Após uma intensa e pouco apreciada batalha no ginásio especializado em Pokémon do tipo Fantasma, Dave conquistou sua quarta insígnia.
Agora, era hora de seguir viagem para a próxima cidade: Celadon.
A despedida de Lavender, no entanto, provou ser mais difícil do que o esperado. Especialmente por Ardy.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto ele se agarrou à perna de Dave, recusando-se a deixá-lo partir.
"Você não pode ir embora!" Choramingou o garoto, apertando ainda mais o abraço.
Dave tentou explicar que sua jornada precisava continuar, mas as palavras mal pareciam alcançá-lo. Após longos minutos de persuasão, Dave conseguiu convencê-lo a soltar a perna, mas não sem uma condição:
"Você promete que vai voltar? E quando voltar, nós vamos batalhar de novo!"
"Eu prometo, Ardy. E quando isso acontecer, quero ver o quanto você ficou mais forte."
Com tudo pronto, Dave e seu grupo deixaram Lavender, prontos para enfrentar o próximo desafio.
...
O caminho de Lavender até Celadon foi surpreendentemnete tranquilo e desprovido de grandes surpresas.
A estrada, ainda que longa, era direta, serpenteando por campos abertos e florestas esparsas. Os Pokémon selvagens que apareciam pelo caminho não representavam um desafio para o grupo.
Os encontro com Pokémon selvagens apenas servia para treinar Joltik e dar experiência para o recém evoluído Scizor.
Após três dias de caminhada constante, o grupo finalmente avistou os contornos de Celadon City no horizonte.
Conforme se aproximavam, os prédios altos começaram a se destacar contra o céu, misturados com áreas mais baixas e espaços verdes bem cuidados.
A cidade era vibrante, com ruas largas e movimentadas, onde treinadores e moradores circulavam apressadamente.
Pequenos comércios alinhavam as calçadas, exibindo placas coloridas que anunciavam itens de cura, acessórios e até doces para Pokémon.
À distância, Dave notou um enorme edifício, que claramente se destacava, provavelmente o famoso Shopping de Celadon.
Enquanto caminhavam pelas ruas principais, os cheiros da cidade começaram a se misturar: o aroma fresco das árvores e canteiros de flores, o leve cheiro de comida vindo de barracas de rua e até o característico odor metálico do tráfego.
A mistura dava à cidade um ar vivo e acolhedor, mas também mostrava que ali havia muito a ser explorado.
Como de costume, sua primeira parada foi o Centro Pokémon. Lá, reservaram seus quartos e entregaram seus parceiros para os cuidados da enfermeira Joy.
Depois de uma longa jornada, o conforto de uma cama e a promessa de uma boa refeição eram tudo o que precisavam.
Somente no dia seguinte, devidamente descansados e com os Pokémon recuperados, decidiram sair para enfrentar o ginásio.
Pode parecer apressado ir diretamente para o ginásio sem investigar nada sobre o líder ou sua estratégia, mas isso não importava no momento.
Dave tinha uma confiança inabalável em sua equipe. Essa atitude, por mais exagerada que parecesse, era um reflexo claro de sua fé em seus Pokémon.
"Olha, ali está o ginásio." Comentou Brock, apontando para o edifício à frente.
O ginásio de Celadon se destacava entre os prédios ao redor. Era rodeado por jardins bem cuidados e decorado com heras que subiam pelas paredes.
A entrada, feita de madeira polida, tinha um charme natural que combinava perfeitamente a temática de grama.
"Finalmente, vou pegar logo essa insígnia e depois partiremos para Saffron, onde..."
Bam!
Antes que pudesse terminar a frase, algo ou alguém esbarrou nele com força, derrubando-o no chão.
"Argh! Ei, olha por onde anda!" Reclamou Dave, esfregando a mão na palma dolorida enquanto olhava para trás para ver o culpado.
Mas, para sua surpresa, não era uma pessoa. O que ele viu foi... um Eevee?
Era claramente um Eevee, mas algo estava errado.
Em vez do típico pelo marrom e bege, esse tinha um pelo branco como a neve, brilhando de forma incomum sob a luz do sol.
Dave ficou por um momento sem reação, intrigado com a aparência do Pokémon.
O pequeno Eevee, que parecia tão desorientado quanto Dave, sacudiu a cabeça, recuperando os sentidos.
Ao perceber que Dave estava olhando diretamente para ele, sua expressão mudou repentinamente para puro terror. Sem aviso, o Pokémon virou-se e disparou, correndo na direção oposta.
"Dave, você está bem?" Perguntou Brock, estendendo a mão para ajudá-lo a levantar.
"Só ralei a palma da mão, mas isso passa." Respondeu Dave, ainda olhando na direção em que o Eevee havia corrido.
"O que será que tinha com aquele Eevee? Ele parecia... estranha." omentou Misty, franzindo a testa.
"Talvez o dono tenha pintado o pelo dele para parecer diferente dos outros? Eu soube que aqui em Celadon existem varios salões de Pokémon." sugeriu Melanie.
"Nossa é mesmo? Nós bem que poderíamos ir em um depois não é?
"Nós pensamos nisso depois, primeiro Dave deve pegar sua ensignia, depois nós podemos aproveitar a cidade." Disse Brock, tentando voltar o foco para o objetivo principal.
O grupo começou a andar, mas logo perceberam que Dave não os acompanhava.
"Dave, você não vem?" Perguntou Misty, virando-se para olhar para ele.
Dave não respondeu de imediato. Ele permanecia parado, os olhos fixos na direção em que o Eevee havia fugido, como se hipnotizado. Algo sobre aquele Pokémon o prendia ali, incapaz de seguir em frente.
"Dave?" Insistiu Misty, sua voz agora carregada de preocupação.
Dave piscou algumas vezes, como se despertasse de um transe, antes de virar-se lentamente para ela.
"Ah, sim, Misty? O que foi?"
"Eu que pergunto! Você ficou parado aí e não respondia. O que houve?"
Dave hesitou, parecendo procurar as palavras certas para explicar o que ele mesmo não compreendia.
"Eu estava... apenas pensando," respondeu ele, mas sua voz soou distante, quase automática.
Ele voltou a olhar na direção onde o Eevee havia desaparecido. Algo naquele breve encontro estava gravado em sua mente. O brilho incomum do pelo branco, a expressão de puro terror, e o modo como fugiu como se sua vida dependesse disso. Cada detalhe parecia crescer em sua memória, formando um quebra-cabeça que ele não sabia como resolver.
Enquanto observava o vazio diante de si, Dave começou a sentir algo estranho. Não era apenas curiosidade ou preocupação; era uma sensação inquietante, quase como um apelo. Uma voz sutil ecoava em sua mente, baixa e insistente:
"Ajude-a."
Ele piscou novamente, a sensação crescendo em intensidade, como uma batida rítmica que sincronizava com seu coração. Era impossível dizer se vinha de seus próprios pensamentos ou de algo além, mas a pulsação era clara, forte e impossível de ignorar.
Sem dizer nada, Dave deu um passo à frente, depois outro, movendo-se lentamente na mesma direção em que o Eevee havia fugido.
"Dave? Onde você vai?" Perguntou Brock, franzindo a testa, agora preocupado.
"Eu... não sei ao certo," respondeu Dave, sem se virar. "Mas preciso ver aquela Eevee de novo. Algo está errado, eu sinto isso."
"Você está falando sério? Vamos perder tempo com um Pokémon qualquer?" Questionou Misty, cruzando os braços, claramente cética.
Dave parou e virou-se parcialmente para o grupo. Seu olhar estava determinado, mas também havia algo novo nele, uma profundidade que parecia carregar uma convicção que nem ele conseguia explicar.
"Não sei explicar. Só... confiem em mim, ok?"
Misty suspirou, relutante, mas Melanie deu de ombros.
"Pode ser interessante. Nunca se sabe o que uma Eevee diferente pode significar."
"É, e além disso, já vimos que o Dave não vai sossegar enquanto não descobrir o que está acontecendo," comentou Brock, resignado.
Sem mais objeções, o grupo decidiu seguir Dave. Ele avançava com passos firmes, como se fosse guiado por algo invisível. A determinação em seu rosto era inabalável, mesmo que ele ainda não soubesse o que estava procurando.
Nas sombras, no entanto, eles não estavam sozinhos.
Atrás de um poste, uma pequena figura observava tudo atentamente. O ar ao seu redor parecia cintilar antes de revelar um ser curioso. Tinha o formato semelhante ao de um gato rosa, com um rabo longo e sinuoso que balançava com leveza.
"Mew~"
O som baixo e melódico escapou de seus lábios, quase como um riso. Os olhos brilhantes de Mew estavam fixos em Dave, cheios de curiosidade e uma centelha de malícia.
Quando Dave e os outros começaram a se afastar, o lendário Pokémon sorriu, uma expressão travessa e cheia de mistério.
Mas se alguém prestasse atenção, perceberia o leve brilho cromático em seus olhos, sinais do uso de energia psíquica.
Então, como uma brisa desaparecendo ao vento, Mew se tornou invisível novamente, seguindo o grupo de perto. Seus planos, ainda desconhecidos, começavam a se formar.
...
Dave e seus amigos corriam pelas movimentadas ruas da cidade de Celadon, seus olhos vasculhando cada canto em busca da misteriosa Eevee branca.
Porém, como era de se esperar, a busca não estava sendo fácil. A cidade era enorme, um labirinto de ruas e becos desconhecidos para eles, enquanto a Eevee, muito provavelmente, conhecia cada recanto como a palma de sua pata.
"Ela deve morar aqui desde que nasceu," comentou Brock, parando por um momento para recuperar o fôlego. "Tem vantagem no território. Mesmo se estiver por perto, é quase impossível encontrá-la."
"Não ajuda o fato de que ela claramente não quer ser encontrada," acrescentou Misty, cruzando os braços com um suspiro exasperado.
Enquanto eles discutiam, Dave permanecia quieto, olhando ao redor com olhos atentos. Algo dentro dele o instigava, como uma corrente invisível que puxava seu instinto em uma direção específica. Ele não sabia explicar, mas era como se uma voz sutil sussurrasse em sua mente, guiando seus passos.
O que ele não sabia, porém, era que essa sensação não era natural. Um certo Pokémon lendário observava tudo das sombras, um brilho divertido em seus olhos. Mew, com sua curiosidade típica, flutuava invisível sobre os telhados, brincando com as emoções de Dave. Com um pequeno esforço de seus poderes psíquicos, ele influenciava sutilmente os pensamentos do garoto, moldando seu caminho como quem move peças em um tabuleiro.
De repente, Dave parou. Seu olhar fixou-se em uma estreita entrada entre dois prédios antigos, escura e cheia de caixas e restos de papelão espalhados. Ele não sabia o motivo, mas algo o fazia acreditar que deveria ir até ali.
"Finalmente te achei," murmurou ele, parado na entrada do beco.
Lá dentro, a pequena Eevee branca estava encolhida sob uma caixa de papelão. Seus grandes olhos castanhos se ergueram ao ouvir a voz, fixando-se em Dave. Por um breve instante, seus olhares se encontraram.
A expressão de Eevee mudou num piscar de olhos. O medo tomou conta de seu rosto, e ela disparou para longe, suas patas pequenas levantando poeira enquanto corria desesperadamente.
Mas o espaço era limitado. Antes que percebesse, a Eevee deu de frente com uma parede de tijolos no fundo do beco. Ela olhou freneticamente para os lados, buscando uma rota de fuga, mas não havia nenhuma.
Com Dave bloqueando a saída, ela estava encurralada.
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