Marianne e Anastásia sentavam-se uma ao lado da outra, adormecendo e acordando de vez em quando. Viajaram pelo mar durante dois dias, assustadas e longe do lar que conheciam, o único que conheciam.
Na tarde do terceiro dia, o navio pirata finalmente alcançou o porto escondido e a âncora foi baixada nas águas. Logo os cativos foram levados de volta para a terra e colocados dentro do carro de transporte. Nuvens escuras pairavam acima deles, enquanto se moviam sobre o solo úmido.
Após uma hora, o carro de transporte parou abruptamente, e isso acordou Anastásia do seu breve sono. Levou-lhe alguns segundos para perceber que não estava em casa, mas em um território desconhecido com sua irmã Marianne.
Os olhos castanhos claros de Anastásia foram em direção à janela da gaiola, notando a grande parede cinza-escura ao lado do carro de transporte. O lugar parecia-lhe estranho.
De repente, um dos piratas, que as trouxeram até o local, abriu a fechadura da gaiola e ordenou: "Todos fora da gaiola. Agora!"
Um homem alto e louro estava ao lado, com aparência arrumada, barba feita e vestindo um uniforme vermelho e branco. Ele era um dos homens que trabalhavam no palácio e, atrás dele, estavam mais seis homens com uniformes similares. Ao lado dele estava uma mulher, robusta, mas vestida com um traje que era mais fino do que as pessoas de Hawkshead tinham o privilégio de ver até então.
"Quantos deles estão aqui?" Perguntou o homem loiro enquanto seus olhos observavam os cativos.
"São dezesseis. Seis mulheres, sete jovens garotas e três garotos," foi o líder dos piratas que respondeu. "Todos eles são saudáveis e podem ser bem aproveitados."
O homem de aparência arrumada virou-se para olhar para o seu subordinado. O subordinado assentiu, e logo uma bolsa de moedas de ouro foi atirada ao líder dos piratas.
"Apenas vinte moedas de ouro?" Questionou o líder dos piratas quando contou as moedas dentro da bolsa.
"Há quatro moedas extras ali. Considerando que você trouxe garotos jovens, estamos sendo generosos, a menos que você não queira fazer a troca," respondeu o guarda loiro sério. Ao ouvir suas palavras, os outros guardas colocaram as mãos sobre as espadas.
O líder dos piratas riu, passando a língua por seu dente de ouro, e sorriu: "Foi bom fazer negócios com você."
"Igualmente," respondeu o guarda, acenando com a mão para seus subordinados, "Escoltem os homens daqui."
Uma vez que os piratas sujos e maltrapilhos partiram com seu carro de transporte, uma das mulheres cativas rapidamente ajoelhou-se diante do guarda loiro. Ela implorou:
"Por favor, nos mande de volta para nossas casas, Senhor! Esses piratas nos capturaram à força e nos trouxeram aqui contra a nossa vontade!"
O guarda suspirou antes de dizer: "Sua vida vai mudar para melhor. Agora vocês estão no Reino de Versalhes e servirão à família real dos Blackthorns. Sirvam-nos bem o suficiente e serão recompensados de acordo. Seria prudente esquecer de onde vieram, porque a partir deste momento em diante, este será o seu lar," seus olhos passaram a olhar para os escravos que haviam sido trazidos, certificando-se de que todos estavam ouvindo e disse: "Se falharem em seguir as ordens e regras, serão punidos conforme e não será algo que gostariam—"
Uma das jovens mulheres levantou a voz: "Nós não somos escravas! Somos pessoas livres! Mandem-nos de volta—"
O guarda deu um passo à frente e agarrou seu pescoço: "Outra palavra e sua língua será arrancada da sua boca! Pagamos um belo valor por vocês, e agora são propriedade deste palácio. Madama Minerva," ele levantou a mão e a mulher robusta aproximou-se, com os cabelos presos num coque. Ele então chamou um dos guardas que estava por perto e ordenou:
"Leve os três garotos para o barracão da base."
Enquanto isso, Madama Minerva observava cada garota presente. Ela disse: "Quando eu apontar meus dedos para você, virá à frente e ficará do lado esquerdo. Você," ela começou a selecionar as jovens mulheres e garotas, que, uma a uma, iam para o lado, sem saber o que iria acontecer.
Finalmente os olhos de Madama Minerva pousaram em Marianne e Anastásia, que se abraçavam. Não foi difícil escolher pois ela notou quem era a mais bonita, já que ao seu lado estava a criança de aparência sem graça, que não parecia ter nenhum apelo. A mulher apontou para Marianne: "Você ali. A alta de olhos verdes. Vá para o lado. Vamos, não tenho todo o tempo."
Mas as irmãs tinham um mau pressentimento e continuavam abraçadas.
Madama Minerva virou-se irritada e levantou a mão para que um dos guardas se aproximasse.
"Não!" Marianne gritou quando foi arrancada de sua irmã.
"Mary!" Anastásia gritou pela irmã. Com mais energia, ela mordeu a mão do guarda que tentava separá-la de sua irmã. "Mary!"
Outro guarda agarrou com força os ombros de Anastásia, que tentava ficar ao lado da irmã.
"Solte-a! Anna!" Marianne gritou de volta, com as mãos estendidas tentando alcançar a outra, apenas para agarrar o ar.
Madama Minerva segurou o rosto inferior de Marianne com força e a fez calar, "Se não se comportar, ela será morta. Você não quer ter sangue nas mãos, quer? Seria prudente que siga o que estou dizendo."
Os olhos de Marianne arregalaram-se ao ouvir aquelas palavras, e ela virou-se para olhar para sua irmã, que continuava a se debater para se libertar. Ela rapidamente implorou: "Por favor, não a machuque!"
Madama Minerva estudou o rosto de Marianne antes de dizer: "Que rosto bonito você tem. Eu me sentiria mal se uma marca fosse deixada nele." Ela então baixou a cabeça para encontrar o olhar da garota e sussurrou: "Sinta-se sortuda por ser escolhida por mim. Você não gostaria de estar onde as outras estão. Siga-me agora." E ela começou a se afastar dali.
Lágrimas deslizavam pelo rosto de Anastásia ao ver sua irmã partir com a mulher. Ela soluçava: "Mary! Não! Eu quero estar com minha irmã!!"
Quatro mulheres jovens e três garotas incluindo Anastásia foram deixadas para trás, enquanto as outras foram levadas. Logo os homens de uniforme também partiram, e outro homem apareceu diante delas. Ele tinha uma aparência magra e vestia uma túnica preta. Olhou para as escravas que foram deixadas para trás, e disse:
"Eu sou Norrix Gilbert, responsável pelos serviçais. Vocês vão me chamar de Senhor Gilbert. Parece que todas vocês deram azar. As outras vão se tornar cortesãs e ter uma vida melhor, enquanto o resto de vocês..." um sorriso sinistro surgiu em seus lábios, "Vocês serão as serviçais do palácio. As mais baixas das baixas. Levem-nas para dentro!" Ele ordenou a um dos criados treinados.
"Me leve até minha irmã! Onde vocês levaram a Mary!"
Anastásia não parou de lutar, pois queria correr para onde sua irmã estava, e quando Norrix viu isso, seus olhos se estreitaram para a criança insolente. Ele aproximou-se e segurou o rosto dela com força:
Norrix comentou: "Simples como massa. Você está destinada a ser uma serviçal. Parece que você não entendeu o foi dito e precisa ser disciplinada. Coloque-a na sala de isolamento," ordenou ele a outro criado. Mas o criado pareceu hesitante, já que ela era apenas uma jovem garota. "Você ficou surdo que não pode entender o que eu disse?" Ele levantou as sobrancelhas em pergunta, e a jovem garota foi arrastada dali e trancada na sala de isolamento.
Uma jovem Anastásia foi empurrada para a sala de isolamento, um cômodo que deveria ser usado como local de punição construído debaixo da terra. Não havia janelas nem uma pessoa para ouvir. Deixada sob a misericórdia da escuridão.
"MARY!" A garota jovem gritou por ajuda da irmã. "MAMÃE! PAPAI!!"
Anastásia ficou assustada, incapaz de ver qualquer coisa e deixada em um silêncio arrepiante de escuridão. Ela gritou com sua voz pequena: "Me soltem! Socorro! Mary!"
Mas não importa o quanto ela gritasse por ajuda, ninguém veio em seu socorro, como se ela tivesse sido deixada de lado de vez. Ela ficou ansiosa, e bateu suas pequenas mãos na parede que acreditava ser a porta. Nas primeiras duas horas, ela gritou. Na terceira hora, sua garganta ficou rouca e dolorida. Ela chorou e soluçou, assoando. Ela esperou que alguém viesse, e quando ninguém veio visitá-la nas primeiras seis horas, isso a fez gritar por socorro novamente, antes de finalmente ficar em silêncio.