Por um período de tempo, Roland se trancou em seu quarto enquanto revisava cuidadosamente as memórias deste novo mundo, e tinha o jantar enviado diretamente a ele por seus servos.
Por causa de seu grande desejo de continuar vivo, Roland reprimiu completamente seu medo e desconforto do ambiente desconhecido em que se encontrava. Ele estava totalmente ciente de que, se quisesse se adaptar e evitar ser suspeito por pessoas ao seu redor, precisava adquirir mais informações o mais rápido possível.
Deve-se dizer que, além das informações sobre ele mesmo se envolvendo com outras crianças nobres, sua nova memória não consistia em muita coisa além. Ele não conseguia relembrar nenhuma informação de valor, como conhecimento da aristocracia, a situação política de seu próprio país, ou os laços diplomáticos com países vizinhos... Embora ele tivesse algum conhecimento geral, como nomes de cidades, e anos de eventos significativos, eles eram completamente diferentes da história da Europa que ele conhecia anteriormente.
Portanto, ficou evidente para ele que ele não tinha absolutamente nenhuma chance de obter o trono. Talvez o próprio Rei de Cinzocastelo estivesse ciente disso, e por causa disso, enviou Roland para este lugar infernal. Mesmo que ele bagunçasse tudo, não causaria muitos danos.
As próximas memórias que Roland lembrou foram de seus irmãos e irmãs, e o que ele encontrou o deixou inseguro se deveria rir ou chorar.
O irmão mais velho de Roland, o Primeiro Príncipe, era um grande guerreiro. Seu segundo irmão era sinistro e maquinador, sua terceira irmã era agressiva e selvagem, e sua quinta irmã era extremamente inteligente. O que ele deveria dizer? Depois de conviver com eles por mais de uma década, sua impressão deles podia ser resumida em algumas palavras. Ele não sabia nada sobre a extensão de seu poder, seus subordinados, ou suas habilidades e talentos.
Apenas três meses em sua liderança de Cidade da Fronteira, o nobre já havia parado de esconder seu desprezo e menosprezo em relação a ele. Era evidente que o Quarto Príncipe não era destinado a ser um líder. Felizmente, quando ele deixou a Cidade do Rei, ele foi acompanhado por dois assistentes—um para questões civis e um para questões militares—que foram fornecidos pelo rei, ou então a situação teria sido muito pior.
Quando Roland acordou na manhã seguinte, foi repetidamente lembrado por sua empregada, Tyre, que o Ministro Assistente Barov queria vê-lo. Percebendo que já não podia mais adiar, ele deu umas apalpadelas nas nádegas da empregada—como recordou ser costume do Roland original fazer, e disse a ela para informar que Barov o aguardasse na sala de estar.
Ele viu o rosto de Tyre corar intensamente quando ela saiu do quarto. De repente, Roland pensou, "Já que a Cidade da Fronteira está principalmente envolvida com a agricultura, existe algum sistema de qualquer tipo em funcionamento?" Ele bocejou e mentalmente repetiu a palavra 'sistema' muitas vezes em sua cabeça, mas não conseguiu pensar em nada.
De fato, os romances eram todos ficção.
Barov estava aguardando ansiosamente na sala de desenho. No momento em que Roland apareceu, ele imediatamente apressou-se em sua direção e perguntou, "Sua Alteza, por que não ordenou a execução ontem?"
"Um dia mais cedo ou um dia mais tarde, qual é a diferença?" Roland disse enquanto batia as mãos como sinal para os servos trazerem o café da manhã. "Sente-se e vamos conversar."
De acordo com suas memórias, o Cavaleiro Chefe preferia fazer perguntas na frente de outras pessoas, enquanto o Ministro Assistente geralmente escolhia conversar em particular. De qualquer forma, ele podia confiar em ambos para serem leais a ele, mesmo que provavelmente o fizessem como parte de seu dever para com o rei.
"Apenas um dia pode ser o suficiente para outras bruxas aparecerem, Sua Alteza! Isso não é como qualquer outra questão trivial, você não pode agir de forma tão imprudente como antes!!", alertou Barov.
"Por que você também está dizendo isso?", perguntou Roland, franzindo a testa. "Eu pensei que você poderia distinguir entre rumores e fatos."
Barov pareceu desnorteado. "Que rumores?"
"Que bruxas são maléficas e são os emissários do Diabo", respondeu Roland casualmente. "Não é essa a propaganda da Igreja? Se não quisermos que eles interfiram em nossos assuntos, devemos fazer o oposto do que eles dizem. Não vamos deliberadamente caçar bruxas e, em vez disso, vamos divulgar aos nossos cidadãos que tudo isso são calúnias vergonhosas espalhadas pela Igreja."
Barov ficou chocado. "Mas... As bruxas realmente são..."
"Malignas?" Perguntou Roland em resposta. "Como assim?"
O Ministro Assistente permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse tentando adivinhar se o príncipe estava deliberadamente zombando dele, "Sua Alteza, esse problema pode ser discutido mais tarde. Eu entendo que você não gosta da Igreja, mas esse modo de causar conflito é contraproducente."
Roland curvou seus lábios. Parecia que reverter esse mito sobre as bruxas não podia ser feito da noite para o dia, e ele decidiu por não discutir mais isso por enquanto.
O café da manhã finalmente chegou à mesa, consistindo em pão frito, ovos fritos e uma caneca de leite. Ele primeiro serviu uma caneca cheia de leite e ofereceu a Barov.
"Você ainda não tomou café da manhã, certo? Vamos comer enquanto conversamos." De acordo com a empregada, Barov havia chegado do lado de fora do castelo ao amanhecer, e portanto não deveria ter tido tempo de comer. Embora ele tivesse decidido imitar o modo de vida do príncipe anterior, ele também decidira começar a mudar a forma como as pessoas o viam um pouco de cada vez. Embora ele tenha decidido imitar a maneira de fazer as coisas do Príncipe Roland no início, ele também queria fazer mudanças gradualmente. O Ministro Assistente é um bom primeiro alvo para o meu plano. Pensava Roland. "Fazer com que os subordinados se sintam valorizados invariavelmente os torna mais motivados para trabalhar para si mesmos. Tomar a iniciativa é sempre a maneira mais eficiente de fazer as coisas, não é?"
Barov aceitou a caneca de leite de Roland, mas não bebeu. Ele disse ansiosamente: "Sua Alteza, temos um problema. Três dias atrás, guardas relataram que um acampamento suspeito de ser habitado por bruxas foi descoberto na floresta ocidental. Eles partiram às pressas e não apagaram seus rastros. Um guarda encontrou isso no acampamento."
Ele tirou uma moeda do bolso e a colocou na frente de Roland. Essa não era uma moeda comum vista no reino, pelo menos de acordo com as memórias de Roland, e ele nunca tinha visto tal moeda. Na verdade, não parecia ser feita de metal. Ele beliscou a moeda em suas mãos e se surpreendeu ao sentir que a moeda estava ficando mais quente. O calor definitivamente não vinha do corpo do Ministro Assistente, estava acima de 40℃ pelo menos, e o fez pensar em bolsas de aquecimento.
"O que é isso?" Roland perguntou.
"Eu pensei que fosse apenas algum artefato obscuro que uma bruxa fez, mas é realmente mais sério do que isso". Barov teve que fazer uma pausa para enxugar a testa. "O padrão impresso é conhecido como Insígnia de Montanha Sagrada e Olho Mágico, que é o emblema da Associação de Cooperação das Bruxas."
Roland esfregou a superfície irregular da moeda, e presumiu que provavelmente era feita de cerâmica queimada. De fato, ele viu que no centro da moeda estava esculpido um padrão em forma de montanha—Era formado por três triângulos justapostos, e a imagem de um olho estava colocada no espaço entre os triângulos. As linhas de contorno do padrão eram muito cruas, e, portanto, ele julgou que foi feita à mão.
Roland tentou relembrar os dois termos "Insígnia de Montanha Sagrada e Olho Mágico " e "Associação de Cooperação das Bruxas", mas não descobriu nenhuma informação relevante. Parecia que o Príncipe Roland não sabia nada sobre ocultismo.
Nem Barov esperava que Roland tivesse algum conhecimento sobre isso. Ele continuou, "Sua Alteza, você nunca viu uma bruxa de verdade antes, então é compreensível que você não esteja impressionado. Como nós, elas podem ser feridas. Elas sangram e não são mais difíceis de matar do que o resto de nós, mas isso é apenas para as bruxas que não têm resistência. O tempo de vida das bruxas que recebem o poder do Diabo diminuiria muito, mas elas obteriam uma quantidade terrível de poder que as pessoas comuns são incapazes de rivalizar. Uma vez que as bruxas estão desenvolvidas por completo, nossos exércitos sofrerão muito. Seu apetite por desastre é extremamente difícil de conter ou suprimir e elas já degeneraram em lacaios do diabo. A Igreja, portanto, formou um Exército de Punição, que prenderia e executaria qualquer mulher que fosse descoberta tendo a menor chance de se transformar em bruxa. O Rei aprovou este decreto e, na verdade, estas medidas têm sido altamente eficazes e os incidentes de bruxas causando estragos diminuíram muito em comparação com cem anos atrás. Rumores sobre a Montanha Sagrada, ou melhor, os Portões do Inferno, foram derivados de um livro antigo daquela época."
Roland, enquanto roía seu pão, zombava em seu coração continuamente. Embora as histórias deste mundo e do mundo de onde ele veio fossem muito diferentes, suas trajetórias históricas eram surpreendentemente semelhantes. A Igreja ainda era a Igreja; ele entendia que a religião era o verdadeiro lacaio do diabo e a verdadeira fonte do mal. Executar uma pessoa porque um pequeno sinal foi descoberto, e usar o nome de Deus para fazer leis, e então prender, julgar e condenar uma pessoa, já é em si uma forma de degeneração. As memórias do Príncipe Roland quanto ao abuso de autoridade pela Igreja corroboravam com suas opiniões.
Desconhecendo os pensamentos de Roland, Barov continuou, "Está registrado nos livros antigos que as bruxas só podem encontrar a paz real na Montanha Sagrada. Lá, elas não seriam mordidas de volta por seus poderes mágicos, e não seriam incomodadas por desejos emergentes. Não há dúvida de que a chamada Montanha Sagrada é o berço do mal e uma entrada do mundo humano para o Inferno. Eu acho que só o Inferno não puniria esse bando de degenerados."
"E quanto à Associação de Cooperação das Bruxas? Qual é a relação deles com a Montanha Sagrada?" Roland perguntou.
Barov explicou com uma careta, "No passado, as bruxas atuavam solitárias, fosse para fugir ou para se isolar. Mas nos últimos anos, a Associacao de Cooperação das Bruxas apareceu e fez uma diferença. Elas queriam reunir todas as bruxas e encontrar a Montanha Sagrada juntas. Para este propósito, a Associação de Cooperação das Bruxas atrairia outras pessoas para se tornarem bruxas. No Porto de Água Clara, houve muitos casos de desaparecimento de bebês do sexo feminino no ano passado, e há rumores de que foram os feitos das bruxas."