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Chapter 11 - A TARTARUGA E A LEBRE

O intenso verde das folhas e a larga escala na colheita do trigo revelavam o verão em seu auge. Haviam se passado cinco meses desde que Hitori iniciou o seu treinamento com a aerocinese, e estava tão bem quanto Nicha poderia esperar. A princesa optou por não contar sobre a pulseira. Arriscava imaginar que a imaturidade do pequeno ao saber da sua fácil aptidão em dominar um novo elemento pudesse o impedir de desenvolver melhor as suas habilidades, tornando-o prepotente o suficiente para estagnar-se em um nível iniciante.

Mas este tempo não resumiu-se apenas ao avanço de suas técnicas, pois agora os dois jovens estavam mais próximos do que nunca, tratavam-se como irmãos de sangue. O garoto se tornou a parte mais feliz dos dias da princesa de Astarel. Quem poderia imaginar que alguém tão áspero pudesse ter em seu interior uma personalidade doce o bastante para conquistar o coração de uma criança? Para falar a verdade, nem a própria princesa pensava algo assim.

- Hitto, traga mais ovos para mim, por favor. - Solicitou Nicha enquanto misturava a clara com o trigo no balcão. Assim como nos últimos dias, estavam preparando o café da manhã juntos. Após descobrir o passatempo preferido de Nicha, Hitori pediu para cozinhar junto à ela, mas apenas recentemente esse pedido se tornou realidade. Tentou impressiona-la despejando o conteúdo de dentro da casca, mas que saiu de forma desajeitada o bastante para chamar a atenção da princesa. Antes que pudesse corrigi-lo, Richard apareceu na cozinha pela terceira vez.

- Vossa Alteza, mais um soldado está pedindo folga para hoje. Devo conceder? - O mordomo parecia cansado por comparecer tanto no mesmo lugar e questionar a mesma coisa. Nicha confirma com a cabeça, sendo o suficiente para que Richard se retirasse dali, mas não antes de Hitori o cumprimentar carinhosamente com um "bom dia" acompanhado de um gentil sorriso uma outra vez.

- O senhor Richard já veio aqui várias vezes falando disso. O que tá acontecendo, Nic? - Hitori perguntou enquanto batia a massa em uma tigela de madeira velha com a ajuda de uma colher do mesmo material.

- Ah, é mesmo. Devia ter te contado. - Ela para de amassar a farinha e olha para o garoto. - É o Festival Cultural Astareliano.

- Festival? Eu posso ir? Será que eu poderia ter um dia de folga também? - Nic abismou-se com o olhar do pequeno quase implorando para ir ao evento. Sua expectativa com a resposta deixava seus olhos maiores do que já eram. A moça suspirou e sequer tentou recuperar a sua personalidade rígida.

- Bom, acho que sair uma vez dos aposentos do castelo não tem problema. - Afirmou, mesmo que estivesse um pouco relutante com a ideia. O garoto comemorou cantarolando e saltitando em círculos pelo cômodo, até que caiu por cima da tigela e do que tinha dentro. A massa gosmenta grudou por todo o seu cabelo agora bege.

- Tenha mais cuidado, pequeno Hitto. - Agachou-se e ajudou Hitori a se levantar, e, com um pano úmido limpou gentilmente o seu rosto.

- O que vai ter nesse festival? - Perguntou enquanto o tecido molhado viajava por sua pele. Distraída com preocupações, a moça não ouviu o menino de imediato, mas logo atentou-se a pergunta. Olhou para uma direção aleatória a fim de lembrar-se de qualquer detalhe importante que pudesse mencionar sobre o festival.

- Bom, sei que muitas coisas acontecem nele, mas o que mais me atrai é sem dúvidas a competição culinária. - Ela abriu um tímido sorriso ao se recordar dos festivais anteriores. - Muitos participantes vêm de lugares diferentes com comidas típicas, então de vez em quando pego alguma coisa que me chame a atenção.

- Por que você não participa? É uma ótima cozinheira! A melhor de todas! - Sugeriu inocentemente o garoto. Nicha negou com a cabeça.

- Temo que o meu título como princesa possa influenciar no resultado. Também não me sentiria merecedora do prêmio, então prefiro apenas expectar de longe. - Desabafou com uma voz doce. Seus olhos revelavam o desejo de competir, entretanto as razões já mencionadas sequestravam a sua esperança.

- Ué, se disfarça! - Respondeu segurando nos ombros da princesa e a encarando com um sorriso animado. Até o próprio garoto se animou com a ideia. - Não tem nada aqui que possa esconder a sua aparência? - Nicha olhou para baixo e semicerrou os olhos, a ponta do indicador dobrado abaixo de seu lábio inferior revelava que estava procurando algo em sua memória.

- As máscaras... As máscaras! - Respondeu em excitação. - O torneio é em dupla, então precisarei do meu pupilo cozinheiro para me ajudar! Talvez podemos cozinhar pães, ou quem sabe preparar o peixe favorito do meu pai. - Convidou o pequeno, que imediatamente aceitou. Suas cabeças já se enchiam de expectativas. - No meu quarto estão as máscaras, dentro de um pequeno armário na parede de frente para a cama. Pegue-as e depois vá tomar um banho. Eu preciso resolver uma coisa antes. - Hitori concordava constantemente com a cabeça. Não tirava o sorriso de seu rosto por nada.

- Espera, mas e o café da manhã? - Hitori perguntou preocupado.

- Melhor guardar espaço para as comidas do festival. - Respondeu com uma piscada para o menino. Hitori alegremente retirou-se da cozinha e foi até o quarto da princesa.

Nicha, após arrumar a bagunça que ficou ali, se dirigiu ao terceiro andar do castelo. Nele estava o lugar que mais odiava: o corredor que levava a torre. Era preenchido por uma vasta escuridão, onde até mesmo as tochas fixas na parede não conseguiam iluminar aquele caminho sem vida. As pedras eram nitidamente velhas e sujas, deixando o ambiente ainda mais longe de ser convidativo. No fim do corredor, um portão de ferro avermelhado impedia a continuidade do trajeto. Haviam sete fechaduras a serem abertas, cada uma parecia gritar em prantos "não entre aqui!", mas não havia outra escolha para a princesa. Ela retirou de seu bolso um anel repleto de chaves de ouro, e então lentamente inseriu uma por uma nas respectivas fechaduras. Nicha tentava distrair-se pensando no festival e em Hitori, assim aquela tarefa árdua se tornava um pouco menos assustadora, mas uma voz de alto timbre a expulsou de seu sonho lúcido.

- Está muito contente para alguém que possui uma responsabilidade tão grande. - Richard se aproximou de surpresa, mesmo que acidentalmente. Em sua mão direita estava uma lamparina apagada, Nicha sabia exatamente o que ascenderia naquele pequeno espaço dentro do vidro.

- E você parece ansioso para hoje. Temo que não seja para o festival. - Retrucou de forma seca. Terminou de destravar a última fechadura, e então o portão abriu-se sozinho, como se tivesse consciência. Uma terrível consciência. A frente havia uma escada em formato caracol, a qual levava para o topo da torre, lugar esse que há quase cem anos não era visitado.

Hitori estava no quarto da princesa, procurando pelas tais máscaras, até que de repente sentiu uma sensação extremamente ruim, algo semelhante ao que sente quando acorda de um pesadelo. Não soube explicar o que era. Talvez estivesse ficando maluco ou algo do tipo. Tentou preocupar-se com o festival, motivo esse responsável por fazê-lo esquecer da aflição que acabara de sentir. Com a cabeça mergulhada nas roupas velhas do armário, finalmente identificou algo que poderia chamar de máscara. Eram duas, uma verde e uma branca, cada uma representava um animal; a branca tinha o rosto inexpressivo e caricato de uma lebre, juntamente a orelhas eretas, já a verde acompanhava quase os mesmos detalhes, mas representando uma tartaruga. Estranhou, mas decidiu guardar os questionamentos para quando estivesse com Nicha. Fechou o armário na esperança de nunca ter que abri-lo novamente, pois o mau-odor de coisa velha era a principal característica que poderia citar sobre ele, contudo a pequena brisa que saiu do fechar das portas fez com que um papel na escrivaninha a frente fosse lançado contra o ar, pousando delicadamente no chão. Aquele era o último lugar onde o pequeno queria deixar alguma bagunça, então imediatamente pegou o papel de coloração bege para colocá-lo no lugar, entretanto, não foi capaz de evitar o que tinha nele.

"ME PERDOE, ADRIEN

ME PERDOE, ADRIEN

ME PERDOE, ADRIEN [...]"

A frase era escrita no papel inteiro, quase não sobrando espaço para o vazio. A caligrafia estava em negrito e estridente, como se as palavras quisessem saltar do papel e se dissolver no ar. A agonia era transmitida em cada letra, juntamente aos parágrafos desalinhados, que deduravam o modo desesperado a qual aquilo foi escrito. Era assustador.

Podia aquela mensagem ser uma carta? Mas para quem? Adrien... Hitori não o conhecia, mas com certeza Nicha o magoou profundamente para desculpar-se desse jeito. Enfim largou o papel na escrivaninha para tomar o seu banho. Era mais atrativo pensar na competição do que nas palavras sem sentido que presenciou.

Poucas horas se passaram e ambos estavam finalmente prontos para o início do festival. O início era às quinze horas, e então se estenderia até a manhã do próximo dia. Hitori e Nicha trajavam um terno preto com gravatas borboletas. Seus rostos eram ocultados por máscaras dos animais antes citados; Hitori era a tartaruga e Nicha, a lebre.

- Nic, por que você tinha máscaras assim no seu quarto? - Questionou enquanto saíam do castelo pelos fundos. Não poderiam ser vistos por um cidadão de Astarel, caso contrário seu disfarce seria atoa. Nicha não o respondeu, na verdade sequer o ouviu. Estava tão distraída e abatida por algo, que não se poderia dizer que sua mente se encontrava nesse mundo. O pequeno decidiu não insistir na pergunta.

Astarel é o reino que mais possui feriados e festas, e seu povo se orgulha muito desse título. De tempos em tempos turistas se atraem por tantos festivais, sendo um deles o Festival das Máscaras, comemorado no outono. Esse era o preferido de Nicha quando criança, entretanto seu pai não a permitia comparecer, seja devido a sua posição na realeza, que poderia atrair perigos, como também por sua postura rígida quanto a esse tipo de assunto. Ainda assim, sabendo do favoritismo de sua filha, o homem a levava para a sala de baile e dançava por horas com ela. Nicha utilizava a máscara de tartaruga, enquanto seu pai utilizava a de lebre, que originalmente pertencia à sua mãe antes de falecer no dia de seu nascimento. O Festival das Máscaras foi responsável por juntar os pais de Nicha em um lindo e duradouro romance, que se estendeu mesmo após a morte da rainha de Astarel. Por isso as máscaras são tão especiais para a princesa; representam o forte vínculo entre as pessoas que a utilizam.

Praticamente todos os cidadãos de Astarel se reuniram na principal praça do reino. Aquele torneio era o glorioso início do Festival Cultural Astareliano, e nada mais cultural no reino do que uma competição de comida. A plateia e os outros competidores estranhavam a presença das duas figuras mascaradas, mas pouco aquilo importava em um concurso que definiria o melhor cozinheiro do ano. Dado o grito de início, Hitori e Nicha começaram a cozinhar o prato. Estavam perfeitamente coordenados, não precisavam de palavras para se comunicar, apenas as ações diziam exatamente o que pretendiam fazer. Os próximos quarenta minutos foram tensos, o prato parecia não ficar pronto nunca, mas felizmente tudo deu certo e conseguiram finalizá-lo a tempo. O juiz notificou o fim da preparação, e agora era a hora decisiva onde o melhor prato seria anunciado pelos jurados. A dupla cozinhou uma receita chamada Bouillabaiss, feita principalmente de uma mistura de peixe, camarões e lula. O prato foi extremamente elogiado pelos jurados, mas no fim ficaram com a medalha de bronze. Terceiro lugar não era tão ruim assim. Na verdade, Nicha estava extremamente feliz com aquela simplicidade. Não estavam a aplaudindo por ser princesa, mas sim pelo seu esforço na coisa que mais adorava fazer. A felicidade rapidamente foi embora quando lembrou de algo, e então, pediu para que Hitori aproveitasse o festival enquanto resolveria algo de extrema importância. Praticamente implorou para o garoto não se meter e encrenca.

A noite surgiu assim que a competição se encerrou. Era a noite de festival. Todos os seus sentidos estavam preenchidos pela beleza daquele evento; seus olhos admiravam as tendas repletas de atrações, como jogos, teatros de fantoches rodeados por crianças, fantasias de criaturas místicas, entre outras coisas que alegravam o seu jovial coração; O cheiro de comida dos mais variados tipos preenchia o seu olfato e atiçavam a sua barriga; Flautas e violões cantavam músicas festivas que se estendiam por toda Astarel, acompanhadas de danças conjuntas ao redor de fogueiras e ilustrações. O garoto encantado com aquela energia caminhava pela extensa avenida do reino. Antes era repleta de caixotes, barris e estabelecimentos amarronzados, mas agora tudo isso fora substituído pelas tendas e linhas de luzes azuis que iluminavam o festival com um brilho sutil o suficiente para o pequeno sequer querer piscar seus olhos. De repente, cerca de cinco pessoas abaixo de um longo tecido representando um dragão passaram por Hitori e seguiram rumo a um caminho desconhecido, o garoto maravilhado com aquilo os seguiu, até que chegou próximo a saída do reino. Onde chegou havia um enorme aquário retangular com as mais variadas espécies de peixes, e dentre eles um brilhante se destacava. Nadava sobre a água de forma graciosa, seus giros iluminavam mais ainda as águas escuras daquele aquário e davam a mínima chance dos outros peixes serem vistos. Era lindo, tudo lindo, tudo perfeito! Aquele festival superava as expectativas do menino, que mal sabia o que fazer agora de tanta emoção.

- Socorro! Alguém me ajuda, eu imploro! - Toda a alegria cessou-se. A música para o garoto parou, as luzes se escureceram. Um medo tomou conta de seu peito rapidamente, mas não era seu, era o medo de outra pessoa. Ele olhou para a saída da capital, onde lá apenas o que podia-se ver era uma infinita plantação de trigo amarelado. Era noite, será que deveria ir mesmo para um lugar tão assustador? Ninguém ouviu o grito? Parece que não. O pequeno estava repleto de dúvidas, mas por fim decidiu averiguar.

Adentrou com dificuldade a plantação. Os pedidos de ajuda não paravam, muito pelo contrário, somente aumentavam-se mais e mais. Uma pressão inexplicável atingia o seu coração, e apenas crescia ao ponto de afetar a sua respiração, deixando-o ofegante. Era o grito de uma criança, um garoto desesperado por ajuda. O som de uma lâmina cortando o trigo se misturava com o suplico do menino. Hitori decidiu avançar com ainda mais rapidez, mesmo que sua mente o implorasse para ir embora. Sua mão separou a plantação em duas, e revelou a identidade da criança em um pequeno espaço aberto. Parecia possuir no máximo seis anos de idade, e estava caído sobre a grama aterrorizado. Não conseguia ver muito bem, mas com toda certeza estava tremendo de medo.

- Você tá bem? O que aconteceu? - Perguntou preocupado com o menino, que então apontou para frente com o braço estremecido e lágrimas o impedindo de falar. Hitori olhou para a direita com uma certa aflição.

Era um soldado. Estava completamente ocultado por uma armadura de metal juntamente a um capacete fechado, um buraco em formato de linha nos olhos do capacete não revelavam nada além de uma profunda escuridão. Ele empunhava uma espada de quase dois metros de altura, e com ela preparava um ataque aos dois garotos. Hitori pegou o menino pelo braço e correu em direção a plantação. Não muito longe dali identificou um celeiro, então sem pensar duas vezes foi em direção a ele juntamente a criança amedrontada.

- Por que esse guarda está te atacando? - Perguntou ofegante enquanto corriam. O trigo batia contra seus rostos constantemente, dificultando um pouco a visão de ambos, mas não havia nada que pudessem fazer quanto a isso.

- Eu não sei! Ele entrou na minha casa de repente e começou a me atacar! Eu vi ele no meu sonho! Ele e um homem velho assustador... - Respondeu soluçando de tanto chorar. Seu queixo tremia e sua respiração vibrava.

Finalmente chegaram ao celeiro, em sequência Hitori se escondeu com o menino atrás de um enorme cubo de palha. Prendeu a sua respiração e pediu com o seu indicador para o pequeno garoto fazer silêncio. Apavorado, o pequeno fechou as pálpebras com toda a força que pôde. Hitori olhava para o lado em alerta.

- Obrigado por me salvar, senhor Tartaruga. - Agradeceu ainda com os olhos fechados. Hitori sequer naquela situação lembrava que ainda estava com a máscara. - Meu nome é Adrien, eu vivo com a mamãe próximo a capital do reino. - Hitori olhou de volta para ele com os olhos arregalados. Adrien? Adrien?! Como assim? Aquele Adrien da carta? Não poderia ser. Não faz sentido algum. Hitori estava em completa confusão. Não compreendia o porquê de Adrien estar lá com ele, nem a sua relação com Nicha.

Antes que pudesse perguntar algo, o chacoalhar da armadura dedurou a posição do soldado.

Ele estava dentro do celeiro.

Uma hora ou outra acabaria encontrando os dois garotos. Hitori então teve que tomar uma decisão difícil. Respirou o mais fundo que pôde e então saltou do cubo de palha, ficando frente a frente com a figura. Estendeu a sua mão e abriu a palma, segurando o seu pulso com a outra.

- RA-JA-DA! - Era a sua primeira e talvez última tentativa de defender-se. Não estava utilizando a pulseira, então apenas confiou nos meses de treinamento que teve com Nicha. Uma forte ventania coordenada saiu de seu corpo, atingindo com força o metal da armadura. O capacete foi jogado para longe, e com isso revelou algo assustador. Não havia nada dentro daquela armadura. Nada. Ao contrário, uma intensa corrente de ar saltou do peitoral e chocou-se contra Hitori. A armadura desmontou-se, mas estava preparada para ressurgir. O garoto então chacoalhou a cabeça e pegou Adrien pelo braço, correndo logo em seguida para a direção da saída. O barulho de reconstrução ficava ainda mais alto, o metal esfregava-se rapidamente, deixando ambos aflitos e os apressando a sair logo daquele celeiro.

Um vulto surgiu dos céus e se impactou contra o chão, expelindo a palha caída para todas as direções. Hitori e Adrien protegeram seus rostos com seus braços em reflexo. Olhou lentamente de baixo para cima o ser que acabara de chegar. Um manto negro era tudo o que podia ver, exceto pelo rosto.

Uma lebre. Era uma máscara de lebre rodeada por um capuz. Os olhos prateados brilhavam por detrás do animal.

A tartaruga e a lebre se encaravam com um olhar surpreso. Ambas se perguntavam o motivo do outro estar ali. Sempre foi o destino, talvez. A tartaruga e a lebre estavam mais distantes do que nunca. Desde o início, o garoto se tornou a parte mais confusa dos dias da princesa de Astarel. Quem poderia imaginar que alguém tão áspero pudesse ter em seu interior uma personalidade fria o bastante para tomar a alma de uma criança? Para falar a verdade, era tudo o que a princesa esperava de si mesma.