Pov. Anty
Observando a cena ao meu redor, eu pude ver Janette ao lado de um rapaz que não reconheci, mas ele parecia estar protegendo ela.
Então deduzi que ele não é uma ameaça por enquanto, concentrei meu olhar no homem encapuzado.
Foi surpreendente que mesmo distraído ele tivesse conseguido desviar da maioria das minhas flechas.
Mas isso não importava agora, se eu conseguir capturar ele, eu teria as respostas para as coisas bizarras que aconteceram hoje.
[Algumas horas atrás]
Eu passei o começo do dia investigando os ratos deixados pela criatura no dia em que a encontrei pela primeira vez.
O jeito que a criatura tinha desaparecido naquele dia me incomodou, era claro que alguém estava por trás disso, mas por qual motivo?
Voltando para o lugar onde encontrei a criatura pela primeira vez, mas apesar de procurar muito, não havia rastros no lugar.
O corpo da vítima tinha sido tirado há muito tempo, mas o cheiro do sangue ainda era forte.
"O sangue se espalhou por todo lado, é bem difícil de encontrar e limpar cada canto, por isso o cheiro ainda está aqui".
Ilyam comentou do meu lado ao perceber meu desconforto, ele estava me ajudando a rastrear a criatura nos últimos dias.
Quando ele descobriu que eu estava investigando sozinha, ele pediu para me acompanhar, já que seria mais segura e mais eficiente com os dois trabalhando juntos.
Eu concordei, com a ajuda dele seria muito mais fácil capturar a criatura com vida.
O motivo de não matar ela é simples, alguém a estava controlando, sendo assim precisamos da criatura viva para rastrear seu dono.
Analisando todo o ambiente não foi difícil achar um rastro de magia residual no ar.
"Uma criatura desse nível não seria capaz de usar uma magia de teleporte tão perfeita".
Ilyam murmurou pensativo, eu pensava igual, se ao menos eu tivesse a capacidade de usar magia espacial, seria mais fácil saber para onde a criatura havia sido teleportado.
Enquanto eu pensava no que fazer a seguir Ilyam se aproximou e falou:
"Que tal usarmos esse artefato?".
O artefato que Ilyam tinha na mão era um relógio de bolso, o relógio estava obviamente desgastado e não parecia nada com um artefato.
Mas é claro que um artefato nunca deve ser julgado pela sua aparência, é exatamente por isso que era difícil encontrar um desses em primeiro lugar.
"Como ele funciona?".
Perguntei para Ilyam observando o artefato com curiosidade.
"Esse artefato pode detectar flutuações anormais de magia em um ambiente".
Ilyam aproximou o relógio da parede, os ponteiros giravam loucamente.
"Viu? A energia residual aqui fez o artefato reagir, seguindo os princípios da magia espacial, é certo afirmar que o lugar para onde a criatura foi levada deve ter deixado uma energia semelhante a que está nesse beco".
Era muito impressionante esse artefato, ele deveria estar na categoria criativo.
E também o fato de Ilyam ter dois artefatos em sua posse era incomum, uma pessoa normal não conseguiria nem ter uma, quem dirá dois.
Estava claro que a origem dele não é comum, mas independente de onde ele veio, ele está me ajudando e isso é o que importa no momento.
A gente não perdeu tempo, fomos em todos os lugares tentando encontrar qualquer coisa fora do lugar.
Mas apesar de andar por toda a vila não encontramos nada, Ilyam deu a ideia de que talvez ele estivesse fora da vila.
Pensando que poderia ser o caso eu o segui, andando pela floresta perto da vila eu vi que o sol estava se pondo.
Antes de sugerir que deveríamos voltar, Ilyam ficou em alerta de repente.
"O artefato está reagindo".
Os ponteiros do relógio estavam girando muito, me concentrando percebi que havia uma energia estranha no ar.
Se não fosse pelo artefato eu provavelmente nunca teria notado, já que a energia estava muito fraca.
"Eu encontrei essa pegadas, só pode ser da criatura".
Mostrei para Ilyam as pegadas na terra, claramente não eram de humanos.
"Vamos seguir, mas tenha cuidado e preste atenção am volta".
Ilyam falou baixo e foi em frente cautelosamente, eu apenas assenti e o segui.
A floresta está bem silenciosa, a única coisa que dá para ouvir são nossos passos que de vez em quando pisam em algumas folhas.
De repente Ilyam fez um sinal para parar, ele apontou em uma certa direção.
Onde ele tinha apontado eu podia ver a criatura, ele estava fazendo algo no chão, mas por estar escurecendo não dava para ver o que ele estava fazendo.
"Essa é uma boa oportunidade, vamos fazer assim...".
Ilyam me explicou o plano e depois de algumas considerações o colocamos em ação.
Me aproximei da criatura o mais devagar possível, quando cheguei próximo o suficiente eu lancei o primeiro ataque.
Uma chuva de flechas de luz iluminaram a floresta, a criatura não teve tempo de reagir, ela foi atingida nas costas.
A criatura se virou para enfurecida, mas ela não conseguiu efetuar um contra-ataque.
Ilyam surgiu do nada, com a mão na espada, ele estava pronto para lançar um ataque.
A criatura percebendo o perigo desviou para o lado, o ataque rápido de Ilyam passou de raspão pela criatura.
A criatura horrenda se deu conta de que estava em desvantagem, ao invés de lutar uma batalha perdida ela decidiu que precisava fugir.
A criatura disparou para a floresta, tentando fugir de mim de Ilyam.
"Você não vai fugir!".
Gritei e lancei uma corda de luz que prendeu o tornozelo da criatura, a falta de equilíbrio a fez tropeçar.
Ilyam aproveitou a brecha para cortar as pernas da criatura, o grito de dor ecoou pela floresta silenciosa.
Com a criatura parcialmente imobilizada pela dor, eu comecei a amarrar a criatura com minha corda.
"Deixe-me fazer isso".
Ilyam disse pegando a corda brilhante da minha mão, enquanto ele fazia isso fiquei olhando ao redor, tentando entender o que a criatura estava fazendo.
No chão havia um círculo branco, era ordenhado de desenhos e símbolos que eu não entendia, seja lá o que for, não devia ser coisa boa.
Enquanto eu analisava, Ilyam apareceu do meu lado, ele tinha imobilizado por completo a criatura, ela já não representava nenhum risco.
"Esses símbolos...".
Ilyam franziu a testa, ele se ajoelhou e olhou atentamente para os desenhos.
"Você sabe o que significam?".
Perguntei sem esperar muito, mas contra minhas expectativas, Ilyam respondeu.
"Invocador, esses são os símbolos que só um invocador podem reproduzir".
Ilyam explicou com uma expressão alarmada, era a primeira vez que o via tão sério.
"O que isso significa?".
Eu nunca tinha ouvido falar de invocadores, estava um pouco perdida.
"Os invocadores podem invocar criaturas, eles são muito raros e uma classe perigosa de magos, eles geralmente invocam criaturas que são mais fracas ou no mesmo grau que eles, entretanto se um invocador invocar algo que seja acima de seu grau...".
Ilyam tocou nos desenhos enquanto me contava um pouco sobre o que sabia.
"Então, o que acontece?".
Ilyam me olhou com uma expressão séria, o jeito descontraído dele não estava mais presente.
"Então, o invocador perde o controle sobre a invocação, quando essa classe foi descoberta, pensavam que finalmente teriam controle sobre as criaturas, mas não é bem assim, uma criatura que seja mais forte que seu invocador é descontrolado e instável".
Ilyam se levantou e olhou para a criatura amarrada que se contorcia tentando se libertar.
"Temos duas possibilidades, ou estamos lidando com um invocador de grau alto, ou esse invocador iria trazer uma criatura de alto grau desgovernada".
Com essas palavras eu paralisei, os dois cenários eram preocupantes, antes que eu pudesse fazer mais perguntas, um grito alto foi ouvido.
A voz feminina era familiar, rapidamente corri em direção ao som.
"Ilyam! Cuide da criatura e se puder traga reforços".
Gritei essa palavras enquanto corria sem virar para trás, eu pude ouvir ele me chamando, mas não prestei atenção, eu só tinha um pensamento naquela.
'Janette está em perigo!'
Eu só esperava não chegar muito tarde para fazer algo.
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"Anty!".
Janette me chamou, ela estava atrás de um garoto que eu não reconheci, mas pelo jeito ele estava a protegendo.
Vendo que ela não parecia machucada, me concentrei no homem encapuzado a frente.
Minhas flechas haviam o machucado e ele estava sangrando, julguei que esse deveria ser o invocador.
Sem esperar mais, eu ataquei, ao mesmo tempo o jovem que eu não reconheci atacou o conjurador de outra direção.
Ele estava encurralado, o homem falou baixinho em um idioma que eu não entendi.
Mas não demorou muito para entender o que ele iria fazer, o homem foi cercado por uma luz roxa.
As minhas flechas atingiram o ar, o homem tinha sumido, era óbvio que ele usou o teleporte para fugir.
Olhei para as partículas remanescentes de magia no ar perdida em pensamentos.
"Lysander, você está bem? Ele não te machucou né?".
Ouvi Janette falar com o garoto ruivo ela olhava para ele com ansiedade, mas o rapaz apenas disse que estava bem e que não havia motivos para se preocupar.
Eu achei um pouco estranho essa situação, Janette raramente interagia com adolescentes da idade dela, ainda mais um garoto que eu nunca vi.
Janette claramente era próxima dele, achei melhor não falar nada, se ela confiava nele, então não havia motivos para eu não confiar.
As coisas tinham se resolvido por enquanto, mas eu sabia que o problema principal ainda não estava acabado.
O invocador tinha escapado, mas pelo menos a criatura foi capturada, quando me juntar com Ilyam novamente, será uma questão de tempo até pegar ele.
Assim, tudo estaria de volta ao normal, pelo menos, foi o que pensei.
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