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Chapter 4 - Capítulo 3

Capítulo 3

Um amor para Alexander

Alex:

O que eu poderia responder? Pensa Alex ... Pensa.

Mas nada me vem à mente. Então, fico pelo menos um minuto olhando pra mão dele, para o papel roxo um tanto amassado. Mas que visivelmente continha a minha letra.

- Como você... Como que…? - eu não consigo encontrar minha voz para dar prosseguimento a pergunta. Como aquele aquele maldito papel foi parar nas mãos dele? E num acesso de raiva tento pegar o papel, mas ele se esquiva. Me deixando mais puto ainda.

- Que porra está acontecendo aqui, Alex? - ele me pergunta.

- Me devolve. - peço num fio de voz enquanto estendo a mão e aguardo. -Isso não deveria estar com você.

- Pouco me importo. Eu só quero entender.

- Não há nada para entender. Isso foi... Isso foi uma brincadeira. Não precisa levar a sério.

- Uma brincadeira, Alex ? - ele me olha mais sério ainda. Fazendo meu coração afundar. Claro que ele não iria acreditar. - Eu não sou idiota. Eu sei que você não brincaria com uma coisas dessas... Eu te conheço.

- Me conhece? - não consigo segurar minha risada amarga. O desgraçado convive comigo há dois anos. Dois anos em que sou apaixonado por ele e nunca sequer reparou.- Você acha que me conhece. - digo olhando fundo em seus olhos.

Ele dá um passo atrás, magoado com minhas últimas palavras.

- Você tem razão. -ele diz olhando novamente para o papel. - Eu não conheço o cara que escreve uma loucura como essa. Eu conheço o Alex que joga comigo até de madrugada, que me escuta quando tenho problemas com meus pais, que me apoia mesmo quando sou um idiota, que esteve comigo sempre que precisei. Conheço o cara que é esforçado, trabalhador e sonha em crescer na vida. Eu conheço o MEU MELHOR AMIGO. - Ele dá uma pausa para tomar fôlego e continua. - Mas eu realmente não conheço o Alex que faria uma brincadeira como esta.- ele levanta o papel novamente.

Respiro fundo, cada palavra dita com tanto fervor da parte dele me deixa sem reação. Ele realmente me conhecia.

Me viro e me debruço no alambrado novamente. Fecho meus olhos e levanto minha cabeça querendo ao máximo aquele vento gelado, queria que o frio atenuasse um pouco aquele calor angustiante que parece fazer meu corpo e meu coração derreter sempre que estava perto dele. Mesmo em uma situação constrangedora como essa, ver e ouvir o Gabriel falar de mim só me fazia querer beijá-lo. Droga.

Eu não iria mais conseguir continuar mentindo. Não dava mais... O peso que carreguei por dois anos estava me deixando no limite.

— Me desculpe. - digo enfim, num sussurro agourento. - Eu tentei fugir disso, sabe? Tentei NÃO me apaixonar por você, mas ... Droga Gabriel, não deu. Eu não sei como aconteceu, mas quando percebi eu estava irremediavelmente apaixonado por você.

Digo tudo isso sem olhar pra ele. Eu era um covarde. Como olhar em seus olhos e dizer que o amava, quando eu sabia que não era correspondido? Mas eu precisava encarar essa minha realidade. Por isso, respiro fundo mais uma vez e me viro para ele.

Seus olhos escuros estão sobre mim. Aqueles olhos que sorriam sempre que me viam, aquela boca que sempre desejei beijar, sempre se abria num sorriso maroto, quando estávamos juntos... Só que agora... Bem, agora ele me olhava sério. Chocado.

Não havia mais volta. Esse era o fim da nossa amizade... Talvez não fosse exatamente O FIM. Mas nunca mais seria a mesma coisa... Ele não me procuraria mais em momentos que ele precisava de alguém para desabafar... Ele não me olharia mais como antes.

Gabriel Bianchi nunca mais me olharia com os mesmos olhos e tudo isso por culpa daquele MALDITO PAPEL ROXO!

Gabriel:

Isso estava realmente acontecendo?

Eu fico parado apenas o encarando enquanto ele joga em cima de mim aquela bomba. Ele gostava de mim.

Meu melhor amigo gostava de mim. Isso não era uma brincadeira de mal gosto. Não era uma piada como eu gostaria de pensar ... Ele realmente gostava de mim.

O que eu faço? Que porra eu faço? Nós estávamos juntos como amigos há tempo suficiente para saber que ele não era um cara que entregaria seu coração assim... Como eu disse, eu o conheço bem o suficiente para saber que ele estava dizendo a verdade nesse momento, que estava apaixonado por mim, então claro que eu iria acreditar. Porque o Alex que eu conheço não é alguém que brinca com essas coisas.

E escutar que ele tentou evitar gostar de mim, de certo modo me faz ficar triste, por que ele deve saber... Ele deve saber que tem algo de errado comigo. Que eu... Que meu coração tem algum problema.

É por isso que ele tentou por dois anos NÃO gostar de mim ... Ele sabia.

Quando ele se vira e me olha, eu estou totalmente em choque. E sei que ele percebe isso. Vou até o alambrado que ele está escorado e me encosto ali também. E por alguns segundos ficamos os dois olhando os carros que passavam pela avenida movimentada a nossa frente. Ele iria me deixar, eu tinha certeza disso. Ele não iria querer continuar sendo meu amigo, meu único amigo na verdade. Eu não queria perder isso.

Eu tinha o Max e o Renan, mas não era a mesma coisa. Eu não contava meus segredos pra eles... Eles não sabiam os meus problemas, eles nunca precisaram abrir a porta de seus apartamentos para mim de madrugada, depois que eu acordava de um pesadelo e vinha correndo para a única pessoa que me entendia. Que não me julgaria... Era somente o Alex .

- E o que acontece agora? - pergunto com um sentimento estranho. Esse sentimento me lembra medo...

- Como assim?

- Você sabe que eu...

- Eu sei que você não sente o mesmo. Sempre soube... - ele me corta, mas não era isso que eu iria dizer.

- Sinto muito. - É tudo que posso falar. Apesar de não ser o que eu iria dizer, ele estava certo não estava? Eu não sentia o mesmo.

- Tudo bem. Não é realmente sua culpa. Não há por que se desculpar...

-Eu... Não quero perder você Alex. - digo, de supetão. Por que na verdade eu não queria perder meu melhor amigo.

- Você não está com raiva de mim? - ele me olha com um brilho naqueles olhos suaves.

- Claro que eu não estou com raiva de você. - estamos de frente um para o outro agora.- Eu só preciso me acostumar com essa informação. E a gente precisa ver o que vamos fazer...

- Como assim o que vamos fazer? - sua expressão confusa o faz parecer fofo.

- Você quer se afastar de mim? Por que se você quiser eu vou entender... Mas, se você ainda quiser manter nossa amizade, podemos lutar por ela, Alex .

- O quê? Como assim?

Tento formular algo em minha mente. Meu desespero em não perder a pessoa que mais aprecio estava me fazendo tecer planos malucos. Ideias loucas começam a se formar e eu começo a ver um pontinho de esperança. Talvez, eu não precise perder o Alex .

- Tudo que precisamos fazer é realizar o seu desejo. - digo sentindo a esperança se infiltrar em meu corpo. Era isso. Eu sou mesmo um cara com uma mente acima da média. Sorrio convencido.

- Realizar meu desejo?- ele me pergunta com aquela aparência fofa que tanto adoro.

Abro o papel roxo em sua frente. O seguro com as duas mãos, bem diante dos olhos dele. E então, ele também abre um mínimo sorriso. Claro que ele entenderia. Ele é tão inteligente quanto eu.

O vejo fechar os olhos e respirar fundo.

Depois quando os abre, ele lê o conteúdo do papel em voz alta.

- Eu desejo deixar de amar Gabriel Bianchi.

- Isso.

- E como vamos fazer isso?

- Eu já tenho alguns planos.

Alex :

Depois de surtar internamente achando que ele iria me odiar por ter descoberto como me sinto em relação a ele, consigo enfim respirar com calma. Talvez eu não fosse tão insignificante pra ele como eu pensei que fosse.

Ele não queria me afastar... Não queria.

Meu peito estava tentando se manter firme, mesmo com o martelar desenfreado do meu coração agora. Se eu estava entendendo certo, ele não queria perder minha amizade. E eu... Bom, eu não queria perdê-lo também.

- Que tipo de plano? - pergunto receoso. Mas ainda assim com alguma esperança. Se eu deixasse de amá-lo, poderíamos continuar juntos, não é?

- Olha, pelo que sabemos, essa coisa de "amor" é meio que super valorizada pelas pessoas.- ele começa usando os dedos para demonstrar que a palavra amor estaria entre aspas. - Se usarmos a lógica, a maioria das pessoas trocam de amor verdadeiro a torto e a direto. Pra alguns esse negócio de amor não dura nem alguns meses…

- Bom, no meu caso são dois anos. - digo, resoluto.

- Mesmo? - ele me olha surpreso. - Dois anos?

- Sim.

- Bom, deve ser por que sou eu. - ele diz com um sorriso presunçoso.- Claro que iria durar mais do que com outras pessoas.

Eu sorrio de volta pra ele. Era incrível que pudéssemos conversar sobre isso sem eu me sentir estranho agora. Eu realmente não conseguia acreditar que estava acontecendo.

- Você é um idiota. - digo ainda rindo.

- Viu? Vai ser moleza tirar esse sentimento de dentro de você.

- Será?

- Eu tenho certeza.

- Gabriel? Você não acha que eu já não tentei?

- Talvez você tenha tentado da maneira errada.

- E qual seria a maneira correta?

- Quando foi a última vez que você ficou com alguém?- a pergunta dele me pegou de surpresa. Eu não faço a mínima ideia de quando foi a última vez que saí com alguém.

- Eu não lembro. - começo me sentindo constrangido. - Teve aquele cara aqui, no bar... Lembra?

- Alex , isso foi há meses. E você nem quis levar ele pro seu apartamento.

- Eu só não estava afim.

- Certo. Vamos começar com isso...

- O que? - pergunto sentindo a ansiedade tomar conta de mim.

- Vamos encontrar alguém incrível pra você.

- Você está maluco?

- Por que? Esse é um plano perfeito. - ele parece tão animado. - Pense Alex, imagine encontrar aquela pessoa que super combina com você?

- Gabriel, eu não...

- Alex , isso vai dar certo. Acredite em mim.

Faço um som de desapontamento, sentindo meu estômago afundar.

- Eu não sou bom, sabe, nessas coisas...

- Você acha que eu não sei? - ele sorri e passa um braço em volta dos meus ombros. Meu coração se agita, e eu me sinto feliz por ele ainda se sentir à vontade ao meu lado. - Você sabe que eu sou um expert quando o assunto é paquerar. Então meu amigo, você vai ter o melhor professor daqui por diante.

- Gabriel Você tem certeza disso?

- Claro que eu tenho. A operação UM AMOR PARA Alex Cooper , vai começar...

- Isso soou tão idiota.

- Eu sei...

E então, como num passe de mágica, estamos os dois rindo.

E não me importa o que venha a partir de agora... Por que o que importa mesmo é que eu ainda teria meu melhor amigo comigo. Ele não me afastou... ELE. NÃO. ME. AFASTOU.