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O médico saiu depois de dar uma pomada para Evelyn.
Ela não a aplicou imediatamente, já que tinha aplicado a pomada dada pelo cozinheiro apenas algumas horas antes. Pensando nisto, decidiu guardar a pomada para ferimentos futuros.
Não conseguia mais dormir. Assim, desceu da cama e decidiu fazer alguns afazeres.
Não queria que Regan a considerasse uma pessoa inútil. Afinal, ele havia usado dinheiro para comprá-la.
Parou quando viu a comida intocada sobre a mesa.
Ele não jantou?
Lembrou-se de que ele havia acabado de começar quando começou a sentir as coisas diante dos seus olhos turvarem.
Um suspiro pesado escapou de seus lábios. Pensando por um momento, decidiu ir à cozinha para ver se podia cozinhar algo fresco ou reaquecer a comida para ele.
Contudo, quando estava prestes a sair dos aposentos, viu uma empregada correndo em direção a ela.
A empregada trazia uma bandeja nas mãos. Quando se aproximou de Evelyn, esta viu que a bandeja estava repleta de diferentes tipos de pratos.
Evelyn pensou que a comida deveria ser para Regan, já que ele não havia jantado.
O aroma dos deliciosos pratos imediatamente inundou o nariz de Evelyn e ela não pôde evitar engolir em seco.
Sentiu-se envergonhada quando seu estômago roncou de repente e evitou os olhos da empregada. No passado, independentemente de quão faminta estivesse, seu estômago nunca fizera tais sons estranhos. Deve ser por causa do aroma destes pratos deliciosos que até seu auto engano de que não estava com fome não funcionava.
Entretanto, a empregada parecia muito apavorada para prestar atenção em Evelyn.
Olhou para Evelyn com um misto de choque e admiração antes de perguntar a ela
"Onde devo colocar isto?"
Evelyn deu um passo à frente e sussurrou
"Deixe que eu faço isso."
Pegando a bandeja das mãos da empregada, ela caminhou até a mesa e acomodou os pratos da bandeja lá. Olhando para os pratos já frios, Evelyn pensou se poderia pedir ao Regan se poderia comê-los.
Se ela devolvesse os pratos com a empregada, eles seriam descartados com outros resíduos.
Então, não seria melhor que os comesse?
Após um momento de reflexão, Evelyn colocou três pratos na bandeja e manteve apenas um para si mesma.
Ele não seria tão mesquinho a ponto de não deixá-la ter essa quantidade de comida, certo? ...especialmente quando a comida estava fria.
A empregada olhou para Evelyn e, em seguida, para a bandeja que tinha os pratos frios. Parecia querer dizer algo, mas no final, saiu em silêncio.
Evelyn virou-se e olhou para a mesa outra vez.
Desviou o olhar imediatamente quando sentiu tentação de comer a comida. Deveria esperar pelo príncipe e então pedir sua permissão para comer.
Felizmente, Regan retornou logo em seguida.
Não sabia se era sua ilusão, mas ele parecia mais frio do que quando havia saído dos aposentos.
Seria porque ela não seguiu sua ordem?
Mas ela havia feito o seu melhor.
Evelyn saiu de seus pensamentos quando ouviu Regan perguntando-lhe
"Você não está com fome?"
"Huh... sim... quero dizer não..."
Evelyn fechou a boca. Agora mesmo estava tão absorta em seus pensamentos que soltou a resposta sem pensar cuidadosamente.
Baixou a cabeça enquanto pensava no que deveria dizer em explicação. Ele já estava irritado. Ela não queria irritá-lo ainda mais.
Embora metade do seu rosto estivesse coberta, ela pôde ver pelo lado direito de sua testa que ele estava franzindo a testa profundamente.
"Se está com fome, por que não comeu?"
Evelyn ergueu a cabeça e viu Regan olhando para ela e em seguida para a comida na mesa.
piscou e depois engoliu.
"É... é para mim?"
Sua voz era quase um sussurro, mas Regan ouviu. O franzir na testa dele sumiu. Ele a encarou por alguns momentos e então assentiu com a cabeça.
"É para você. Vá e coma."
Nem é preciso dizer, Evelyn ficou chocada. Levou um momento para se recompor. Quando viu Regan caminhando em direção à cama, ela deu um passo à frente e o chamou.
"Aquilo... Vossa Alteza se juntaria a mim... quero dizer, a esta escrava?"
Evelyn se corrigiu logo. Na frente de seus antigos donos de escravos, não precisava se dirigir assim a si mesma mas, como Regan era um príncipe, ela teve que acostumar-se a este novo hábito.
Vendo que ele não se importava com seu erro, ela continuou
"Esta escrava... acabou de ver os pratos frios. Vossa Alteza não comeu, então como esta escrava..."
Sua voz foi se tornando cada vez mais baixa conforme continuava.
Ao final de suas palavras, Evelyn percebeu o quão estúpida sua proposta era.
Ele era um príncipe... um Príncipe Real. Ele não comeria com uma escrava.
Contudo, ela ficou chocada quando Regan assentiu com a cabeça e disse
"Venha."
Como uma novilha, Evelyn o seguiu silenciosamente.
Somente quando Regan sentou-se na cadeira, ela dobrou os joelhos para se sentar. No entanto, seu braço foi de repente pego num aperto firme, mas gentil.
Surpresa com o toque súbito, Evelyn se controlou para não jogar para longe a mão que tocava seu braço e olhou para Regan confusa.
Mas o último a olhava com uma carranca igualmente profunda.
"O que está fazendo?"
Evelyn olhou para Regan e então para o chão enquanto sussurrava
"Esta escrava estava sentando."
"No chão?"
Regan perguntou com uma expressão quase incrédula no rosto. Quando Evelyn assentiu confusa, seu rosto ficou duro como aço. Ele respirou fundo e então disse de repente.
"Vá e sente-se na cadeira."
Ele falou enquanto a sinalizava em direção à cadeira que estava colocada bem em frente a ele, do outro lado da mesa redonda.
Evelyn olhou para a cadeira e depois de volta para ele.
Quando Regan viu que ela não se movia, sua expressão piorou.
Vendo isso, Evelyn imediatamente foi em direção à cadeira. Era estranho sentar-se na cadeira confortável onde não sentia o frio do chão.
Baixou a cabeça e seus dedos tocaram inconscientemente o assento acolchoado sob seu traseiro.
Era muito macio.
Regan observou suas ações calmamente por alguns instantes antes de dizer
"Coma"
Evelyn imediatamente retirou as mãos e pegou a colher, e virou o prato posto na mesa.
Estendeu a mão para pegar o prato que tinha a refeição anterior, mas Regan o pegou antes que ela pudesse fazer isso e colocou outro prato na frente dela.
"Coma algo leve."
Evelyn entendeu o que ele queria dizer. Como estava comendo após três dias, deveria ter uma comida leve.
Contudo, sentiu-se conflitada ao ver Regan colocando calmamente os pratos frios em seu próprio prato.
Mas decidiu não falar mais nada para não o frustrar com suas falas.
Silenciosamente mexeu no mingau e o comeu.
Foi talvez a comida mais deliciosa que já havia comido. De fato, era a primeira vez que se lembrava de ter uma refeição quente.
Evelyn piscou para afastar a umidade que subitamente apareceu em seus olhos e encheu a boca com mingau para se distrair.
Quando terminou, levantou a cabeça, apenas para encontrar Regan olhando para ela enquanto se recostava em sua cadeira.
Abaixou a cabeça e perguntou-se se ele havia observado enquanto enchia a boca.
Seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu Regan dizer
"Arrume suas coisas. Nós vamos partir."
Ela ergueu a cabeça novamente ao ouvir essas palavras e olhou para Regan, que agora estava se levantando da cadeira.
Partindo?
Para onde?
Evelyn queria perguntar, mas ficou em silêncio porque não sabia se tinha o direito de perguntar.
Justo quando estava prestes a levantar-se da cadeira, viu Regan subitamente se virar. Sua capa azul voou ao redor devido ao movimento.
Um suspiro escapou dos lábios de Evelyn quando ele de repente colocou os braços sobre os braços da cadeira dela... e então se inclinou para se aproximar.
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