Felipe sentado naquele bar encarava seu copo de whisky a sua frente e pensava porque estava ali. 30 dias naquele navio seriam um pesadelo, tinha sido muito impulsivo. Na primeira parada em algum lugar pegaria um avião e voltaria para casa. Engoliu um pouco de sua bebida e notou a aproximação de uma garota ruiva. Seu cabelo ondulado e bagunçado lhe dava um ar de rebelde, mas seus olhos azuis puros e a sua pele rosada a faziam parecer bem delicada. Ela pareceu em dúvida do que iria pedir.
_ Vou beber uma tequila, vai dar tudo bem, só vou beber um copo mesmo.
Ela dizia consigo mesmo em voz alta.
...
Ela já estava no terceiro copo. Ela se levantou com um pulo.
_ Esse banquinho é muito desconfortável! É um lixo. L-I-X-O!
Ela diz pegando seu copo e indo para perto da grade onde se via o mar e se sentou no chão encostando as costas na parede. E ficando ao lado da grade onde o vento bagunçava ainda mais os seus cabelos laranjas.
_ Agora sim, você é muito inteligente garota. Como ninguém te quer? Você é incrível. Mas tudo bem, você não precisa de ninguém... PRECISA SIM!
E então a ruiva começou a chorar sentada no chão. Felipe observou ao redor para ver se alguém iria até ela. Mas ninguém pareceu se importar. Ele suspirou pegou seu copo de whisky e foi até ela.
_ Precisa de ajuda? O chão está frio, quer que eu chame alguém?
_ Moço, você acredita em destino?
_ Oi?
_ Eu acredito. E o destino ME ODEIA. É sério, desde que eu nasci. Eu nasci no dia 29 de fevereiro.
_ Dizem que é muita sorte.
Ela bufa.
_ Sorte os cambal.
Ela resmunga e ele ri.
_ Quer ajuda para levantar?
_ Sabe mais o que? Eu cai no segundo dia de nascida. No hospital, a minha mãe deixou uma criança me pegar no colo pra tirar uma foto e eu cai. E desde então eu não paro mais em pé. Eu caio sempre nos momentos mais significativos. Fui ser daminha de casamento. Cai com as alianças perdi uma e o noivo teve que fingir colocar uma aliança de imaginação na noiva. Na minha formatura da escola? Cai quando fui subir no degrau onde estavam os professores para me dar o diploma, cai e ainda derrubei a beca há uns dois metros de distância de mim.
Ele se segurava para não ri.
_ Meu aniversário de 15 anos? Eu tinha que fazer uma descida majestosa numa escada. Eu escorrega e desci batendo a bunda em cada degrau. É sério, o universo me odeia. Se você soubesse do que estou passando agora mesmo.
_ Não deve ser tão ruim.
Então pela primeira vez ela olhou diretamente pra ele. Ela estava com toda certeza bêbada. Mas o sorriso travesso que ela o deu deixou ela inexplicavelmente atraente aos olhos dele.
_ Você duvida? Então senta aqui e me deixa te contar a história da minha droga de vida.
Ele não duvidou nem um segundo, apenas se sentou no chão a sua frente.
...
Ele a ajudou a chegar no seu destino, deveria ter virado e ido embora, mas depois de ouvir a história toda ele se sentiu pelo menos no direito de saber o final. Podem o chamar de fofoqueiro, mas quem não ia querer espiar um pouquinho como ia ser. Ela ainda estava bem bêbada, seria no mínimo engraçado.
Logo que ela chega um bolinho se reúne em volta dela.
...
_ Ah não prima, não me diga que era mentira. Estávamos tão animados para conhecer o seu namorado.
Pela descrição que ela deu a ele, ele imaginou que essa seria a noiva do ex que ela havia dito. Ele a observou. Bonita, mas ele achava Alice de alguma maneira mais interessante.
_ Poxa Ally, achei que pela primeira vez desde que terminamos você tinha encontrado alguém que gostasse.
Algo o incomodou, todos ali não pareciam perceber os ombros da garota se retraindo, ela obviamente estava se sentindo desconfortável ali. E porque o ex e a prima estavam em cima dela, os que deveriam se esforçar para no mínimo dar um apoio a ela eram eles.
_ Alice, porque mentiu? Não precisa ficar envergonhada...
E foi nessa hora que ele deixou o posto de telespectador e decidiu ajudar a garota a sua frente. Repousou o braço nos ombros da garota. Ela olhou para ele e seus olhos azuis pareciam cobertos por uma fumaça. Estavam embaçados e ela parecia desnorteada, talvez fosse ainda efeito da bebida. Ela estava muito bêbada antes.
_ Olá, vocês devem ser a família da Alice. É um prazer conhecê-los. Sou o namorado dela, Felipe.
Ele não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas agora as palavras já tinham saído pela sua boca.
Os familiares da ruiva abriram a boca surpresos, mas quem ficou ainda mais surpresa foi ela, com a boca em um completo "o".
_ Você tá doi... Aah!
Ele dá um beliscão nela que logo entende o recado e olha para frente.
_ É, eu vim com ele.
_ Minha filha! Que bom que chegaram. Seu namorado é muito lindo!
Márcia, mãe de Alice apareceu na multidão.
_ É verdade, prima, seu namorado muito lindo. Quantos tempo se conhecem?
Alice ri.
_ Acabamo... AAAH!
_ Faz uns meses, Alice é amiga da namorada de um amigo.
_ Foi assim que também nos conhecemos também.
Ela se aproxima e sussurra pra ele.
_ Eu te contei isso!
_ Eu esqueci.
_ Que coincidência.
_ Porque não vamos tomar uma coisa...
_ É melhor não, desculpa eu e a Alice estávamos bebendo antes e acho melhor eu levar ela para tomar um pouco de ar. Podemos nos encontrar mais tarde?
_ Claro, crianças. Vocês estão em um cruzeiro recém namorados. Precisam curtir. Podem deixar a gente e vão lá.
_ Obrigada, tia Heloisa. Vem.
Ela puxa ele e saem. Depois da porta fechada e ela ver que está um tanto distante começa a rir.
_ O que foi isso?
_ Uma atuação de alto nível que você quase estragou.
_ Ué, não tinha me dito que a verdade era o melhor.
_ Sua família me irritou, e não tô com nada pra fazer aqui mesmo. Porque não te ajudar?
_ É sério? Uau, quem diria que me embebedar e fazer papel de doida iria fazer alguém sentir pena de mim e me ajudar. Se eu tivesse planejado não teria dado tão certo.
_ Senhorita Alice Torres, você ganhou um namorado de mentira por 30 dias.
_ Mas o que quer em troca, nada na vida é de graça.
_ Quero ver o destino te pregando peças como você me disse. Será que você cai do navio?
_ Nem fala isso que eu tava com medo disso quando pensei em vim. É o tipo de coisa que aconteceria comigo. Espera, como sabe meu sobrenome?
_ Você estava dizendo no corredor.
_ Estava tendo uma conversa comigo mesmo, é muito feio ouvir conversas alheias. Mais importante, como vamos nos ver por um tempo, poderia fazer o favor de esquecer tudo o que eu te disse no chão daquele bar?
Ele finge estar pensativo.
_ Hum... Não, de jeito nenhum.
_ Ei. Apaga isso de sua mente.
_ Fico imaginando não tem por acaso filmagem da sua entrada de 15 anos? Será que alguém da sua família me daria se eu pedisse?
Ela semicerra os olhos.
_ Não se atreva, esse assunto foi esquecido por um bom tempo.
_ Assuntos bons sempre tem que voltar a tona.
_ Eu te mato.
_ Não pode matar seu novo namorado.
Ele pisca pra ela.
_ Porque estou sentindo que eu me enfiei em uma furada?
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