O que você faria se de repente se encontrasse em um corpo diferente? Um corpo estranho? Imagino que seu cérebro ficaria nublado de confusão. Foi exatamente assim que Alícia se sentiu ao olhar seu reflexo no espelho.
O pensamento lhe ocorreu de pedir um espelho a Paulina, pois sentia que obteria algumas respostas se começasse vendo sua aparência, porque algo lhe dizia que isso era mais do que estava supondo. Talvez a estivessem confundindo com outra pessoa e ela queria saber o porquê.
Ela seguiu Paulina até a pequena casa antiga e pegou o espelho de mão dela para se olhar.
"PUTA QUE PARIU!" Ela exclamou em voz alta o suficiente para causar um terremoto, assustando Paulina.
Ela estava diferente. O que aconteceu com seu rosto? Seu cabelo? Ela se perguntava alarmada ao mesmo tempo que tentava se manter calma e não entrar em pânico. Nada aconteceria se ela entrasse em pânico. Uma parte dela esperava isso, não importa o quão tolo e absurdo o pensamento tivesse sido.
"Minha senhora, por favor... você deveria deitar na cama e esperar o médico." Paulina implorou.
"Que ano é este?" Alícia virou para perguntar calmamente.
'Por favor que seja 2020. Por favor que seja 2020.' Ela rezava em silêncio. Se fosse 2020, então ela provavelmente seria capaz de fazer algo sobre a situação atual, mesmo que tudo parecesse absurdo.
"1503," Paulina respondeu hesitante. "Você... realmente não se lem— minha senhora!" Ela engasgou quando Alícia caiu no chão, parecendo perdida.
O que ela ia fazer? Como chegou aqui? O que estava acontecendo com ela? Como ia voltar? Por que o universo estava pregando uma peça cruel nela? Por que as coisas de repente tinham que dar errado justo quando ela tinha visto a luz no fim do túnel? Ela tinha um trabalho promocional marcado com a empresa P & J, pelo amor de Deus!
"Você." Ela virou o olhar para Paulina, que a olhava ansiosamente. "Você... não tem um celu—" Ela balançou a cabeça e reformulou a pergunta. "Você sabe o que é um celular?"
Paulina assentiu vigorosamente, fazendo os olhos de Alícia se abrirem cheios de esperança.
"Sério? Você sabe onde posso encontrar um?"
"Minha senhora!" Ela chorou. "O que você quer fazer em uma cela? É sujo e fede."
"Como assim?" Alícia perguntou, a esperança que tinha morrendo lentamente. "Eu disse um celular!"
"Não sei se é assim que chamam as prisões agora," Paulina disse entre lágrimas.
"Isto é realmente 1503?" Ela perguntou novamente, gradualmente conformando-se com sua realidade.
Paulina assentiu novamente e levantou-se do piso de mármore para buscar algo dentro de um pequeno baú de madeira ao lado da cama minúscula.
Paulina retornou com um pequeno livro e o entregou a ela.
"Este é seu diário, minha senhora. Talvez você possa se lembrar de tudo sobre si mesma depois." Paulina ofereceu o livro, que ela pegou hesitante.
Ela não conseguia fazer isso. Ela não conseguia viver aqui. Tinha que sair. Ela se levantou do chão e virou em direção à porta, mas Paulina apressou-se a ficar na frente dela.
"Por favor, minha senhora. Você precisa ficar dentro. Madame Grace está vindo com o médico para examiná-la. Tem sido seu desejo retornar ao palácio. Por favor, fique dentro para que possa ser devidamente examinada."
"Paulina, certo?" Alícia perguntou e a garota assentiu.
"Me leve até onde você me encontrou. Você me salvou de afogamento, certo? Preciso voltar lá."
"NÃO! Minha senhora, você não pode voltar para dentro da vila. Se alguém descobrir que você esteve lá, todos nós podemos ser mortos e Madame Grace nos faria passar fome. Por favor, minha princesa." Ela se ajoelhou e chorou.
Alícia não podia deixar de sentir simpatia pela garota. Em que ela tinha se metido?
Não havia como ela sair agora vendo como Paulina estava chorando. Ela não era tão insensível a ponto de fazer isso com a pobre garota. Então ela decidiu esperar até a noite e fugir.
Ela tinha que encontrar o caminho de volta para o rio de onde tinha sido salva e retornar para sua vida real. Ela não podia viver aqui. Nunca!
Ela supôs que devia ser por volta das 19h. Já que obviamente eles não tinham TV nem celular, ela assumiu que teriam dormido por volta das 21h. Ela iria escapar custasse o que custasse, Alícia resolveu no coração.
Uma hora depois, Alícia sentou-se pacientemente enquanto o médico verificava seu pulso e continuava a cantarolar. Depois, ele colocou os dedos em suas têmporas, provavelmente checando também o pulso ali. Quando ele terminou tudo, virou para olhar Madame Grace, que a encarava com preocupação.
"Ela parece bem. Deve ter sido o choque do incidente. Com o devido descanso, ela deve ficar bem até amanhã."
Alícia decidiu não chamar muita atenção para si mesma. Se quisesse que seu plano fosse bem-sucedido, teria que jogar o jogo deles e tirá-los das suas costas. Então, quando o médico saiu, ela se deitou na cama. Ela estava faminta, mas esse era o menor dos seus problemas. Ela tinha que voltar para casa. Ninguém acreditaria nessa história!
"Minha senhora,"
Ela suspirou quando ouviu Paulina chamá-la. A garota era gentil, mas estava começando a irritá-la.
"Estou aliviada por não ser nada grave. Por favor, sente-se e jante."
Jantar?
Alícia se sentou e olhou esperançosa, mas o sorriso em seu rosto desapareceu quando viu o pequeno prato na mão de Paulina.
"O que é isso?" Ela perguntou, franzindo a testa em confusão.
"Jantar, minha senhora. É seu preferido. Você gosta de milho assado." Ela disse antes de colocá-lo em um banquinho ao lado da cama.
Alícia olhou para as duas espigas de milho que tinham sido assadas e olhou para Paulina.
"Me mate logo!" Ela suspirou, resignada.