O próximo dia começou como qualquer outro, mas para Janette era diferente, por estar ansiosa ela acordou muito cedo, o que não era costume dela.
Janette ficou olhando para o guarda roupas, pensando no que usar, ela pegou vestido por vestido, mas não encontrou nada que a agradasse.
Tentando encontrar a roupa perfeita, Janette nem percebeu o tempo passar, olhando para a janela e vendo o sol nascer, Janette pegou a roupa que mais a agradou e desceu para tomar café.
Janette viu que seus pais não tinham acordado ainda e começou a fazer o café da manhã.
Passos podem ser ouvidos da escada, Janette olhou e viu que era sua mãe que tinha acabado de acordar.
"Bom dia mãe".
Janette sorriu e cumprimentou, a Sra. Bell ficou surpresa ao ver sua filha acordar tão cedo e ainda fazer o café da manhã.
"O que deu em você hoje Janette?".
Perguntou a mãe incrédula, não era incomum que Janette ajudasse a fazer as refeições, mas hoje parecia diferente do normal.
"Não é nada mãe, eu só não conseguia mais dormir".
A Sra. Bell levantou as sobrancelhas desconfiada, Janette estava mais arrumada que o normal.
"Então meu pão de mel, quem é o garoto sortudo?".
A pergunta deixou Janette desnorteada, ela quase deixou o prato que segurava cair no chão.
"Que garoto? Mãe do que está falando?".
Janette desconversou com uma risada nervosa, a Sra. Bell apenas sorriu sem falar mais nada.
Janette colocou o bolo e os pães na mesa, a geleia e o café, a Sra. Bell ia se levantar para acordar o marido, mas se lembrou de algo.
"Janette, o seu pai e eu estávamos pensando e decidimos que iremos fazer a sua cerimônia de despertar".
"Mãe! Fazer uma cerimônia dessas é muito caro, onde vocês vão arrumar tanto dinheiro?".
Uma cerimônia de despertar é um evento que serve para despertar o verdadeiro potencial da linhagem de alguém.
Geralmente essas cerimônias são realizadas por nobres, pois só os nobres possuem linhagens fortes o suficiente.
Ao fazer essa cerimônia o despertado pode adquirir uma habilidade ou conhecimento de seus ancestrais.
Por isso os nobres mantém um extenso registro de sua árvore genealógica, assim é mais fácil saber os benefícios que podem receber da cerimônia.
Além de que para as pessoas comuns fazer essa cerimônia era basicamente um tiro no escuro, já que eles não tem costume de manter esses registros, a chance dessas pessoas terem algum antepassado poderoso era quase nula.
"Janette, eu e seu pai economizamos desde que você nasceu e finalmente juntamos o suficiente, eu sei que isso é muito repentino, mas eu só quero que você tenha a mesma oportunidade que nós tivemos".
Janette ficou sem saber o que falar, os pais dela fizeram tanto para dar a ela essa oportunidade que ela não conseguiu rejeitar.
"Obrigada mãe por tudo".
Janette conversou a com sua mãe sobre os preparativos e foi decidido que a cerimônia seria daqui há duas semanas.
Com isso decidido a Sra. Bell foi acordar o marido e Janette tomou seu café da manhã antes de sair de casa.
Era em pleno mês da primeira as flores florescendo estavam mais lindas do que nunca, essa era a época preferida do ano de Janette.
Quando ela saiu pelo portão Janette se surpreendeu ao ver uma figura familiar sentada do lado de fora do portão da casa ao lado.
"Bom dia Ana, o que está fazendo hoje?".
Janette se aproximou da jovem de cabelos castanhos que segurava um graveto na mão.
"Bom dia Janette".
Ana respondeu com uma voz entediada batendo o graveto no chão aleatoriamente.
"O que está fazendo parada aqui Ana?"
Ana apenas suspirou e deu de ombros.
"Eu estou esperando minhas amigas, a gente combinou de ir para a feira hoje".
Nesse época do ano a feira estaria cheia de festividades, com o fato de ser uma vila remota, caravanas, circos e outros eventos demoravam para chegar, esses eventos só aconteciam na primavera ou no final de outono.
"Eles devem estar fazendo os preparativos para o festival de primavera, você vai ajudar com os preparativos esse ano também Ana?".
Ana era uma jovem de 13 anos, como sua mãe vendia colares e bordados na feira, a jovem consequentemente ajudava a arrumar as coisas.
"Sim, a Clara e a Judite se ofereceram para ajudar, mas eu sei que elas só querem ver os lindos bordados da minha mãe, eu não posso culpa-las por isso, são muito lindos mesmo".
Janette sorriu, ela estava feliz por ver que essas três continuam tão unidas, Janette não tinha muitos amigos.
Ela mesma não sabia o motivo das outras garotas não quererem fazer amizade com ela, mas Janette não ficava muito desanimada, ela sabia que sempre podia contar com Anty, Ana e suas amigas.
Mesmo que ela tivesse só elas de amigas, era o suficiente, Janette estava muito feliz por ter amigas tão boas.
Janette trocou mais algumas palavras com Ana antes de se despedir, ela não podia perder tempo, apesar dos dois não terem determinado um horário fixo para se encontrarem, ela não queria deixá-lo esperando muito.
Perto da entrada da vila, Janette avistou Lysander Não muito longe, a jovem rapidamente verificou seu vestido e viu que não estava sujo nem desarrumado.
"Hum, bom dia".
A voz masculina surpreendeu Janette, ela quase deu um pulo, ela não tinha percebido que Lysander já estava na frente dela.
"B-bom dia, Lysander".
Janette tentou não deixar transparecer seu constrangimento com um sorriso, em nenhum momento a expressão de Lysander mudou, Janette tomou isso como um bom sinal.
"Nós podemos começar vendo a área comercial o que você acha?".
Janette perguntou tentando descontrair, Lysander apenas a olhou e assentiu em concordância.
Janette e Lysander andavam pela vila, Janette ocasionalmente explicava o dia a dia da vila, o horário em que a padaria abria, as lojas de roupas, a livraria, etc.
Na maior parte do percurso Lysander não falava muito, ele soltava alguns comentários de vez em quando, mas era isso.
Janette estava pensando em como manter uma conversa com ele que durasse mais do que algumas palavras, foi aí que ela fez a pergunta mais comum que pensou.
"Qual a sua cor favorita?".
A jovem fez essa pergunta sem pensar, Lysander ficou surpreso com a pergunta, ele ficou pensativo por um momento.
"Amarelo, é minha cor favorita".
Surpreendentemente ele respondeu, Janette ficou animada com esse progresso, depois disso foi como se uma porta tivesse se aberto.
Quando Janette se deu conta, os dois estavam envolvidos em uma conversa agradável, eles falaram sobre assuntos normais, como gostos e desgostos, memórias preciosas e livros.
A última parada foi a feira, estava bem animada, apesar de estar perto do sol se pôr, Janette nem percebeu que tinha conversado com ele o dia todo.
Enquanto ela mostrava as barracas ao redor, uma voz familiar foi ouvida, Janette percebeu que era Ana que estava em uma barraca perto, a garota avistou Janette e correu para cumprimenta-la.
"Janette eu não sabia que você ia vir hoje, o que você est-".
Ana parou de falar ao perceber que Janette não estava sozinha, ela olhou para Lysander confusa, ela não o reconheceu de forma alguma.
"Ana, esse é o Lysander, ele é um caçador que está aqui de passagem".
Janette percebeu a confusão da amiga e gentilmente explicou, Ana olhou para os dois e de repente percebeu algo.
"Janette, você realmente não perde tempo, já está em um encontro com esse caçador bonitão, se aquelas cobras souberem disso vão morrer de inveja".
O comentário de Ana pegou Janette totalmente desprevenida, ela ficou paralisada e depois sentiu seu rosto esquentar.
"Na-não é nada disso Ana! Eu só estou mostrando a vila para ele, só isso, não é um encontro!".
Janette tentou se explicar, mas isso apenas aumentou as suspeitas de Ana.
"É isso mesmo? Então por que está corando?".
Janette ficou ainda mais constrangida, ela olhou para Lysander e viu que ele parecia estar segurando o riso, esse fato deixou Janette com um pouco de raiva, afinal por quê ela era a única que estava envergonhada aqui?
Janette continuou andando sem se importar com aqueles dois, ela podia ouvir eles rindo, mas decidiu ignorar, ela precisava de tempo para se recompor.
Janette parou não muito longe, ela ficou fascinada pelo sol se pondo, o tom alaranjado do céu a fez ter uma vontade de ver as estrelas, ela parou para pensar que raramente fazia isso.
Ela não tava muito tempo para contemplar, Lysander já tinha a alcançado e os dois continuaram a caminhada.
A maioria das pessoas já estavam se preparando para guardar as coisas, afinal logo iria escurecer, Janette se aproximou de uma tenda que vendia jóias, cada uma era mais bonita que a outra.
"O jovem casal está interessado em algo?".
O vendedor perguntou para os dois, Janette suspirou, ela iria ter que explicar tudo de novo, mas antes dela falar alguma coisa Lysander foi mais rápido.
"Não, só estamos olhando".
Com isso o senhor disse que entendia e falou para eles olharem o quanto quisessem.
Lysander lidou bem com a situação, ele nem se deu ao trabalho de corrigir o vendedor, não que Janette estivesse reclamando, ela não estava com energia para isso.
Janette mostrou o resto da feira, mas como já estava escurecendo todos já estavam se retirando, era hora deles se despedirem por aquele dia, mas Janette convidou Lysander para ver as estrelas com ela.
A própria não sabia o motivo repentino para convidá-lo, talvez ela só quisesse uma companhia, ela o levou para um lugar um pouco afastado da vila.
Era um morro, lá de cima era o melhor lugar para ver as estrelas.
"Sabe, às vezes eu venho aqui quando quero pensar ou só ficar sozinha".
Janette se sentou na grama, Lysander hesitou por um momento antes de sentar ao lado dela.
Não houve conversa, eles estavam simplesmente aproveitando o momento, as estrelas estavam tão lindas e a lua já tinha começado a aparecer.
"Lysander olha, uma estrela cadente não é linda? Temos que fazer um pedido rápido".
Janette sorriu, ela rapidamente fechou os olhos e fez um pedido, ela queria poder realizar o sonho dela e também que seus pais tivessem muita saúde, foram dois pedidos, mas ela não se importou.
"É muito linda".
A voz de Lysander captou a atenção de Janette, ela se virou para ele na intenção de perguntar se ele gostava de estrelas.
Mas a jovem se surpreendeu que Lysander não estava olhando para o céu, ele estava olhando para ela.
Os olhos verdes dele pareciam tão brilhantes naquela noite, Janette nem tinha percebido que ele a olhava o tempo todo.
Eles estavam muito próximos, Janette nem tinha se ligado nisso, mas ela não se sentiu desconfortável com a aproximação dele.
Era até um pouco assustador como ela estava confortável na presença dele, ela se sentia tão segura com ele que não conseguia se forçar a ficar em alerta.
"Eu.. espero que você possa ficar com isso".
Enquanto Janette analisava essa situação estranha, Lysander entregou para ela uma pulseira.
"Isso é para mim?".
Ele apenas desviou o olhar e assentiu, a pulseira era dourada, a pulseira era decorada com alguns pássaros em cor prata, perecia tão caro que Janette se sentiu mal em aceitar.
"Quando foi que você comprou? Eu não tenho nada para te dar!".
Janette ficou chateada, se ela soubesse que ia receber algo, ele teria comprado alguma coisa.
"Não precisa se preocupar, essa pulseira eu recebi como um pagamento em um dos meus trabalhos, mas eu não sabia o que fazer com ele, então... É seu agora".
Lysander pegou a pulseira e com toda a delicadeza colocou no pulso direito de Janette.
Os dois sabiam que ele não precisava ter feito isso, Janette podia ter colocado a pulseira sozinha, mas nenhum deles mencionou tal coisa.
Janette olhou para pulseira em seu pulso totalmente maravilhada, Janette tinha um sorriso deslumbrante no rosto, até Lysander parecia estar sorrindo.
"Obrigada Lysander".
Logo depois disso Janette surpreendeu Lysander com um beijo na bochecha, os dois desviaram o olhar totalmente corados.
Janette ficou confusa com sua própria ousadia, mas ela não se arrependeu do que fez, ela até estava feliz por conseguir constranger Lysander.
Quando Janette ia falar algo, Lysander de repente se levantou, Janette olhou para ele, só para ver que ele estava muito corado.
"E-eu vou alí um pouquinho".
Antes que ela pudesse perguntar o que estava errado ele já tinha saído, observando ele sair tão rápido quanto um raio, ela não pode deixar de rir.
Agora eles estavam quites, pensou Janette divertida, mal sabia a garota que alguém a observava de longe.
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Lysander não estava muito longe, ele ainda tentava se acalmar, a informação que ele tinha recebido do sistema era chocante demais.
Quando Janette o beijou, seu sistema mostrou um monte de notificações novas.
Mas antes que ele pudesse analisar melhor todas elas, ele ouviu um grito não muito longe, ele reconheceu a voz no mesmo instante.
"JANETTE!".
Lysander voltou correndo para onde estava, um homem encapuzado se aproximava de Janette de forma ameaçadora.
"Onde está? O artefato dê ele para mim!".
Lysander nem parou para pensar o que o homem quis dizer com essas palavras, ele rapidamente sacou sua espada de uma mão e atacou o homem.
O homem percebeu o ataque e se esquivou no último segundo, Janette se levantou e correu para o lado de Lysander.
Antes que o homem pudesse dizer mais uma palavra Lysander já estava atacando ele, o homem defendeu do primeiro ataque conjurando um escudo.
Lysander com sua velocidade superior apareceu atrás do homem lançando o segundo ataque.
O homem percebeu que não conseguiria lançar um feitiço rápido o suficiente, então ele só pode se esquivar.
Infelizmente para ele, a espada de Lysander atingiu seu braço direito, a ferida começou a sangrar muito.
"Você é um bastardo bem problemático".
Tomando distância o encapuzado tomou uma espécie de poção e logo a ferida em seu braço se curou parcialmente.
"Eu não tenho escolha, terei que fazer isso".
O homem estava preparando algum tipo de magia, Lysander se colocou de forma protetora na frente de Janette.
"O que? Não está funcionando?".
Antes que o homem pudesse entender o que estava acontecendo uma chuva de flechas de luz caiu sobre sua cabeça.
Por estar distraído algumas delas atingiram suas costas e pernas, os três olharam na direção do ataque.
"Você estava tentando convocar seu bichinho não é? É uma pena que ele já foi subjugado".
Janette reconheceu a voz, ela ficou aliviada por ela estar lá.
"Anty!".
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Notas da autora
Esse capítulo acabou de uma forma que nem eu esperava, parece que a luta vai ter que ficar pro próximo capítulo.