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Chapter 4 - Criando Laços

Ao sair da floresta e adentrar a planície, a luz do sol ardia nos olhos de Asrael, que já não estavam acostumados com tanta luminosidade após tanto tempo sob a densa cobertura arbórea. Apesar de agora estar seguro, sabia que o caminho ainda era longo e repleto de desafios. O perigo dos bisões de quatro chifres rondando a região era uma preocupação constante.

Enquanto seguia pelas vastas planícies, contornando o rio, Asrael se encantava com a beleza da paisagem. Flores roxas balançavam suavemente ao vento, coelhos atentos saltavam ao seu redor e pássaros majestosos cortavam os céus. Era um cenário de tirar o fôlego, um contraste reconfortante após as sombras da floresta.

Com o passar das horas, a dor se intensificava, obrigando-o a fazer pausas para descansar e se alimentar. Evitou mexer na fruta vermelha, incerto sobre sua comestibilidade. Ao meio-dia, prosseguiu sua jornada, determinado a alcançar a vila.

Após horas de caminhada,a noite chegou e Asrael precisou novamente descansar. Preparou uma modesta fogueira e examinou seus ferimentos, que agora estavam infectados. Com cuidado, limpou as feridas com água e reaproveitou a gaze antiga. Os pesadelos da noite anterior assombravam sua mente, fazendo-o questionar sua própria capacidade diante dos desafios enfrentados.

Ao amanhecer, decidido a seguir em frente, Asrael retomou sua jornada. Apesar das adversidades, sentia uma determinação renovada em seu interior. Conforme o anoitecer se aproximava, avistou finalmente a vila ao longe. Se aproximando dela,avistou a taverna que tinha visitado na ultima vez, ao entrar na taverna, sentiu o peso do olhar atônito do taverneiro. Rapidamente, o homem correu em busca de uma bacia com água e um pano, sua expressão revelando preocupação genuína. Asrael, com a palidez no rosto, esboçou um sorriso fraco e agradeceu pela ajuda.

O taverneiro, enquanto cuidava dos ferimentos de Asrael, não conseguiu conter a curiosidade e indagou com voz grave: "O que aconteceu, rapaz? Essas feridas... são de um tipo que não se vê todos os dias por aqui."

Asrael, ainda um tanto debilitado, hesitou antes de responder. "Fui atacado... na floresta. Criaturas estranhas, nunca vi nada assim. Pensei que seria meu fim." Seus olhos carregavam uma mistura de temor e alívio ao compartilhar a experiência.

O taverneiro assentiu, compreensivo. "A Floresta das Mil Vozes... se não for familiarizado com ela se torna um lugar misterioso e perigoso. Poucos são os aventuram novatos que vão para lá e retornam ilesos." Ele continuou a cuidar das feridas, murmurando conselhos sobre cuidados e repouso.

Curioso, o taverneiro perguntou: "Eu que conheço? Me recordo do seu rosto"

Asrael suspirou antes de responder: "Sou de uma vila pequena, Vim aqui enquanto se encaminhava para Narter." Sua voz carregava um tom melancólico ao falar sobre sua terra natal.

O taverneiro, enquanto enrolava as ataduras, expressou empatia. "Ah recordei. Fique o quanto precisar. E me chame de Eamon." Sorriu amigavelmente, transmitindo calor humano e acolhimento, enquanto finalizava o tratamento nos ferimentos de Asrael.

As palavras reconfortantes do taverneiro trouxeram um pouco de alívio para Asrael, que se sentia vulnerável e desamparado após o encontro na floresta. Ele assentiu, incapaz de expressar completamente sua gratidão naquele momento e adormeceu".

Após acordar, Asrael decidiu conversar com o taverneiro sobre sua partida para a cidade de Narter. Earmon expressou sua preocupação, mas sabia que não podia segurar o jovem por mais tempo. Apesar da despedida, uma nova amizade havia surgido.

Continuando sua jornada, Asrael logo chegou ao portão da cidade. A fila para entrar ainda estava tão longa quanto da primeira vez, e ele suspirou resignado, ciente de que teria que esperar novamente.

Enquanto aguardava sua vez, um pensamento repentino o assaltou: onde estaria sua identidade? Asrael revirou seus pertences, mas não encontrou o documento. Preocupação tomou conta dele, especialmente sem a presença reconfortante de Vincent para ajudá-lo. Quando finalmente chegou sua vez, Asrael sentiu o coração acelerar, temendo o pior. No entanto, para sua surpresa e alívio, o guarda permitiu sua passagem, chamando-o de "Aventureiro". Asrael sentiu um calafrio de empolgação a ser reconhecido como tal.

A caminhada pela cidade de Narter trouxe à tona uma sensação estranha para Asrael. Enquanto mancava pelas ruas movimentadas, ele observava o vaivém das pessoas, cada uma imersa em sua própria rotina e preocupações. Não havia sorrisos amigáveis ou gestos de gentileza, apenas uma atmosfera impessoal e distante.

As diferenças em relação à sua vila natal eram gritantes. Lembrou-se das pessoas acolhedoras e alegres que habitavam sua comunidade, sempre prontas para ajudar uns aos outros em momentos de necessidade. Aqui, porém, parecia que cada um estava por conta própria, em seu próprio mundo isolado.

Enquanto refletia sobre isso, Asrael se sentiu mais solitário do que nunca. Mesmo rodeado por uma multidão de pessoas, ele experimentava uma sensação de isolamento que nunca havia sentido antes. Era como se estivesse perdido em meio a uma multidão indiferente, sem ninguém para compartilhar seus pensamentos ou preocupações.

Essa solidão o acompanhou enquanto ele continuava sua jornada pela cidade, lembrando-o das conexões humanas que deixara para trás em sua vila natal.

Chegando próximo à igreja, Asrael avistou a guilda dos Aventureiros e decidiu entrar. Os olhares curiosos dos presentes logo se voltaram para ele, mas logo retomaram suas atividades. As feridas de Asrael chamaram a atenção de Claire quando ela saiu da biblioteca, e ela o indicou a se sentar. Outros aventureiros também ofereceram ajuda, o que surpreendeu Asrael, pois esperava um ambiente mais impessoal na guilda.

– Como isso pode acontecer? Era uma missão fácil. –, ponderou Claire ao ver os ferimentos de Asrael.

– Tive uns contratempos no caminho. –, explicou Asrael, exibindo os brotos que havia coletado e com um leve sorriso trêmulo

Os aventureiros próximos riram e o elogiaram por sua coragem, dando tapinhas em suas costas.

– O garoto tem coragem! –, exclamou um dos aventureiros, divertido.

Claire, então, lembrou-se da recompensa e conduziu Asrael ao escritório da guilda. Após ouvir o relato de Asrael, Claire ponderou sobre a natureza do monstro desconhecido e dos gnomos, levantando a possibilidade de ser obra dos demônios. Asrael conhecia apenas histórias sobre os demônios, criaturas cuja origem remontava aos sangues de raças caídas na guerra,quanto mais derramamento de sangue,para eles melhor. A menção dos demônios trouxe um clima de suspense à sala, mas Claire logo sorriu e assegurou a Asrael que não precisava se preocupar, pois informaria a sede principal.

– Vou informar a sede principal sobre isso. Não se preocupe. –, tranquilizou Claire.

Antes de sair, Asrael recebeu sua recompensa: cinco moedas de bronze. Com elas, poderia passar cinco noites em uma taverna. Claire também informou que ele só poderia realizar missões de entrega no momento, o que era um tanto preocupante,pois eram as que menos aparecem no quado. Deixando essas preocupações de lado por enquanto, Asrael foi até a biblioteca em busca de conhecimento sobre esgrima, uma habilidade que sabia ser essencial para suas futuras empreitadas. Ao folhear um livro sobre espadas curtas, Asrael ficou surpreso ao descobrir a importância do fortalecimento do corpo como um todo para se tornar um espadachim habilidoso. Essa revelação o deixou animado e ansioso para começar sua jornada de aprendizado e crescimento na guilda dos Aventureiros.

Asrael não percebeu o tempo passar até que a noite se instalou sobre a cidade. Com a necessidade de encontrar um lugar para passar a noite, ele se aventurou pelas ruas iluminadas apenas pela luz das estrelas e das tochas que adornavam os estabelecimentos.

Ao passar por uma taverna, Asrael foi atraído pela animação que transbordava de suas janelas. Risadas contagiantes e música preenchiam o ar, e mesmo do lado de fora era possível sentir a energia vibrante do local.

Asrael, ao entrar na movimentada taverna, foi envolvido pela agitação noturna. Risos, conversas animadas e o tilintar de copos preenchiam o ambiente. Ao perceber a atmosfera acolhedora, escolheu um canto para apreciar a cena.

Enquanto observava, uma voz conhecida ecoou: "Me chama de iluminismo e vem ser a razão da minha vida." Era Vincent, trajando seus característicos trajes e exibindo a expressão de sempre. Mesmo tentando passar despercebido, Asrael não resistiu e exclamou: "Vincent!"

O amigo se virou, oferecendo um breve sorriso, mas logo suas companhias femininas o confrontaram com desdém: "Você não era Carlos, filho de um comerciante rico?" A resposta veio na forma de um tapa para cada uma delas, seguido por narizes empinados ao se afastarem.

Asrael se aproximou com um pedido de desculpas, ao qual Vincent descontraidamente respondeu: "Não precisa se preocupar. Não estava querendo tanto assim." Deixando o incidente de lado, Vincent indagou sobre o progresso de Asrael.

"Completei minha primeira missão há pouco tempo. Estou feliz," compartilhou Asrael com entusiasmo. A resposta de Vincent veio animada: "Então isso é algo para se comemorar!" Ele se dirigiu ao taverneiro, gritando: "Bebida por minha conta!"

O taverneiro suspirou, mas um leve sorriso indicava que estava disposto a participar da celebração. Era o início de uma noite memorável na qual, entre risadas e brindes, Asrael compreendeu que a amizade de Vincent era um presente em meio ao tumulto da cidade.