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Chapter 5 - Capítulo IV

A informação de que minha agilidade havia aumentado de nível veio após a escrita de que minha força havia tido o mesmo destino. Eu desviava e atacava em uma dança contra aquela criatura lupina e feroz que se regenerava tão rápido quanto Akantha conseguia fazer o mesmo com meus machucados. 

 

Imaginando que logo ela teria uma baixa em sua magia, passei a desviar mais do que atacava deixando tanto meus atributos de velocidade quanto agilidade serem trabalhados enquanto raramente precisava usar a espada para defender de um ataque certeiro. Desviando com um giro no ar, olhei para o topo das árvores vendo o corpo sonolento de Love sobre o galho, em um cochilo depois de se entediar com minha frequente decisão de ser mais para a defensiva do que o ataque. 

 

— A Love me disse que deu erro na hora de escolher a sua classe — Akantha falou atraindo minha atenção. Com o deslize, a criatura atingiu em cheio meu braço o arrancando com um único movimento. 

 

Arfando com a dor de seu potente, mas rápido movimento, pulei alguns passos para trás dando distância da criatura antes de ser completamente curada. As vestimentas em meu corpo já haviam virado farrapos, pedaços faltando ou furados mostrando algumas partes de pele onde se localizavam órgãos vitais. 

 

— Sim — Respondi correndo em direção da criatura e desviando em um pulo rápido de um golpe. Usando minha mão esquerda, passei por seu tronco erguido deslizando para o outro lado onde a espada emprestada por Love estava fincada a pegando rapidamente — Qual o motivo da pergunta? 

 

— Queria saber qual a linha dos seus poderes — A voz falava comigo sem desviar a atenção do que estava fazendo. Golpeei a pata do animal com um corte rápido a arrancando e quando ele começou a se regenerar, fiz o mesmo movimento desta vez abrindo os músculos ao meio — Você poderia tentar subir de nível eles... As vezes nesse aumento de força o nome apareça. 

 

— Era isso que a Love dizia quando falava sobre você conseguir me ajudar? — Zombei bloqueando o golpe com a espada a sentindo tremer. Eu não era muito boa com luta de espadas, mesmo que no meu subconsciente algo me dissesse o que eu deveria fazer... 

 

— Isso mesmo, eu consigo ajudar, mas não fazer milagre — E mexendo a mão livre, minha espada foi absorvida — Faça direito, chega de aumentar os atributos de força e agilidade, está na hora de descobrir quais são os seus poderes. 

 

Como estava usando a espada para bloqueando as grandes garras da poderosa pata daquela criatura, o sumiço sem aviso me fez receber o golpe direto rasgando do ombro ao tronco. O sangue subiu pela garganta me fazendo o cuspir, eu gemia e arfava com a insuportável dor. 

 

Akantha lançou um novo feitiço de energia para me curar, mas ele somente aumentou um pouco minha vida e a encarando, notei que estava sendo testada. Ela me deixaria morrer? Creio que não era essa a ideia, ela somente me curaria ao ponto de não me permitir morrer, mas como aquela ferida doía de maneira imensurável, parecia que a qualquer momento eu perderia a consciência. 

 

— Jogo desgraçado... Isso era pra doer tanto assim? — Enquanto arfava, vi quando mais um ataque veio em minha direção me acertando em cheio. A ferida rompeu o ligamento do meu braço esquerdo que usei para me defender — Droga! Akantha! 

 

— Eu não vou deixar você morrer, mas droga Raven! Você precisa evoluir — Esbravejou lançando mais um pouco de magia de cura evitando que eu morresse — Vamos lá, Raven. Com essa moleza você vai somente atrapalhar. 

 

Aquela frase acendeu o mesmo ódio que sentia em meu trabalho, um de que eu precisava engolir junto de qualquer orgulho mínimo e humano para sobreviver. Mas aqui era diferente, eu não ganhava dinheiro, não trabalhava, não precisava passar por isso... Eu podia apenas desligar o jogo e nunca mais entrar... Mas eu estaria fugindo como sempre fazia. 

 

A raiva tomou o meu corpo, os músculos rígidos enquanto meus batimentos se mantinham em uma euforia enlouquecedora. Levantei ambas as mãos, mandando um que se foda a dor e movendo os dedos de maneira rápida, como se uma voz em meu subconsciente me dissesse o que fazer, invoquei uma enorme massa — densa e de cor preta — entre os dedos que aos poucos adentrava minha pele e juntas queimando. 

 

Eu não conseguia parar, mesmo com a dor daquela coisa desconhecida que parecia me rasgar de dentro pra fora, precisava continuar. Quando cada partícula entrou na minha mão, levantei o rosto, os olhos encarando a criatura como se estivéssemos em pé de igualdade... Não, algo me dizia que eu era superior... Aquela criatura lupina estava em minhas mãos e era meu pequeno brinquedo. 

 

Dei um passo em frente o vendo recuar, a postura aos poucos mais baixa enquanto ondas de energia vibravam o ar ao nosso redor. Cada passo parecia esmagar a criatura obrigando seu corpo enorme se contrair em busca de um espaço no chão. 

 

— O que foi? — Perguntei de maneira sarcástica ao monstro que choramingava em desespero, mas não conseguia correr — A brincadeira estava tão divertida... 

 

Me sentei, observando o que aos poucos chamei em minha mente de pobre animal enquanto o olhava nos olhos. Aquela sensação de fome havia desaparecido de seus orbes, era terror que emanava agora, um temor que talvez ele jamais tenha sentido na vida — Coitado. 

 

Akantha nada disse e Love, que sentia a mudança de todo o ambiente, me encarava do topo das árvores, em suas mãos as adagas de luta que ela mais amava. Ambas me encaravam tentando entender se eu passei a ser uma inimiga ou apenas a evolução rápida afetou minha personalidade. 

 

— Eu vou acabar com seu sofrimento — Falei com o meu mais doce sorriso. Levando a mão até o topo da cabeça do monstro afaguei seu pelo com delicadeza — Morra. 

 

A energia que havia se acumulado em minhas mãos desceu como um raio, rasgando minha pele e atravessando o crânio daquele ser quadrupede. Seus olhos se tornaram roxos como os meus, a mandíbula que chiava desesperadamente por socorro se fechou, o pelo que estava regenerando constantemente com a luta apenas desapareceu assim que todo o corpo se tremeu como se tivesse recebido uma descarga elétrica, se contraiu e reagindo diante daquela força, explodiu. 

 

O sangue que voou com a destruição massiva caiu aos poucos como uma chuva, melando meu corpo e o pintando de vermelho enquanto eu voltava a consciência agora pesada pela culpa de minhas ações tão brutais. 

 

 

 

 

 

O vídeo reproduzido em minha frente era sobre as diferentes armas presentes em Nexus New World. Prestando atenção em cada detalhe sobre seus tipos e composições, tentava entender melhor qual seria adequada para usar com minha Raven. 

 

Sem Love ou Akantha presentes, passei a semana estudando e evoluindo meus níveis para a acompanhar. No entanto, durante os três primeiros dias sozinha no jogo — aparentemente estavam ocupadas com o trabalho — pude sentir que minha maior dificuldade era nas lutas... Eu era muito fraca. 

 

Então fiz o melhor que pude: li, assisti vídeos, entrei em fóruns. Tudo em busca de ficar mais forte e as acompanhando, pensei que a adaga entregue por Love, sendo tão forte, pudesse não ser de fato o certo para meu personagem... Talvez eu devesse testar algumas iniciais para saber qual me adaptava melhor? 

 

Então, entre pesquisas, vi um vídeo feito por um jogador de Nexus de dentro do mundo. Curiosa, o abri para que eu pudesse saber o que acontecia nele devido a quantidade de likes e comentários inundando a tela até que eu bloqueasse tudo. 

 

O vídeo começou simples: o criador se apresentou mostrando ser alguém de certa forma influente e jogou por algum tempo de maneira convencional, matando monstros e comercializando ingredientes em busca de cristais de evolução, porém, mesmo diante daquelas simples ações, notei o quanto o combate e seu domínio com a espada era alta. 

 

— Então não é a espada em si... Ele tem uma adaga de nível sete que usa com criaturas fracas — Falei mais para mim enquanto prestava atenção em alguns pontos — Eu deveria pedir ajuda para melhorar meus golpes... 

 

Então minha atenção foi sugada completamente para o vídeo quando a tela de morte apareceu. Mas o que havia matado aquele personagem? Voltei o vídeo vendo as cenas passando normalmente e novamente a tela de morte aparecer. 

 

— Será que é um erro? — Me questionei abrindo os comentários lendo tudo. No começo muitos diziam não entender ou alegar erro, o autor até respondeu eles dizendo algo como "também não entendi" ou "entrei em contato com a empresa criadora do jogo", mas vasculhando um pouco mais, achei o que eu queria: um tempo exato com a velocidade que a pessoa deveria colocar para conseguir enxergar. 

 

Voltei o vídeo para vinte e um minutos, desacelerei em duas vezes e esperei passar os quatorze segundos olhando tudo fixamente quando menos esperava, uma sombra apareceu a vinte passos do personagem morto e logo em seguida desapareceu fazendo a tela ficar preta e a morte ser anunciada. 

 

— O que diabos é isso? — Questionei sem esconder meu espanto. Tocando na tela, voltei novamente, dessa vez um pouco menos e com sucesso pausei o vídeo vendo a silhueta humanoide e protegida formada — É um personagem? 

 

Cheguei a pesquisar mais, no entanto, não obtive respostas nem no vídeo gravado ou no seguinte postado pelo autor. Pesquisei na internet sobre algum personagem ou monstro tão rápido assim, mas sequer pude encontrar algo que não fossem lendas geradas ao redor de pessoas que morreram de maneiras similares. No final, essas lendas apenas deram um nome ao que parecia ser inexistente e um delírio que até mesmo eu havia presenciado: Nulo. 

 

 

 

 

 

 

Novamente entrei no jogo, após dias pesquisando mais sobre o sistema de ataque e consequentemente sobre as armas não apenas do mundo virtual, mas dos presentes em meu mundo material. Era interessante que o jogo pode manter uma parte da história ancestral apagada de muitos lugares e culturas após a quarta grande guerra, porém, algumas mesmo em livros acadêmicos ou qualquer outra feramente de busca, não era encontrado podendo ser apenas alguma criação dos desenvolvedores desse jogo. 

 

Suspirando, olhei para cada canto de onde estava antes de ativar minha mensagem de voz avisando sobre minha presença para Love e Akantha. Ambas responderam logo em seguida com entusiasmo. 

 

— Vocês estão ainda no mesmo lugar? — Questionei já que durante a sua ausência, havia me deslocado para uma vila a dez minutos dali — Eu estou em Street Lux. 

 

— Certo, fica aí — Akantha avisou antes de desligar a mensagem privada. Sem muito o que fazer além de ficar por minutos vendo o céu, peguei minha nova aquisição, uma espada nível dois a ficando na terra. 

 

Se eu lembrava bem, existiam poderes que eram transmitidas do portador para o objeto, no entanto, durante o que eu chamei de uma semana muito produtiva, pouco soube para identificar qual poder era o meu. No entanto, não me abalaria com um sinal tão fraco de fracasso e tentaria eu mesma catalogar qual divisão aquele erro no sistema criou. 

 

Primeiro, abri as mãos as tornando um formato mais parecido com uma concha enquanto fechava os olhos. Imaginava que em meus dedos possuía água e a deixava escorrer enquanto aos poucos meus músculos ficavam mais leves e eu aproximava mais da espada finalmente segurando seu cabo enquanto o levantava da terra. 

 

Abri os olhos torcendo que aquele feitiço de treino que eu vi em um tutorial tivesse dado certo, mas lá estava meu fracasso: a espada sem alteração e nenhum resquício de magia. Onde eu havia errado? Esse era dito ser o treino de nível inicial e mesmo assim eu fracassei... Será que era por ser um elemento distinto? 

 

Descartando o treino para o elemento do tipo água, finquei a espada novamente e fechei meus olhos. Meus dedos ficaram separados, curvados de maneira oposta a cada membro e imaginei que neles circulava uma fonte de pura energia que vibrava de um dedo ao outro como se fossem pequenos raios. Toquei no cabo da espada imaginando que aqueles mesmos raios agora dominava toda a lâmina e por fim abri meus olhos. 

 

Mais um fracasso, talvez eu estivesse exigindo demais? Eu poderia treinar os outros elementos enquanto Love e Akantha não chegavam. Agora seria o momento perfeito para o tipo fogo: Respirei profundamente imaginando que em meu coração um núcleo queimava em brasas, levei a minha mão para perto como se estivesse pegando uma quantia daquele quente elemento e o transportando até o cabo de minha espada o sentindo se enraizar em todo o metal. 

 

Abrindo os olhos suspirei em mais um fracasso. Eu estava pensativa, a todo momento imaginando que eu apenas não estava dedicando tudo de mim em cada teste. 

 

Afinal, será que eu estava eufórica demais para dar meu todo nas tentativas? Pedindo um avanço enorme na primeira tentativa? Eu deveria tentar várias vezes o mesmo elemento antes de o descartar? Nas pesquisas não falava nada sobre uma energia escura, nada sobre o que presenciei na luta. 

 

— Falta muito para chegarem? — Questionei para Akantha que logo respondeu cerca de dois minutos. Olhei para o céu e suspirei imaginando que nem deveria ter se passado exatos dez minutos — Vocês são bem rápidas. 

 

Enquanto dava risada decidi que iria guardar minha espada, envolvendo o cabo em minhas mãos comecei a puxar de dentro da terra para que eu pudesse a absorver quando senti algo diferente ao meu redor. Minha intuição dizia que eu estava sendo observada e, olhando ao redor, não notei nenhuma presença estranha. 

 

Então, usei a única habilidade que eu tinha dominado da classe ladina: fechando os olhos, inspirei profundamente e estendi minha consciência para o meu entorno tentando canalizar até aquilo que estava me dando um calafrio. Como um raio que cai na terra em uma tempestade, algo invadiu meu campo e arregalando os olhos puxei minha espada a colocando na direção de onde a energia vinha. 

 

Senti o vento cortar o meu redor, meu cabelo e roupas bufando com a rajada forte se elevando enquanto o peso descomunal na espada a fez entortar. Mesmo o golpe não ter sido direto e sequer a lâmina raspada em meu rosto, apenas o choque da batida foi o suficiente para que uma ferida irregular se abrisse deixando que sangue voasse. 

 

Em choque olhei para aquilo que parecia outro jogador, as vestimentas escuras como a noite protegendo sua identidade. Seus olhos eram os mais assustadores que eu pudesse um dia ver, sugando minha alma em sua cor vibrante, mas sombria e mortal. Seria aquela pessoa ou criatura o Nulo? 

 

Minha vida continuava a diminuir, a visão ficando cada segundo mais escura enquanto o golpe que sequer foi crítico me destruía. Escutei mais passos e gritos quando por fim ele sumiu tão misteriosamente quanto apareceu. 

 

 — Raven? — Love gritou quando eu caí. Não sentia minhas pernas e braços, pareciam como se tivessem se partido — Akantha, magia de cura! 

 

A figura sempre encapuzada bateu o cajado na terra emanando uma quantia descomunal de poder ao meu redor. Aos poucos meus dedos começaram a formigar e pude mexer. 

 

— O que te atacou? — Akantha questionou me vendo recuperar as forças aos poucos. 

 

— Eu não tenho certeza... Acho que era uma pessoa — Respondi arfando com dificuldade. 

 

— Agora que você tá viva — Love antes preocupada teve uma mudança brusca em sua feição, agora brincalhona — Você tá só o farrapo. 

 

— Eu não sentia meu corpo — Ri quando finalmente consegui me levantar. 

 

— Claro, seus ossos foram completamente destruídos — Akantha que disse com naturalidade aquilo tudo me fez arregalar os olhos. Então esse era o poder do Nulo? Destruir seu adversário mesmo quando ele bloqueia seu golpe? Se esse era realmente o Nulo.