Olivia
Esperei pelo meu pai pacientemente, mas por algum motivo, ele não apareceu, achei melhor sair para investigar o que estava acontecendo e o encontrei ainda no escritório trabalhando, estava terminando uma ligação e parecia muito sério.
— O que foi? — pergunta carrancudo.
— Bem, já é hora do jantar e eu vim avisar, caso você tivesse esquecido que jantaria comigo hoje. — murmuro.
Sem dizer uma palavra, ele levanta do seu lugar e caminha para fora do seu escritório, eu o sigo silenciosamente pelos corredores até a sala de jantar, onde os empregados esperam por nós para servir o jantar.
Comemos em silêncio desconfortável, confesso que quis me remexer nervosamente na cadeira, mas eu estou fazendo isso por uma boa causa e preciso aguentar firme. Observei que meu pai estava comendo muito pouco, apesar de a comida estar deliciosa. Parece que ele já está sentindo alguma coisa, mas, como um workaholic que é, não consegue abrir mão de algum tempo e cuidar de si mesmo, em vez de trabalhar incansavelmente.
No meio do jantar, ele começou a fazer caretas e em certo momento empurrou a comida para um canto, mas, logo olhou para mim e percebeu que eu o observava e voltou a comer, parecendo incomodado com algo.
— Você tem se sentido bem ultimamente? — pergunto despreocupadamente.
— Sim, nada fora do normal. — responde.
— Você parece mais magro. — digo.
— Isso é impressão sua. — responde.
— E também parece cansado. — insisto.
Eu preciso que ele pare de ser vago e fale realmente o que está sentindo e se eu preciso irritá-lo para que isso aconteça, então que seja.
— Isso é só impressão sua. — responde com um suspiro impaciente.
— Bem, eu acho que o senhor deveria ir ao médico e fazer alguns exames. Quando foi a última vez que fez isso? — indago.
O suspiro alto e o som do talher tilintando na mesa é a prova de que ele finalmente se irritou com minha insistência e tem algo a dizer sobre o assunto.
— Olivia, eu já disse que estou… — antes de terminar de se assegurar que está bem, meu pai sibila de dor e segura a barriga se curvando de dor e ficando rapidamente pálido.
Corri até ele e segurei seu braço.
— Pai, o que está sentindo? — pergunto apressadamente.
— É apenas uma dor incômoda, logo vai passar. — tenta se desvencilhar das minhas mãos, mas eu o seguro com mais firmeza.
— Vamos ao hospital. — digo.
— Não é necessário, vai passar. — diz ainda curvado de dor, suor escorre de seu rosto.
Sim, apenas uma dor incômoda, como se eu fosse acreditar nisso.
— Vamos ao hospital. — insisto.
— Não. — devolve.
Bem, parece que ele quer me irritar com sua teimosia.
— Pai, se não for para o hospital comigo por bem, eu vou acertar sua cabeça com um vaso e o levarei de qualquer jeito. — decreto com toda seriedade.
Meu pai paralisa por alguns instantes e me encara de olhos arregalados, surpreso com a formo como eu me opus às suas palavras. Isso é algo que eu nunca fiz antes, já que sempre o evitei e tinha certo medo dele, mas agora, eu sou outra pessoa, quatro anos mais velha do que a minha idade atual diz e eu já passei por muitas coisas e dessa vez, eu não vou deixá-lo sozinho por causa de temores e complexos.
É isso aí, pai. Eu sou uma nova mulher.
— Tudo bem. — assente.
Uma pequena vitória!
Mandei que a governanta pegasse os documentos necessários enquanto eu pegava também a minha bolsa e a chave do carro. Voltei até a sala onde meu pai me aguardava, seu semblante não era nada bom, mas eu fui rápida e me senti aliviada por não encontrar lentidão no trânsito até o hospital. Assim que eu expliquei a situação, meu pai foi levado para fazer exames e eu fiquei aguardando. Um tempo depois, foi dito que meu pai havia sido transferido para um quarto e estava em observação e que eu poderia vê-lo. Abri a porta devagar e encontrei meu pai deitado na cama, agulhas conectadas ao seu corpo levavam remédios e soro. Tive um breve vislumbre de mim mesma deitada em uma cama de hospital, achando que melhoraria logo e só piorando a cada dia, até o momento em que eu soube sem que ninguém me dissesse que meus dias estavam contados, e que eu morreria sem deixar aquele hospital e deixaria todos os meus sonhos, uma vida inteira deles para trás. Foi doloroso, no entanto, eu tentei aceitar esse fato irrevogável, ou melhor dizendo, me obriguei a aceitar que eu não podia fazer mais nada e me sentir grata pelo que eu tinha, achando que era muito amada.
Que tola eu fui.
— Como se sente? — me aproximo devagar.
— Bem, eu disse que ia melhorar, não era necessário vir ao hospital. — resmunga.
Claro que ele ia resmungar a respeito, era de se esperar dado a personalidade dele.
— Bem, o que eu poderia fazer? Você é meu pai e embora não sejamos próximos, eu ainda quero vê-lo bem e me preocupo com você. — desabafo.
A sinceridade é a melhor arma nesse momento.
Meu pai abre a boca e arregala os olhos ante minhas palavras, bem, pode parecer estranho ouvir isso, já que eu nunca me comportei assim antes, mas agora eu sei o quanto eu senti falta dele, além do mais, nessa segunda chance que eu tenho, eu quero fazer as coisas direito com ele, quero que tenhamos uma boa relação, como pai e filha devem ter, afinal, tudo o que eu sempre quis foi ser amada por ele.
— Eu nunca soube que você se preocupava comigo. — murmura.
Seu olhar está me deixando um pouco desconfortável, é um olhar novo, como se ele estivesse me vendo pela primeira vez.
Talvez seja realmente assim que seja, já que ele nunca olhou para mim antes.
— É claro que eu me preocupo, você é meu pai e minha única família. — seguro sua mão em um ato de coragem.
Ele me encara e depois olha para onde nossas mãos se unem, depois seu olhar suaviza e ele aperta minha mão levemente na sua. Eu me enchi de emoção naquele momento, esse era o nosso primeiro momento de pai e filha, onde eu me senti verdadeiramente próxima a ele. Engoli o choro no último segundo e dei um pequeno sorriso enquanto olhava nossas mãos, isso até ele praguejar veementemente.
Que diabos?
— O que foi? — pergunto apressada, pensando que ele está sentindo dor novamente.
— Acabei de lembrar que preciso ir para Las Vegas amanhã de manhã. — explica.
É isso?
— Eu posso ir no seu lugar. — me ofereço sem pensar duas vezes, se ele sair assim, suspeito que não será tão fácil trazê-lo novamente para fazer exames.
Ele pensa a respeito por alguns segundos e depois assente.
— Tudo o que você precisa está em cima da minha mesa no escritório, meu assistente irá com você, ele pode oferecer qualquer informação que precisar, não precisa se preocupar, é apenas um congresso, é bom que você vá se familiarizando com os assuntos da empresa. — responde.
— Tudo bem, eu irei para casa e darei uma olhada em tudo, também vou me preparar, eu juro que não vou decepcionar. — garanto sorrindo feliz por ele acreditar em mim.
Pouco tempo depois, deixe-o no hospital com todas as recomendações e depois de ter uma conversa com o médico sobre o estado do meu pai. Antes de ir para casa, corri até uma loja e comprei algumas roupas, porque as minhas simplesmente não servem para algo assim, aliás, não servem para nada.
Tenho um sentimento bom sobre Las Vegas, espero grandes coisas dessa viagem.