Cidade da Esperança- vilarejo ao sul da cidade. Ano 1381 do novo calendário.
Pov:Antonyetta
"Uma maçã meio comida, um..isso é um pano velho?", o pano em minha mão estava muito desgastado, mas era melhor do que nada.
"Ah... Um chinelo quebrado, se eu tivesse um prego talvez eu pudesse consertar", coloquei o chinelo de volta na lata de lixo, eu tinha visto que algumas mães faziam isso quando os chinelos de seus filhos quebravam, mas até mesmo um prego é valioso demais para ser encontrado no lixo, dei de ombros e me concentrei no corte em minha mão esquerda, ele era profundo, mas já não sangrava, enrolei o pano gasto na minha mão ferida, eu lembro de alguém me dizer que eu não deveria colocar qualquer coisa suja em uma ferida aberta, mas não importava afinal, com meu fator de cura, essa ferida sairia em algumas horas.
As minha roupas estavam em boas condições, foi realmente uma sorte achar esses sapatos velhos, pelo menos não machucaria mais andar pela vila.
Já passou três anos desde que escapei daquele lugar, aconteceu tantas coisas desde então, as lembranças estão vividas na minha mente mesmo agora.., não posso pensar nessas coisas agora, começo a andar pelas ruas da vila, as pessoas passam e não se importam com a minha presença, estou andando sem rumo, como eu não tenho um lugar fixo eu só posso perambular por aí, apesar do Sr. Henry ser alguém legal, eu não quero morar na casa de outra pessoa, é mais fácil eu cuidar de mim mesma do que dar trabalho para outra pessoa.
Enquanto analisava minha situação atual ouvi um miado, ao olhar ao redor vi ela.
" Olá Misty", acenei para a gatinha que estava deitada preguiçosamente em cima do muro. "Miauu~", Misty me respondeu, Misty era uma gata estranha, ela tinha pelo negro como a noite e olhos violetas que brilhavam de maneira misteriosa, por isso lhe deram esse nome, era como se ela fosse mais inteligente do que aparenta, não que eu acredite nessas coisas que todos dizem, afinal ela é só um animal.
"Anty, criança como você está hoje?", uma senhora idosa se aproximou, "Oi, tia Serafina, estava falando com a Misty", eu nem percebi que tinha chegado na casa da dona Serafina, ela é uma senhora idosa sem filhos e sem marido que mora sozinha, a Misty é a gata da dona Serafina, pelo menos foi o que todos presumiram, visto que a gata raramente sai de perto da casa.
"Ah.. a Misty realmente gosta de você, sabia jovem?", A senhora deu um sorriso amigável, ela é uma das poucas pessoas que falam comigo como se eu fosse uma pessoa e não uma forasteira que não tem pais e nem antecedentes.
"É, a gente se entende", a Misty se levantou e desceu do muro onde estava dormindo, miando, ela se esfregou nas pernas da dona Serafina.
"Venha beber chá pequena, que tal?", a senhora convidou com um sorriso simpático.
"Não precisa, eu já estou indo", tomar chá, era só uma desculpa, dá última vez que fui, ela começou a me dar aula de como servir chá e outras coisas, eu definitivamente não irei cair nesse truque duas vezes.
"Mas que pena, veja eu até chamei a sua amiga, ela deve chegar logo", amiga? Nessa vila só teria uma pessoa que eu poderia(consideraria) chamar de amiga.
"Tia Serafina, boa tarde", uma voz chamou a atenção da senhora, eu sabia quem era sem precisar ver.
"Senhorita que bom que veio, estavamos falando de você agora", a dona Serafina se virou na direção dela.
"É mesmo? Espero que seja coisas boas, Olá Anty, você também vai beber chá com a gente?", "Oi Janette, na verdade eu só vim dar oi", Janette era uma garota que tinha cabelos pretos e olhos castanhos, ela era muito alegre e alto astral, ela é 4 anos mais velha do que eu, ela foi a pessoa que me encontrou na floresta há 3 anos atrás e desde então não saiu do pé.
Após fugir, eu corri, corri, até não aguentar mais, e em meio a exaustão eu desmaiei na floresta, eu não sei como ela me encontrou, mas eu podia ouvir certas coisas, eu podia ouvir a voz dela, ela disse que eu fiquei dias acordando e desmaiando, eu realmente sou grata a ela por isso.
"Ei, Anty, está ouvindo?", a voz de Janette me tirou dos meus pensamentos.
"Quando você se machucou?", Janette segurava minha mão esquerda, que ainda tinha o pano enrolado.
"Foi.. só um pequeno corte", Falei dando de ombros, Janette tirou o pano da minha mão e inspecionou meu ferimento, a senhora Serafina ainda tinha seu sorriso amigável de sempre, ela disse algumas palavras para Janette e entrou no seu jardim para cuidar das amadas flores dela.
"Anty, eu não te disse para não colocar coisas sujas em feridas abertas?", Janette tirou o pano e o jogou em uma lata de lixo próxima
'ah, agora lembrei, foi ela que me disse para não fazer isso', pensei, enquanto observava o pano em melhor condição que encontrei ir pro lixo novamente.
"Não precisa se preocupar Janette, viu já está praticamente curado", Janette olhou para mim, respirou e fundo e pegou minha mão, um leve brilho esverdeado saiu das mãos dela, em um piscar de olhos minha ferida sumiu.
"Pronto, agora não tem mais dor", Janette sorriu orgulhosa de seu feito,"ainda acho que foi desnecessário, mas obrigada", Janette Bell, ela possuiu magia de suporte grau 4, essa magia de cura é passada de geração em geração, e pelo fato do grau dessa magia ser baixo, a família dela não é muito valorizada, mas pelo menos é melhor do que as pessoas comuns.
" De nada, pense nisso como meu treinamento, para quando eu me tornar médica", Janette almeja se tornar médica, ela disse que sonha com isso desde de pequena.
" Com sua magia de cura, não vai ser tão difícil", a maioria das pessoas que se tornam médicos tem pelo menos uma magia de cura grau 2.
"Sim...e você ficou sabendo Anty? Tem pessoas novas no vilarejo", pessoas novas? Geralmente não tem pessoas novas? as únicas pessoas que vem para esse pequeno vilarejo seriam sem-tetos, que por algum motivo perderam suas casas, ou fugindo de dívidas, pas pela forma que ela falou não parece ser esse o caso.
" Quem são eles?", perguntei com curiosidade, " Eles são da capital", Janette disse enquanto me puxava para andar, " O que eles querem em uma pequena vila?", Quanto mais sei, mais irreal isso fica, quando tive uma epifania.
"Espera, não me diga que..", "Sim, aparentemente, uma criatura grau 5 foi avistada muito perto daqui", grau 5, os soldados que protegem a vila são apenas grau 4, não tem como eles se defendem de algo assim.
Janette e eu andamos até a praça, tinha muitas pessoas reunidas, e algo que eu nunca tinha visto na vida.
"Que tipo de carruagem é essa?", perguntei em voz alta sem perceber," Anty, isso é um carro, só é usado por pessoas muito poderosas na capital, desculpe, é que os livros que eu tenho não tem desenhos de carros", eu assenti, então esses eram os carros que Janette tinha me contado, pelo o que ela me falou, carros são muito difíceis de serem construídos, por isso eles são absurdamente caros.
" Não precisam se preocupar, que nós somos soldados de grau 6, podemos proteger vocês", eles estavam tentando acalmar os ânimos da população, eram 5 soldados, que estavam bem equipados.
Um deles chamou minha atenção, era um jovem que parecia totalmente despreocupado com a situação, ele tinha cabelos prateados, um tipo de cabelo muito difícil de se encontrar, ele percebeu meu olhar, ele olhou para mim e sorriu.
" Que cara estranho", murmurei, "você falou alguma coisa Anty?", Janette se virou para mim, " Não é nada, só pensei em voz alta".
Depois dos soldados da capital acalmarem a situação, as pessoas já estavam se dispersando.
" Deveríamos ir também, já vai escurecer", Janette disse já se virando para ir pra casa.
Algum tempo depois
"Mãe, pai, cheguei!", Janette disse ao entrar ela casa, ' No final, ela me convenceu a vir', Janette insistiu que eu deveria dormir na casa dela por causa da criatura, ela não se sentiria confortável em me deixar na rua, " Anty, você vai realmente recusar o delicioso jantar que meus pais vão fazer hoje?", e cá estou eu, na casa dela , comendo com os pais dela.
"Ah.. a pequena Anty também veio, vou colocar outro prato para você querida", "Obrigada, Sra. Bell".
O jantar estava muito bom, enquanto estávamos comendo, eles conversavam sobre o dia de hoje, era uma cena harmoniosa, eu me pergunto se ter uma família era assim.
Apesar das insistências em me fazer ficar, eles desistiram, mas me fizeram prometer de que estaria segura e caso fosse necessário deveria pedir ajuda dos soldados, eu ouvi todo o sermão e apenas assenti.
Eu sei que eles estavam preocupados, mas eu conheço essa vila como a palma da mão, se eu encontrar perigo posso fugir e me esconder facilmente, e afinal, uma mera criatura grau 5 não era ameaça alguma para mim.
Andei um pouco pelas ruas até escurecer, pelo o que pude perceber, os soldados fizeram um acampamento ao norte fora da vila, provavelmente vão fazer patrulhas revezadas, estranhamente, não consegui sentir a energia dessa criatura, ou ela é muito boa em esconder a energia, ou por algum motivo ela não quer se aproximar, se for a segunda opção isso fica mais fácil, mas se for a primeira..
De qualquer maneira, não adianta pensar nisso, eu deveria voltar e dormir, amanhã será um longo dia, rapidamente eu sumi na escuridão da noite.