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Chapter 5 - Capítulo 4

Capítulo 4

A lista

Gabriel:

Dois dias haviam se passado desde que o papel roxo mudou todo meu modo de enxergar o Alex . Bem, por mais que estivéssemos de acordo que ele deixar de me amar seria a coisa certa a se fazer, era impossível para mim, não me pegar pensando sobre isso.

Afinal, quem não gostaria de ter Alex Cooper ?

Enquanto eu esperava ele terminar o turno na doceria, fiquei alguns bons minutos o observando enquanto ele servia mesas e atendia a todos com aquele sorriso perfeito no rosto. E quando ele se aproximou de mim, me trazendo meu doce favorito, torta de chocolate com crocante de castanha de caju, eu já estava quase que hipnotizado por ele.

Seria muito fácil, fazer qualquer pessoa se interessar. Difícil mesmo será fazer ele deixar de gostar de mim para gostar de qualquer outro. Mas como eu não queria perder a amizade do Alex de jeito nenhum, eu faria de tudo pra que meu plano brilhante desse certo.

- Eu já estou saindo. - Ele diz, um pouco nervoso. - Mais cinco minutos e já posso ir embora.

- Tudo bem. - respondo e começo a comer. - Céus, como eu amo isso. - murmuro gemendo ao sentir o sabor da torta explodir em minha boca. - Quer? - levanto o garfo com um pedaço da torta para ele.

- Não, obrigado. - ele recusa. - Você deveria experimentar outra coisa. Só come essa torta desde que começou a vir aqui.

- É por que essa é a melhor.

- Como pode ter certeza se não experimentou as outras? - ele franze as sobrancelhas.

- Por que, meu amor por essa é maior. Já ouviu falar em amor à primeira vista? Pois é, foi isso que rolou entre eu e essa gostosura aqui. - completo enfiando mais um pedaço generoso na boca.

- Me use como exemplo.

- Como assim? - pergunto, confuso.

- Eu me apaixonei por você à primeira vista. - fico chocado com o modo natural com que ele diz isso. - Mas estou disposto a "experimentar" outros doces. Você deveria fazer o mesmo. -Ele termina de falar e pega meu garfo comendo um pedaço da minha torta. - Realmente é deliciosa. Vou me trocar.

E assim, fico olhando para suas costas enquanto ele se afasta.

Que porra acabou de acontecer aqui?

Termino de comer e fico pensativo. Até que minutos depois ele retorna e saímos juntos da doceria. Iríamos estudar para o teste que teríamos mais tarde.

Era cerca de uma hora da tarde quando chegamos no apartamento do Alex . Ele joga sua mochila com o uniforme num canto e eu me jogo no sofá de três lugares. Era meu lugar.

- Faz o favor de tirar o tênis? - ele reclama.- Eu aspirei o sofá hoje de manhã antes de ir trabalhar.

- Claro, mamãe. - falo baixinho, para que ele não escute. Ligo a tv e fico zapeando pelos canais.

- Gabriel, vem aqui. - ele me chama da cozinha, olhando dentro da geladeira. Me levanto e vou até ele, ficando um pouco atrás dele, que pegava algo abaixado do compartimento mais baixo da geladeira.

- Se você quiser almoçar, vai me ajudar hoje. - ele fala se levantando com várias coisas na mão e dando um passo atrás. Esbarrando em mim e sinto seu corpo ficar tenso na mesma hora. - Desculpe. Não vi que você estava tão perto.

- Tudo bem. - digo, percebendo o quanto ele estava com a respiração acelerada. Será que ele sempre reagia a mim dessa forma? Como eu nunca percebi?

Ele se afasta rapidamente e me entrega algumas coisas que estavam em sua mão. Vamos até a pia e ele começa a me ensinar a cortar alguns legumes. Estamos meio que desajeitados um com o outro. Como se um simples esbarrão tivesse o poder de mudar o clima entre nós.

Ele me explica que vamos almoçar frango xadrez. E enquanto vai ditando as ordens do que era pra eu ir fazendo, me pego pensando que precisamos arrumar logo alguém para ele. Não poderíamos ser bons amigos de novo enquanto ele sentisse algo por mim. Não daria certo.

Quarenta minutos depois, estávamos sentados na pequena mesa da cozinha de frente um para o outro, em silêncio.

- Eu fiz uma lista. - digo, de repente.

- Uma lista? - ele para o movimento de levar o garfo a boca. - Que tipo de lista?

- Uma lista de prováveis namorados pra você.

Alex :

A coisa estava desandando aos poucos.

Durante as duas noites seguintes depois que o Gabriel descobriu sobre meus sentimentos por ele, tudo parecia que iria voltar ao normal entre nós dois. Eu tinha certeza de que conseguiria continuar fazendo as mesmas coisas de antes. Mascarar e esconder meus sentimentos, como vim fazendo por dois anos. Não parecia tão difícil na teoria... Afinal, eu já estava mais do que acostumado a agir assim...

Mas a realidade era outra.

O fato dele saber como me sinto em relação a ele, deixava as coisas mais complicadas. Ele parecia perceber que tudo que envolvia ele mexia de certa forma comigo. Um simples esbarrar nele e meu coração saltava feito louco, ameaçando sair pela boca.

Precisávamos resolver isso o quanto antes. Se ele disse que iria me ajudar a encontrar o cara perfeito pra mim, então teríamos que fazer isso o mais rápido possível. Por que... Droga, eu quase me joguei em cima dele apenas por escutar ele gemendo com um pedaço de torta na boca.

Então é com um certo alívio que o escuto falar da tal lista. Nem imagino que nomes ele deve ter pensado, mas aposto que será difícil qualquer um competir com ele em questão de beleza. Claro que não falaria isso em voz alta nem morto.

Levo o garfo a boca e mastigo devagar. E só então crio coragem e pergunto:

- Quem está na lista?

- Eu coloquei quatro nomes nessa lista. todos na minha opinião, são bons partidos, ouviu bem?

- Onde você conseguiu arranjar quatro caras gays? Tirando nossos amigos, não conheço mais ninguém.

- Você por acaso sabe que o Red Moon é um bar LGBT, não é?

- Claro que sei idiota, mas ... Eu não conheço ninguém lá.

- Mas eu conheço.

- Esquece. - digo num súbito acesso de raiva. - Eu não vou ficar com ninguém que você já pegou.

- Eu não disse isso!

- Então quem? - paro de comer, recostando-me na cadeira e cruzando os braços. O vejo levar a mão ao bolso da calça e tirar um papel de lá.

- Quatro homens escolhidos a dedo para você. - ele me entrega o papel e eu o leio rapidamente.

- Eu não conheço ninguém aqui. - devolvo o papel.

- Eu garanto pra você que não fiquei com nenhum deles. Mas eu fiz amizades tá legal. E acredite quando eu digo que são pessoas muito legais.

- Certo. - pego a lista de volta. - Eu gostei desse nome. Kao... Alguma coisa. - digo tentando ler o terceiro nome da lista.

- Alguma coisa?

-É impossível pronunciar esse sobrenome. - dou uma risada.

- Estava quase impossível até de escrever.- Gabriel revela e assim nós dois caímos na risada. E o ambiente voltou a ficar como antes. Risonho e divertido.

Ele me fala sobre o cara e parece que tudo leva a crer que era uma pessoa interessante. Gabriel tinha bom gosto quando a questão era homem. Pelo menos todos com quem eu vi ele aos beijos no bar eram lindos de morrer.

E tenho a prova de que o cara era realmente um gostoso quando o Gabriel entra no perfil do Instagram do rapaz. Certo... Acho que posso tentar.

- Bonito. - digo tentando parecer o mais interessado possível.

- Bonito? Só isso?

- Bonito e gostoso. Ok. Marque um encontro. Eu topo.

- Rápido assim? - ele me pergunta incrédulo.- Não quer nem dar uma olhada nos outros nomes?

- Não. Acho que gostei de como ele parece bem na foto.

- Gostou de como ele parece bem na foto? Esse vai ser o seu padrão?

- Gabriel, só conhecendo ele pessoalmente que vai dar pra saber se vamos nos dar bem, não é? Então. Vamos tentar ... E olha esse sorriso? Gostei…

- Ok. Vou ligar pra ele e marcar alguma coisa para quarta. Por que não teremos aula na quarta. Vai ser perfeito.

- Mas serão só dois dias até quarta. - me desespero. - Como eu vou aprender a flertar até quarta?

- Alex ... Você vai ter a mim como professor. - ele diz presunçoso. - Um dia comigo e você irá virar o rei do flerte.

- Você se garante, não é? - digo me sentindo um pouco irritado agora.

- Você sabe que tô falando a verdade.

- Pois é... Eu sei.

Tiramos o restante da tarde para estudar. Apesar de tudo, nosso relacionamento continua basicamente o mesmo. Gabriel se sentia tão à vontade em casa quanto antes. Dividimos as tarefas e enquanto ele lavava a louça do almoço eu ia secando. Ele pediu pizza para que pudéssemos comer antes de ir pra faculdade. Ele tinha roupas aqui, então não teve necessidade dele ir pra própria casa se arrumar para a aula.

O lado bom disso é que eu sempre tinha carona para ir pra faculdade. A aula transcorreu bem, e o teste foi até fácil, mesmo com Gabriel reclamando horrores no intervalo. Max, Renan e Vinícius, estavam todos curiosos para saber o que tinha acontecido naquele dia no Red Moon, já que nós dois sumimos e não voltamos mais. Mas não conseguimos conversar durante a aula, o que garantiu um bom tempo para criar uma desculpa.

Eu não estava me sentindo bem, então Gabriel me levou embora. Ponto. Nada demais…

E parece que todos aceitaram a "explicação" numa boa, por que logo começaram a falar loucamente sobre o novo aluno que havia se mudado há poucos dias.

Fico vendo todos conversando animados entre si, e nenhum percebe o turbilhão de emoções com as quais tenho que lidar neste momento. Eu estava feliz, animado, ansioso e ao mesmo tempo triste. Tudo de uma vez...

Feliz, porque eu ainda teria o Gabriel na minha vida. Animado com a perspectiva desse plano maluco dar certo e eu deixar de gostar dele o quanto antes. Ansioso para o encontro de quarta-feira. Será mesmo que eu ficaria à vontade com outra pessoa?

E triste.

Sim. Triste.

Olhar para o Gabriel rindo, como se tudo estivesse bem, como se saber do meu amor por ele não tivesse nenhuma importância, no fundo me deixava mal pra caramba. Eu sabia desde sempre que não seria correspondido, mas saber não me impedia de me sentir triste com o pouco caso que ele fazia dos meus sentimentos.

Droga. Eu estava um caos por dentro.