A fila se estendia além do que os olhos de Asrael podiam alcançar. Pessoas de todas as idades e origens aguardavam pacientemente sua vez de entrar nos portões de Narter, cada uma carregando suas próprias esperanças e preocupações. Asrael se juntou à fila, seu coração acelerado pela expectativa de adentrar na cidade que agora representava uma luz no fim do túnel.
– Essa fila não parece ter fim – murmurou para si mesmo.
Enquanto esperava, ele escutava os murmúrios ao seu redor. Notícias sobre os sacerdotes do Império da Luz que estavam a caminho de Dresden para ajudar a combater a praga circulavam entre os que esperavam ansiosamente. A notícia trouxe um misto de alívio e tristeza para Asrael. Alívio pela esperança de uma possível cura, e tristeza ao lembrar-se de sua própria família, que não pôde ser salva.
Quando finalmente chegou sua vez de se aproximar do guarda que controlava a entrada na cidade, Asrael se viu diante de uma situação inesperada.
– Identidade, por favor. – solicitou o guarda, com uma expressão séria.
Asrael ficou momentaneamente confuso. Ele nunca precisara de uma identidade antes. Sua família sempre vivera de forma simples, negociando com os vizinhos da vila em que cresceu.
– Identidade? Eu... eu não tenho uma. – respondeu, incerto.
O guarda coçou a cabeça, parecendo um tanto confuso.
– Bem, sem identidade, sem entrada. A menos que você pague a taxa de três moedas de prata para fazer uma agora mesmo. – declarou ele, com firmeza.
Asrael sentiu um aperto no peito. Sua família nunca teve muito dinheiro. Eles viviam da terra, cultivando seus próprios alimentos e trocando com os vizinhos por aquilo que precisavam.
– Três moedas de prata? Eu... eu não tenho esse dinheiro. – admitiu ele, com uma pontada de desespero na voz.
Foi então que um homem que estava atrás de Asrael na fila interveio.
– Eu pago. – ofereceu, com um sorriso amigável.
Asrael virou-se para agradecer, encontrando o rosto gentil de um homem de cabelos castanhos e olhos verdes, que carregava um banjo em suas costas e vestia roupas coloridas e chamativas.
– Muito obrigado... – começou Asrael, mas o homem o interrompeu antes que pudesse terminar.
– Não se preocupe com isso, amigo. Meu nome é Vincent. E você, é novo por aqui, não é mesmo?
Asrael assentiu, sentindo-se grato pela generosidade do estranho. Ele se apresentou como Asrael e expressou sua gratidão mais uma vez antes de seguir para dentro da cidade, com Vincent ao seu lado.
O interior de Narter era um mundo totalmente diferente do que Asrael estava acostumado. As ruas estavam cheias de barracas vendendo uma infinidade de produtos, desde frutas e vegetais frescos até armas e acessórios diversos. O mercado estava repleto de pessoas, todas correndo de um lado para o outro em busca de negócios ou simplesmente passeando pelas ruas movimentadas.
–Vejo que não é familiarizado com cidades grandes, não é? Perguntou a Asrael.
– Não, o que eu poderia fazer para conseguir dinheiro? Perguntou com curiosidade.
Vicent informou a Asrael sobre a possibilidade de ganhar dinheiro na Guilda dos Aventureiros. Ele explicou que as oportunidades eram variadas, indo desde simples coletas até exploração de masmorras, e que não era necessário ser um combatente habilidoso para participar.
Asrael se sentiu aliviado ao saber que não precisava ser um lutador para se juntar à guilda. Ele perguntou a Vincent onde encontrar a guilda, e Vincent indicou que ficava próximo a igreja e que poderia o levar até lá
Enquanto prosseguia, avistou no meio da multidão, Asrael avistou uma mulher de cabelos escuros e olhos violeta cintilantes, vestida com roupas brancas ricamente decoradas com detalhes dourados. Ela estava cercada por um séquito de guardas bem vestidos, e Asrael deduziu que ela devia ser uma sacerdotisa de grande importância na cidade.
Enquanto observava a cena, Asrael foi tomado por uma mistura de emoções. Por um lado, sentia-se grato por estar ali, em um lugar onde havia esperança e oportunidades. Por outro lado, lembrava-se com tristeza de sua família e do mundo que deixara para trás.
Vincent levou Asrael até a Guilda dos Aventureiros, um prédio imponente localizado no centro da cidade. Ao adentrar o prédio, Asrael ficou impressionado com a agitação e a diversidade de pessoas que ali se encontravam. Havia guerreiros de todas as formas e tamanhos, além de caçadores, magos e até mesmo alguns comerciantes.
– Esta é a Guilda dos Aventureiros, onde os mais corajosos e destemidos se reúnem para aceitar desafios e explorar o desconhecido. – explicou Vincent, enquanto guiava Asrael pelos corredores movimentados da guilda.
Asrael escutava atentamente as palavras de Vincent, absorvendo cada detalhe sobre a guilda e as oportunidades que ela oferecia. Ele sentia uma mistura de excitação e nervosismo ao pensar nas aventuras que o aguardavam.
– E é aqui que termina minha jornada por hoje, meu jovem amigo. Espero que encontre tudo o que está procurando nesta guilda e que suas futuras jornadas sejam repletas de sucesso e glória. – disse Vincent, estendendo a mão para Asrael em despedida.
– Muito obrigado por tudo, Vincent. Sem você, eu não teria conseguido entrar na cidade e encontrar a guilda. Você sempre terá minha gratidão. – respondeu Asrael, apertando firmemente a mão de Vincent.
Com um último sorriso, Vincent se afastou, deixando Asrael sozinho na entrada da guilda. Asrael sentiu uma mistura de emoções enquanto observava Vincent se afastar, sabendo que tinha feito um novo amigo e que sua jornada estava apenas começando.
Claire, a atendente da guilda, cumprimentou Asrael com um sorriso caloroso.
– Bem-vindo à Guilda dos Aventureiros. Em que posso ajudá-lo?
Asrael, um pouco intimidado pela atmosfera agitada do lugar, explicou que estava interessado em se juntar à guilda.
– Nome? – perguntou Claire, enquanto pegava um pedaço de papel e uma pena.
– Asrael. – respondeu ele, olhando em volta, maravilhado com a atmosfera vibrante da guilda.
Claire entregou a Asrael uma folha de papel para que ele preenchesse.
Enquanto preenchia o formulário, Asrael não pôde deixar de se sentir um pouco nervoso. Ele estava prestes a embarcar em uma nova jornada, uma jornada que mudaria sua vida para sempre.
Quando terminou de preencher o formulário, Claire o examinou cuidadosamente.
– Muito bem, Asrael. Você está oficialmente inscrito na Guilda dos Aventureiros. Seja bem-vindo à sua nova casa.
Asrael sorriu, sentindo-se um pouco mais confiante agora que fazia parte da guilda. Ele sabia que tinha um longo caminho pela frente, mas estava determinado a enfrentar todos os desafios que viessem pela frente.
– Obrigado, Claire. Mal posso esperar para começar minha primeira missão. – respondeu ele, com um brilho nos olhos.
Claire assentiu, satisfeita com a determinação de Asrael.
– Antes de começar, deixe-me explicar um pouco mais sobre como as coisas funcionam aqui na guilda. Como você deve saber, temos diferentes níveis de aventureiros, de F a S, e cada nível corresponde a diferentes tipos de missões e desafios. Como você é novo, começará como um aventureiro de nível F e poderá progredir à medida que completar missões e adquirir experiência.
Asrael ouvia atentamente as palavras de Claire, absorvendo cada detalhe sobre o funcionamento da guilda. Ele estava determinado a se tornar um aventureiro de sucesso e alcançar o mais alto nível possível.
– Além disso, aqui na guilda, temos um quadro de missões onde os aventureiros podem escolher as tarefas que desejam realizar. As missões variam de simples tarefas de coleta a exploração de masmorras perigosas. Você pode escolher uma missão que se adapte às suas habilidades e interesses e iniciar sua jornada como aventureiro.
Asrael assentiu, agradecendo a Claire pela explicação detalhada.
– E por último, mas não menos importante, temos uma biblioteca onde os aventureiros podem estudar e aprender mais sobre uma variedade de assuntos, desde plantas e animais até técnicas de combate e magia. Como um aventureiro de nível F, você terá acesso a uma seleção limitada de livros, mas à medida que progredir, poderá explorar uma variedade cada vez maior de tópicos.
Asrael estava fascinado com tudo o que estava ouvindo. Ele mal podia esperar para começar sua jornada como aventureiro e explorar tudo o que a guilda tinha a oferecer.
– Muito obrigado por todas as informações, Claire. Estou ansioso para começar minha jornada como aventureiro. – disse Asrael, com um sorriso no rosto.
– Não há de quê, Asrael. Estamos aqui para ajudar. Boa sorte em suas aventuras! – respondeu Claire, com um sorriso caloroso.
Asrael se aproximou do quadro de missões, onde uma variedade de folhas de papel estava pregada com várias tarefas e desafios. Ele examinou cada uma atentamente, considerando suas opções.
Havia missões de coleta de ingredientes raros, escoltas de caravanas comerciais, exploração de áreas desconhecidas e até mesmo enfrentamento de criaturas perigosas. Asrael sentia o coração acelerar só de pensar nas possibilidades emocionantes que o aguardavam.
Depois de ponderar por alguns momentos, ele finalmente escolheu uma missão que parecia adequada ao seu nível e habilidades: a coleta de brotos de árvore falante, uma espécie rara que crescia em uma floresta próxima e era muito valorizada por alquimistas e curandeiros.
Com sua missão escolhida, Asrael se dirigiu à biblioteca, ansioso para aprender mais sobre a tarefa que o aguardava. Ele subiu as escadas até o segundo andar e entrou na sala silenciosa, onde fileiras de estantes repletas de livros se estendiam diante dele.
As prateleiras estavam repletas de volumes sobre uma variedade de assuntos, desde plantas e animais até técnicas de combate e magia. Asrael se sentia como se estivesse em um mundo completamente novo, cheio de conhecimento e possibilidades infinitas.
Ele começou a vasculhar as estantes em busca de informações sobre os brotos de árvore falante, folheando os livros com interesse crescente. À medida que lia, seu conhecimento sobre a planta misteriosa se aprofundava, e ele se sentia cada vez mais confiante em sua capacidade de completar a missão com sucesso.
Depois de passar algumas horas na biblioteca, absorvendo todo o conhecimento que podia, Asrael finalmente se sentiu preparado para enfrentar o desafio que o aguardava. Ele deixou a guilda com um sorriso no rosto e um sentimento de determinação renovada, pronto para começar sua jornada como aventureiro.
O sol estava se pondo no horizonte quando Asrael saiu dos portões da cidade e se dirigiu em direção à floresta, onde sua primeira missão o esperava. Ele sabia que o caminho à sua frente seria longo e cheio de perigos, mas estava pronto para enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente.
O sol estava se pondo no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados enquanto Asrael procurava um lugar para montar acampamento. Ele encontrou um local tranquilo à beira de um riacho, onde montou sua barraca e acendeu uma fogueira para se aquecer durante a noite.
Enquanto se preparava para descansar, ele ouviu uivos distantes ecoando pela floresta, fazendo seu coração acelerar um pouco. Porém, ele sabia que estava seguro dentro de sua barraca e logo adormeceu, deixando os sons da noite embalarem seu sono.
Quando o sol nasceu na manhã seguinte, Asrael desmontou seu acampamento e seguiu viagem, seus pensamentos vagando enquanto caminhava. Ele observava as paisagens ao seu redor, pensando em como seria bom ter um cavalo para viajar mais rapidamente. Essa se tornou uma de suas metas enquanto explorava o mundo.
Enquanto viajava, ele notou várias espécies de plantas que reconheceu dos livros que havia lido na biblioteca da guilda. Ele se sentia grato pelo conhecimento que adquirira, pois agora conseguia identificar e utilizar plantas úteis em suas viagens. Ele colheu alguns ramos de cavalinha, uma planta conhecida por suas propriedades cicatrizantes, sabendo que seriam úteis em suas futuras jornadas.
Enquanto mergulhava mais fundo na floresta, Asrael não pôde deixar de notar os sons estranhos ao seu redor. A floresta parecia viva, cheia de murmúrios e sussurros que ecoavam entre as árvores. Ele se lembrou do apelido que os moradores locais davam àquela floresta: "a floresta das mil vozes".
Enquanto continuava sua busca pelos brotos de árvore falante, Asrael percebeu que havia se distanciado demais do caminho de volta. Ele sentiu uma pontada de ansiedade enquanto lutava para encontrar o caminho de volta, mas uma voz sussurrante em sua mente insistia para que ele continuasse em frente.
Por mais de duas horas, Asrael explorou a floresta em busca dos brotos, mas não encontrou nenhum sinal deles. Sentindo-se frustrado e exausto, ele decidiu voltar pelo mesmo caminho que havia vindo. No entanto, uma sensação angustiante o dominou, e ele se viu sendo puxado para frente, como se alguma força invisível o estivesse impulsionando para frente.
Finalmente, ele chegou a um claro na floresta e deparou-se com uma cena aterradora: um monstro de cinco metros de altura, com pelagem avermelhada e um único olho, emergiu das sombras à sua frente. Asrael nunca havia visto algo tão assustador em sua vida, e seu coração disparou enquanto ele tentava encontrar uma saída daquele pesadelo.
Sem hesitar, Asrael virou-se e correu o mais rápido que pôde, ignorando o medo que o consumia. O som dos passos pesados do monstro ecoava atrás dele, fazendo-o correr ainda mais rápido. Ele não sabia para onde estava indo, apenas seguia em frente, desesperado para escapar da morte iminente.
Enquanto corria, Asrael avistou uma luz brilhante à frente, iluminando o caminho à sua frente. Ele correu em direção à luz, ignorando a dor e o medo que o consumiam. No último momento, ele se viu à beira de um abismo, mas sem hesitar, ele saltou, deixando-se cair na escuridão abaixo.
Ele aterrissou em meio à vegetação densa, sentindo o impacto doloroso de sua queda. Machucado e desorientado, ele olhou ao redor, tentando se orientar na escuridão da floresta. O monstro não havia o seguido, mas ele sabia que ainda não estava a salvo.
Enquanto caminhava cambaleante entre as árvores, Asrael avistou uma estranha vila à distância. A visão deixou-o perplexo e, ao mesmo tempo, alarmado. Por que haveria uma vila ali, no meio da floresta? A dúvida ecoou em sua mente, mas ele decidiu seguir em frente, afastando seus medos.
À medida que se aproximava da vila, percebia o quão estranha ela era. As casas pareciam ser feitas das próprias árvores, com uma altura de aproximadamente um metro. Apesar da sensação de desconforto, o instinto de Asrael o impelia a continuar.
"Olá? Há alguém aqui?" Sua voz saiu trêmula, carregada de receios. Ele aguardou em silêncio, mas só recebeu o eco de sua própria pergunta. Então, uma risada ecoou ao seu redor, fazendo-o estremecer.
"HAHAHA!" A risada parecia vir de todos os lugares ao mesmo tempo, deixando Asrael ainda mais confuso. Antes que pudesse reagir, foi atingido por um golpe furtivo e caiu no chão, perdendo a consciência por alguns instantes.
Quando recuperou os sentidos, encontrou-se amarrado em uma copa de árvore, cercado por seres pequenos e curiosos. Não eram humanos, mas algo semelhante, muito menores. E então, a memória das histórias de sua infância veio à tona: gnomos.
Ele observou os gnomos conversando em uma língua que ele não entendia, rindo da situação em que se encontrava. Ao olhar para baixo, uma onda de desespero o inundou. Suas pernas estavam terrivelmente feridas, e ele percebeu que estava sobre uma fogueira.
Asrael sentiu o pânico se instalar em seu peito. Preso, ferido e sem entender a língua dos gnomos, ele se perguntou o que poderia fazer para escapar dessa situação terrível.