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Chapter 3 - Capítulo II

O mundo poderia estar pegando fogo e mesmo assim eu jamais abandonaria uma boa xícara de chá ou um enorme copo de cappuccino. Para mim, essas bebidas valiam qualquer sensação desagradável que causava quando bebidos em uma tarde de trinta e dois graus. 

 

E era isso que fazia esperando minha vez naquela cafeteria próxima de meu trabalho, com o que seria meu regular costume de ir faltando vinte minutos para o final de meu horário de almoço almejando uma bebida adocicada. A fila estava particularmente lenta essa tarde, aparentemente a máquina que cuidava do atendimento estava com problemas. 

 

Esperei mais um pouco, vendo sempre através de meu relógio o tempo passar e a ameaça de que eu teria de abandonar meu pequeno copo de café parecer cada segundo mais próximo. Quando pensei em sair, chegou minha vez e lá estava uma das únicas tecnologias que eu sabia utilizar: uma tela luminosa onde o cardápio estava a vista podendo ser adicionado os pedidos com pequenos toques. 

 

Digitei cappuccino e procurei por alguma novidade naquele extenso cardápio, mas sem sucesso, optei pelo de caramelo salgado com chantilly extra finalizando a compra antes de sair daquela tela dando espaço para outro. 

 

A máquina era rápida, despejando os grãos dentro de um grande moedor antes de fios finos e quentes de café escorreu para dentro de um copo de viagem já devidamente decorado com o caramelo salgado em seu entorno transparente. Eu já podia sentir o sabor em minha boca quando o copo foi colocado na esteira saindo de perto da grande cafeteira automatizada para agora bem pertinho de mim. 

 

Sem tempo para perder, peguei o copo e andei a passos largos em direção a saída e agora estava indo rumo o escritório onde deveria estar sentada e trabalhando em dois minutos. Com medo da bronca que viria, sequer parei para tomar meu delicioso cappuccino até que estivesse dentro daquela empresa, porém, batendo o ponto com alguns poucos — mas suficientes para uma bronca — minutos de atraso. 

 

Me sentando na cadeira de minha mesa, a tela de computador em espera, liguei o equipamento deixando todas as milhões de informações em códigos virem em meus olhos. Comecei a bebericar o cappuccino enquanto digitava em minha planilha as informações imaginando se minha supervisora havia notado o atraso, sua demora me deixava esperançosa, mas ao mesmo tempo ansiosa. 

 

— Onde estava todo esse tempo? — A voz me fez quase pular dar um pequeno pulo da cadeira com o susto — Colocando coisas fúteis acima de seu emprego novamente? Você precisa ter mais responsabilidade. 

 

— Não vai se repetir — Falei evitando olhar para a rigorosa mulher. Ela parecia conseguir devorar minha alma apenas com um simples olhar. 

 

—Já que você tem tempo para comprar um café, acho que falta coisa para fazer — Dizendo isso, se afastou um pouco indo até sua mesa pegando uma pilha de papelada a jogando em minha pequena mesa. O copo de café só não tombou com o movimento brusco por ter sido rápida em o agarrar — Quero que termine de arquivar todos esses documentos ainda hoje. 

 

— Sim senhora — Engoli em seco analisando a monstruosa pilha cheia de códigos e informações... Seria algo bem cansativo. 

 

 

 

 

— Você demorou demais, já estava quase te abandonando — Love falou entediada, se espreguiçando ainda encostada na árvore onde supostamente teríamos acabado nossa conversa — O que aconteceu? Sua cara já não é das melhores, mas está péssima. 

 

— Obrigada pela consideração — Respondi revirando os olhos — Muito trabalho hoje. 

 

— Trabalho? Com o que você trabalha? — Ela parecia bem interessada, se aproximando com os olhos brilhantes enquanto perguntava de maneira mais leve. Seu tédio havia desaparecido? O que se passava nessa mente tão estranha. 

 

— Eu atualmente sou estagiária em um escritório — Não entrei em detalhes, afinal aqui não seria um lugar para falar de trabalho e muito menos responsabilidade adulta. 

 

— E o que você faz lá? — Mais empolgação. 

 

— Registro documentos? — Que conversa estranha é essa? Parece até mesmo que Love nunca teve contato com um emprego — Love, quantos anos você tem? 

 

Ela ficou em silêncio, pensando um pouco antes de responder. O que diabos estava acontecendo? Quem diabos era essa maluca que estava conversando? — Vinte e três? — Respondeu incerta de sua própria idade. 

 

— Vinte e três? Você é mais nova que eu? Espera, que diabos de resposta foi essa Love, você fez conta? É menor de idade e está mentindo? — Questionei tentando arrancar informações. 

 

A loira apenas inflou suas bochechas, a face se contraindo em desgosto e os olhos desviando para o outro lado como uma criança. Oh merda, eu fui enganada por uma menininha? Não acredito, como eu caí em uma armadilha feita por uma pirralha? 

 

— Então isso significa que Akantha não existe — Pensei alto. 

 

— É claro que ela existe! — Esbravejou balançando as mãos — Isso me fez lembrar, decidiu se vai me acompanhar? 

 

— Olha... Eu não sei se é certo eu te acompanhar... Você armou uma para mim ontem. 

 

— Mas eu te salvei. 

 

— Pra começar que não precisaria me salvar se não tivesse armado algo pra mim — Joguei a vendo se irritar. 

 

— Poxa, mas não é culpa minha se você acredita tão fácil assim nas outras pessoas — Que pestinha! 

 

— Isso é mais um argumento para que eu recuse sua "ajuda" — Fiz aspas enquanto falava — Obrigada, mas prefiro dessa vez não confiar. 

 

Virei meu rosto dando alguns passos em uma direção contrária à sua presença. Eu iria me afastar de Love e procurar eu mesma um jeito de ficar forte sem ajuda de uma pessoa suspeita como ela. 

 

— Raven, você é muito chata — Choramingou — Eu não vou ganhar nada te prejudicando dessa vez... 

 

— E muito menos me ajudando. 

 

— Claro que vou — Os fios amarelos novamente apareceram em minha frente, seus olhos piscando em empolgação — Podemos fazer uma bela dupla e depois um trio! Vamos matar vários monstros! 

 

Dupla? Trio? Ela achava que eu era burra e conseguiria me enganar duas vezes? Bufei encarando seus olhos que não desviavam por nada, empolgada apenas esperando meu sim para comemorar e me apunhalar logo que possível. Mas e se eu fizesse isso antes dela? 

 

Eu poderia a acompanhar, ganhar alguns níveis e a matar na primeira oportunidade pegando as coisas dela... Esse plano parecia muito bom... Bom até demais, mas como eu iria fazer isso? Se ela era uma criança, não deveria ser tão difícil conquistar sua confiança. 

 

— Certo, eu confio em você — Falei sorrindo de forma doce enquanto via seu rosto iluminar em alegria. Oh coitadinha, vai aprender a não enganar alguém da pior forma possível! 

 

 

 

 

 

— Tem certeza de que esse plano vai dar certo? — Questionei sussurrando para a elfa ao meu lado. Love observava um esqueleto de armadura com certa cautela — Eu nem sei lutar direito. 

 

— E não vai aprender nunca desse jeito — Os olhos afiados vieram para minha direção antes de apontar para a criatura esquelética abaixo de nossos pés — Lembra o que eu te ensinei? Tente acertar ele em um golpe só. 

 

— E onde é o ponto fraco dessa coisa? Ele é um esqueleto de armadura — Encarando sem saber onde eu deveria acertar, procurei na garota alguma direção. 

 

— Tenha paciência Raven, você precisa aprender sozinha — Mais e mais bronca. Estávamos andando juntas a dois dias e essa mudança de humor ainda me irritava — Se você não conseguir, eu o finalizo. É uma criatura de baixo nível. 

 

Suspirando, me obriguei a concentrar. De começo nada naquela coisa me parecia ser seu ponto fraco, as armaduras de um guerreiro medieval sendo carregadas por ossos de um corpo humano, ele não tinha nada muito extraordinário, na verdade sua aparência era de fato bem simples e as roupas gastas, mas ele continuava sendo um monstro de nível cinco sem qualquer ponto fraco aparente. 

 

Abrindo meus lábios, puxei mais ar deixando que ele saísse de meus pulmões aos poucos. Estava tudo muito silencioso, apenas seus ossos e a armadura emitindo sons de ranger enquanto eu e Love nos mantínhamos no topo de uma árvore à espreita. 

 

— E se ele for seu ponto fraco? — Sugeri mais para mim do que para a elfa que apenas me observava aprender a engatinhadas como lutar — Se ele é apenas um monte de ossos, posso apenas quebrar. 

 

Desviando meus olhos para a loira, vi seu enorme sorriso, tão amedrontador quanto aquele que seria meu rival em instantes. De fato, havia acertado em minha teoria, mas como faria isso? Poderia tornar em um golpe único evitando entrar em combate, porém, como evitaria atingir diretamente os ossos sem errar? 

 

Pensativa, recordei de quando Love atacou o lobisomem. Ela parecia um anjo que em um ataque único e certeiro o matou, eu poderia tentar fazer o mesmo movimento..., mas se eu errasse? E se eu acertasse o capacete ou peitoral? E se ele me notasse? Enquanto planejava um ataque o monstro se afastou e para acompanhar, decidi abandonar minha capa antes de dar alguns pulos para os galhos próximos. 

 

Meu movimentar era cuidadoso, um pouco desajeitado, mas sempre ponderando antes de cada ato para evitar deslizes. Quando finalmente o alcancei, ficando agora acima de seu corpo, planejei novamente em minha cabeça alguns golpes possíveis. 

 

Eu deveria pensar como meu inimigo, Love certa vez falou algo do tipo. Ser como meu inimigo... Pensar como meu inimigo... O que eu faria se fosse uma criatura feita apenas de ossos? Olhei para sua arma, uma lança, olhei para seu capacete que possuía um enfeite pontiagudo no topo. Ele certamente usaria ataques a longa distância com essa lança... 

 

Pensar como o inimigo... Pensar como o inimigo... Pensar como o inimigo... O corpo começou a ser consumido por uma pequena, quase inexistente áurea negra, fumaça saindo de dentro de suas vestes metálicas enquanto sua mão se abria soltando a lança que caiu ao mesmo tempo que meu corpo no chão. 

 

Como o ataque que ficou marcada em minha mente, meus movimentos o copiaram. A minha espada empunhada em mãos com a lâmina voltada para baixo, os fios de meu cabelo chicoteando o ar enquanto eu pousava sobre suas costas. 

 

A lâmina adentrou o espaço entre as juntas de seu elmo e peitoral raspando na clavícula. Meus pés se apoiaram em seu corpo o fazendo tombar, mas antes que ele pudesse cair e arruinar meu plano, movimentei meu braço em um movimento rápido, mas forte, fazendo com que a espada batesse no osso da coluna vertebral a partindo. 

 

Dei um pulo para caso tivesse falhado não fosse alvo de um ataque, no entanto, os ossos começaram a se fragmentar virando poeira abandonando as peças velhas de guerra para trás. 

 

Parabéns, Raven por desbloquear a conquista "Morte branca". A voz robótica anunciou antes de uma tela se abrir mostrando todos os equipamentos que eu poderia coletar com aquela luta. Apertei no botão aceitando tudo antes de olhar para cima em busca de Love. 

 

Os fios loiros dançavam com o vento, os olhos vidrados em meu corpo enquanto usava uma de suas mãos como apoio para sua cabeça. Ela sorria, com doçura e satisfação por eu ter conseguido copiar um ataque dela. 

 

— Como eu fui? — Questionei com um sorriso enquanto arrumava os fios bagunçados de meu cabelo. 

 

— Até que bem para uma novata — Zombou deixando seu corpo cair. Suas vestimentas farfalhavam como se fossem asas deslizando sobre seu corpo quando seus pés tocaram o solo com graciosidade — Toma sua capa. 

 

Ela me entregou o tecido me vendo o jogar sobre meus ombros amarrando a corda que o prendia ao meu corpo — Eu queria tentar mais algumas vezes, senti que por um segundo eu iria perder a chance — falei sem desviar a atenção do nó que estava fazendo. 

 

— Podemos tentar mais algumas vezes, mas se a gente demorar muito em cada monstro vamos acabar atrasando tudo — Love dizia arrumando seu capuz, os fios loiros se escondendo na escuridão do tecido — Akantha não é muito de esperar.