Chapter 36 - Capítulo 34

Olá, queridos leitores! 

Espero que tenham tido uma boa passagem de ano!

Desde que comecei a assistir Dragon Ball Z por influência do meu marido, anos atrás, fiquei com muita vontade de aprender artes marciais. Esse desejo finalmente se tornou realidade no ano passado, quando comecei a praticar Karatê em um Dojô tradicional da minha cidade, e ainda por cima na companhia do meu marido.

Essa experiência tem sido incrível e me inspirado de várias formas! Recentemente, também comecei a assistir Cobra Kai e estou adorando as primeiras temporadas. Com as aulas de Karatê e os episódios da série, aprendi que talvez "Escola de Artes Marciais" não fosse o termo mais apropriado para descrever a escola da Lettie na fanfic. O termo "Dojô" reflete melhor esse tipo de ambiente.

Por isso, a partir deste capítulo, a escola da Lettie será chamada de "Dojô". Além disso, quem reler os capítulos anteriores perceberá que já ajustei todas as menções ao termo antigo para o novo.

Agradeço de coração a todos vocês pelo apoio e carinho até aqui! Que 2025 seja um ano maravilhoso, cheio de boas leituras e momentos incríveis!

Com carinho,

Nathalia Croft

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PICCOLO

Ah, como eu estava leve! Como era maravilhosa a paz que eu sentia!

Eu mal podia acreditar… Eu voava lado a lado com aquela que agora era a minha… noiva!

É… Era isso mesmo! Eu e Lettie estávamos NOIVOS!

Como o pior dia da minha vida de repente se tornou o melhor?

Mas, não estávamos em condições de parar e comemorar. Tínhamos uma guerra contra os Androides pela frente, e precisávamos chegar ao local da luta o mais rápido possível. Os outros guerreiros precisavam da nossa ajuda.

— Piccolo… — chamou Lettie. — Por favor, me desculpe.

Virei-me para a minha noiva, muito confuso.

— Por que diz isso?

Ela baixou a cabeça, seus cabelos balançando com a alta velocidade com que voávamos, mas percebi seu olhar abatido.

— Por culpa minha, precisamos deixar o campo de batalha e abandonar os nossos companheiros. Deixamos Gohan, Kuririn e Tenshinhan à mercê do Androide 20. — Seus olhos ficaram vermelhos. — E-Eu… Eu me senti tão inútil enquanto lutava contra aquele Androide… Não consegui derrotá-lo! Foi tão… vergonhoso. — Ela me olhou com profundo pesar. — Que tipo de guerreira Saiyajin eu sou?

Meu coração apertou. Sem hesitar, aproximei-me dela e entrelacei nossos dedos.

— Você é o tipo de guerreira que se esforçou ao máximo para esta luta e percebeu que, infelizmente, nossos adversários são muito mais fortes do que calculamos. Falo isso por mim, também.

Lettie apertou minha mão de volta e forçou um pequeno sorriso.

— Obrigada. Só você para fazer eu me sentir melhor. — Ela respirou fundo. — Acha que ainda temos chance de derrotar o Androide 20? Querendo ou não, o Androide 19 já foi eliminado. Se o 20 também for destruído, aquele futuro terrível que Trunks contou nunca irá acontecer, não é?

Pressionei os lábios, pensativo.

— Sim, talvez tenhamos uma chance. — Não consegui conter um sorriso brincalhão. — Agora, mais do que nunca, eu tenho um motivo para vencer esta luta. Não terá Androide neste mundo que me fará desperdiçar a oportunidade de me casar com você.

— Puxa vida! — Lettie soltou uma risada calorosa. — Você realmente está muito apaixonado E impaciente. Estou gostando dessa sua nova versão.

— Para a sua informação, senhorita, no fundo, eu sempre fui assim, só não conseguia… hã… externalizar. Saiba que desde que morri e tive aquele sonho, quero me casar com você, com tudo o que tenho direito, tá? Quero poder ficar te olhando sem precisar disfarçar, quero te abraçar quando eu quiser, quero te beijar, fazer amor a madrugada toda e–

Prendi a respiração. Droga! Pela segunda vez, deixei a minha língua falar mais do que eu deveria. O amor de fato nos faz passar por algumas humilhações. Que ridículo!

Lettie me encarava, muito vermelha. Porém, apesar de enrubescida, minha noiva não escondeu uma expressão travessa e um brilho nos olhos. Ao ler os seus sentimentos, percebi que ela sentia um profundo contentamento e alegria. Apertamos nossas mãos um pouco mais forte.

Com Lettie era assim. Qualquer assunto constrangedor se tornava divertido.

Contudo, algo abalou nossa diversão. Ou melhor, alguém.

— Sr. Piccolo! Sra. Lettie! — exclamou ninguém menos do que o Trunks do futuro, de olhos arregalados. — O-O que estão fazendo aqui??

Como era estranho ver a versão adolescente daquele bebê que vimos há poucas horas com Bulma naquele platô. Lettie parecia pensar o mesmo, pois também o fitou com espanto.

— Trunks?! — repliquei. — Pergunto o mesmo. Você realmente veio!

Fez-se silêncio, e olhei para Lettie. Ela ainda mirava o garoto, mas agora, seus olhos brilhavam com as lágrimas que se formavam neles.

Então, ela de repente impulsionou-se para frente e o abraçou.

— Ah, Trunks, querido!!! — Chorou Lettie. — Estou tão aliviada de que você esteja bem! Por favor, diga-me como está a sua mãe… Diga-me como está Naíma!

Por um momento, eu quase tinha me esquecido de que Lettie havia criado um vínculo com o bebê Trunks. Agora, seu comportamento preocupado com sua versão jovem fazia sentido. No entanto, mais do que isso, por um momento, eu também havia me esquecido de que a versão adulta da minha pequena filha existia no futuro dele.

De início, Trunks ficou confuso com o abraço repentino de Lettie, mas logo, ele a abraçou de volta, decerto permitindo-se sentir o calor materno que ela irradiava com seu gesto carinhoso.

— Estamos todos bem e seguros — respondeu ele ao se afastarem. — Minha mãe está saudável e Naíma continua muito inteligente. Ambas disseram que estão com muitas saudades.

Lettie não escondia sua emoção.

— Fiquei tão preocupada de que algo horrível tivesse acontecido com vocês! Mas agora, ouvindo suas notícias, acho que o meu coração vai explodir!

De fato, quando li os sentimentos de Lettie, uma grande esperança emanava dela. Seu sorriso de alívio contagiou tanto Trunks quanto eu.

— Também estou contente em saber que vocês dois estão bem. — Trunks então me olhou de cima a baixo com profunda admiração. — Caramba, Sr. Piccolo! Sinto um grande poder vindo do senhor! Por acaso… se fundiu com Kami-sama?

— Sim — confirmei. — O momento era oportuno e realizamos a fusão.

— Oh! — Trunks abriu um sorriso. — Então, pelos meus cálculos, vocês dois também já se reconciliaram?!

Lettie e eu trocamos olhares surpresos. O garoto realmente não perdia uma.

— Sim… — respondeu minha noiva com um sorriso tímido. — Inclusive, Piccolo já me pediu em casamento.

— É verdade?? — A feição de Trunks iluminou-se. — Que maravilha!

— Você… hã… Você está convidado para a cerimônia, se quiser — acrescentei, meio sem jeito. Ainda era constrangedor para um cara durão e fechado como eu conversar sobre assuntos tão íntimos com outras pessoas além da minha noiva.

— Muito obrigado — respondeu ele. — Só espero que eu ainda esteja vivo para assistir à cerimônia.

Fez-se um pesado silêncio.

— Ah… — Trunks limpou a garganta, cabisbaixo. — Desculpem-me. É que… estou tão acostumado a viver num mundo cheio de tragédias, que mal dá para acreditar que algo bom aconteça em meio a tudo isso. — Ele ergueu a cabeça e forçou um sorriso. — Bom, de qualquer modo, mal posso esperar para contar a notícia a Naíma! Ela ficará muito feliz! Tomara que eu conheça sua versão criança nesta linha do tempo. 

— Tenho certeza de que ela irá te adorar — replicou Lettie, mantendo o mesmo tom otimista.

— A propósito, onde ela está? — indagou Trunks.

— No Templo com o Sr. Popo — respondi. — Achei perigoso deixá-la na casa de Goku, ainda mais agora que ele está sofrendo da doença do coração. O local pode se tornar um alvo fácil.

Trunks franziu o cenho, mostrando-se bem confuso.

— O quê? M-Mas eu tenho certeza de que dei o remédio para o Sr. Goku quando vim há três anos!

— Sim, querido… — Lettie afagou seu ombro. — Você deu, mas, infelizmente… ele não tomou. Espero que não seja tarde demais para o remédio fazer efeito.

Trunks fez uma careta transtornada e coçou atrás da cabeça.

— Ah… Puxa… Eu… Hã… Tá. Também espero que faça efeito. — Ele bufou, tentando esconder sua insatisfação. — Enfim! Isso com certeza não é uma boa notícia, considerando o que acabei de descobrir.

— O que houve? — perguntei.

Me dei conta de que os sentimentos de Trunks mostravam um profundo medo. Aquilo me incomodou muito.

— Você está me deixando preocupada — acrescentou Lettie ao ver que o garoto demorava demais para responder.

— Bom… — Ele nos olhou com angústia. — Não há outra maneira de dizer isso a não ser falando de uma vez. — Ele pausou por um instante e revelou: — Vocês estão lutando contra os Androides errados.

Silêncio.

O que Trunks disse?

Como assim, estamos lutando contra os Androides errados?!

Lettie externalizou minha pergunta, tão atordoada quanto eu.

— Antes de me encontrar com vocês — respondeu ele —, pousei num lugar não muito longe daqui, e então, encontrei perto de uma cratera a cabeça de um Androide azul e gordo.

— Sim, este é o Androide 19 — eu disse. — Foi Vegeta quem o destruiu.

— Hã?? "Androide 19"? — arquejou ele em perplexidade.

— Trunks, por favor — pediu Lettie, assustada —, por que você está reagindo assim? Qual é o problema?!

Ele nos encarou, atônito, e respondeu:

— Eu nunca vi aquele Androide azul na minha vida!!!

Lettie e eu trocamos feições assombradas.

— O quê?! — repliquei. — Quer dizer que os Androide 19 e 20 não existem na sua linha do tempo?!

— COMO É?? EXISTE UM ANDROIDE 20??? — esganiçou Trunks, boquiaberto.

— Sim! — afirmou Lettie com veemência. — Eu e Piccolo estamos justamente voltando para o campo de batalha onde ele está com os outros guerreiros, pois ele me feriu e precisei de socorros no Templo!

Trunks ficou em estado de choque.

— I-I-Isso não é possível! — Ele agarrou seus cabelos roxos. — Na minha linha do tempo, lutamos contra OUTROS Androides, o número 17 e a número 18! São um casal de irmãos! Quem é esse Androide 20?!?!

— É um velho asqueroso — respondi com nojo ao me lembrar do que ele fez com a minha noiva. — Não duvido de que seja o próprio Dr. Gero em uma versão Androide.

— Essa não…! — Trunks colocou a mão na testa. — Será que minha vinda ao passado alterou os eventos??

Ninguém conseguiu responder. Só ficamos nos entreolhando com um intenso sentimento de preocupação consumindo-nos.

"Viu só, Piccolo?" ameaçou o meu Inimigo de repente. "Do que adiantou a sua fusão? Foi inútil!"

Por um segundo, o medo e a ansiedade quiseram me dominar, mas então, lembrei-me da voz mansa do meu Amigo e dos seus conselhos. Fechei os olhos, respirei fundo, e ignorei o meu Inimigo.

O medo e a ansiedade se dissiparam, dando lugar à força e coragem.

— Já chega — eu disse, por fim. — Não temos tempo para especulações. Vamos voltar ao campo de batalha agora mesmo! Pouco me importa qual é o número do Androide, se é gordo ou baixo, alto ou magro, homem ou mulher, azul ou transparente, precisamos derrotá-lo para que a Terra não caia numa verdadeira desgraça!

Ambos me olharam com determinação, concordando com minhas palavras, e saímos voando em disparada pelos céus.

Quando retornamos àquele labirinto de rochas, encontramos Gohan, Kuririn, Tenshinhan e Vegeta na forma de Super Saiyajin ainda lutando contra o Androide 20, o qual continuava sem o braço que arranquei no meu ímpeto de fúria. Quando nos aproximamos, eles pararam a luta, surpresos com a nossa chegada repentina.

— TIA LETTIE!!! — Gohan voou para abraçá-la. — A senhora se recuperou!!! Fiquei tão preocupado e… OH! Mas este não é aquele garoto do futuro??

Ambos Vegeta e o Androide 20 não pareceram nada contentes com a interrupção da luta, mas todos miraram o jovem que flutuava entre mim e Lettie, que ficou vermelho ao receber aqueles olhares. 

— Sim — confirmou minha noiva. — Encontramos Trunks no meio do caminho e viemos juntos.

— O QUÊ?!?!?!?!?!?!?! — exclamou alguém em alto e bom som.

Esse alguém era Vegeta. 

Todos desviaram sua atenção de Trunks e o encararam. Ele estava pálido como uma folha de papel, fitando com perplexidade o jovem ao meu lado.

Pela primeira vez na vida, Vegeta se dirigiu a Lettie de um modo civilizado:

— O-O-O que você disse? Q-Q-Qual é o nome desse garoto??

Lettie tapou a boca com as mãos, finalmente percebendo que, assim como o seu irmão, revelou uma informação que até então era segredo para a maioria dali. Ela buscou o meu olhar e, com um aceno de cabeça, sinalizei para que ela prosseguisse. Não havia o porquê continuar escondendo aquela informação. Uma hora ou outra, todos descobririam a identidade do jovem misterioso.

— Sim, Vegeta… — afirmou ela, cautelosa. Lettie então colocou a mão nas costas de Trunks, num gesto acolhedor. — Este garoto que veio do futuro nos alertar da ameaça dos Androides é o seu filho.

Trunks mantinha uma postura tímida e retesada enquanto Vegeta o mirava boquiaberto e mais branco ainda. Os outros também emanavam sentimentos de perplexidade diante de tal revelação.

No entanto, nosso foco mudou bruscamente quando Trunks enfim avistou o Androide 20, nos escrutinando em um ponto mais abaixo nas rochas.

— Q-Quem é ele?! — Trunks virou-se para mim e Lettie, suando frio. — É o tal Androide 20 que vocês falaram???

Abri minha boca para respondê-lo, mas Vegeta aproximou-se da gente, nitidamente ainda não recuperado do choque de descobrir a identidade de Trunks.

— O que está dizendo, garoto?! Este não é o Androide que você nos avisou?!

Trunks tremia muito, variando entre olhar para seu pai e o Androide 20. Olhei para Lettie. Seu semblante denunciava uma tremenda ansiedade.

— O que significa isso? — murmurou Trunks consigo mesmo.

Silêncio.

Então, minha noiva confirmou o que se passava na minha cabeça:

— Você estava certo, Trunks. Os Androides do seu futuro são diferentes dos nossos!

Uma sequência de arquejos e exclamações de "O quê?!", "Como assim??" e "Não pode ser!" vindos dos outros seguiu-se à sua declaração. O Androide 20 permaneceu em silêncio, nos observando com um olhar sombrio. O que raios se passava na cabeça dele?? Eu não conseguia ler os seus sentimentos!

Então, isso de fato significava que havia outros Androides além do número 19 e 20? Quantos existiam no total?!

De qualquer modo, não tive tempo de fazer mais perguntas, pois algo tirou nossa atenção: uma pequena aeronave, se aproximando do nosso local de luta.

— Ei! — apontou Kuririn. — Não é a Bulma ali dentro?

— É ela mesmo — confirmou Tenshinhan. — E parece que Yajirobe está sentado no banco do passageiro segurando o…

— O BEBÊ TRUNKS!!!!!!! — guinchou Lettie ao meu lado, mostrando uma indignação que eu raramente a via demonstrar. — C-C-COMO ELA PÔDE TRAZER UM BEBÊ PARA UM CAMPO DE BATALHA?!?!

Trunks adolescente compartilhava dos mesmos sentimentos que a minha noiva.

— NÃO SE APROXIMEM!!! — gritou ele, agitando os braços na direção da aeronave. — É MUITO PERIGOSO!!!

 Um calafrio percorreu minha espinha, pois o Androide 20 nos olhou, soltou uma risada sinistra e disse:

— Agora é a minha chance! Eu já disse que vocês não têm salvação e não estou mentindo! Dentro de pouco tempo os Androides 17 e 18 virão matá-los!

Seu tom de voz foi tão carregado de malícia que os sentimentos de pavor de todos ali me inundaram como uma onda gélida, e então, sem mais nem menos, com sua única mão boa, o Androide 20 lançou uma poderosa bola de energia rosada, trazendo um fortíssimo vendaval de destruição por toda aquela área.

A única coisa que consegui ouvir antes de sair voando para proteger Lettie e Gohan foi um desesperado Trunks gritando por Bulma. Os sons da carcaça da sua aeronave que se estraçalhavam por entre as rochas se misturaram com o estrondo da explosão.

Após um longo minuto ensurdecedor, fez-se silêncio.

Devagar, abri minha capa, encontrando uma Lettie encolhida ali dentro, abraçada à Gohan. Como sempre fazíamos, nos certificamos de que estávamos bem. Felizmente, nada nos atingiu, a não ser alguns estilhaços de pedras nas minhas costas, que já se regenerava. Porém, senti que algo incomodava Lettie. Ela olhava de um lado para o outro, desesperada, como se procurasse algo. Foi só então que minha superaudição detectou que ela sussurrava, mui temerosa:

— Trunks…! Trunks…! Trunks…!

Nossos olhos se encontraram, e não precisei ler os seus sentimentos para saber o que se passava na cabeça da minha noiva:

Será que o bebê Trunks morreu na explosão?

Será que o jovem Trunks também morreu na explosão?

Os olhos de Lettie se encheram de lágrimas enquanto ficamos ali parados, com aqueles pensamentos mórbidos e horripilantes circundando nossas mentes.

Foi então que um som semelhante a um coral de anjos preencheu nossos ouvidos: o choro de um bebê.

A face de Lettie se iluminou. Nós três saímos correndo na direção do som por entre as rochas, e ela arquejou de profundo alívio ao ver um jovem de cabelos roxos parado num canto, debruçado sobre Bulma e seu bebê, também se certificando de que ambos estavam bem, do mesmo jeito que eu, Lettie e Gohan fazíamos.

Quando nos aproximamos, Kuririn e Tenshinhan (carregando um Yajirobe desmaiado) também chegaram para se certificarem de que Bulma e o bebê estavam seguros.

— OH, MEU FILHINHO QUERIDO! — Bulma aninhou seu bebê no colo, numa tentativa de acalmá-lo de todo aquele terror. — Shhh! Shhh! Já passou… A mamãe está aqui… — Ela então ergueu o olhar para o jovem à sua frente. — E-Eu não sei como te agradecer, moço! Você salvou nossas vidas! S-Se não tivesse nos tirado da minha aeronave a tempo, eu e o meu bebê… nós teríamos… n-nós… — E baixou a cabeça e chorou.

Todos nós nos entreolhamos com nervosismo, pois, aparentemente, Bulma ainda era a única dali que não sabia que o rapaz à sua frente era o mesmo bebê que segurava nos braços, em sua versão adolescente.

Pelo visto, o sentimento compassivo de Lettie falou mais alto do que o sentimento de indignação por Bulma ter trazido um bebê para uma batalha, e se ajoelhou ao lado da amiga para afagar suas costas e acalmá-la.

O jovem Trunks, por outro lado, estava furioso.

Não com Bulma, é claro, mas com Vegeta.

Vegeta foi o único do nosso grupo que não foi ver se Bulma e o bebê estavam bem. Ele permaneceu pairando no ar, na forma de Super Saiyajin, gritando aos quatro ventos em busca do Androide que decerto fugira em meio à explosão.

Trunks disparou na direção de Vegeta e pairou à sua frente

— POR QUE VOCÊ NÃO OS SALVOU?! — inquiriu ele.

— … Quê? — replicou Vegeta.

— ESTOU FALANDO DA SUA ESPOSA E FILHO!!!

— Ah. — Vegeta abanou a mão em desdém. — Eu não dou a mínima para nenhum dos dois, seu idiota! — Ele se aproximou de Trunks. — Se você não quer ajudar na nossa luta, então não me atrapalhe! — E saiu voando por entre as rochas.

Um silêncio desconfortável caiu sobre todos. Mesmo à distância, pude ver o rosto desolado de Trunks após ouvir as duras palavras de seu pai.

Foi impossível para mim, não sentir pena do garoto. Afinal, apesar de considerar Naíma como minha filha desde o dia em que a conheci, eu tecnicamente me assumi como verdadeiro pai dela há apenas algumas poucas horas. Portanto, ouvir um pai dizer que não se importa com sua esposa e filho tão despretensiosamente como alegou Vegeta, machucou muito.

Uma dolorosa tristeza me acometeu, pois Trunks foi tomado por um intenso sentimento de rejeição. Nenhum filho deveria sentir isso.

Poucos minutos depois, quando os ânimos se acalmaram, todos se reuniram numa roda para discutir quais seriam os próximos passos. Até Vegeta se juntou a nós, após desistir de procurar pelo Androide 20. Bulma então confirmou minha teoria: o Androide 20 era o próprio Dr. Gero, pois vira uma foto dele numa revista científica e eram idênticos. Apesar de bizarra e grotesca, cogitamos a ideia de ele ter se transformado em um super Androide para evitar a sua morte e finalmente concluir seu plano de conquistar o mundo. Aff! Nem acredito que um dia também cogitei fazer uma besteira dessas! E quem diria que hoje o meu maior desejo era me casar com a mulher que amo e levar uma vida tranquila e sossegada com a minha família?

Entretanto, o clima entre o nosso grupo piorou. O bebê chorou alto ao olhar para a cara de Vegeta, que começou a dar um chilique contra o Trunks adolescente, alegando que o jovem tinha passado informações falsas sobre os Androides. Trunks respondeu que a única explicação plausível era que a História mudou, provavelmente porque ele utilizou a máquina do tempo.

— Acredito que é melhor você nos contar tudo o que sabe sobre os Androides da sua linha do tempo — sugeri. — Assim, não teremos mais nenhum equívoco.

— Tem razão, Sr. Piccolo. — Trunks respirou fundo e prosseguiu: — O Androide 17 é um jovem com longos cabelos negros, e a Androide 18 é uma mulher loira muito bonita, com uma roupa parecida com a minha. Ambos têm olhares frios e usam brincos nas orelhas. Quando os virem, certamente vão saber quem são.

— Eles também absorvem energia com as mãos? — indagou Lettie, com o bebê agora dormindo em seu colo e uma Bulma muito aliviada ao seu lado.

— Não… — Trunks pressionou os lábios. — Parece inacreditável, mas a energia deles é… ilimitada.

— SE É ILIMITADA — berrou Vegeta —, SIGNIFICA MAIS PROBLEMAS PARA NÓS?!?!

O bebê acordou chorando. Lettie fuzilou seu pai com o olhar.

— Bulma, onde fica o laboratório do Dr. Gero?? — inquiriu Vegeta, aproximando-se dela. — É bem provável que ele esteja voltando para lá!

— Bom… — Bulma suspirou, cansada. — Segundo a revista, fica no meio das montanhas, perto da Capital do Norte. Há um boato de que seu laboratório fica numa das grutas.

— Mas, ele já deve estar longe — disse Kuririn. — Não dá mais para alcançá-lo.

— Ainda temos tempo! — Vegeta abriu um sorriso sinistro. — Por acaso algum de vocês viu ele voando?

— É mesmo! — exclamou Gohan. — Ele deve ter saído correndo!

— Sim — confirmou Vegeta. — E continuará usando essa vantagem até chegar em seu laboratório. Ele não deve estar muito longe daqui, tenho certeza!

Fez-se silêncio por um momento. Se a linha de raciocínio de Vegeta estivesse correta, então, tínhamos o início de um plano. Um plano bom. Odiei admitir, mas Vegeta parecia estar certo. Busquei o olhar de Lettie para saber sua opinião, mas ela fez um movimento negativo com a cabeça para mim.

Inspirei fundo. Outra coisa que odiei fazer: ir contra a opinião da minha noiva.

Me perdoe, Lettie.

— Entendi seu plano, Vegeta. — Cruzei os braços. — Você vai destruir o laboratório antes que o Dr. Gero desperte os Androide 17 e 18, certo? Até que… não é uma má ideia.

Vegeta então virou-se para mim, ainda exibindo o mesmo sorriso de antes:

— Ora, Piccolo… Eu nunca faria algo tão covarde assim. EU QUERO MATAR AQUELES DOIS ANDROIDES COM MINHAS PRÓPRIAS MÃOS!!! É SÓ O QUE DESEJO!!! A LUTA COM OS OUTROS ANDROIDES FOI MUUUUITO MONÓTONA!!! — E levantou voo, ativando sua aura de Super Saiyajin.

Fiquei ali, parado e com minha boca escancarada em estupefação. Devagar, olhei para Lettie, que apenas me deu um pequeno sorriso compreensivo, como se dissesse: "Eu te avisei, querido."

Droga.

Me perdoe, Lettie.

Enquanto isso, Trunks voou atrás de Vegeta para tentar impedi-lo.

— Não faça isso! — Ele abriu os braços à frente do pai. — Você está subestimando os Androides! Precisamos destruir o laboratório antes que eles despertem, como o Sr. Piccolo sugeriu!

Trunks e Vegeta se encararam durante longos segundos. Então, Vegeta riu em escárnio e saiu voando. Pela segunda vez, Trunks o alcançou e parou à sua frente com os braços abertos.

— ME ESCUTA!!! — suplicou o jovem. — Se não chegarmos a tempo, devemos evitar a luta até que Goku se recupere da doença!

— Não precisamos esperar por Kakarotto! — rebateu Vegeta. — Não está me vendo?! Eu posso me transformar num Super Saiyajin! Além disso, sou um soldado de classe alta, estou muito acima dele! Portanto, SAIA DA MINHA FRENTE!!! — E disparou pelos céus.

Trunks baixou a cabeça e fungou. Olhei de relance para Lettie. Ela abraçava o bebê no seu colo, com um profundo carinho materno. Em seu íntimo, ela desejava fazer o mesmo com a versão mais velha daquele bebê. Ao seu lado, Bulma também estava cabisbaixa, com uma sombra cobrindo os seus olhos, mas não ocultando o brilho de uma lágrima que escorreu pelo seu rosto.

Ah, Vegeta… Por que você está fazendo isso?