Chereads / O MALDITO PAPEL ROXO / Chapter 6 - Capítulo 5

Chapter 6 - Capítulo 5

Capítulo 5

Descobertas

Alex:

Eu estava pronto. Certeza de que sim.

Minha primeira aula de flerte com o Gabriel seria daqui a pouco e eu tentava desesperado acalmar minha respiração. Meu apartamento já estava impecavelmente arrumado, minhas lições já estavam prontas e eu estava sentado em meu sofá, apenas o aguardando. Dizer "meu sofá" era apenas um modo de falar, já que o Gabriel havia tomado conta dele desde que começou a se enfiar aqui em casa, como se ele próprio não tivesse uma mansão para morar.

Às poucas vezes que ele me levou em sua casa, não foram experiências muito boas. Seus pais eram dois esnobes, por falta de uma palavra melhor.

De um modo nada sutil, fizeram eu me sentir inadequado por estar ali. Dando dicas bem claras de que meu status de pé rapado não condizia com o status de príncipe rico do Gabriel.

Na verdade, sempre me perguntei por que o Gabriel havia se apegado tanto a mim, já que éramos totalmente diferentes um do outro. E não digo apenas socialmente. Éramos diferentes em tudo. Se eu dizia A, ele dizia B, e assim por diante.

Mas mesmo assim ele se esparramava em meu sofá, dia após dia, e simplesmente passava a maior parte do seu tempo comigo.

Há dois anos atrás, no início do nosso primeiro ano letivo na faculdade, eu havia começado uma pequena amizade com o Max e o Renan, que já eram amigos do Gabriel, então foi fácil nos aproximarmos um do outro.

Talvez ele tenha se encantado primeiramente pelas guloseimas que sempre tinha em meu apartamento, que eu trazia da doceria. E sempre que íamos estudar em casa, ele se esbaldava de comer.

E assim, chegamos onde estamos hoje.

Eu nunca havia me interessado por nenhum cara antes dele. Nem por nenhuma garota. É estranho dizer mas, eu era alguém sem nenhum interesse real por sexo até conhecer o Gabriel. Então, quando comecei a brincar sozinho na escuridão do meu quarto pela primeira vez, fiquei pensando nele.

Eu tinha 19 anos e estava descobrindo de um modo bem tardio, as delícias da masturbação. Eu me lembrava do cheiro dele, do sorriso maroto de lado, da boca carnuda... Até o brilho dos cabelos pretos dele eram interessantes para mim. Era fácil para eu me satisfazer pensando nele.

Sou retirado de meus pensamentos quando a campainha é tocada e mesmo que eu tenha me preparado mentalmente para esse momento, vê-lo a minha frente tão lindo assim que abro a porta, faz com que todo meu frágil autocontrole vá embora.

- Oi. - Digo parado. Sem ter certeza de como agir.

- Oi. - Ele também fica estranho diante de mim e suas brincadeiras costumeiras não aparecem.

Só ficamos assim por alguns bons segundos nos encarando. Até que eu resolvo falar.

- Entra logo e vamos fazer o que temos que fazer. - Digo respirando fundo. O quanto antes isso terminar melhor.

Gabriel:

Era visível que o Alex estava nervoso, andando de um lado para o outro, depois que entrei e ele fechou a porta do apartamento. Ele passava a mão nos cabelos a quase todo momento, deixando-os revoltosos. Mas ainda assim, ficava bem nele.

- Você quer se acalmar? - peço me sentando e tirando meus tênis automaticamente. Claro que tudo estava impecavelmente limpo ali. E ele iria arrancar minha pele se eu colocasse meus pés calçados no sofá.

- Pra você é fácil falar ... Não é você que vai se encontrar com um completo estranho daqui há menos de um dia.

- Ele não é um estranho. E relaxa porque o Kao é um cara legal. Eu jamais te empurraria pra alguém ruim...

- Eu sei que não... Eu confio em você. - Aquelas palavras ditas tão displicentemente tocam em algum lugar dentro de mim... Fazendo com que eu me sinta feliz.

- Então, se você confia em mim, melhor ainda. Pode ter certeza de que eu não vou deixar ninguém te fazer mal. - digo me levantando e o puxando pela mão para o fazer sentar ao meu lado.

- Não é disso que eu tenho medo. - ele diz, sentando-se e encostando a cabeça no sofá e fechando os olhos sério.

- Do que é então? - pergunto, realmente confuso.

- Talvez eu não sirva pra isso. Sei lá...- ele ainda está de olhos fechados e eu me pego o encarando.

- Todo mundo serve pra flertar.- digo, rindo do nervoso dele. - Alex, você não tem curiosidade pra saber como é... Você sabe...?

- O que? Curiosidade sobre o que? - Ele abre os olhos, fixando seu olhar em mim.

Os olhos dele doces e calorosos, fazem eu me sentir estranho ao falar sobre algo tão normal quanto sexo.

- Bom, minhas aulas sobre flerte podem te dar a oportunidade de sabe... Passar de nível com alguém.

- Passar de nível você que dizer fazer sexo?

- Isso.- O sorriso dele de lado me deixa desconfortável. Ele já... Já? - Alex , você não é mais virgem?

- Por que cargas d'água, você acha que eu sou virgem? - ele se move, ficando mais próximo de mim.

- Bom, eu nunca vejo você com ninguém. E... Bom, você é sempre na sua e eu... - eu estava totalmente sem graça agora…- Por que eu achei que ele era virgem? Nem eu sabia a resposta. - E com quem foi?

- O que? - a expressão dele era cômica.

- Eu quero saber quem foi. Eu conheço? - Insisto. Droga, eu estava mesmo curioso.

- Não. Você não conhece e isso não é da sua conta Gabriel.

- Claro que é da minha conta. Eu sou seu melhor amigo, eu te contei tudo sobre mim. E por que eu nunca soube sobre isso antes?

- Por que você está gritando? - Ele me pergunta, fugindo de me responder.

- Alex ? Eu só te fiz uma simples pergunta. Com quem?

- Meu vizinho. - ele responde voltando a encostar a cabeça e fechando os olhos.

- Que vizinho? - minha mente começa a vasculhar na memória qual vizinho eu já tinha visto do Alex, mas só me lembro do velho no apartamento ao lado e do dono do prédio, que também era um velho.

- Da minha cidade. Você não conhece.

- E como foi?

- Gabriel! - Ele está ficando irritado com meu interrogatório. Mas eu estava muito interessado em saber.

- Você gostou?

Ele demora para responder, mas o sorriso que se espalhou lentamente em seu rosto foi o suficiente pra que eu soubesse a resposta antes dele abrir a boca.

- Sim, eu gostei.

- E... Bom...- Pigarreio, nervoso. Mas eu precisava saber mais. - Você já... Gostava de mim?

- Sim. - ele responde, sem nenhuma dúvida. - Eu já estava apaixonado por você.

- E aquela história de sentimentos e tal? Você vivia me falando sobre ter relações sexuais apenas com alguém que eu gostasse. Isso não se aplica a você também? - Não sei por que eu estava irritado. Mas eu estava.

- Eu dizia aquilo por que você vivia dormindo com as meninas da faculdade inteira. E sei lá quantos caras... Queria pôr um pouco de juízo na sua cabeça.

- Mas, então você curtiu o sexo mesmo não tendo sentimentos pela pessoa?

- Você mais do que ninguém sabe que isso é possível.

- Mas você não é assim...

- Como assim?

- Você é um cara sensível, você chora assistindo desenho... Como você pode transar com alguém sem gostar da pessoa?

- Gabriel, eu sou emotivo, não defeituoso. Sexo e emoção não precisam andar juntos. E outra, o Leo é um cara incrível. Ele soube me deixar confortável.

- Leo? É esse o nome do cara?

- Vamos mudar de assunto por favor?

Fico em silêncio por um instante tentando digerir todas aquelas informações. O meu Alex não era mais virgem e eu nem fiquei sabendo. Por que isso me deixava com uma sensação estranha de desapontamento? Apenas por que ele não compartilhou esse segredo comigo? Eu não sou tão possessivo assim em relação a ele...

- Você foi... Você ficou em qual posição? - pergunto sem conseguir me conter.

- Gabriel , pelo amor de Deus, cale a boca.

- Eu só quero saber ... Você foi ativo ou passivo?

- Chega, ok? - ele finaliza o assunto me deixando frustrado. - Eu me recuso a falar sobre isso.

- Na maioria das vezes eu fui o passivo. - solto na cara dele, não me sentindo constrangido. Mas Alex começa a corar violentamente, fazendo com que eu quase de risada na cara dele, por causa da sua expressão. - Me fala Alex ... Eu estou realmente curioso.

Alex :

Fico encarando o Gabriel, abismado que ele tenha falado assim na lata sobre sua preferência na hora do sexo. Porra. Será que ele não percebia que isso me fazia ficar ainda mais louco de vontade dele. Ele ser o passivo, fazia eu aumentar ainda mais o grau de desejo que eu sentia por ele.

Minha primeira experiência real com sexo foi com o filho do vizinho dos meus pais. Em uma viagem de férias da faculdade, em meu primeiro ano de volta para casa... Eu estava subindo pelas paredes, por conta de conviver um ano com o Gabriel sem poder tocá-lo. Apenas fantasiando com ele.

E por Deus, minha primeira vez foi incrível.

O filho do vizinho era um tremendo de um gostoso, crescemos juntos praticamente em toda nossa adolescência, mas depois que me mudei perdemos todo contato. Quando voltei pra casa aquele ano, ele me convidou pra sairmos pra comemorar e relembrar os velhos tempos.

Várias doses de alguma bebida depois e estávamos no quarto dele. Depois de muita pegação, quando chegamos nos "finalmente" acho que ele percebeu meu desconforto e se deu conta sem eu precisar dizer nada que aquela seria a minha primeira vez…

Ele foi paciente e fez de tudo pra que eu me sentisse bem. Além do mais não tivemos aquela conversa sobre quem seria ativo e passivo que eu tanto temia. E ele simplesmente me entregou o lubrificante pedindo que eu o preparasse. E assim, naturalmente me descobri ativo.

Voltar das férias depois disso foi um tremendo tormento. Descobrir as maravilhas do sexo, tendo o Gabriel dia e noite perto de mim, fazia apenas a minha libido aumentar.

Houve outras vezes depois disso. Alguns caras que eu conhecia no Red Moon, mesmo que eu não contasse ao Gabriel e a ninguém. Mas sempre parecia que faltava algo. Faltava ele, na verdade.

Eu queria sexo com ele.

Mas como diz o velho ditado: QUERER NÃO É PODER. E eu convivi com esse desejo desenfreado por ele por todo esse tempo.

- Prefiro ser ativo. - digo de uma vez, pois ele me encarava esperando uma resposta.

- Ok... Eu, passivo. Você…

- Gabriel? Você quer mesmo continuar falando disso? - se ele continuasse com aqueles pensamentos provavelmente eu iria imaginar nós dois juntos. Porra. Eu já estava imaginando – Não quero falar disso com você.

- Certo. - ele simplesmente diz, mas continua me encarando de um jeito estranho.

- E a aula? - pergunto querendo mudar de assunto. - Vai ter ou não?

- Eu não sei... Você me enganou direitinho com essa fachada de nerd virgem. Tem certeza que ainda precisa de conselhos meus pra flertar?

- Eu nunca te enganei. Você que pensou equivocadamente que eu ainda era virgem.- tento me defender, não entendendo por que ele parecia tão chateado com isso.

- Alex? - ele abre bem os olhos, como se tivesse se dado conta de algo muito importante. - Com quantos caras você dormiu?

- Que importância tem isso?

- É claro que é importante. Pensa bem, eu jurava que você não tinha experiência nenhuma, e agora descubro que você é tão pervertido quanto eu.

- Não exagera né, Gabriel. Você fica com todo mundo. Não me compare com você.

- Pelo menos eu não escondo coisas dos meus amigos, isso é bem pior.

- Estamos brigando agora? - pergunto, chateado.

- Não estamos brigando. - ele responde, mas com a expressão fechada.

- Olha se você quiser mesmo saber, eu transei com três caras. E só. Ponto final. Chega desse papo.

- Viu? - ele se remexe ao meu lado. - Não é tão difícil assim contar as coisas pro seu melhor amigo.

Gabriel:

Saber dos segredos do Alex foi uma enorme surpresa. Afinal, o cara que esteve do meu lado por dois anos, escondia coisas de mim. Eu que sempre fui um livro aberto pra ele. E eu estava totalmente descontente com a informação de que ele já havia dormido não apenas com um, mas com três caras.

Agora, ele não era mais o nerd virgem.

Agora ele era o nerd safado que escondia coisas do melhor amigo. E que porra de conselhos eu posso dar a alguém que já sabia flertar? Nenhum, com certeza.

- Você ainda vai querer ter aula?

- Eu não sei se isso é uma boa ideia, Gabriel. - Alex diz se levantando e voltando a andar de um lado para o outro.

- Qual parte?

- Tudo. Esse plano de me fazer começar a gostar de alguém assim, do nada. Sei lá...

- O que quer fazer então? Você não está afim de fazer seu desejo se realizar?

Ele me olha de um jeito sério e eu continuei o encarando também.

- Eu quero…

- Mas?

- Mas, não sei se vai dar certo.

- Bom, se der errado, pelo menos a gente ri um pouco.

- Como assim ri um pouco?

- Deve ser engraçado ver você flertar... - não consigo conter meu sorriso.

- Por que acha isso? Não deve ser tão difícil... Se um idiota como você consegue, aposto que se eu me empenhar consigo também.

- Você deve ter tido sorte de principiante com os caras que você ficou. Por que olha só pra você... Todo empertigado, como se fosse superior aos outros.- Que raios eu estava fazendo? Eu estava querendo irritá-lo por que?

- Eu não me acho superior a ninguém. - ele diz vindo pra cima de mim. - Você que vive querendo se aparecer.

- Estamos brigando agora?- repito a pergunta dele.

Então ele começa a rir e vem pra cima de mim, tentando me bater.

- Seu idiota. Você está tirando com a minha cara? - estamos os dois rindo agora enquanto ele se coloca em cima de mim me dando alguns tapas, que não doíam nada. - Um grande idiota.

Então, eu seguro suas duas mãos e num esforço enorme consigo fazer com que troquemos de posição. Ficando por cima dele ainda rindo.

- Quem é o idiota agora, hein? - digo, forçando meu corpo em cima dele. O som da risada que ele solta, aquece uma parte de mim. Ele era muito fofo quando sorria.

- Você. Gabriel, O IDIOTA!

- Alex , retire o que disse ou você vai sofrer a minha ira.

- Gabriel, O IDIOTA! - ele fala ainda mais alto.

E para seu desespero, começo a fazer cócegas em sua barriga. Sei que é seu ponto fraco.

- Para Gabriel...- Ele diz já com lágrimas nos olhos de tanto rir.

- Peça desculpas...

- Me desculpe, por te chamar de idiota.

Me sentindo vitorioso começo a sair de cima dele, com meu sorriso presunçoso no rosto.

- Seu idiota. - ele diz e dessa vez quem está por baixo novamente sou eu, já que num movimento surpreendente ele troca nossas posições e fica por cima de mim.

Nossos rostos estão tão perto, que meu sorriso começa a sumir devagar. E sinto a respiração do Alex se acelerar.

O tempo pára e tudo parece acontecer em câmera lenta. Estou preso naqueles olhos...

Ele abaixa a cabeça devagar, aproximando lentamente os lábios dele dos meus e…

Um barulho vindo da janela da cozinha chama nossa atenção. Dois pássaros enormes entraram fazendo um estardalhaço e pousando na mesa.