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O Menino e o Poço

🇧🇷Leonardo_Marques
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Synopsis
Vicky, um garoto de oito anos, é cruelmente atacado por seus colegas de escola e jogado em um poço sombrio. Com uma doença que o impede de falar, ele se vê preso em um mundo de dor e tormento, à mercê de seus agressores. Enquanto luta para sobreviver em meio à escuridão e aos ratos que o cercam, Vicky precisa encontrar uma maneira de escapar das garras de seus torturadores. Uma história angustiante e emocionante sobre resiliência, coragem e a busca desesperada por liberdade em um lugar onde o silêncio é ensurdecedor. Prepare-se para uma jornada intensa e arrebatadora no abismo da crueldade humana.
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Chapter 1 - Capítulo 2

Com os olhos arregalados e a boca aberta em um grito silencioso, Vicky despencava em queda livre, sua descida tão rápida que ao atingir o fundo do poço, o som sinistro do osso da sua perna se partindo ecoou pelo espaço vazio. Deitado no chão do poço seco, escuro e sujo, Vicky permanecia inconsciente, enquanto algumas baratas e escorpiões se aproximavam cautelosamente. Próximos ao poço assustador, estavam Scott, de 11 anos, e Evan, de 10 anos, ambos assombrados pela cena que acabaram de presenciar.

— Meu Deus, por quê? Por que ele não gritou? — Evan perguntou, com olhos arregalados de terror.

— Porque ele não pode gritar —, respondeu Scott, num tom frio e assertivo.

— Devemos avisar alguém —, insistiu Evan, sua voz tremendo de medo. — A mãe dele, nós a vimos chegando de carro. Temos que contar a ela.

Scott olhou para Evan e, num acesso de raiva, desferiu-lhe um tapa no rosto.

— Você está ficando louco? Avisar quem? E o que vamos dizer? — Scott respondeu, exasperado. — Nós colocamos ele nessa situação. Esse esquisitão caiu no poço por nossa culpa. Se formos contar a alguém, o que vamos dizer?

Evan olhou ao redor, cada vez mais desesperado.

— Então vamos sair daqui antes que ele comece a gritar por socorro —, sugeriu Evan, sua voz trêmula de medo.

— Ele não vai gritar por ajuda —, disse Scott com convicção.

— Por que não? — perguntou Evan.

Scott se aproximou do poço e olhou para o fundo escuro.

— Vicky nasceu com uma doença chamada Disartria —, explicou Scott. — Isso causa fraqueza nos músculos usados para falar, o que muitas vezes resulta em uma fala arrastada, lenta ou, às vezes, na impossibilidade de falar.

— Ah! Então foi por isso que ele não gritou —, falou Evan, surpreendido.

Naquele momento, Scott ouviu a avó chamando seu nome. Evan rapidamente deixou o local correndo, deixando Scott para trás. Ele ficou sozinho no quintal, deu alguns passos para trás e um sorriso maligno apareceu em seu rosto.

— Eu quero deixar você aqui... tenho ótimos planos para você, esquisitão —, disse Scott com uma felicidade enorme.

Em seguida, Scott olhou em volta e viu um galho de árvore seca ao seu lado. Ele rapidamente pegou o galho e o colocou em cima do poço, cobrindo assim a única entrada de acesso. Deixou o poço coberto com o galho seco.

Enquanto isso, Jéssica e Ramiro ainda discutiam na frente de casa. Enquanto Jéssica tirava as malas do porta-malas do carro, Ramiro as colocava de volta.

— Eu já falei para você deixar de ser teimosa —, disse Ramiro ao fechar a mala do carro. — Quer proibir de ver o meu filho por quê?

— Aí é muita cara de pau! Ainda me pergunta o motivo —, respondeu Jéssica.

— Eu nunca te traí. Eu não estava te traindo... foi a minha secretária que ofereceu para me dar uma massagem e depois me beijou assim do nada —, explicou Ramiro.

Ela deu uma pequena risada sarcástica. Jéssica permaneceu firme diante das ameaças de Ramiro, suas palavras ecoando com determinação enquanto o vento sussurrava segredos obscuros pelas ruas desertas daquela pequena cidade. O embate entre eles agora era apenas uma questão de tempo, uma dança sinistra que culminaria em um duelo diante dos olhos da justiça.

Enquanto isso, na pacata rua onde as árvores sussurravam segredos e os pássaros contavam histórias, a vida seguia seu curso com uma normalidade desconcertante. Jéssica, determinada a começar uma nova vida, descarregou suas frustrações ao abrir a mala do carro e pegar algumas bolsas, sua silhueta se fundindo com a sombra da noite que caía lentamente sobre a cidade adormecida.

Ramiro, seguindo atrás dela como uma sombra fiel, testemunhou o estrondo das árvores derrubadas no quintal da vizinha. A avó de Scott, uma figura enrugada pelo tempo, estava lá, comandando os lenhadores com uma autoridade que só os anos de experiência poderiam conferir. O som da madeira caindo reverberou pelos arredores, um eco distante de uma vida que já não existia mais.

Conceição, a avó de Scott, observava com uma expressão endurecida pelo desapontamento quando seu neto e seu amigo Evan se aproximaram. O ar estava carregado de tensão, uma energia elétrica que pairava entre eles como uma tempestade iminente.

— Quantas vezes eu tenho que dizer para você que não quero ver você no quintal da vizinha, Scott? —, esbravejou Conceição, sua voz carregada de desgosto.

— Vovó, deixa de ser chata! —, retrucou Scott, sua rebeldia transbordando em cada palavra. — Estamos no meio da mata e não tem muitas casas por aqui. É óbvio que vou continuar entrando nas poucas casas que tenho por aqui.

Evan, tentando apaziguar os ânimos, acrescentou: — A gente estava apenas brincando. Não estávamos fazendo nada demais.

Mas a reprimenda de Conceição foi clara e firme: — A partir de agora, vocês não vão entrar mais no quintal daquela casa. Aquela casa já foi vendida e já tem novos donos, e eu não quero problemas com os novos vizinhos. Entenderam?

— Sim, vovó, a gente entendeu muito bem... —, murmuraram os dois garotos, cabisbaixos diante da autoridade da matriarca.

A noite caía sobre a cidade, envolvendo todos em sua escuridão misteriosa, enquanto os segredos e as tensões do passado aguardavam pacientemente para serem revelados. O barulho ensurdecedor de uma motosserra ecoou pelo ar, interrompendo a tranquilidade do momento. Os dois amigos se entreolharam, perplexos com o ruído invasivo. Era o som característico dos lenhadores, cortando implacavelmente as árvores sob a ordem da avó de Scott.

— É melhor irmos brincar dentro de casa agora –, sugeriu Conceição, preocupada com a segurança dos garotos diante da atividade dos lenhadores. Ela abriu a porta da sacada e se recolheu para dentro, seguida por Evan. Scott permaneceu sozinho, encarando a motosserra com uma expressão fria.

Avançando alguns passos, Scott desviou o olhar para o muro de madeira que dividia o quintal da avó do quintal vizinho, onde ficava o poço. Seus olhos se fixaram no buraco na parede de madeira, por onde ele tinha acesso ao outro lado.

— Que interessante... Eu tenho um prisioneiro agora —, murmurou Scott, um sorriso malicioso brincando em seus lábios.

O rugido das motosserras ecoava pela floresta enquanto os lenhadores derrubavam impiedosamente as árvores. Entre eles, Scott observava intensamente o movimento da lâmina cortante, perdido em seus próprios pensamentos.

No entanto, em um local distante, no fundo de um poço coberto pela vegetação densa, Vicky despertou em agonia. Uma dor lancinante percorria sua perna, e seu corpo exibia os sinais de um violento acidente. Com esforço sobrenatural e lágrimas de dor, conseguiu se erguer e deparou-se com a terrível visão: a ponta do osso rompendo a pele, sinal claro de uma fratura exposta. Seus gritos foram sufocados pelo silêncio da mata, e a tentativa desesperada de se apoiar nas paredes do poço resultou apenas em mais ferimentos, cortes profundos que desfiguraram suas mãos e arrancaram suas unhas. Exausto e submerso em uma tormenta de dor, Vicky sucumbiu ao cansaço, permanecendo prostrado no chão frio do poço.

Enquanto isso, na confortável sala da casa, Jéssica estava aflita, percorrendo o espaço de um lado para o outro, chamando pelo nome de "Vicky". Ramiro, em pé e imóvel, tentava dialogar com ela.

— Por favor, me escute. Preste atenção em mim —, insistiu Ramiro.

— Não quero ouvir nem sua voz. Apenas vá embora daqui —, respondeu Jéssica, visivelmente nervosa.

— Você comprou uma casa no meio da floresta, levou meu filho embora e ainda tem coragem de me mandar embora? — retrucou Ramiro.

Jéssica virou o rosto, incapaz de encarar a verdade nos olhos dele. Ramiro estava determinado a chamar a atenção de Jéssica, mas ela continuava a ignorá-lo.

— Vai ficar muda? Não vai falar mais —, disse ele, frustrado.

— Eu não estou achando ele! —, exclamou Jéssica, visivelmente desesperada.

— Ele quem? —, perguntou Ramiro, perplexo.

— Vicky!

— Mas ele estava com você! O que você fez com o nosso filho, Jéssica?

— Eu não fiz nada. Você acha que eu ia fazer alguma coisa com o nosso filho.

— Você não seria tão maluca até neste ponto —, ponderou Ramiro, aproximando-se dela. — Qual foi a última vez que você viu Vicky?

— Bem, eu falei para ele ir ao quintal para brincar um pouco —, respondeu Jéssica, nervosa.

— Então vamos lá no quintal procurar por ele —, afirmou Ramiro.

No entanto, no exato momento, a vizinha da casa ao lado, Conceição, apareceu segurando um bolo nas mãos e se aproximou de onde estavam.

— Aí, eu sabia que vocês eram um casal —, disse Conceição, radiante. — Assim que eu vi ela chegar com o seu filho, já percebi logo que vocês seriam os novos donos desta casa. Então eu trouxe este bolo aqui de boas-vindas.

O silêncio pesado pairava sobre a sala quando Ramiro e Jéssica receberam a visita inesperada de sua vizinha, Conceição. Ela adentrou a casa num momento tenso, como se tivesse interrompido algo crucial.

— Realmente é muita gentileza sua —, respondeu Ramiro, sua expressão carregada de preocupação.

Conceição percebeu imediatamente a atmosfera tensa e questionou: — Então eu cheguei em uma hora ruim?.

— Sim —, respondeu Ramiro, com um aceno sombrio.

Decidindo não prolongar a visita, Conceição deixou um bolo sobre a mesa e se apresentou como a vizinha solícita.

— Vou deixar esse bolo bem aqui e qualquer coisa estou aqui. Eu sou a vizinha de vocês, me chamo Conceição —, disse ela antes de partir.

Jéssica agradeceu com um simples: — Obrigada —, enquanto observava a vizinha se afastar, deixando-os sozinhos novamente.

— Ramiro, precisamos encontrar nosso filho. Estou cada vez mais preocupada —, expressou Jéssica, com a voz carregada de ansiedade.

Ramiro concordou, sugerindo que começassem pelo quintal. Assim que saíram, uma sensação de inquietação os envolveu, como se algo estivesse à espreita nas sombras.

No quintal, um fio laranja serpenteava pelo gramado até se aproximar do poço. Scott, segurava uma motosserra, pronto para usá-la. Um arrepio percorreu a espinha de Evan ao observar a cena.

— O que você vai fazer? —, questionou Evan, surgindo inesperadamente diante de Scott.

— Eu apenas vou me divertir um pouquinho —, respondeu Scott, com um sorriso sinistro nos lábios, enquanto tentava ligar a motosserra.

O coração de Evan disparou ao perceber que havia algo muito mais sombrio acontecendo naquele quintal do que imaginava. O crepúsculo envolvia a rua deserta, enquanto Evan e Scott se encontravam diante de um antigo poço abandonado. Evan sentia o medo se agigantar dentro de si, o coração martelando no peito.

— Você mesmo disse que a gente não pode avisar ninguém e essa coisa vai fazer muito barulho —, disse Evan, a voz trêmula de apreensão.

— Eu apenas quero ver se ele vai gritar —, retrucou Scott, sua expressão sombria iluminada apenas pela lua fraca.

— Por favor, pare com isso. Chega... vamos deixá-lo lá dentro e deixar que os pais dele encontrem —, sugeriu Evan, tentando apaziguar a situação.

— É melhor você sair da minha frente agora mesmo —, rosnou Scott, a raiva faiscando em seus olhos.

Em um movimento repentino, Scott empurrou Evan, que cambaleou e caiu no chão.

— Se você não tem coragem, então cai fora daqui —, desafiou Scott, a voz carregada de desdém.

— Tudo bem, se for para fazer, faça isso logo —, retrucou Evan, resignado diante da implacabilidade do outro.

Scott sorriu com satisfação, o brilho malévolo dançando em seus olhos sombrios.

A motosserra foi ligada, seu rugido ecoando pela noite como um presságio sinistro. No fundo do poço, Vicky começou a ouvir o barulho, seu coração martelando no peito ao pensar que era alguém vindo em seu socorro. Desesperado, ergueu as mãos, tentando chamar a atenção.

À noite, frio e silencioso na frente da casa da vizinha, Conceição mantinha uma conversa com alguns lenhadores, o brilho da lua revelando seu rosto sério.

— Então, na quinta-feira vocês vêm pegar aquele tronco de madeira, né? —, perguntou Conceição aos lenhadores, sua voz carregada de expectativa.

— Sim, senhora —, respondeu um dos homens, seu tom solene ecoando pela noite como um eco sombrio.

Os primeiros pingo de chuva começam a cair sobre a pequena cidade quando Conceição, uma mulher de fibra e determinação, explicava aos homens a necessidade de um caminhão robusto para transportar as imponentes árvores Redwood.

— Vocês sabem que tem que ser um caminhão bem gigante, né? Porque são 'Árvores Redwood', os troncos delas são enormes —, explicou ela aos homens.

— Senhora, não precisa se preocupar com isso. A nossa equipe já sabe de tudo e estarão aqui sem falta —, assegurou um dos homens.

Nesse momento, um terceiro homem se aproximou, aflito, em busca de sua motosserra perdida.

— Vocês viram a minha motosserra? Procurei em tudo que é canto, até o cabo de força sumiu —, perguntou ele, visivelmente preocupado.

— Bem, se vocês não estiverem muito apressados, eu posso dar uma olhada lá no quintal para ver se está lá —, ofereceu Conceição.

— A gente aguarda a senhora aqui... —, concordaram os homens.

Conceição adentrou sua casa e, após alguns segundos, avistou o cabo de força laranja estendido pelo quintal, conectando-se ao do vizinho.

— De novo, esse menino tá me dando trabalho —, murmurou ela, totalmente surpresa ao abrir a porta da varanda.

No quintal vizinho, onde ficava o poço, Evan retirava um galho que havia caído sobre ele, enquanto a pequena luz do final do dia iluminava metade da parede do poço.

— Vai logo! Joga essa coisa dentro —, exigiu Evan.

— Calma, primeiro eu quero me divertir um pouquinho —, respondeu Scott, desafiador, ao colocar a motosserra na beirada do poço.

No fundo do poço, Vicky fixava seu olhar para cima, tentando desvendar o mistério por trás do barulho incessante que ecoava lá em cima. Por mais que se esforçasse, tudo o que conseguia vislumbrar era uma única luz, aos poucos se dissipando - o crepúsculo anunciava o fim do dia. Tentando se erguer, ele se agarra às paredes do poço, apenas para se machucar novamente. Cada movimento era uma dor lancinante, e lágrimas de desespero escorriam pelo seu rosto enquanto ele tentava se recompor.

Em meio à agonia, uma ideia brilhante atravessa a mente de Vicky. Mesmo com as mãos feridas, ele começa a aplaudir, batendo palmas incessantemente, na esperança de chamar a atenção de alguém. Próximo ao poço, Evan percebe o som e inclina o ouvido, surpreso.

— O que é isso? O que você está ouvindo? —, questiona Scott, curioso.

Evan solta uma risada breve antes de responder: — Este garoto além de estranho, é muito ingênuo. Está batendo palmas achando que será resgatado.

Diante da malícia dos dois, Scott ergue a motosserra, um sorriso cruel se formando em seus lábios.

— Então, vamos dar a ele o 'resgate' que tanto quer —, diz Scott, com um ar sinistro.

— Então, o que está esperando? Jogue logo a motosserra no poço —, ordena Evan impacientemente.

Os dois se encaram por um momento, compartilhando um olhar carregado de maldade, até que Scott, com um gesto brusco, arremessa a motosserra no poço. O barulho estridente do metal batendo contra as paredes ecoa pelo abismo, enquanto Vicky continua olhando para cima, seu destino incerto.