Centro Pokémon de Celadon.
Dave estava em pé, com as mãos nos bolsos, em frente a uma grande janela de vidro que dava vista para uma sala clínica. Seus olhos estavam fixos na cena do outro lado, mas sua expressão permanecia indiferente, alheio ao que acontecia.
"Dave!" Uma voz feminina o chamou, tirando-o de seus pensamentos.
Ele virou a cabeça e viu Misty, Brock e Melanie se aproximando. A preocupação estava evidente no rosto deles.
"Recebemos sua mensagem," disse Brock. "O que aconteceu?"
Dave permaneceu em silêncio por um momento, voltando seu olhar para a janela antes de apontar para o que acontecia lá dentro.
O grupo seguiu seu gesto e se virou para olhar.
Dentro da sala, a enfermeira Joy e uma Chansey tentavam, sem sucesso, cuidar de uma Eevee branca. O pequeno Pokémon estava preso nos braços da Chansey, mas se debatia com desespero, emitindo sons baixos e agudos de agonia misturada ao medo.
A enfermeira Joy tentou novamente se aproximar, desta vez com um pequeno frasco de remédio e uma seringa em mãos.
Eevee, porém, reagiu de imediato. Seus olhos estavam arregalados, e ela começou a se debater ainda mais violentamente, seus movimentos tão desordenados que quase escapou dos braços de Chansey.
A enfermeira recuou com um suspiro cansado, percebendo que não havia como continuar daquele jeito. "Deixe-a," disse para Chansey, que hesitou por um momento antes de colocá-la gentilmente em uma pequena cama hospitalar.
Mesmo solta, Eevee recuou para o canto mais distante do colchão, seu corpo tremendo e os olhos vigilantes, encarando qualquer movimento como uma ameaça.
A enfermeira Joy e Chansey saíram da sala, deixando Eevee sozinha. Ao fechar a porta, Joy passou a mão pela testa, demonstrando frustração.
"Não adianta," ela murmurou, sua voz carregada de cansaço.
Dave observava a cena em silêncio, com as mãos nos bolsos e sua postura relaxada, mas atento. Ele podia ouvir Melissa e Misty cochichando baixinho sobre o que fazer, mas optou por não intervir.
"O que aconteceu com ela?" perguntou Misty, cautelosa, como se temesse perturbar a frágil calma do outro lado do vidro.
"Vocês devem ser os amigos de Dave," disse Joy, ajustando o tom ao reconhecer o grupo. "Ele mencionou que vocês viriam. Bem, fisicamente, Eevee está bem, além de sinais de desnutrição e alguns machucados antigos que não cicatrizaram completamente."
"Então ela vai ficar bem?" Melissa perguntou, aliviada.
"Sim, tudo que precisa é de alguns medicamentos para aliviar a dor e uma boa alimentação. Ela vai se recuperar sozinha, mas..." Joy hesitou, olhando para a janela, "...ela se recusa a aceitar ajuda."
"Mas por que não?" Misty insistiu, indignada. "Ela está machucada! Ela deveria saber que vocês estão tentando ajudar!"
Antes que Joy pudesse responder, Dave interveio, sua voz baixa mas firme:
"Melanie, não acha a expressão dela... familiar?"
Melissa, pega de surpresa, olhou para ele, depois voltou sua atenção para Eevee. Intrigada, estreitou os olhos, estudando a expressão tensa do Pokémon do outro lado do vidro.
De repente, memórias antigas começaram a surgir. Ela lembrou-se de Bulbasaur e de outros Pokémon que encontrou em seu santuário, muitos deles marcados por experiências traumáticas com treinadores anteriores.
"Ela é como Bulbasaur... e os outros," Melanie concluiu, sua voz suave.
Brock assentiu, entendendo aonde ela queria chegar. "Ela teve um passado ruim com um treinador, não foi?"
"Exatamente," confirmou Joy, suspirando profundamente. "Infelizmente, por causa disso, agora ela está apreensiva e não deixa que eu aplique o remédio. É frustrante."
"Você fez o que podia, Joy," disse Dave, aproximando-se dela. Ele deu um leve tapinha em suas costas, sua voz carregando um tom de consolo. "O paciente recusar ajuda não é algo que você possa controlar. Não se culpe por isso."
A enfermeira sorriu, um pouco aliviada com as palavras de Dave, mas o grupo observava a interação com curiosidade — especialmente Misty, que cruzou os braços, franzindo as sobrancelhas.
"Uhm... vocês se conhecem?" perguntou Melissa, intrigada.
Dave se virou para ela, erguendo uma sobrancelha. "Oh, eu não apresentei? Essa é minha prima de segundo grau, Sherry Joy."
"PRIMA?!" o grupo exclamou em uníssono.
"Mas como assim?" Misty perguntou, desconfiada. "Ela é claramente mais velha que você!"
Joy riu, sacudindo a cabeça. "É complicado, mas eu sou filha da filha da irmã da mãe dele. É raro encontrar parentes assim por acaso."
"Que tipo de árvore genealógica é essa?" Misty murmurou, ainda tentando entender.
Dave deu de ombros, desinteressado na confusão do grupo, voltando a olhar para Eevee pela janela. "Joy é Joy. Não faz perguntas, só aceita," comentou casualmente.
"Então, o que fazemos com ela?" perguntou Brock, direto.
"O certo seria deixá-la como está e esperar que as coisas melhorem," respondeu Joy, pensativa. "Talvez soltá-la na floresta."
"Não podem fazer isso com ela! Ela precisa de ajuda," protestou Melanie, cruzando os braços.
Joy suspirou, claramente incomodada. "Eu entendo, mas não há nada que eu possa fazer. Para um Pokémon com trauma de humanos, a melhor opção seria deixá-la viver na selva, longe de nós."
"Mas o Scizor do Dave também teve problemas no passado, e agora ele está... melhor," comentou Misty, hesitante, mas determinada a apresentar uma solução.
"O quê? Isso é verdade?" Melanie se virou para Dave, surpresa.
Dave ergueu uma sobrancelha, como se não gostasse do rumo da conversa, mas acabou respondendo: "Até onde eu sei, ele foi abandonado porque era fraco e, por isso, não confia mais nos outros. Mas eu cuidei disso e, agora, ele pelo menos confia em mim."
"Isso é ótimo!" exclamou Joy, com um brilho de esperança nos olhos. "Então você pode tomar conta dela!"
"Oi?!" Dave virou-se abruptamente para Joy, descrente.
"Você mesmo disse que já tem experiência com isso. O fato de seu Pokémon ter superado seus problemas é a prova viva de que alguém como você pode ajudar Eevee!"
"Tá louca? Ela não é problema meu! A enfermeira aqui é você," rebateu Dave, cruzando os braços e encarando-a.
"Por favor, Dave! Não podemos deixá-la assim," insistiu Joy, juntando as mãos em um gesto quase desesperado.
"Não."
"Por favor!" Joy não desistia, seu tom ficando ainda mais insistente. "Vocês também, me ajudem a convencê-lo! Tenho certeza de que, se ele cuidar da Eevee, ela vai se recuperar rapidinho."
Brock coçou a nuca, hesitando por um momento antes de dizer: "É, Dave... você deveria ajudar. Não sente pena de uma pobre Eevee traumatizada?"
"Ela está sofrendo tanto. Você não quer ajudá-la a se sentir melhor?" completou Melanie, com um olhar genuinamente preocupado.
Dave bufou, cruzando os braços. "Eu já disse não. E, francamente, não quero ouvir uma palavra, especialmente de vocês dois: aspirantes a cri-a-do-res de Po-ké-mon."
Brock e Melanie ficaram visivelmente envergonhados, desviando o olhar enquanto resmungavam algo inaudível.
De repente, Dave sentiu alguém puxar a manga de sua camisa. Ele olhou para o lado e viu Misty.
"Dave, vai ajudar ela," disse Misty, sua voz mais suave do que o habitual.
"Eu já disse que isso não é problema meu," retrucou ele, tentando manter sua postura indiferente.
"Por favor, por mim," Misty pediu, fazendo um olhar apelativo que parecia cortar qualquer resistência.
Dave abriu a boca para responder, mas as palavras pareciam se enroscar na garganta. "Gah- uhn- hih- ehr- argh..." Ele gaguejou, sentindo uma sensação estranha tomar conta de si enquanto olhava para Misty.
"Yuk- anhem... tá bom!" ele finalmente cedeu, jogando as mãos para o alto. "Eu cuido da bola de neve!"
Misty sorriu amplamente, satisfeita. "Fufu~ obrigado. Eu sabia que você iria aceitar. E não vai ser tão ruim assim. Você já até deu um apelido pra ela."
Dave imediatamente ficou vermelho, fosse de raiva, vergonha ou ambos. Ele apontou um dedo na direção dela, claramente irritado. "Eu não quero ouvir nenhuma palavra sua!" disse ele antes de girar nos calcanhares e marchar para dentro da sala clínica.
Do lado de fora, Brock, Melanie e Joy observavam a cena, curiosos e apreensivos.
"Eles são namo—" começou Joy, mas Melanie e Brock a interromperam ao mesmo tempo:
"Não... ainda não... ainda."
Joy deu uma risadinha. "Que bom, a família vai ganhar um novo membro logo logo."
Dentro da sala clínica, Dave caminhou calmamente até a cama onde Eevee estava.
Ao ouvir a porta abrir, Eevee levantou a cabeça, mas recuou rapidamente ao perceber quem era, escondendo-se atrás do travesseiro como um filhote assustado.
Sem dizer uma palavra, Dave parou ao lado da cama, encarando o travesseiro por alguns segundos. Então, em um movimento rápido e sem cerimônia, ele pegou o travesseiro e o arremessou para o canto da sala.
Eevee deu um salto de susto e o encarou, os pelos do corpo se eriçando. Ela rosnou baixinho, mas Dave, com sua típica expressão impassível, não deu a mínima.
Sem aviso, ele estendeu a mão e, com precisão, agarrou Eevee pelo pescoço.
Do lado de fora, o grupo ficou em choque.
"Ele vai mesmo...?" murmurou Melanie.
Eevee começou a se debater freneticamente, mas Dave segurava firme. Calmamente, ele pegou o frasco de remédio na cômoda, abriu a tampa com os dentes e despejou o conteúdo goela abaixo da pequena Pokémon enquanto mantinha a boca dela aberta com a outra mão.
Para garantir que ela engolisse, ele inclinou ligeiramente sua cabeça para trás, sem dizer absolutamente nada durante todo o processo.
Ao terminar, ele a soltou na cama como se nada tivesse acontecido. Eevee ficou ali, sentada, tossindo levemente e completamente atordoada, olhando para Dave como se ele fosse um alienígena.
Dave cruzou os braços e lançou um olhar para Eevee, que parecia misturar confusão, indignação e derrota. Ele então olhou rapidamente para o grupo do outro lado do vidro, como se dissesse: "Viu? Resolvido."
Do lado de fora, Brock, Melanie e Joy estavam de queixo caído.
"Isso foi..." começou Brock.
"Um pouco demais?" sugeriu Melanie.
"Rápido!" Joy completou, ainda surpresa.
Enquanto isso, Misty segurava o riso, mas não conseguiu evitar um comentário:
"Bom, pelo menos ele resolveu o problema... do jeito dele."
Do outro lado do vidro, Joy estava inquieta. "Acalme ela! Faça ela se sentir segura e confortável!"
Dave, dentro da sala, obviamente não conseguia ouvir nada, então Joy começou a fazer mímicas exageradas, apontando para Eevee e cruzando os braços como se estivesse embalando algo no colo.
"A-cal-me e-la!" repetiu Joy, gesticulando com mais entusiasmo.
Dave olhou para a enfermeira por um momento, com a expressão de quem achava aquilo tudo muito idiota. Depois, olhou para Eevee, que ainda o encarava desconfiada, pronta para fugir. Ele alternou o olhar entre os dois, até que um lampejo de compreensão surgiu.
"Oh! Entendi," disse ele, batendo o punho fechado na palma da mão como se tivesse tido uma grande ideia.
O grupo do lado de fora suspirou aliviado. "Finalmente..." murmurou Melanie.
Mas o alívio foi curto. Para o choque de todos, Dave agarrou Eevee novamente, segurando-a pelo cangote como se fosse um gato doméstico. A pequena Pokémon começou a se debater, mas Dave parecia completamente alheio.
Sem cerimônias, ele se jogou na cama, deitou-se de barriga para cima e se acomodou confortavelmente, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Pegou o controle remoto da mesa de cabeceira e começou a trocar os canais da TV preguiçosamente.
Eevee, claro, tentou fugir assim que foi colocada em sua barriga, mas Dave, impassível, agarrou-a pelo rabo e a reposicionou calmamente.
"Fique quieta," ordenou, sem sequer olhar para ela.
Do lado de fora, Joy quase desmaiou. Brock parecia prestes a protestar, mas Misty e Melanie estavam às gargalhadas.
"É sério isso?" Melanie perguntou entre risadas.
"Bem, ele está tecnicamente cumprindo o que pediram," Misty disse, enxugando uma lágrima do rosto.
Enquanto isso, Eevee parou de se debater por pura exaustão e ficou imóvel, deitada na barriga de Dave. Ele continuou assistindo TV, alheio ao caos que havia causado, como se dissesse: "Viu? Fácil."
Joy finalmente jogou as mãos para o alto. "Eu desisto!"
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