O céu tingido de laranja e dourado enquanto o sol se despede ao horizonte, uma leve brisa soprando e trazendo consigo os ventos do Outono. Ao longe se vê algumas nuvens que trazem consigo chuva, todavia, tal chuva não chegara aqui hoje.
Árvores perdendo sua folhagem enquanto outras começam a florescer. Os dias tornando-se mais curtos para dar espaço a noites mais longas.
O fervor do Verão se despedindo enquanto um clima mais ameno toma a força o espaço.
É possível ver diversas aves no céu, muitas espécies já estão fazendo sua migração afinal. Animais indo hibernar enquanto outros começam sua época reprodutiva.
Em meio ao gralhar das aves se faz possível escutar o vento sussurrando em seus ouvidos que é tempo das mudanças, as folhas secas sendo arrastadas pela grama ainda verde, mas, que lentamente vai tomando seu leve tom amarronzado.
Já passara sete semanas desde que o jovem chegara a Casa Loenning e começara seu treinamento, mesmo que ele não saiba o motivo, ele ainda se empenha com toda sua vontade e força dia após dia, até porque sua alimentação depende unicamente de seus resultados.
No começo, seu treinamento não passara de uma sessão de espancamento por parte de seus instrutores, todavia, mesmo neste curto espaço de tempo, ele conseguira uma extrema evolução se comparado a como ele era quando fora perseguido junto de Nery, em Niggelf, ou, a quando conseguiu enxergar a sombra da morte ocultando toda a luz em sua visão, através de Vleindra que fora impedido por Marccus.
Agora o jovem consegue manter um combate, nada muito avançado, mas ainda assim, ele consegue fazer com que seus dois tutores se alegrem com sua evolução, mesmo tendo em vista suas incapacidades.
Mas, espere, não eram três? Por que agora são apenas dois, então? Para responder isso teremos de voltar no tempo.
No dia em que seu treinamento realmente começaria, o dia seguinte a apresentação provida por Tyrone Zillean.
Ao chegar no campo de treinamento, o jovem avista os três conversando entre si, talvez discutindo estratégias, talvez brincando, ou talvez algo mais sério, todavia, a conversa foi parada ao avistarem o jovem chegando ao longe.
"Finalmente chegou. Mamãe e papai sempre diziam que é importante a pontualidade, então caso isso ocorra novamente terei de lhe punir", dizia Willian Earth, com um sorriso irônico estampado em sua face, seu antebraço, junto de seus punhos estavam envoltos em bandagens. "Vamos começar logo então? Não, espere, você tem de fazer a medição antes, né, Phil?".
Phillean ouvindo Willian, apenas assentiu com a cabeça antes de começar a falar.
"Sim, sim. Devo fazer a medição para conseguir definir como ensinarei Magia a ele. Mas, tendo em vista como ele não só previu meus ataques como também desviou dos mesmos, e, ainda por cima fez o mesmo com ataques de um vampiro, mesmo que inferior, creio que já comece logo pelo avançado", Phillean Krinton estava com uma pedra em sua mão esquerda enquanto dirigia-se ao jovem.
A pedra que Phillean segurava era translucida do mais puro branco, ao chegar em frente ao jovem, com sua mão direita ergue seu cajado aos céus sobre sua cabeça, o mais alto que pudera, enquanto com sua mão esquerda, ainda segurando a pedra, a aponta ao jovem.
Phillean começara então a entoar um encantamento, fora um longo encantamento. Ao seu fim, com Phillean ainda mantendo sua pose, surge então uma espécie de círculo em torno do jovem. Em torno de Phillean, a gravitação da mana também mudara, ficara um pouco mais agitada se é que assim podemos dizer, todavia ninguém ali possuía capacidade de enxergar tal mudança, não é mesmo?
O círculo, inicialmente no chão, era branco, igual a pedra que Phillean segurava, possuía também algumas estranhas gravuras dispostas em torno dos três anéis que possuíam dentro do círculo e que se mantinham em movimentos desconexos uns dos outros. Cada uma girava em seu próprio eixo com velocidade e direção diferentes. E mesmo visível aos olhos, se fazia invisível a todos os outros sentidos, ou assim deveria.
"Mas que merda que é isso? Falaram que era para ser meu treinamento, mas, ele está apenas me mostrando truques de mágica, é sério isso?", por baixo de sua máscara, o jovem se fazia perplexo e irritado com a situação em que se encontrava. Além de ser obrigado a treinar o máximo que conseguisse e extrair resultados caso quisesse comer algumas migalhas, ainda era obrigado a aturar o que julgara como palhaçadas por parte de Phillean.
O círculo antes estático sob os pés do jovem, apenas girando em sentido horário em uma velocidade que qualquer criança conseguira compreender seus movimentos, agora, começara a mover-se também verticalmente, subindo e descendo pelo corpo do jovem como se estivesse o escaneando. Da sola de seus pés até o mais alto ponto de sua máscara.
O círculo então, com o passar de poucos segundos repetindo tal movimento começara a perder seu tom puro, e começa pouco a pouco escurecer, assim como a pedra que também escurecia em resposta ao mesmo. Gradativamente a pedra e o círculo foram escurecendo, do mais puro branco ao mais escuro preto, um preto tão escuro que era capaz de envergonhar a vastidão da noite.
Willian junto de Tyrone apenas observam com afinco e perplexidade a maneira cujo a pedra e o círculo magico estavam reagindo ao jovem, Phillean por sua vez estava de olhos fechados desde quando começara a entoar o encantamento inicialmente.
CRACK
Um som seco de algo se estilhaçando seguido pela sensação de que não segurava mais nada em sua mão apontada ao jovem, fez com que Phillean abrisse seus olhos de forma imediata.
Phillean via apenas pó sendo soprado pela brisa da manhã ao abrir sua mão que antes segurava a pedra, o círculo magico entorno do jovem ainda prosseguia com seus movimentos, mas, agora em completa desordem, sem manter constância alguma e era possível perceber que ele estava também se quebrando ao ver as rachaduras de fora a fora em sua composição e escutar os baixos som de algo se trincando.
A expressão de Phillean se torna algo difícil de se descrever, tristeza, excitação, raiva, esses eram os sentimentos mais visíveis em sua face enquanto escorriam inexplicáveis lágrimas de seus olhos. Ele então bate o cajado no chão desfazendo o círculo que havia sido feito ao redor do jovem e começa a gargalhar em direção ao céu.
HAHAHAHA(...)
"Eu sabia! Eu sabia! Todos disseram que eu estava errado, mas eu sabia, é possível criar algo sem magia, é completamente possível... Sim, é possível.", Phillean parecia ter perdido seu juízo devido ao que ocorrera com a pedra.
"Esse cara tá bem? E o que foi aquilo de agora pouco será, deu uma certa sensação de quentura em meu corpo, porém era um calorzinho aconchegante até.", o jovem apontava para Phillean como se quisesse saber o que estava ocorrendo com o mesmo, enquanto se recordava da sensação que sentira.
Tyrone e Willian se aproximam então.
"É, acho que ele parou de funcionar. Devo levá-lo para o nosso quarto?", indagava Tyrone enquanto sacudia sua mão esquerda em frente a face de Phillean que ainda gargalhava olhando para o céu, mas sua visão não se encontrava ali, mas sim em um lugar mais distante.
"Sim, leva ele lá, eu faço a parte da manhã no treinamento. Era para ser Magia, e, só pela tarde Artes Marciais, mas, devido a nosso mago não estar bem vamos adiantar um pouco as coisas.", respondeu Willian enquanto apertava as bandagens em suas mãos. "Olhe, você parece extremamente fraco, então tomei a liberdade de colocar enchimentos em meio minhas bandagens para não acabar lhe matando. Afinal, mamãe e papai sempre diziam que é importante não abusar dos mais fracos.".
"Em guarda!", Willian gritou antes lançar-se no jovem, que por sua vez, conseguiu desviar rapidamente, até como se fosse por um reflexo natural. Com um sorriso em sua face pelo jovem não ter sido pego em seu primeiro movimento, "Olha só, no fim não é tão fraco quando eu pensava. Apesar de que ontem conseguiu desviar do ataque do Phill, então de fato eu me preocupei demais apenas".
Devido ao jovem ter conseguido com sucesso evitar o primeiro movimento ofensivo por parte de Willian, ele então começa a levar um pouco mais a sério. O que resultou em praticamente uma seção de espancamento ao jovem durante as seis horas da aula.
Mesmo Willian se segurando e limitando sua força, o jovem não conseguira sair da defensiva por um momento sequer. Ele deu tudo de si durante as seis horas para conseguir defender-se o máximo que pôde já que não achara brecha alguma para tentar revidar.
"Você não conseguiu me dar um golpe sequer, ficou apenas tentando inutilmente se defender durante as seis horas da nossa aula, patético. Papai e mamãe sempre disseram que o mais importante em uma luta é tentar, mas você desistiu. Realmente como Marccus disse, não passa de um Pássaro Inútil mesmo", Willian estava com uma clara expressão de desapontamento estampado em sua face enquanto repreendia o jovem.
"Legal, legal, mas agora é minha vez, Will", dizia Tyrone já empurrando Willian para trás e jogando uma espada longa para o jovem. "Eu vou com uma de madeira, se você não aguentar o peso dessa aí, então lute com as mãos vazias.".
GLULP
"Ei, sério que não posso sequer ter cinco minutos de descano? Qual é, me dá um tempo!", o jovem engoliu seco ver quão afiada estava a espada, e então passou a tentar levantá-la, mas, mal conseguia manter seu corpo em pé de tamanho era seu cansaço.
Após muito esforço, o jovem finalmente conseguira levantar-se e se colocar em posição com a espada em mãos.
Tyrone logo ri e segura com muito mais força a sua espada de madeira, "Já era hora, garotinho". Ele avança então em direção ao jovem.
O primeiro golpe de Tyrone foi o suficiente para fazer com que a espada se soltasse da mão do jovem e voasse poucos metros, e, também foi o suficiente para que a espada de madeira de quebrasse. "Poxa, podia jurar que ela aguentaria ao menos uns três golpes desse...".
"Que monstro é esse? Eu com certeza vou morrer. Ah cara, como que isso chegou nessa situação!?", o jovem já havia recuperado sua espada e estava novamente posicionado com ela enquanto Tyrone se aproximava estralando seus dedos.
"Agora terá de se defender com a espada de alguém desarmado, sou um professor tão gentil, não é mesmo?", Tyrone estava com um sorriso amedrontador em sua face, fazendo com que o jovem tremesse mais que vara verde.
"É, eu realmente estou morto...", pensava ao jovem enquanto recebia o primeiro golpe de Tyrone diretamente em sua espada. Por baixo da máscara os olhos do jovem estavam arregalados e suas bochechas tremiam de tamanha era a força que ele fazia para tentar segurar o golpe de Tyrone. "Droga, dá não..".
O jovem até tentou, mas devido a tamanha dispariedade de forças entre ambos, ele acabou sendo arremessado para trás.
E então assim se seguiu mais seis horas de praticamente tortura ao jovem, no que chamavam de treinamento. Assim se iniciou a nova rotina diária do jovem. Mas, naquele dia não houvera aula de Magia, apenas combate, tanto armado quanto desarmado.
Após o fim de sua primeira rotina de treinamento, o jovem regressa onde ficara.
"Amanhã vai se repetir tudo de novo? Como serei capaz de aguentar isso afinal. Não tenho força para lutar contra eles, fora que contra o Tyrone força é até impensável, o mais correto seria o que então? velocidade?", o jovem se indagava muito enquanto abria a porta de onde ficava.
O jovem tem seus pensamentos interrompidos ao escutar uma voz masculina familiar gritando "Ei! Pássaro Inútil", e ao virar-se, percebe que se tratava de Piima Loenning, que acenava para ele como se estivesse chamando-o.
"É tão difícil assim ter paz? Se bem que, se quer paz, morre, né..", e com um triste sorriso por baixo de sua máscara por seu próprio pensamento, o jovem dirige-se até Piima.
"Siga-me", isso fora tudo o que Piima disse ao jovem.
O que Piima desejara, por quê chamara o jovem, ou se isso era ou não seguro... é algo que Piima não revelou ao jovem.
Enquanto isso, Phillean batia na porta do escritório de Marccus.
"Entre", respondeu Marccus às incessantes batidas em sua porta, ele estava com seus pés cruzados sobre sua escrivaninha olhando alguns documentos em suas mãos. Ao ver Phillean adentrando em sua sala, "Ah, então é você. Não é de seu feitio vir falar comigo, então, o que deseja?".
"Tenho um pedido a lhe fazer, Sr. Marccus.", dizia Phillean, parado de cabeça baixa em frente a escrivaninha de Marccus.
"Nossa, essa é a primeira vez que o Pateta 2 demonstrando algum respeito, o que ele poderia querer afinal?", Marccus ficou claramente curioso devido a atitude de Phillean. "Está bem, primeiramente diga-me. O que deseja tanto a nível de abdicar do tal orgulho nobre que diz ter? Dependendo do que seja posso cogitar sobre".