— Vocês vão se arrepender! Drina vai esmagar todos vocês! Hahahah! — Diversas esferas de energia surgiam do centro do cajado enquanto ela o girava constantemente. Elas não necessariamente tinham algum alvo, já que atingiam pontos extremamente distintos um do outro. A quantidade era grande o suficiente para os guardas improvisarem uma posição de defesa focada em seus escudos.
Hitori sentiu um pouco de sua respiração ser puxada para a direção da mulher que o protegia, a qual aparentava preparar um contra-ataque. O vento a rodeou por completo, e então, em um salto de disparada, ela ficou cara-a-cara com Drina. Aproximou a ponta de sua lâmina próxima aos lábios de sua oponente, que de repente começou a perder suas forças, até que não mais pudesse se manter no ar, resultando em sua queda. A mulher gerou uma pequena ventania no local onde ela atingiria, para que Drina não acabasse morta. Sentia que precisava dela viva para que tivesse esclarecimentos do que ocorreu ali. Em finalização, ela utilizou de seus poderes para planar e chegar ao chão com delicadeza.
— Parece que a situação está sob controle. — Apontou.
— O que você fez? — Perguntou Hitori.
— Apenas tomei sua respiração, ao ponto de perder a consciência. — Explicou enquanto encarava o corpo desmaiado de Drina, procurando qualquer pista relevante. Os guardas rapidamente se aproximaram para amarrar a garota derrotada. A calma no tom de voz dela após dizer algo tão horrível assustava o garoto.
— Parece que cheguei tarde demais. — Melias surgiu no local sem que ninguém o notasse. A mulher o respondeu com um abraço sincero. Um pouco surpreso, o rapaz não esboçou nenhuma reação.
— Eita... — Diz Hitori acidentalmente.
— O que faz aqui, Nicha? — Melias questiona.
— A notícia de WaterHill se espalhou. Não consegui acreditar, então preparei viagem o mais rápido que pude... — Ela respondeu. Mesmo após o abraço, Nicha manteve suas mãos nos ombros de Melias, porém seus olhos fitavam o chão. — Estão todos mortos mesmo? — Perguntou incrédula.
— Acreditamos que não. Quando cheguei no reino, notei que não havia corpos em lugar nenhum. Não faço ideia do que está acontecendo, por isso justamente estava indo ao seu reino. Preciso de sua ajuda para descobrir onde os sobreviventes estão.
— Claro. Eu entendo completamente o seu pedido. Vamos voltar à Astarel agora mesmo. — Se virou para a direção do celeiro, ao lado do hotel.
— Obrigado mesmo, Nicha. Com o apoio de Astarel, sinto que teremos mais chance de entender o que aconteceu.
— Não me agradeça, você sabe que já me ajudou muito. Devo isso a você, Melias! — Ela começa a caminhar para os cavalos.
— É bom ver um rosto conhecido depois disso tudo, afinal de contas. — Expressou Melias.
— Eu concordo...
— Alteza, me perdoe interromper. — um dos guardas se aproxima de ambos — Achamos alguém tentando escapar pela floresta. Pelo visto, estava junto a esta garota que capturamos. — Ele informa em uma postura rígida.
— Traga-o imediatamente. — Ordena Nicha.
O Sol da tarde ardia sobre os ferros e metais das armaduras vestidas pelos guardas. Grande parte dos oficiais buscavam quaisquer vestígios de outras pessoas envolvidas no ataque ao hotel. Era a primeira vez em dezenas de anos que o pacífico Vilarejo dos Laranjais era palco de uma operação de tamanha magnitude.
Dentro do celeiro, o sujeito capturado era constantemente forçado a fornecer qualquer tipo de informação, mas por horas se manteve relutante sobre isso. Melias, tomado por uma raiva inexplicável após saber que o seu primo era o alvo, o agarrou pelo pescoço e levantou seu corpo sobre a parede.
— Já não tenho paciência para você! Diga tudo o que sabe, senão...
— Melias, pare já! — Nicha o interrompe, fazendo-o soltar o pescoço do homem. — Ele é um suspeito oficialmente capturado pelo reino de Astarel. Não podemos utilizar de violência para tirar informações dele. — Deixe que ele mesmo sinta o terror que é viver naquela prisão. — Ela o encarou de lado, tamanho era o olhar aterrorizador, que o homem não resistiu em manter o contato visual. Todos conheciam a terrível fama da prisão de segurança máxima de Astarel.
— Pacto. — O homem respondeu. O gaguejo revelava o pouco de relutância que ainda se mantinha.
— Pacto? — Melias e Nicha perguntam ao mesmo tempo.
— Se você está com problemas... basta solicitar a sua ajuda... — Ele fechou seus olhos. —...a ajuda de Goëtia.
Ambos ficaram em silêncio por algum tempo.
— Então Goëtia existe mesmo... — Nicha diz para si mesma em uma voz trêmula. Melias ainda permanece calado.
— Pode pedir o que quiser; dinheiro, poder, vingança... ele faz tudo o que o seu coração desejar. Em troca, você se torna seu súdito. — Ele finaliza.
— Se está mesmo envolvido com Goëtia, por que nos conta tudo isso? — Questionou Melias.
— Eu já sou um homem morto, mesmo. Tinha muitas dívidas, jamais poderia pagá-las normalmente. A minha única alternativa foi implorar pela ajuda dele. — A redenção do homem refletia em seus olhos de desesperança. Se manteve calado por alguns segundos, até que seu corpo hesitou e caiu para frente.
Melias rapidamente se aproximou do homem. Mesmo sabendo o que havia acontecido, não conseguia acreditar naquilo. Ele simplesmente havia morrido, como se alguém tivesse o desligado. Talvez aquele fosse o poder de Goëtia, ou senão, somente uma parcela.
— Que desastre... que desastre! — Nicha caminha de um lado para o outro. Sua mente estava tão desnorteada que mal sabia o que pensar. Goëtia sempre foi uma lenda, daquelas tão inacreditáveis que jamais alguém acreditaria. E mesmo após o que acabara de presenciar, ainda não conseguia crer.
— Não precisa se envolver e envolver o seu reino nisso, Nicha. É perigoso demais. — Melias carrega o corpo do homem, como forma de respeito pela sua cooperação. Queria poder fazer mais por ele, mesmo que seu rancor pelo mesmo se mantivesse, devido querer capturar Hitori.
— Astarel e WaterHill sempre se ajudaram, Melias. Creio que o seu reino faria o mesmo por nós. Eu só... fiquei chocada, um pouco. Não esperava por isso. — Ela suspira, mas logo recupera a sanidade.
— Interrogaremos Drina assim que acordar, então. — Informa Melias.
Os guardas escolhidos para escoltar Hitori, Melias e Nicha, juntamente a prisioneira, prepararam os cavalos para a partida. Já era hora do sol se pôr, e a silenciosa noite era a maior responsável por esconder a feição de medo que preenchia os rostos de todos. A carroça adentrou a floresta, e por cerca de um dia e meio, continuou pelo percurso até chegar em Astarel, o reino ao oeste de WaterHill.
Ano 1444 da Terceira Grande Era – Reino de Astarel;
— Aqui é tão lindo... — Observou Hitori. Seus olhos estavam imersos na paisagem do reino. Astarel era completamente diferente de WaterHill. O reino natal de Hitori em sua maior parte tinha ruas de barro, juntamente a plataformas e pontes de madeira, que serviam para se isolar do solo encharcado e dos diversos lagos lá presentes. Astarel não tinha aquilo; os edifícios eram compostos por tijolos de pedras, seus telhados eram triangulares e feitos de madeira pintada com uma coloração azulada, deixando toda a cidade em um padrão cinza e azul. Havia somente uma avenida principal, a qual ligava todos os diversos becos do reino. A extensa e larga avenida estava recheada de caixotes de madeira e estabelecimentos representados por placas suspensas nas paredes. Havia uma grande quantidade de símbolos entregando o foco de cada comércio; como uma espada para equipamentos, e um copo de cerveja transbordando para as tavernas.
Mesmo que fosse um lugar movimentado, todos davam passagem para Nicha McQuaid, a princesa de Astarel e única figura Real viva do reino. Estavam indo em direção ao castelo, que em época de guerras fora construído em frente a uma enorme superfície plana de rocha, formando uma parede reta, que protegia o reino e a realeza de um possível ataque da retaguarda.
A esse ponto, Drina já estava detida na prisão de Astarel. Ela aguardava inquietamente pela interrogação de Melias e Nicha, que no momento se encontravam no castelo do reino, discutindo sobre WaterHill e o que poderiam fazer sobre. Hitori tentava escutar a conversa do lado de fora do escritório
— Mais cedo me entregaram o relatório da autópsia do homem supostamente morto por Goëtia. — Ela coloca um papel sobre a mesa e suspira fundo antes de dizer. — Incrivelmente, a morte é apontada como acidental. Parece que o coração simplesmente deixou de funcionar, e não existe qualquer resquício de magia ou poder sobrenatural no corpo.
— Sabemos que é muita coincidência ele morrer assim. — Melias reanalisa o relatório na esperança de encontrar algo, mas sem sucesso. — Não me é estranha a ideia de que Goëtia possa fazer isso sem magia. — Ele conclui.
— Eu duvido muito de que aquela maga maluca vai nos dizer qualquer coisa. — Nicha desabafa.
— Farei ela dizer. Quero saber o porquê estavam atrás de Hitori. — Ele responde com convicção.
A conversa é interrompida por um estrondoso barulho de explosão vindo da prisão de Astarel. Nicha tentou ver o que estava acontecendo pela janela, mas o Sol impedia qualquer visão naquela direção. Melias rapidamente abriu a porta para se dirigir ao local do acontecido, fazendo Hitori cair de rosto no chão.
— Hitori, você estava ouvindo... — Melias se absteve de dar qualquer sermão naquele momento. Em questão de segundos, já estava nas ruas de Astarel.
— Espera, Melias! Eu vou com você! — Gritou o garoto enquanto tentava seguir seu primo, mas sem sucesso, pois Nicha o segurou pela gola da camisa.
— Pequeno Hitori, não se meta em perigo novamente. — Aconselhou a princesa do reino.