Chapter 34 - Capítulo 32

Olá, leitores!

Este é um dos capítulos mais especiais desta história. Gostaria de convidá-los a ler o capítulo enquanto escutam a música "Elysium", do compositor David Michael Tardy. Podem deixar no looping (disponível no YouTube e Spotify). Acredito que ela traz a vibe e sentimento que quero transmitir neste capítulo.

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PICCOLO

Eu flutuava em um lugar sem forma e vazio.

Tudo era preto, exceto por uma luz que iluminava somente a mim. Era impossível distinguir de onde ela vinha; do alto, dos lados, de baixo? Não sei.

Ela apenas estava lá.

Sob meus pés, até onde meus olhos podiam ver, havia um oceano sem fim. Sua superfície movia-se lenta e suavemente. Nada além do som das pequenas ondas preenchia aquele lugar. 

Até que eu a ouvi. Primeiro soando como a Voz de muitas águas, sussurrando meu nome até aumentar e tornar-se como a Voz de um grande trovão.

Eu não estava sozinho.

— Piccolo… — ressoou a Voz. — Piccolo…

— Quem é você? — perguntei, ansioso, procurando por toda a parte.

Houve uma pausa, até que a Voz respondeu:

— Eu sou o que sou. Mas, você pode me chamar de Amigo.

Fez-se silêncio. Olhei ao redor, mas eu não via ninguém.

— Eu… Eu não entendo…

— Eu sou a Voz que te repreendeu naquele dia; o dia em que você pesou sua mão e feriu aqueles que são preciosos para mim.

Um ar quente passou pelo meu corpo, erguendo minha capa, mas senti calafrios ao me recordar daquele dia. Sim… Eu me lembrava daquela Voz muito bem. Foi ela quem alertou o meu coração quando vi o corpo machucado de Lettie nas Águas Termais e também Gohan com um grande olho roxo.

Ambos feridos pelas minhas mãos.

O mesmo sentimento de culpa que senti naquele dia me invadiu outra vez, e baixei minha cabeça ao me recordar o quão impiedosamente fiz Lettie e Gohan sofrerem por minha causa. Minhas ombreiras pesaram cem vezes mais.

Mas a Voz falou de novo, mansa, suave e gentil:

— Piccolo, eu não vim aqui para te acusar. Eu vim para te ajudar.

Uma respiração trêmula escapou da minha garganta. Sem conseguir me conter mais, confessei em um sussurro amedrontado:

— Estou com tanto medo…

— Sim, meu filho, eu sei…

Ao ouvir como a Voz me chamou de "filho", um grande acalento adentrou meu peito. Era tão bom, tão reconfortante… Muito similar quando Kami-sama me chamava assim…

Eu já sentia falta dele.

Contudo, apesar da saudade de Kami-sama, eu estava confuso. Tínhamos realizado a fusão. Eu estava mais forte. Sabia disso.

O que eu estava fazendo naquele lugar?

Então, como se lesse minha mente, a Voz disse:

— Quero te mostrar uma coisa, e quero que preste atenção.

Por alguns segundos, nada aconteceu, no entanto, logo o negrume ao meu redor se contorceu de repente, como nuvens se embolando umas nas outras. Então, uma grande imagem apareceu diante de mim; a imagem de uma pessoa que eu conhecia muito bem.

Lettie.

Estendi minha mão, como se quisesse tocá-la. Lá estava ela, sentada em um banco do que parecia ser uma academia muito velha, desgastada e mal iluminada, rodeada por pessoas bem estranhas e sinistras. Ela usava seu velho kimono branco e enrolava uma faixa branca na mão direita. Seu rosto estava ocultado pelas sombras. A imagem então se aproximou dela e eu vi: uma silenciosa lágrima escorrer pelo seu rosto. Ao analisá-la com atenção, percebi que ela estava na idade em que a conheci ao ser raptada por Raditz.

Levei um susto ao reconhecer aquele lugar: a arena clandestina onde ela morava.

No mesmo instante, li seus sentimentos: profunda tristeza e melancolia. Lettie definitivamente odiava estar ali. Parecendo cansada, ela levantou-se, passou por um homem que assoviou para ela, mas o ignorou, não sem antes demonstrar uma feição de puro nojo pelo sujeito.

Meu sangue ferveu ao ver aquela cena, mas não tive tempo de me irritar, pois a imagem se contorceu de novo e agora eu via Lettie lutando na arena clandestina, cercada por dezenas de pessoas muito piores do que vi na academia.

Ela estava um pouco mais nova do que a imagem anterior, e lutava contra o seu adversário vestindo um conjunto velho de moletom azul. Decerto aquele era o seu uniforme antes de conseguir comprar o kimono branco.

Apesar dos golpes de Lettie não serem os melhores (afinal, ela ainda não havia tido um professor naquela época), senti orgulho em como ela acertava seu oponente com proeza. Entretanto, meu coração também doeu ao vê-la sendo atingida pelo brutamonte sem um pingo de piedade.

Li seus sentimentos enquanto ela travava aquela luta. Lettie estava desesperada para ganhar, não pelo mérito do prêmio ou por glória, mas porque, se ela não ganhasse, não teria como comprar a despesa da semana e passaria fome.

Uma onda de mal-estar me atingiu ao assisti-la naquela situação lastimável, e desejei entrar naquela cena e acabar com aquele adversário eu mesmo. Mas a imagem mudou novamente. Agora, eu via Lettie ainda mais jovem, apenas uma adolescente. Além de ser surpreendido ao vê-la tão nova, surpreendi-me ao descobrir que ela tinha longos cabelos negros, que chegavam até o seu quadril.

Lettie estava parada na frente de um espelho de um banheiro imundo, com o rosto inteiro inchado com golpes que decerto levara de alguma luta. Mais lágrimas caíam aos montes dos seus olhos roxos. Após soltar um soluço de desgosto, ela pegou uma tesoura da pia e começou a cortar os seus cabelos, enquanto chorava copiosamente, até eles ficarem curtos como eu conhecia hoje.

Eu tremia por inteiro ao testemunhá-la sentindo-se tão devastada e derrotada, lamentando por perder seus belos cabelos. Porém, a imagem seguinte me explicou o porquê ela precisou cortá-los. Outro adversário, ambos naquela mesma arena, a segurava pelo rabo de cavalo e socava-lhe o rosto sem parar.

Foi como se garras arrancassem minhas entranhas ao ver Lettie sendo esmurrada. Mas a imagem trocou de novo. Eu agora a via, ainda mais nova, e na hora eu soube qual momento de sua vida era aquele: quando viveu nas ruas aos catorze anos. Ainda com seus longos cabelos, ela se escorava no canto de um beco escuro e hediondo, devorando um pão velho e muito duro. Seus olhos azuis destacavam-se em seu rosto sujo, com desenhos de filetes de lágrimas sendo a única parte limpa.

Tamanha foi a aflição que senti ao ver minha doce e amada Lettie abandonada daquele jeito que apertei minhas mãos até eu machucar minha pele.

E então, diversas outras imagens apareceram diante de mim, mas nítidas o suficiente para eu saber o que eram: Lettie sendo expulsa do seu último abrigo após surrar o menino que queria abusar dela; Lettie recebendo ordens e gritos dos seus antigos tutores; Lettie sendo alvo de maldades e chacotas de outras crianças que a zombavam por acharem-na esquisita; Lettie devastada ao descobrir que aquela gentil senhora bondosa que cuidou dela havia morrido de forma repentina…

Em cada uma das imagens, ela ia ficando mais nova, e em cada uma delas, eu lia como só havia dor e sofrimento em seu coração.

As lágrimas já escorriam livremente pelo meu rosto quando enfim assisti a última imagem que apareceu: uma mulher corria com uma bebê nos braços, olhando para trás de um modo desesperado. Ao redor, a paisagem era vermelha e cheia de destruição, com fumaça e fogo caindo pelos céus. A mulher era muito parecida com Lettie, mas usava uma armadura que eu conhecia muito bem: uma armadura típica dos Saiyajins, na cor verde. A bebê em seus braços estava enrolada numa manta, mas sua cauda peluda despontava para que qualquer um ali visse que aquela bebê também era uma Saiyajin.

A mulher então chegou a uma caverna isolada, olhando para trás para ver se alguém as seguiam. Após se certificar de que estavam seguras, ela caminhou até chegar em frente a um objeto iluminado por um facho de luz que vinha de um grande buraco no teto da caverna: uma cápsula.

Após abri-la, ela delicadamente colocou a bebê lá dentro, a qual soltou um chorinho manhoso e encarou sua mãe com seus olhos azuis. Depois, colocou um bilhete dobrado dentro da manta, certificando-se de que estava seguro.

— Minha pequena Lettie… — A mulher acariciou as bochechas da recém-nascida, derramando lágrimas carregadas de pesar. — Espero que você tenha a chance que eu não terei. Mas não se preocupe. Tenho fé de que, um dia, você encontrará alguém que irá te proteger e te fazer feliz, e você nunca mais estará sozinha. Você é muito especial.

Dito isso, ela beijou a cabeça de sua bebê, soluçando com a dor de precisar abandonar sua filha. Todos os seus sentimentos me inundavam como um tsunami avassalador e impiedoso.

A mulher fechou a cápsula, a ligou e assistiu sua filha partir pelos céus e pelo Universo afora em busca de salvação, enquanto ela permanecia em um mundo caindo aos pedaços.

Tudo voltou a ficar preto, e um silêncio absurdo me envolveu.

Se eu não estivesse flutuando sobre aquele oceano sem fim, eu teria caído de joelhos, tamanha fraqueza acometeu minhas pernas após eu testemunhar a terrível vida de Lettie.

Chorei amargamente. Minha dor de cabeça atingiu o ápice.

— Por que… P-Por que você me mostrou isso? — Cerrei meus dentes, cabisbaixo. — Qual é o sentido?

— Eu ainda não terminei — respondeu a Voz, mantendo seu tom calmo como as águas.

Outra imagem apareceu, e ergui meu olhar. Ainda mostrava Lettie, em uma cena muito familiar para mim: o dia que ela riu pela primeira vez na minha presença quando brincamos de guerra d'água nas Águas Termais.

Outras cenas se sucederam àquela; Lettie sorrindo ao aprender uma nova técnica comigo em nosso Treinamento contra os Saiyajins; Lettie fazendo cócegas em Gohan ao redor da fogueira do nosso velho Acampamento; Lettie cozinhando sua sopa e compartilhando alegremente conosco; Lettie me abraçando emocionada no dia em que a ensinei a voar e dizendo que se considerava a mulher mais feliz do mundo; Lettie brincando de exploradora com Gohan e eu nas horas vagas; Lettie me derrotando com orgulho no nosso último dia de Treinamento; Lettie conversando comigo sobre buscar novos sonhos na última noite no Acampamento…

E depois, Lettie ganhando sua casa de Chi-chi; Lettie encontrando Naíma abandonada na estrada; Lettie abraçando Naíma ainda bebê em sua banheira e dizendo que ela era sua para sempre; Lettie me reencontrando no dia em que retornei para Terra…

Nossos incontáveis e gratificantes fins de semana juntos, com Naíma e Gohan; quando me tornei professor em seu Dojô; os últimos três anos de Treinamento para a chegada dos Androides com Goku e sua família…

E por último, vi a imagem do nosso beijo em sua cozinha. Era tão estranho assisti-lo em terceira pessoa, como um espectador vendo um casal de um filme. Porém, ao mesmo tempo, era tão bom me recordar daquele momento que, apesar de ter sido um desastre no final, foi tão maravilhoso para mim.

Diferente das imagens anteriores da vida passada de Lettie, as quais possuíam uma atmosfera sombria e de tristeza, essas novas imagens eram mais coloridas, cheias de vida e exalavam um profundo sentimento de alegria. 

Entretanto, apesar da felicidade que aquelas cenas me traziam, eu ainda estava muito, muito confuso com tudo aquilo.

Mas a Voz então me disse:

— Piccolo, você viu como Lettie só foi ser feliz a partir de quando você chegou na vida dela? Que ela só se sentiu segura quando esteve com você?

Meus olhos encheram-se de lágrimas, pesadas e ardentes.

— Não… — Funguei, sacudindo a cabeça e fechando os meus olhos com força. — Sua felicidade veio por causa de Gohan. Ele é sua família.

— Sim, isso é fato. Mas Lettie não escolheu Gohan, Goku ou Chi-chi para serem sua família. Eles simplesmente são, porque compartilham do mesmo sangue ou vínculo. Agora, você, em contrapartida, foi escolhido. Lettie te escolheu para ser sua família. Você é aquele o qual a mãe dela falou. Você irá protegê-la e fazê-la feliz, e nunca mais vai deixá-la se sentir sozinha.

Meu coração pulsou forte.

Lettie me escolheu… Dentre bilhões de pessoas no mundo, ela me escolheu…

Era eu quem a iria proteger? Era eu quem a iria fazer feliz? Era eu quem nunca mais a deixaria sentir-se sozinha?

— Não! — neguei outra vez, incapaz de acreditar naquilo. — Eu a fiz sofrer, e muito! Física e emocionalmente. Não mereço ser esse homem que ela deseja! — Eu ofegava conforme a angústia tomava conta de mim. — Q-Quando eu olho para trás, não vejo nada do que eu possa me orgulhar!!!

— Não olhe para trás, olhe para mim! — ecoou a Voz, firme. — Quando você e Lettie estiveram no seu pior momento, e vocês se sentiram esmagadoramente sozinhos, eu não virei a minha face de vocês. Eu os vi e os amei. Você disse a ela que ninguém pode te ajudar. Eu posso!

A Voz transmitia tamanha autoridade e convicção, que por um instante, acreditei que, de fato, aquilo poderia ser verdade. Contudo, aquela outra voz, sibilante e maligna, tão conhecida para mim, começou a me rondar mais uma vez, e as dúvidas me dominaram.

— Meu Inimigo é muito forte… — eu disse, sentindo-me derrotado. — Não consigo vencê-lo… Ele anda ao meu redor como um leão, rugindo e me procurando para me devorar…

Trazendo um vendaval consigo, a Voz tornou-se mais forte e mais poderosa:

— Ele é mentiroso! Um homicida desde o princípio, e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele! Quando mente, fala sua própria língua, pois é pai da mentira! Acha mesmo que os seus verdadeiros inimigos são seres como os Saiyajins, Freeza, os Androides ou qualquer outro com que você possa lutar com seu corpo?! A sua luta não é contra o que você pode ver!

Paralisei com aquela declaração, tentando entender o que ela significava. Quer dizer que, todas as palavras ardilosas que ouvi do meu Inimigo durante os últimos anos eram… mentiras e enganos?

— M-M-Mas — gaguejei, ainda mais confuso —, eu tive um sonho! Eu o vi matando Lettie e os nossos filhos! ELES MORRERAM!!! NA MINHA FRENTE!!!

— Sim, é isso o que ele faz! — A Voz transmitia tamanha clareza que fazia meu peito expandir. — Ele pega o seu sonho, que é tão belo e extraordinário, e o distorce até se parecer com algo vil, doentio e maligno. Ele sabe os seus medos mais profundos e mostra exatamente o que você mais teme.

Todos os meus membros formigavam conforme eu ouvia a alegação daquela Voz, a qual cada sílaba parecia dissipar da minha mente toda a névoa que me enganou por todo esse tempo.

Mesmo assim, o medo ainda me dominava, a tal ponto que não consegui conter um clamor de sair pela minha garganta:

— Mas… Ele disse que eles iriam morrer… — Minha palavras engasgaram com o meu choro. — Ele disse… 

— EU CALAREI A BOCA DO SEU INIMIGO! — ressoou a Voz, cheia de autoridade. — E lhe darei o poder para também calá-la!

Fez-se silêncio.

Então, uma leve brisa aconchegante passou por mim, abraçando-me como se eu fosse uma criancinha.

— Ah, Piccolo… — A Voz era como um pai carinhoso. — Ouça-me com muita atenção. Uma sentença foi proferida sobre você. Tristeza, morte e amargura. Mas hoje, eu anulo esta sentença. Te tiro das trevas e da sombra mortal. Tua vida será de alegria e paz, até o fim dos seus dias, que não serão poucos. Você não nasceu para seguir os caminhos de Piccolo Daimaoh e perecer como ele. Você nasceu para ser o líder da sua família.

O quê?

Líder da minha… família?

Diante de mim, revivi todas as imagens do sonho que tive na minha morte, todas as partes boas, em que treinei com os meus filhos, fui recebido com carinho por Naíma, almocei com a família de Goku, e amei Lettie nas Águas Termais.

Será mesmo que aquele era o meu real destino? Ser… feliz? Ser feliz ao lado daqueles que amo? 

Parecia bom demais para ser verdade…

— Mas… — repliquei, suplicante. — E se… o meu Inimigo voltar?

Mesmo não vendo, de algum modo, pareceu que a Voz sorriu.

— A partir de agora, você terá um Amigo — garantiu ela. — Sou eu quem te segurará pela mão e dirá: não tenha medo, eu te ajudarei, pois te chamei pelo nome. Quando você atravessar as águas, elas não o encobrirão; quando andar através do fogo, você não se queimará. Tua esposa será tua companheira, e grande será a paz das tuas crianças, nesta e em qualquer outra linha do tempo.

Não precisou que uma cena aparecesse diante de mim para eu imaginar com clareza a imagem de nossa família: Lettie ao meu lado, Naíma, os gêmeos… E até mesmo a família de Goku conosco.

Todos unidos. Todos em paz.

Pouco a pouco, as palavras daquela Voz adentraram meu coração, extinguindo e assoprando para longe todo o terror que senti nos últimos anos, curando minhas feridas com o mais refrescante dos bálsamos. 

Pela primeira vez durante muito, muito tempo, as lágrimas que escorreram pelo meu rosto foram da mais pura felicidade e contentamento.

Minha dor de cabeça cessou por completo. Um sorriso se formou nos meus lábios, e não acho que ele iria sumir tão cedo.

— Muito obrigado. — Foi tudo o que consegui dizer diante da força que me tomava naquela hora; uma força que não vinha apenas do meu corpo com a fusão com Kami-sama, mas uma força revigorante que vinha da minha alma.

— Vá agora! — incentivou a Voz, compartilhando da mesma alegria que a minha. — A batalha está apenas começando! Seja forte e corajoso!

Após ouvir a frase que eu tanto disse para Lettie e Gohan em nossa luta contra os Saiyajins, meu corpo foi puxado para baixo. O oceano me engoliu e a escuridão me tomou novamente.

Abri os olhos, arquejando para recuperar meu fôlego, e lá estava eu, de volta no jardim do Templo, para o mesmo lugar e hora em que eu havia feito a fusão com Kami-sama. O tempo voltou a passar.

Meu coração disparava, dilatado, ainda remoendo a experiência que acabei de vivenciar. Por alguns segundos, fiquei parado, prestando atenção em mim mesmo. Uma grande leveza me inundava. A esperança gritava em meu âmago.

Lembrei-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Lembrei-me bem disso tudo, quando a minha alma desfaleceu dentro de mim.

Todavia, a misericórdia me alcançou, e lembrei-me também da esperança.

Sim, ainda há esperança…

Onde estava o medo?

Onde estava a tristeza? 

Onde estava a dúvida? 

Onde estava o desespero da morte?

E, acima de tudo, onde estava o meu Inimigo?

Eles não existiam mais.