma parte interna de você que muitos não conseguem alcançar. Falo de mim nesse caso!" Disse, apontando para si mesmo.

Killian, ainda intrigado e sem entender os fatos, disse:

"Se eu e você somos a mesma pessoa, como diz, como estou conversando com você? E que história é essa de desbloquear parte de mim? Quer dizer que você estava selado ou algo assim?" Disse, colocando a mão sobre a cabeça numa tentativa de entender a situação.

Foi quando o Killian espelhado disse:

"Poucas pessoas, quando evoluem a si mesmas, encontram várias versões de si mesmas: uma versão maligna, uma versão infantil, mais velha. De qualquer forma, somos o subconsciente tomando forma para conversar com o eu inteiro." Disse, sentando-se no nada, suspenso naquele lugar que não parecia ter início ou fim, céu ou chão.

Tentando organizar as ideias, Killian disse:

"Então você é meu subconsciente. Entendi. Mas não acho que eu tenha evoluído tanto assim para conhecer ou conversar com meu subconsciente…" Antes que ele pudesse completar seu raciocínio, o Killian espelhado disse:

"É, ainda bem que entende que não é um ser evoluído!" Disse friamente e continuou: "O que acontece é que você achou uma anomalia, um atalho… Bem, posso dizer assim, algo que seria libertado em você futuramente, mas que encontrou você antes."

Dessa vez, Killian interrompeu e falou:

"Como assim atalho? Libertado futuramente? Eu só vi uma luz e fui ver o que era…"

O Killian espelhado olhou para o original como se estivesse olhando para um ignorante e então disse:

"Muita coisa que devia ser dita, ou melhor, explicada, não poderá ser explicada agora, pois estaria além da sua compreensão no momento. E honestamente, nem eu sei o que você faria se soubesse de tudo de uma vez. O que posso antecipar para você neste encontro é que seu destino encontrou você, antes que você estivesse pronto para conquistá-lo. E agora, você e esse poder que já está dentro de você, porém imaturo e limitado, terão que crescer e evoluir juntos."

Killian tentou entender o que tinha acabado de ouvir, mas antes que pudesse dizer algo, abriu os olhos. Ainda estava dentro do lago dourado, mas não havia mais luz azul. Subitamente, ele começou a se sentir sufocado como alguém que prende a respiração por muito tempo, então nadou rapidamente para a superfície.

Quando chegou à superfície, Ruby, que havia assumido forma humana, estava chorando desesperadamente enquanto era acalmada pelas fadas, que momentos antes ela perseguia. Quando todos repararam que ele estava saindo do lago, o olharam com profundo espanto. Então ele disse:

"Qual é, pessoal, o que foi?" Já bastava o provável encontro com seu subconsciente ou uma suposta alucinação, causada pela possível falta de oxigênio, que ele vivenciou momentos antes. Agora, as fadas e Ruby o encaravam espantadas.

Foi então que ele pensou: "Será que estou brilhando em azul como naquela hora?" Então começou a examinar a si mesmo, mas tudo parecia normal. Ele se aproximou de Ruby, estendeu a mão para acalentar seus cabelos e disse:

"Desculpa, você deve estar assustada e chorando por ter achado que eu morri afogado! Mas eu estou bem, veja só!" Disse, apontando para si mesmo.

Nesse momento, em silêncio, Ruby se aproximou dele e estendeu suas mãos até os olhos de Killian, fazendo uma expressão confusa. As fadas ao redor também pareciam olhar algo em seus olhos, espantadas. Então ele decidiu pegar o espelho dentro da mochila em tentativa de entender do que se tratava todo aquele espanto.

Foi até a mochila, terminou de vestir as roupas e então pegou o espelho. Quando verificou seu reflexo, ficou espantado ao perceber que um de seus olhos ainda era normal e característico da família Ashrose em seu azul claríssimo, quase cinza. Já o outro olho, seu olho esquerdo, havia mudado completamente. Agora, ele tinha um brilho translúcido na córnea, seguido por uma esclera que, em vez de branca, era da cor de ouro puro. Sua íris remetia a uma safira lapidada, em seu tom azul vibrante e, em sua pupila, havia um vórtice que parecia varrer os tons de dourado e azul até o seu interior negro. Eram muitos detalhes, seu olho parecia uma pedra preciosa e mágica. E isso lhe era assombroso, por quê de repente?

Então ele decidiu olhar de volta para as fadas e para Ruby, testando se havia diferença na sua perspectiva de visualização entre os dois olhos. Testou primeiro seu olho direito, fechando o esquerdo, e tudo estava igual. Então fez o contrário e notou uma breve diferença: com seu olho esquerdo, ele parecia visualizar um espectro de luz nos seres vivos, com cores diferentes para as espécies e tamanhos diferentes da onda de luz entre seres da mesma espécie. Não conseguiu entender. Mas as fadas começaram a ficar agitadas quando uma delas finalmente disse:

"Você não é um simples humano, não é?" Consternado com esse questionamento, ele não demorou para responder:

"Sou humano sim, só não sei o que aconteceu! Eu mergulhei, vi uma luz azul e agora estou assim!" Ele parecia intrigado e as fadas também pareciam ter muitas dúvidas. Porém, mais uma vez, disseram:

"Você não pode ser um simples humano, ou essas águas teriam consumido você até que não restasse nada! E você simplesmente estava nadando, até mergulhou… Por um momento achamos que era uma reação atrasada e aí você saiu de lá com esse olho estranho… Nunca vi humanos com um desses ou qualquer um!" Disse uma das fadas.

Killian ponderou sobre suas palavras, mas não faziam sentido. Afinal, ele era humano, seu pai era humano e sua mãe, mesmo que ele não tenha conhecido, também era humana. Então deve haver outra explicação, pensou.

M

Então simplesmente decidiu dizer:

"Bem, até onde sei sou humano! Além disso, estou tão surpreso quanto vocês! O banho foi bom, mas agora devo pegar a Ruby e retornar para minha rota!" Disse ele, estendendo a mão para Ruby, que parecia não entender nada.

Foi quando uma das fadas, desconfiada, disse:

"Você vai simplesmente embora? Não vai querer levar o ouro daqui ou as pedras preciosas?" Falou, parecendo realmente curiosa com o fato.

Porém, Killian olhou ao redor, para aquela intrigante e paradisíaca paisagem, e disse:

"Não tenho esse tipo de ambição, e gosto desse lugar como está! Uma pilhagem aqui por pedras preciosas deixaria o lugar arruinado e, sem dúvidas, tiraria sua beleza e mistério!"

As fadas, por sua vez, apenas o encararam surpresas. Ele então pegou Ruby pela mão e começou a voltar pelo caminho de onde veio. Enquanto isso, as fadas continuaram especulando sobre tudo que ocorreu, afirmando umas para as outras que ele definitivamente não era humano.