Pov. Anty
"Sério, como ele pode correr tanto?".
Perguntei tentando normalizar minha respiração ofegante, correr atrás desse cara pela vila era exaustante, até para mim.
"Talvez ele seja um mago do tipo de fortalecimento corporal".
Respondeu Lysander dando de ombros, ele imobilizou com sucesso o suspeito.
Desde o começo do festival nós estávamos de olho em qualquer pessoa minimamente suspeita.
Como consequência, estávamos ajudando os guardas a capturar bandidos, mesmo não sendo a intenção.
Esse jovem por exemplo, tinha acabado de roubar o dinheiro de uma senhora.
Depois de entregar o ladrão para os guardas eu e Lysander devolvemos o dinheiro para a senhora.
Ela nos agradeceu e insistiu que deveria nos recompensar, mas eu não aceitei e nem o Lysander.
No final apenas conversamos um pouco com ela e seguimos nosso caminho.
Ilyam estava vigiando o outro lado do festival, já Janette ela estava com a mãe dela comprando uma roupa para a cerimônia de despertar dela que vai acontecer em alguns dias.
Enquanto andávamos pelas barracas lotadas de pessoas, Lysander de repente começou a falar.
"Eu sei que isso é repentino, mas sempre que eu olho para você, eu tenho essa impressão que de alguma forma você é familiar para mim".
Olho para Lysander sem entender o que ele quer dizer com isso, obviamente nunca nos encontramos antes.
"Você tem os mesmos olhos que ela, olhar para você me faz lembrar dela".
Lysander tentou explicar da melhor maneira possível, ele parecia perdido em pensamentos.
"E quem seria ela exatamente? Parece ser importante para você".
Falei parando de andar e esperando uma resposta dele.
"Ela era uma mulher muito gentil, mas um pouco excêntrica, mas eu a conheci quando eu era bem jovem, eu nep sei como ela está hoje em dia".
Lysander respondeu com uma expressão complexa no rosto, decidi não questionar muito, é evidente que ele não quer relembrar o próprio passado.
Seja lá o que aconteceu com Lysander não parecia boa coisa, de qualquer forma isso não é da minha conta.
Assim continuamos a andar pelo festival interceptando qualquer pessoa suspeita.
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"Assim não vai dar, preciso de uma distração".
Um homem escondido nas sombras murmurou irritado, por entre as árvores ele observava a vila de longe.
"Se ao menos eu ainda tivesse minha criatura".
O homem falou em voz alta para si mesmo, ele desenhava um pequeno círculo no chão cheio de padrões que só ele entendia.
"De qualquer forma, eu só preciso de uma pequena distração e nada mais".
O homem pegou uma vela, colocando no centro no círculo ele a acendeu, enquanto fazia isso ele recitava para si mesmo baixinho.
O círculo brilhou em vermelho quando um portal começou a aparecer.
O homem sorriu levemente, logo o sorriso se transformou em uma risada estranha.
"Vamos ver como vocês conseguem lidar com isso".
O homem virou as costas e começou a se dirigir para a vila, ignorando completamente a criatura furiosa que acabará de ser convocada.
O rugido ensurdecedor da criatura abalou a floresta outrora silenciosa, os olhos da criatura se fixaram na vila próxima.
As pessoas na vila se divertiam e festejavam, sem saber da calamidade que iria se abater sobre eles.
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Ilyam estava caminhando pelo perímetro da vila, a noite estava tranquila, o artefato também não detectou nenhuma anomalia.
Quando Ilyam pensou em voltar, ele ouviu ao longe um terrível rugido, olhando na direção do som ele não percebeu nada de anormal na floresta.
Mas era evidente que algo estava errado, Ilyam sentiu arrepios por todo o corpo, um mal pressentimento surgiu em si coração.
Ilyam voltou às pressas para a vila dando ordens para os soldados dizendo que eles deveriam se preparar para o pior.
Independente de qual criatura tenha dado o rugido, era óbvio que não era amigável, Ilyam não pode evitar de suar frio.
Por ser o mais forte ele tinha uma percepção muito melhor do que as outras pessoas.
Ele podia dizer pela aura opressiva e assassina vindo das montanhas que a criatura que estava vindo era muito forte.
Ilyam franziu a testa em preocupação, muitas perguntas estavam em sua mente.
Como o invocador não tinha feito nada até aquele momento, Ilyam pensou que ele não agiria tão cedo.
Mas parece que ele não previu o quão desesperado estava o invocador, pelo menos Ilyam tinha tomado as devidas providências caso tal cenário surgisse.
Depois de dar algumas ordens para os soldados, Ilyam correu para encontrar Lysander e Anty.
Quando chegou no festival, algumas pessoas estavam curtindo e se divertindo, completamente alheias ao perigo que se aproximava.
Não demorou muito para Ilyam avistar Lysander que estava patrulhando a região.
"Onde está a Anty? Precisamos tirar todos daqui".
Ilyam explicou rapidamente para Lysander que assentiu e partiu para procurar Anty.
Lysander e Ilyam tinha um entendimento tácito entre eles, os dois se conhecem há 3 anos, pela urgência de Ilyam, Lysander apressou o passo.
Após isso, os soldados começaram a escoltar as pessoas pouco a pouco, Ilyam franziu a testa.
'Isso não vai dar, está muito lento, se continuar assim não vai dar tempo'.
Ilyam suspirou, subindo em uma das mesas vazia perto, ele logo chamou a atenção da multidão.
Cada tenda estava decorada com cores vibrantes e cheias de vida, as pessoas antes alegres começaram a ficar preocupadas com os soldados que pediam para as pessoas saírem do festival de forma ordenada.
Após conseguir chamar a atenção do público, Ilyam respirou fundo e começou a falar:
"Eu sei que todos devem estar confusos agora, eu sinto muito ter que acabar com as festividades, mas eu preciso que todos sejam evacuados imediatamente, surgiram alguns imprevistos, infelizmente o festival não pode continuar, isso é para a segurança de todos, então peço que fiquem calmos e se retirem sem causar confusão".
Algumas pessoas pareciam céticas, outras assustadas e o resto estava relutante, a maioria das pessoas não tinha mexido um músculo.
Ilyam irritado pediu que andassem represa, depois de um minuto as pessoas começaram a seguir os soldados, os donos das tendas arrumaram suas coisas rapidamente.
A multidão estava cooperando bem, se continuasse nesse ritmo todos estariam seguros do ataque da criatura, se ao menos eles tivessem mais tempo.
BOOM!
O chão tremeu, o murro da vila ruiu, os escombros começaram a cair em cima das pessoas, todos gritavam e corriam em pânico.
Ilyam conseguiu se manter de pé, ao olhar para cima ele paralisou, uma enorme serpente tinha destruído a muralha da vila.
A serpente tinha pelo menos 50 metros, suas escamas eram negras, tinha olhos dourados, em sua cabeça havia dois chifres curvos e pequenos.
Na ponta da cauda da serpente havia espinhos pontiagudos e ameaçadores, apesar de não possuir pupilas, ela parecia olhar para as pessoas fugindo em desesperadamente.
"Mas que droga!".
Ilyam murmurou irritado, antes que a serpente pudesse continuar seu ataque, umas flechas de luz a acertaram na cabeça.
A serpente olhou na direção do ataque, Olham viu que Anty tinha distraído a serpente com sucesso.
Aproveitando essa oportunidade, Ilyam guiou as pessoas para longe da serpente.
Com Anty chamando a atenção da serpente ficou mais fácil salvar as pessoas dos escombros.
Apesar da serpente não ser tão forte quanto ele esperava, algo ainda incomodava Ilyam.
Ele cerrou os dentes e se concentrou no que estava fazendo, ele não tinha o luxo de pensar em mais nada.
Ele tinha que salvar o máximo de pessoas possível e ajudar Anty com a serpente.
Anty estava conseguindo lidar bem com a criatura, pelo menos por enquanto.
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[Alguns minutos antes do ataque]
Janette e sua mãe estavam selecionando as vestes para a cerimônia de despertar dela que vai acontecer em alguns dias.
Depois de experimentar várias vestes, Janette enfim encontrou uma que a agradava.
Um manto roxo escuro, com flores douradas cuidadosamente bordadas, era tão lindo e naturalmente seria mais caro do que as outras.
Mas a Sra. Bell comprou mesmo assim, ela queria que a cerimônia de despertar de Janette fosse a melhor.
Depois de comprar a roupa, Janette sua mãe saíram da loja e voltavam para casa conversando animadamente pelo caminho.
Quando elas estavam saindo da área comercial, um tremor quase as derrubaram, logo em seguida gritos podem ser ouvidos.
Enquanto Janette tentava manter o equilíbrio alguns soldados se aproximaram e pediram que elas o seguissem.
A Sra. Bell segurou o braço de Janette e a arrastou atrás do soldado com passos largos.
A jovem garota não tinha processado tudo o que estava acontecendo, quando ela olhou para trás viu pessoas correndo enquanto os soldados tentavam acalma-los.
A Sra. Bell não perdeu tempo, elas evacuaram com segurança, atrás delas, o rugido poderoso e aterrorizante da criatura soou, mas as duas não olharam para trás nenhuma vez.
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Pov. Anty
Os olhos dourados e sem pupilas da serpente me encaram, ela me atacou, mas desviar dos ataques da cobra não foi um grande desafio.
A cada movimento que a grande serpente fazia, uma rastro de destruição se seguia, as tendas e barracas que estavam todas decoradas e iluminadas.
Foram enterradas sobre os escombros e esmagadas pela serpente, havia algumas pessoas que ainda não saíram do alcance de ataque dela.
'Eu tenho que dar um jeito de levá-lo para fora da vila'.
Pensei tentando ao máximo chamar a atenção da serpente, não importa o quanto eu ataque, as flechas não conseguem perfurar as escamas grossas da cobra.
A magia de luz era mais fraca de noite, então para manifestar minha magia é preciso mais concentração do que o normal, e o fato das escamas serem bastante resistentes me colocam ainda mais em desvantagem.
Nem mesmo as luzes das lanternas que iluminam o festival foram de muita ajuda.
Enquanto pensava nisso, a serpente soltou um rugido doloroso, percebi que foi Lysander qua atacou.
A ferida causada pela espada não foi muito profunda, mas certamente é bem dolorosa.
A serpente com raiva levantou sua cauda, os espinhos na ponta começaram a levantar, em seguida uma enxurrada de espinhos afiados foram lançados na direção de Lysander.
Sem se mexer, Lysander usou a espada para cortar os espinhos no ar, no entanto os espinhos eram muito mais resistentes e não foram cortados.
Pelo menos o jovem ruivo conseguiu impedir que os espinhos o atingissem, atrás de lysander, Ilyam apareceu correndo já com sua espada em mãos.
Com a atenção da serpente voltada para o Lysander, Ilyam sem perder tempo lançou seu ataque.
Raios azuis envolveram a espada dele, em uma velocidade impressionante Ilyam completou o ataque.
Tudo aconteceu muito rápido e o grito de partir o coração da serpente soou, o sangue jorrou, a ferida era profunda e se estendeu da cauda até quase metade só corpo da serpente.
Ilyam estava ajoelhado no chão faíscas remanescentes o cercava, sem piedade lancei flechas de luz na ferida aberta o que deixou a criatura mais agitada.
Sentindo que sua vida estava sendo ameaçada, a serpente se preparou para usar seu último recurso.
Os pequenos chifres em sua cabeça começaram a brilhar em azul, logo todo o corpo da serpente começou a brilhar em azul claro.
Um novo par de chifres surgiu logo abaixo do outro, relâmpagos amarelos rodopiavam ao redor dos chifres de maneira ameaçadora.
"Droga! Ele entrou em modo fúria!".
Eu pude ouvir Ilyam amaldiçoar, o modo fúria foi algo que eu só vi em livros, nunca pensei que veria algo assim pessoalmente.
O modo fúria serve para ativar completamente o potencial de uma criatura, fazendo-os ficar mais fortes por um período de tempo.
Somente criaturas acima do sétimo grau podem ativar esse modo, enquanto pensava nisso a criatura totalmente transformada conjurou esferas de relâmpagos e os jogou em nossa direção.
Rapidamente saí da minha posição, a bola de relâmpago atingiu o chão onde eu estava, fazendo uma cratera em chamas.
Nós três tentávamos desviar dos constantes ataques da serpente e quando partimos para o ataque, éramos recebidos por uma chuva de espinhos reforçados com magia de raio.
"Ilyam, o que faremos? Não podemos continuar nesse impasse!".
Perguntei enquanto um escudo se projetava na minha frente me protegendo dos espinhos.
"Eu tenho uma ideia, mas vou precisar me afastar por um minuto".
Ilyam falou acertando os espinhos que viam em sua direção com a espada.
"Você vai chamar 'ele' então".
Murmurou Lysander desviando habilmente de outra bola de relâmpagos, o suor brilhavam em sua testa, ele também estava chegando no seu limite observei.
"É, não temos escolha, eu não queria ter que usar isso mas, se mantenham firme pessoal!".
Com essas palavras Ilyam saiu de perto, a serpente não pareceu se importar com ausência do homem loiro.
Na verdade, os ataques ficaram piores agora que só havia duas pessoas, cerrei os dentes e respirei fundo, só mais um pouco.
Eu podia sentir o suor escorrendo, meu cabelo grudado na testa, a exaustão estava se abatendo sobre mim.
Mas eu não parei, na esperança de que Ilyam tivesse alguma coisa, qualquer coisa que pudesse acabar com essa luta interminável.
Por sorte, não tive que esperar muito, a voz de Ilyam não estava muito alta, mas curiosamente pareceu que o tempo parou por um momento.
"Eu o invoco, o grande espírito da travessura, o poderoso Kitsune, o familiar que pertence a Olham Durand, apareça, Wei Húlí!".
Com essas palavras uma névoa densa surgiu do nada, um brilho azulado rodeava Ilyam e em meio a névoa uma voz brincalhona ecoou.
"Aha, parece que você ainda se lembra da minha existência majestosa, pequenino".
Ao lado de Ilyam surgiu uma majestosa raposa branca, seus pelos tinham detalhes azuis que combinavam com a cor dos seus olhos.
Mas de longe o que mais se destacava nele, eram suas asas que repousavam graciosamente em suas costas e também 4 caudas balançavam suavemente.
Meu corpo não se mexia e eu sabia o motivo, ele era forte, muito forte, um sentimento de opressão caiu sobre mim, instintivamente eu queria me prestar diante de sua presença.
Com dificuldade, eu me mantive de pé, mas não consegui encarar o espírito que olhava para tudo com uma expressão entediada.
Direcionei minha visão para o lado e Lysander não estava se saindo muito melhor do que eu, ele parecia pálido.
"Vamos acabar logo com isso".
Wei Húlí falou encarando a serpente que se encolheu e encarava a raposa com extrema vigilância.
Ilyam guiou eu e Lysander para longe, mas ainda poderíamos assistir a luta que estava para acontecer.
Mesmo contra meus instintos eu teimosamente olhei para as duas criaturas, eu queria ver, queria saber, o que Wei Húlí podia saber.
E sem perder muito tempo a batalha começou, quem iria ganhar? O vencedor estava claro.
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Notas da autora:
Eu vou deixar essa luta para o próximo capítulo e outras coisas deram explicadas lá também, espero que tenham gostado, bjs.