"O que faz em nossas terras, bastardo?", proferiu um homem de presença imponente e assustadora, seus longos cabelos brancos refletiam a luz da lua, enquanto ele parecia flutuar com seu manto vermelho-púrpura tremulando ao ritmo do vento.
"Oh, olá, a quanto tempo...?", murmurou Marcus, claramente temeroso, seus pelos estavam eriçados e ele olhava na direção de Nery como se estivesse preocupado.
Um calafrio percorreu a espinha de Nery enquanto o homem, que pairava no ar apenas momentos antes, descia lentamente em sua direção.
Seus dedos, frios como o aço, ergueram até o queixo de Nery, aproximando seus rostos. Paralisada pelo medo, Nery não conseguia nem mesmo mover um músculo.
Quando seus lábios estavam a poucos centímetros de distância, um golpe seco interrompeu a cena. O homem, com seus olhos arregalados em descrença, girou a cabeça para encontrar o jovem, com o punho cerrado, parado a poucos passos de distância.
Com um rugido de fúria incontrolável, o homem arremessa Nery para longe como se ela fosse um boneco de pano. Seus dedos, manchados com seu próprio sangue pelo impacto do soco, tocam seu rosto em descrença. Uma dor aguda, como um raio, percorre sua mandíbula, quebrando a ilusão de sua aura de poder. Ele encara o jovem, seus olhos flamejando com raiva incontrolável.
"Como ele conseguiu se mover em minha expansão de alma? Esse cara mal expele poder magico, apesar de que aquele soco possuía mana imbuída e devido a sensação que me causou, isso são técnicas vampíricas, mas, a presença dele não é igual a minha, então ele obviamente não é um vampiro, na realidade, não dá para discernir sua presença. Que achado interessante Marccus.", após sua cadeia de pensamentos o homem avança em direção ao jovem, sem sequer perceber que parou de expandir sua alma para intimidar os outros, avançando em direção ao jovem arqueando seu braço para trás como se fosse dar o troco com a mesma moeda.
"Opa, opa, vamos parar por aqui. Minha sobrinha ficaria irritada se eu simplesmente a pegasse e desse no pé. Que tal brincarmos um pouco para relembrar os bons tempos, Vleindra?", disse Marccus, interpondo-se entre o homem e o jovem, já em sua forma bestial, e recebendo o golpe em vez do jovem.
"Parece que você não é tão inútil afinal. Agora, pegue Nery e a leve pelo caminho que estávamos seguindo. Eu os alcanço em breve.", continuou Marccus, falando para o jovem enquanto se mantinha em uma espécie de competição de força com Vleindra.
Que tal voltarmos um pouco no tempo para compreendermos melhor como Marccus, Nery e o jovem chegaram em tal situação.
Após despedirem-se do amigo de Marccus, os três partem em uma carruagem em direção ao Continente Norte, onde ficara a Casa Loenning.
Em uma situação comum, Marccus pegaria o caminho mais longo, descendo para o Continente Sul, e dirigindo-se ao Continente Norte cruzando o Continente Central, era um caminho extremamente mais longo que fazia uma viagem de semanas durar meses.
Eles fizeram tal caminho para chegarem até onde estavam, porém ao ouvir que o repetiriam, Nery infernizou a cabeça de seu tio o máximo que pode até que ele cedesse e decidisse ir diretamente em direção ao Continente Norte sem fazer contornos.
Os primeiros dias da viagem correram tudo bem, o que fez com que Nery ficasse confusa com o motivo de seu tio preferir pegar um caminho extremamente mais longo e ter de gastar mais, e até fez com que ela caçoasse dele dizendo que ele talvez não servisse tanto para ser um mercador afinal.
No total já faz oito dias que eles estão viajando, Marccus guiava a carruagem o mais rápido possível durante a viagem, deixando até que o jovem subisse invés de andar atrás, ao longe, no horizonte já se faz possível ver o nascer do sol que parece um pouco refletido no oceano que divide os continentes.
Eles mal descansaram em toda a viajam e Marccus esteve atento por todo o trajeto, fora da carruagem apenas nos momentos em que as Feras necessitavam descansar, sempre olhando ao redor como se sua vida ou bem-estar dependesse disso, então estavam bastante cansados, mas, tal visão majestosa de mais um dia se iniciando fez com que eles recobrassem um pouco de suas forças.
O sol já está quase em seu ponto mais alto e o dia está com o céu limpo, sem nuvem alguma para poder gerar alguma sombra durante a viagem. Por todo o trajeto eles não adentraram em cidade alguma, por mais que Nery insistisse, Marccus não permitiu em momento algum tal ato, fazendo com que o humor de sua sobrinha que já não estava tão bom ficasse ainda pior.
"Vamos Nery, juro que é melhor não adentrarmos nessas cidades, na realidade melhor seria sequer termos adentrado nesse domínio para começo de conversa minha querida sobrinha.", dizia Marccus enquanto tentava fazer com que o humor de Nery melhorasse.
"Só vamos logo, quero voltar para casa e nunca mais sair, ainda mais após o que ocorreu...", retrucava Nery deixando claro que as tentativas de seu tio foram em vão, ela também lançava olhares ao jovem enquanto falava. Não eram olhares de raiva, mas ainda assim era o suficiente para fazer com que ele se sentisse desconfortável sem saber o porquê.
Apenas mais alguns minutos se passaram e eles adentraram uma floresta, devido a estarem de certa forma já próximos do oceano, se fazia possível ouvir as ondas caso se atentassem.
Deixando de lado o humor de Nery, a viagem estava correndo bem, sem complicação alguma, o que fez com que Marccus ficasse mais aliviado e baixasse sua guarda.
Quase como se fosse uma resposta imediata a atitude de despreocupação por parte de Marccus, ambos os três sentem um arrepio em sua coluna, fazendo com que ficassem mais atentos do que estiveram durante toda a viagem, olhando em todas as direções procurando o que poderia estar causando tal sensação.
De repente então, o jovem apenas abre a porta da carruagem ainda em movimento empurrando Nery para fora, Marccus ao olhar para trás e vê-la voando pela porta, salta da carruagem de imediato para tentar pegá-la.
Enquanto os Loennings ainda estavam em pleno ar, antes que Marccus sequer alcançasse sua sobrinha por mais que tenha pulado na direção da mesma. Ocorre uma explosão na carruagem, deixando-a em pedaços pegando fogo.
Marccus que já estava prestes a alcançar sua sobrinha, é simplesmente jogado para longe enquanto ela tem seu movimento impulsionado pela onda de choque causada pela explosão.
Nery caída no chão, então olha para cima e vê um homem de braços cruzados os observando.
"Tio! O que é aquilo!?", gritava Nery espantada ao ver o homem em pleno ar como se fosse nada, seu nariz parecia estar em chamas devido ao cheiro que ele emanava.
Marccus então engole seco ao olhar para onde Nery apontava e reconhecer quem era.
"Aquilo? Bem, "aquilo" é um dos motivos pelos quais eu evito esse Domínio.", Marccus tremia como se soubesse que havia tudo acabado para ele.
"Hã? Como que vocês conseguiram sobreviver, meu feitiço de ignição não é tão lento para que vocês possam pressenti-lo, não é mesmo?, dizia o misterioso homem enquanto pairava no ar. Enquanto observava Nery e Marccus sem reação alguma tomados por pavor, ele apenas pensava, "Eles estão em choque com apenas um pouco, vou aumentar. Se eles estão assim é sinal de que há algo a mais, cujo devo tomar cuidado".
Agora regressando então para onde estávamos.
O jovem então, acatando as ordens de Marccus devido a não ser possível ignorá-las devido ao pacto de servidão, dirigiu-se até Nery e a agarrou em seu colo com todo o cuidado possível já que ela estava desacorda devido ao impacto de quando fora arremessada por Vleindra.
Com ela em seus braços, o jovem corre pelo caminho que estavam originalmente seguindo.
Ao ver que estavam se afastando, Vleindra começa entoar um encantamento com o intuito de atingi-los, porém ele tem sua recitação interrompida por Marccus dando-lhe um gancho enquanto dizia, "Vamos, vamos, você veio até aqui para me recepcionar então atenha-se a mim, velho amigo".
Ao ser chamado de "amigo" por Marccus, Vleindra solta um alto urro de ira e voltasse completamente contra ele, ignorando o jovem fugindo junto de Nery.
Passadas algumas horas, Marccus alcança sua sobrinha e o jovem, porém ao lá chegar, a primeira cena que vê é, Nery em sua forma bestial enquanto tentava acertar o jovem por algum motivo.
"Eu só deixei vocês sozinhos por algumas horas e quando chego já estão agindo assim? Poxa, agindo dessa forma ele nunca vai querer ficar ao seu lado minha querida sobrinha.", a voz de Marccus possuía claro tom de deboche enquanto dava uma espécie de repreensão em Nery.
Ao reconhecer a voz de Marccus, Nery cessa seus golpes em tentativa de acertar o jovem e pula em seu tio assumindo sua aparência comum.
"Eu estava tão preocupada tio, e ele não estava me deixando ir te ver. Perdão por ter caçoado de você, você estava certo, nós não deveríamos ter vindo por aqui, o caminho mais longo era melhor, sim, era muito melhor.", Nery estava chorando enquanto suplicava perdão a seu tio com lágrimas escorrendo de seus olhos e caindo sobre o corpo de seu tio que estava cheio de sangue, marcas de cortes e hematomas.
Passados alguns minutos, ambos os três já estavam em uma embarcação navegando em direção ao continente Norte. Nery estava dormindo no colo de Marccus após ter apagado enquanto chorava. O jovem estava escorado nos guardas-corpos do convés olhando em direção ao horizonte enquanto o sol se despedia. E Marccus ainda sujo pois Nery não desgrudara dele desde que ele chegara, observava o jovem com um olhar de alívio, e também muito intrigado com o jovem que agora aparentava ter ainda mais mistérios.