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Chapter 3 - A DESTRUIÇÃO

— Infelizmente não podemos voltar para casa. — A voz de Frieden se alterou propositalmente enquanto ele encarava de lado o pequeno Hitori com um olhar sanguinário. A parte branca de seu olho estava machada com sangue podre; o seu rosto derretia como manteiga, revelando uma carne morta por dentro.

— Você não é o meu tio... — aquela sensação já dava a certeza. Hitori nunca tinha ouvido falar, sequer sabia a sua aparência ou voz, mas de algum jeito ele já sabia quem era. — Você é... — Se virou para trás para escapar, mas era impossível. Foi pego pelos pés e lançado contra uma árvore. O impacto o fez desmaiar instantaneamente.

— O que faço não é errado, criança. — Caminhou calmamente em direção ao corpo do garoto, e então o arrastou pela lama. — Estou aqui apenas para pegar o que é meu.

Mais tarde, naquela noite;

Uma das casas próximas à fronteira é brutalmente atingida por uma intensa bola de fogo, causando a retaliação da estrutura abalada pelo impacto. Os olhos perplexos de todos os habitantes daquele reino vão em direção aos céus, que de tantas esferas flamejantes vindo em sua direção, preenchiam a noite em um tom avermelhado. Aquilo foi mais do que o suficiente para o anúncio que viria logo a seguir.

— Estamos sendo atacados! — Decretou o vigia que se encontrava no topo da muralha, e então o aviso se espalhou rapidamente por todos os outros oficiais de WaterHill, mesmo que já fosse óbvio perante a situação em que se encontravam.

Todas as forças de defesa se mobilizaram em locais previamente coordenados, desenvolvendo segundos depois uma barreira de cinco camadas espessas de gelo sobre todo o céu do reino, o que foi o suficiente para retardar a chuva de fogos. O choque entre os dois poderes desencadeou numa densa neblina por todos os locais de WaterHill, a silhueta dos invasores podia ser vista pela fronteira do reino entre o vapor que lentamente cessava.

— Equipe de ataque! — O chamado trouxe uma grande quantidade de guerreiros, que surgiram diante o general como uma bala. Percebendo a invasão, os soldados que tinham mais afinidade em combates se puseram a enfrentar os invasores que adentraram o reino, enquanto os mais iniciantes escoltavam os civis para longe da batalha.

Juntamente ao avanço dos invasores ao centro do reino, uma nova onda de bolas de fogo surgiu sobre o céu.

— Equipes defensivas, invoquem a defesa outra vez! — Ordenou o general.

— General, as equipes de defesa... — O soldado engoliu a saliva antes de finalizar a terrível notícia. — ...todos foram mortos de uma só vez! — O soldado arregalou os olhos quando notou que o seu estômago foi penetrado por uma longa lâmina, que rapidamente foi retirada, causando o som ecoante do ferro sobre as extremidades de suas entranhas. O general se afastou em um passo, tentando se recobrar ao presenciar a terrível morte de seu parceiro. Antes que pudesse ajudá—lo, sentiu algo frio sobre a sua nuca, e ao olhar para baixo, a ponta de uma adaga revelou que ele também havia sofrido um ataque. Segundos depois, o general também estava morto.

— O que esperar? Um reino fraco, guerreiros fracos. — Apoiou o joelho sobre o chão, e então a atacante puxou a sua adaga cravada na garganta do cadáver jogado no chão, guardando a mesma no bolso interno de seu manto.

— Mantenha o foco. Precisamos acabar com isso até o amanhecer. — Em um rápido movimento com a sua longa espada, o atacante limpou grande parte do sangue que estava na lâmina.

— Espera... Tem alguma coisa vindo para cá! — Ela apontou para um vulto que vinha da direção do castelo.

Antes que pudessem perceber, suas cabeças foram totalmente preenchidas por água; Seus olhos estavam completamente encharcados, portanto não conseguiram ver tão claramente, porém as pupilas que brilhavam em ciano já revelavam quem era a persona que originou o ataque.

— Pelos vossos crimes contra a união de WaterHill, a pena que ambos recebem... — Vitória, a rainha do reino, aumenta a pressão da água sobre a cabeça dos atacantes, chegando em um nível de explosão interna, restando apenas dois crânios vazios e a pele inchada num tom azulado — ...é a morte. — Fechou os olhos por alguns segundos, lamentando contra a sua própria vontade a atual situação do reino. Estendeu a sua mão direita em direção ao céu, e então toda a água do Pântano das Orquídeas começou a flutuar, indo segundos depois em direção às bolas de fogo, se chocando intensamente contra as mesmas, evitando assim que o reino fosse atingido.

Não havia mais controle sobre o combate, os guardas estavam espalhados demais para realizar qualquer formação de defesa ou ataque; era cada um por si. Enquanto isso, a cada minuto que se passava os inimigos se fortaleciam ainda mais.

— Cuidado! — Um dos civis tentou avisar o guarda que os escoltava, o que de nada adiantou pois antes do mesmo se virar para eles, fora atingido na cabeça por uma estrela da manhã' vindo de um dos invasores, espirrando uma grande quantidade de sangue pelas paredes das casas e nos rostos das pessoas ao redor. O invasor, um homem magro sem vestimenta em seu torso, apenas uma bermuda enrolada por faixas em sua cintura, despertava uma fúria intensa ao ouvir o desesperado grito dos habitantes, que agora se encontravam sem defesa alguma.

— Vou calar a boca de um por um. — Girou a esfera de sua arma, preparando um ataque em cheio contra o homem que anteriormente tentou salvar a vida do soldado com um aviso. Antes que os espinhos pudessem chegar em seu corpo, algo golpeou a esfera da estrela da manhã contra o chão; era Emil, um dos guerreiros mais fortes do reino.

— Fraco o bastante para procurar um guerreiro, então escolheu atacar covardemente os civis. — Emil, que estava agachado devido ao golpe, lentamente se ergueu. Seus cabelos e olhos dourados brilhavam perante o reflexo das casas em chamas, o sorriso convencido acalmava quem estava perto. O conflito entre os dois já era certo, mas o surgimento de um pilar de luz que se estendia até as nuvens tomou a atenção de todos.

— Ops, acho que já está na hora de ir. — Após uma pequena risada, o invasor sumiu em um salto. Emil tentou impedi—lo, mas já era tarde demais.

— Hitto! Hitto! Onde você está? Por favor! — Do outro lado do reino, Karie e Frieden procuravam o garoto que estava desaparecido há horas. Hitori saiu para brincar no pântano próximo ao pôr do sol, mas desde então não retornou para casa. Lágrimas impediam que Karie gritasse mais alto, anulando um pouco a sua voz no chamado. — Eu prometi, Hitori... Eu prometi... — Ela cai de joelhos contra a terra dura, ralando—os pelas pedras soltas. — Eu prometi para Marie que o manteria seguro. — Abaixou a sua cabeça e acabou cedendo a um choro desesperado. Frieden tentava consolá—la com carinho em suas costas enquanto dizia coisas para acalmá—la, como "o garoto está bem, ele é forte", mas nada a convencia.

— Vocês vêm comigo. — Um homem surgiu à frente de ambos. Frieden retirou a espada da bainha que se encontrava em sua cintura e rapidamente entrou em posição de batalha.

— Não seja burro, Frieden. Se continuar aqui vocês dois vão acabar mortos. — Segurando próximo a gola, o homem uniformizou o seu jaleco preto. — Vocês querem ver o Hitori, correto? — A pergunta foi o bastante para Frieden desistir de atacá—lo.

No castelo...

Vitória voltou ao castelo após sentir a presença Dele, e sim, Goëtia realmente estava lá, aguardando pelo combate. Vitória não era párea para ele, seus movimentos eram infinitamente mais rápidos do que os dela. Era como se estivesse lutando contra o vento. Os olhos da rainha brilhavam em um tom ciano, o Orbe da Água lhe dava todo o poder de eras de reinado, mesmo assim não era o suficiente. Ele a empurrou do telhado do mesmo jeito que se livrava de um inseto. Vitória já sabia, aquele era o seu fim. Havia acabado para a rainha de WaterHill. Fechou os seus olhos para finalmente ter um último momento de paz.

Mas não.

— Eu fiz o máximo que pude, meus súditos. — Vitória engoliu o choro, sabia que não era hora para aquilo. Ela então levantou as suas pálpebras, a sua única vista era o próprio Goëtia a encarando do topo do castelo enquanto esperava pacientemente Vitória ser perfurada pelo longo espinho que fez surgir em menos de um segundo. — Hoje WaterHill cai, mas não desaparece. — Disse em seus pensamentos — Hitori, Melias. Façam o que eu não fiz. Ergam esta pequena união; tragam WaterHill de volta. Eu confio o reino à vocês. — Enquanto caía do alto do castelo, Vitória apontou com dificuldade para Goëtia. Seu manto balançava intensamente por conta da ventania gerada pela queda — Escuta aqui, é uma promessa! WaterHill vai voltar! E vai ir atrás de você! — Proclamou as suas últimas palavras antes que seu corpo fosse de encontro à ponta do espinho, que foi atravessado até próximo a base do mesmo, resultando em uma morte lenta e dolorosa, mas nem mesmo nesse instante Vitória desistiu do reino. O restante de água de WaterHill foi lançado contra Goëtia, o que de nada adiantou. O mesmo sumiu tão rápido que era impossível se dizer que já esteve ali.

A luz do pilar se intensificou. Quem estava no reino naquele instante já sabia o que estava por vir. Aceitando o seu terrível destino, os habitantes de WaterHill apenas deram as mãos em conjunto, formando uma extensa fileira. Já não podiam ver mais nada; seus olhos haviam queimado. Em questão de segundos, já não havia mais nada senão destroços de um antigo reino feliz.

1 — Estrela da Manhã é uma arma medieval. Se trata de uma esfera de espinhos suspensa por uma linha amarrada em um pequeno bastão, onde é usado para manusear a mesma.