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Chapter 6 - OS TRÊS PATETAS

Casa Loenning, a casa principal da família Loenning, como o nome sugere. Um local onde há consideravelmente poucos escravos mesmo sendo a base principal de uma das maiores famílias escravizadoras e mercadora de tais produtos, lá há apenas os servos principais, pessoais e alguns que estão por outros motivos como pagar contas por exemplo. No fim acaba sendo uma quantia até que grande de indivíduos, mas ainda não é nada se comparado com as outras bases que a família possui, onde de fato são estocados os produtos.

 

Um grupo que nem mesmo eles sabem por que estão juntos, mas que mesmo assim seguem unidos como se fossem irmãos, um mago, um lutador de artes marciais e um guerreiro capaz de lutar com qualquer arma. Um Elfo, um Elfo-Negro e um Ser-Feral ursino.

São três raças poderosas, três indivíduos que se esforçaram à sua maneira para conseguirem o poder que tem, três indivíduos que fazem tudo, mas, para infelicidade dos mesmos, tudo mediocremente.

 

Philean Krinton, o Mago Excêntrico, como ficara conhecido após ser expulso do Conselho por fazer uso de métodos questionáveis em seus estudos e aplicações de experimentos.

Nascido nobre de uma família do Domínio de Evron, porém, logo ao alcançar seus 14 anos de idade, a maioridade, quando achou que finalmente teria um papel significativo na família e como nobre, ele fora expulso da família pois o julgaram como indigno após todos os atos tolos que fizera em prol ao bel-prazer. Atos que iam desde simples brincadeiras apenas malvistas pelos outros nobres inclusive sua família, até atos hediondos por suas pesquisas.

Após expulso e sem título algum, jurou que seria grande e um dia ainda retornaria à Evron para fazer com que todos se arrependessem do que fizeram com ele, ao ingressar no Conselho com tal intuito, fizera todo o possível para alcançá-lo. Mas fizera até demais, e fora expulso pelo mesmo motivo que removeram seu título nobiliárquico. Tornando-se mais um dos que vagueiam por aí de taverna em taverna, fazendo qualquer coisa que possa lhe render uns trocados para o dia seguinte.

 

William Earth, O Lutador Bêbado, como ficara conhecido já que só era encontrado em bares e tavernas brigando com tudo e todos após a primeira gota de álcool.

Nascido nobre em Stall-yl, todavia quando atingiu sua maioridade, abriu mão de seu título nobiliárquico pois desejava uma mulher de outra raça, algo que é estritamente proibido para a família real do Domínio de Niggelf. Então, ele largou tudo o que tinha, mantando-se apenas com seu conhecimento e habilidade que treinara desde a infância.

Todavia, sua perdição veio junto a uma carta, não uma carta de óbito por algum parente ou algo do gênero, mas sim, uma carta de despedida. Quando a mulher que ele amava descobriu que ele não era mais um nobre e inclusive o próximo rei dos Elfos Negros, seu imenso amor acabou de forma imediata, deixando isso claro através da carta. Quando Willian percebeu que seus pais estavam certos todas as vezes em que insistiram durante três longos anos para que ele não abdicasse o trono pois ela não valia a pena, ele perdeu completamente sua vontade de viver, pois abrira mão de tudo por algo que nunca existiu, gastando então toda a fortuna que possuia em bebidas e brigando até com a própria sombra como forma de tentar preencher o vazio que sentia.

 

Tyrone Zillean, O Pet Idiota, como fora conhecido após ser uma das principais atrações do grande Circo Tic-Tac.

Nascido no Domínio de Fellicius, fora vendido como escravo por 1 "Fenrir Ancião" logo ao nascer, comprado por um dos gerentes do circo e criado para ser atração principal de uma das filiais focadas em turnês, seu show era ele fazendo malabares com diversas armas enquanto era brutalmente chicoteado por cinco indivíduos, os nobres amavam o show que ocorria uma vez por semana, sempre em um local diferente do anterior.

 

Certo dia, enquanto Philean estava em um bar no Domínio de Luminiss, entornando o copo como sempre, como forma de fugir dos próprios problemas, ele tem sua bebedeira interrompida por um homem voando em sua direção, fazendo com que ele derrubasse sua bebida, irando-se.

 

Quem jogara o homem fora Willian, que já estava bêbado e brigando com todos, ao Willian perceber que o Elfo, trajado com uma longa roupa verde limão, longos cabelos, que segurava um cajado apontado para ele estava entoando um encantamento, avança de imediato em sua direção e o ataca.

 

Philean e Willian lutam por alguns minutos, devido a boa parte dos encantamentos terem seus 'códigos divinos' extensos todos os magos sabem o básico da arte da luta, mas após poucos minutos de combate entre o Mago Excêntrico e o Lutador Bêbado, são surpreendidos por sons de passos, porém, não sons comuns, mas sim de pessoas usando armaduras.

 

Devido onde ficava o bar, eram provavelmente soldados do reino. Os dois de imediato param seu combate e se evadem do local a toda velocidade, ambos se ajudando a fugir, e, como se fossem amigos de longa data eles se entendiam com apenas um olhar, assim nascerá a irmandade entra os dois.

 

Eles correram muito, rindo da situação, até que enfim param após entrarem em uma grande estrutura que havia na praça central, o local estava lotado de pessoas de todas as classes e raças, o lugar perfeito para se esconderem.

 

Para misturar-se as demais pessoas, eles então sentam-se nas arquibancadas montadas ali de forma aparentemente improvisada, e assistiram tudo o que fora passado durante a noite, espetáculos longos e complexos, alguns poucos com direito até a interação do público. Todavia, é chegada a hora mais aguardada da noite, nos últimos minutos a casa lotara ainda mais com muitas pessoas que vieram para assistir a apenas essa parte, o gran finale.

 

Tyrone então sobe ao palco, e começa sus apresentação. Ao redor, todas as pessoas rindo e aplaudindo, no palco, Tyrone com lágrimas escorrendo em seus olhos enquanto passava mais uma vez por extrema humilhação e açoite para entreter outros indivíduos com sua natureza podre. Os dois ao verem tudo aquilo iram-se.

 

O resumo daquela noite é que houve um banho de sangue, desde espectadores até organizadores. Ambos os três concordaram que aquilo era obra do destino, e assim nasceu a irmandade deles, que originalmente se chamaram de Os Três Grandes, mas hoje em dia são conhecidos apenas como os Três Patetas após tornarem-se servos da Família Loenning.

 

E assim nascera a irmandade dos três indivíduos agora chamados de Três Patetas.

 

Os Três Patetas, um grupo contendo três indivíduos como o nome sugere, já causaram muitos problemas por Marichi inteira, não apenas lá, mas em outros domínios também. Nunca tiveram de fato um nome grandioso a ponto de serem caçados pelo Conselho por exemplo, mas ainda assim, pelos becos e vielas possuíam um pouco de fama entre os integrantes do submundo, mas, nem sempre fama é bom.

 

Certa vez, no domínio vizinho a Marichi, o Domínio de Fersvlei, devido a sua certa ascensão eles foram procurados por um certo nobre, para serem contratados para um rápido e simples serviço, onde teriam apenas de roubar um pequeno cassino. Logo aceitaram, era um cassino que raramente funcionava e a segurança era deplorável afinal, por que recusariam um trabalho tão fácil, não é mesmo.

 

Chegada a hora de agirem, assim o fizeram. Entraram e derrubaram os pouquíssimos que guardavam o local, tudo ocorrera como o planejado, eles conseguiram invadir e saquear, missão completa após fugir, não é mesmo? Sim, bastava que fugissem, porém, avistaram um certo cofre, todavia esse não fora possível arrombar, possuía um encantamento extremamente poderoso de proteção que exigiria muito tempo para ser desfeito. Logo então o pegaram e evadiram do local logo em seguida.

Já em sua base, que tratava-se de uma velha casa abandonada que encontraram no subúrbio, eles conseguiram quebrar o encantamento após longas horas de tentativas, mas, isso não fora a melhor decisão que poderiam ter tomado.

Com o cofre aberto, logo perceberam que o mesmo estava vazio, ao menos a seus olhos, o que fez com que os três ficassem em extrema confusão.

 

O cofre, no momento em que fora aberto emitiu uma espécie de sinal, isso era parte do encantamento que ele possuía afinal, caso não fosse aberto da forma correta deveria alertar que lançou ou o dono do ocorrido, e o encantamento funcionou de forma perfeita.

Momentos após os três deitados exaustos da mana que gastaram em inúmeras tentativas de desfazer o encantamento, um deles se levanta e diz que eles deveriam logo ir até o nobre e dizer que o trabalho fora concluído para assim pegarem sua recompensa, mas, ao abrirem a porta para saírem, se veem cercados por um numeroso grupo de pessoas.

Já cercados, lutar não era opção, afinal, não eram quaisquer pessoas, mas sim soldados do Conselho, e mesmo que os três fossem poderosos o suficiente para derrotarem todos aqueles que ali estavam, ainda sim isso significaria caçar guerra contra o mundo todo.

 

O Grande Conselho dos Sábios, popularmente conhecido apenas por 'Conselho', mas, poderiam ser chamados talvez de arquitetos do mundo, já que são eles quem controlam tudo, quem trabalha para eles possui prestígio maior até do que reis de certos domínios.

O Conselho está acima de todos e abaixo apenas dos deuses, que por sua vez, não são mais vistos desde a Grande Guerra Sagrada, onde dois dos seus acabaram morrendo durante embates; quando os deuses saíram de cena, tudo ficou por conta do Conselho, e quem ocupa uma das Cadeiras dos Sábios são os únicos que ainda se comunicam em raras ocasiões com os deuses.

Resumindo, o Grande Conselho dos Sábios controla o mundo da maneira que querem desde o fim da Grande Guerra Sagrada praticamente, com intervenção mínima dos deuses. O Conselho possui poder para tudo, desde escrever leis até a reescrever a história de certa forma, o maior poder do mundo.

 

É de conhecimento comum que fazer qualquer coisa, por menor que seja contra alguém que trabalha pelo Conselho, significa tornar-se inimigo do mundo, pois eles irão declará-lo como herege, e depois disso, lhe restara apenas o mesmo fim dos que se opuseram aos deuses durante a Grande Guerra Sagrada, a morte, em sua forma mais dolorosa e humilhante possível.

 

Quando os Três Patetas avistam os emblemas nas peças de armadura e bandeirolas dos soldados que o cercavam, rapidamente reconhecem que se tratava de um grupo da sessão de expurgo do Conselho.

Os três de imediato largam então os sacos que tinham consigo ao chão, e colocam suas mãos sobre as cabeças enquanto se ajoelham já ao lado de fora da casa, sem que os soldados do Conselho necessitem dizer uma palavra sequer.

 

Com dias passados deles estando em um calabouço de localização desconhecida, eles então ouvem uma voz lhe dizendo que tinha uma proposta, delação premiada, invés de serem mortos, caso o servissem e entregassem todos os clientes que já tiveram até então, ele os tiraria dali e garantiria que não fossem executados juntos de sua família.

 

Nos dias de hoje os três homens servem a Família Loenning após aceitarem a proposta de Marccus, Os Três Patetas da Casa Loenning, três bêbados e com pouca noção, capachos perfeitos.

 

— Dá um tempo, por que que você contou nossa história? Hein. – dizia o Philean, repreendendo Tyrone.

 

— Vamos, não seja tão grosseiro. Papai e mamãe sempre disseram que todos deveríamos ser educados e nos apresentarmos de maneira correta, deixando claro quem somos e quem está no controle da situação. – disse Willian, com um amigável sorriso estampado em sua face.

 

— Viu, o Will me entende, Phil. – retrucou Tyrone.

 

— Claro que entendo, quem é o bom garoto, quem é? – Willian passava sua mão sobre a cabeça de Tyrone.

 

— Isso mesmo, trata ele igual um pet, vai. Bando de idiotas. – Philean claramente não estava de bom humor.

 

Philean, Wllian e Tyrone, os Três Patetas, agora, os tutores do jovem por tempo indeterminado.

 

Willian salta então dos ombros de Tyrone, onde estava sentado e se posiciona frente ao jovem, esticando a mão para o mesmo como forma de cumprimento.

 

— Bem, graças ao Tyrone agora você já sabe nossa história. Até mais do que eu gostaria sinceramente, mas não há mais o que fazer a respeito. Enfim, prazer, como já deve ter percebido, eu sou o Willian, serei seu tutor de artes marciais, lhe ensinarei lutar de mãos nuas, espero nos darmos bem. – Willian estava com o sorriso ainda em sua face, sua cabeça levemente inclinada para a esquerda.

 

O jovem então pega em sua mão, cumprimentando-o.

 

— Olha só que curioso, você continua bem e de pé. Interessante, sim, muito interessante. – Willian estava claramente curioso, como se algo devesse ter ocorrido quando sua mão fosse apertada pelo jovem.

 

— Ele resistiu a maldição do Willian? Mas eu mal posso enxergar mana nele, muito pelo contrário, na realidade não há mana para ser enxergada nele. Mas não é possível, não pode existir nenhum ser vivo sem mana, isso iria contra tudo o que sabemos sobre. Então o que seria isso? Como? Estou ficando animado com esse achado do Sr. Marccus, de fato ele disse que era interessante ontem à noite, mas não imaginei que seria tanto. – murmurava Philean enquanto afastava-se em direção pelas costas do jovem.

 

 O que que está acontecendo aqui afinal? Marccus disse para sairmos de seu escritório após dizer que esses três me ensinariam coisas sem explicar o motivo, e, que minha alimentação seria definida de acordo com meu desempenho durante as aulas. Mas aquele urso só falou desde que chegamos aqui contando a vida deles até como se eu me importasse. – a face do jovem estava claramente expressando sua raiva momentânea por conta da situação, porém sua mascara não permitia que ninguém visse tal expressão.

 

Após mais alguns minutos do jovem encarando Willian que ainda não houvera soltado sua mão e estava com cara de paisagem parado em sua frente igual a uma estátua, ele sente algo.

E como resposta a tal sensação, ele apenas salta para o lado o mais rápido que pôde.

 

Philean houvera lançado um ataque em direção ao jovem, mas, acabou acertando Willian pois o jovem houvera conseguido desviar.

 

— Ei, quem disse que você podia desviar, cobaia? – Philean estava com uma expressão de certa forma macabra em sua face enquanto novamente apontava seu cajado em direção ao jovem começando outro encantamento.

 

— Ah cara, e lá vamos nós de novo. Eu deveria fazer algo, se matarem ele no primeiro dia, Marccus provavelmente iria ficar no nosso pé ainda mais. – Tyrone havia mudado sua respiração, como se estivesse preparando-se para algo.

 

E então, em uma fração de momento, com Philean quase terminando seu encantamento.

 

— Um teste por hoje é o suficiente, não? – dizia Tyrone enquanto segurava o cajado de Philean e o encarava com uma expressão amedrontadora.

 

"Solta. Ou será que está querendo virar um casaco de pele, hein, bichinho de estimação", retrucava Philean da maneira mais arrogante possível, em sua face apenas um sorriso de superioridade.

 

Ao ouvir a provocação de Philean, Tyrone apenas levanta seu colega pelo cajado e o balança, fazendo com que ele caísse.

Philean passou a pular enquanto Tyrone segurava seu cajado acima da própria cabeça, ele pulava na tentativa de alcança-lo, enquanto pulava dizia coisas como "Solte!" e "Me devolva!", quanto a Tyrone, apenas ria debochando da altura de Philean enquanto questionava se ele era um Elfo mesmo ou um Anão.

 

"Mas que merda é essa afinal? Isso é a irmandade deles? O Philean até desmaiou o Willian. Apesar de que acho que tenho culpa nisso também...", pensava o jovem espreguiçando-se enquanto encara a patética cena do Mago Excêntrico sendo humilhado devido à sua estatura.

 

Passados alguns minutos de provocação, Philean desiste e se senta no chão, esgotado de tanto pular.

 

"Bem, não sei vocês, mas eu não estou com vontade de ensinar ninguém hoje. Então, bem, você ai, o Sr. Marccus disse que você não fala, e disse para lhe chamarmos de Pássaro Inútil, então assim será. Venha amanhã ao amanhecer novamente a este cambo de treinamento que então começaremos de fato", Tyrone estava com uma expressão séria em sua face enquanto falava com o jovem, totalmente diferente de como fora até agora.

 

O jovem então dirige-se até o local onde houvera passado a ultima noite, mesmo que ele houvesse sido chamado pela manhã, Marccus e os Três Patetas conversaram tanto que já era noite.

 

 Estou com fome, e Marccus disse que apenas me enviaria comida caso eles falassem que me sai bem durante o treino. Hoje é sem comida então, né? Bem, terei de subir naquela árvore em frente de casa então e pegar ao menos uma fruta. – o jovem anda sem pressa alguma enquanto vagueia por seus pensamentos.

 

Na manhã seguinte, após acordar antes mesmo do sol dizer "Oi" a todos, o jovem já está de pé, para ser mais justo, nesse momento ele está sentado dentro de um riacho, onde a empregada o levou e o limpou na manhã anterior.

 

"O céu já está começando a ficar claro, hora de ir", pensava o jovem enquanto relaxava na água.

 

Passados alguns minutos, o jovem já houvera saído do riacho e estava chegando no campo de treinamento que havia também ao fundo da propriedade, porém do lado oposto de onde ele estava ficando.

 

Chegando no local, seus três tutores estavam o esperando, o sol acabara de nascer, e eles observavam o jovem andando em sua direção sem pressa alguma, andando de maneira tranquila.

 

Agora começara a nova rotina e vida do jovem como mais um dos muitos escravos que há espalhados por toda a vastidão do mundo.