Emma estava no balanço ao lado de Caio. Eles disputavam que ia mais alto, mas Emma sempre o deixava ir além dela. Eles sorriam cumplices um para outro.
Andrey lia um livro sentado em um banco de frente para eles e parecia muito envolvido na leitura.
Richard e Elena os fitavam da sacada da varanda do quarto de dança que Emma reformou para dar aulas a outras mulheres. Nenhum dos dois parecia feliz com aquela situação.
"Até quando vai ser assim?" Elena perguntou fitando Emma irritada.
"Você está achando ruim porque ela proibiu Andrey de se deitar com você? Ou porque ele não lhe dá atenção mais?"
"Ele ia se casar comigo."
"Ele já é casado."
Elena se voltou para Richard que fitava o trio lá embaixo com tristeza.
"Isso é irrelevante aqui... Você também não está dando pulos de alegria com essa situação..."
"Não sei o que pensar. Ela me quer por perto, mas não me deixa aproximar demais. Fico na expectativa que ela vai fazer como sempre fez e me escolher."
"Você é o estepe dela." Elena disse venenosa.
"Acho que um estepe teria mais a atenção dela do que eu tenho."
"O segredo está naquela criança. Conquiste o amor dele e ela vai olhar para você. Toda mãe é assim."
"Devia fazer o mesmo para que Andrey volte a olhar para você."
"Não é filho dele."
"Ele pode não ser o pai biológico, mas definitivamente é o pai de Caio."
"Odeio aquele menino. Ele fechou a ligação entre Andrey e Emma. Ela nem mesmo permite Andrey em sua cama! E mesmo assim ele vive como um cachorro fiel atrás dela!"
"Caio é um menino de valor. Não é difícil gostar dele. Devia se aproximar e dar uma chance a ele."
"Não tenho interesse algum nele. Mas sei que Andrey só vai olhar para mim se eu der a ele o filho que tanto deseja."
"Ele não quer ter um filho com você."
"Vou drogar ele com um alucinógeno. Vai pensar que está se deitando com Emma e quando descobrir o engano vai ser tarde demais. Será poético, não? Caio é fruto de um estupro quando Emma estava drogada e agora ele vai ter um filho enquanto estiver drogado... Você podia me ajudar. Porque não droga ela e a engravida?"
"Não é assim que a quero."
"Não vai ter ela de outra forma. Não seja idiota."
"Talvez você tenha razão. Mas não vou drogar ela."
"O que Andrey queria com você esta manhã?"
"Como sabe disso?"
"Sei tudo que acontece nessa casa. Ao contrário de você, não fico atrás daquele menino mimado para encorajar a ele a ser mais insuportável do que já é. Meus aliados são outros."
"Acha que isso vai te levar a ter o que quer?"
"Tenho certeza absoluta que vai."
Richard olhou firme para Elena. Uma jovem tão bela, com tantos pretendentes, mas não consegue abandonar Andrey. E como Andrey conseguiu se afastar dela? Ele a amava. Ela é linda e brilhante. Sabe fazer um homem feliz na cama. Não via defeitos nela além dos morais. Mas tanto ele quanto Andrey sabiam que um conjunto completo era praticamente impossível de se encontrar. E de todo jeito, Andrey teria que se contentar com ela. Ele sorriu quando os olhos travessos dela encontraram os seus.
"O que fez?" Richard sabia que algo sombrio estava por ser dito a ele, mas não iria se esquivar disso.
"Quando Emma aceitar Andrey em sua cama e os meses se passarem sem que ela gere o herdeiro que ele precisa para conseguir a herança, quero estar por perto e ser a melhor opção dele."
"Não disse que ia drogar ele e bla bla bla?"
"Vou. Mas ele não daria importância ao meu filho se Emma ficasse grávida."
Richard abriu mais o sorriso. Ela não precisava dizer mais nada. Convenceu a cozinheira a colocar ervas que deixariam Emma estéril na comida dela. Era uma boa ideia, desde que não fosse nada a longo tempo. Pretendia ter seus filhos com Emma.
"Acho que vou comer você agora, Elena. Da forma que gosta. Merece por sua genialidade."
Elena sorriu.
"Então que seja antes do jantar. Quero passar todos os momentos possíveis quebrando o clima entre eles." Ela disse e saiu rebolando.
Richard deu mais uma olhada para os três e depois foi atrás de Elena. Tinha uma promessa a cumprir e nem Emma e nem Andrey podiam desconfiar que eles estavam transando as escondidas durante todo aquele tempo.
A babá se aproximou de Emma e Caio, que olhavam os peixes dourados em uma fonte ali no jardim, maravilhados pela beleza deles.
"Senhora... Tenho que levar Caio para tomar banho antes do jantar..." Ela disse com a cabeça baixa.
Emma a fitou desgostosa, mas não impediu quando Caio correu e deu a mão a ela para que entrassem.
"Suas regras são estupidas." Ela disse para Andrey que abandonou o livro ao seu lado e a fitou divertido.
"Crianças precisam de regras e limites. Mas fique à vontade para discordar. Ele é seu filho também."
Caio se cansou do balanço e fez com que os dois fossem até a fonte do jardim com ele. Andrey foi, mas para não interromper o momento entre mãe e filho, preferiu continuar sua leitura.
"Não posso tirar sua autoridade diante dele. Seria catastrófico."
"Você não tem como saber."
Emma sorriu provocadora e foi se sentar ao lado dele.
"Acha que sou burra?"
"Não foi o que eu disse."
Emma olhou para o livro e viu a moça parecida com ela, mas com olhos cinzas, sentada em uma pedra, tendo uma floresta como fundo.
"O que está lendo?"
"É um livro sobre traficantes e máfia. É brasileiro."
"Essa moça da capa se parece comigo." Emma disse e pegou o livro. "Tragédia no Morro". "O que isso significa?"
"Ela morava em um lugar onde os traficantes dominavam e acaba sendo vendida para o chefão do tráfico. Iria gostar de ler. Ela tem um pouco da sua personalidade. Menos a fingida afasia. Isso é um traço somente seu."
"Tráfico e máfia não é um assunto muito interessante."
"Pode mudar de ideia ao ler esse aí."
Emma colocou o livro de volta no banco entre eles.
"Pelo menos assim teríamos algo diferente para discutir..."
"Você está sentindo tédio?"
"Um pouco. Não falamos muito sobre nós desde que voltamos do hospital."
"Posso dizer tudo que amo em você, se quiser começar uma conversa que vai terminar na sua cama."
Emma sorriu, mas ficou vermelha também.
"Não?" Andrey perguntou pensativo. "Então que tal apenas uma? Isso não vai nos levar para a sua cama, infelizmente..."
"Fiquei curiosa."
Andrey respirou fundo e olhou nos olhos dela.
"Eu amo quando deixa revelar a menina travessa que existe dentro de você através de seus olhos... Não faz isso com muita frequência."
Emma teve vontade de beijar a boca de Andrey, mas não o fez porque sabia que essa seria a promessa de algo para qual ela ainda não se sentia pronta. Estava gostando daquele eterno jogo de flerte entre eles. Nunca se sentiu tão desejada quanto naqueles momentos. Ela olhou para a sacada, onde antes viu de esguelha Richard e Elena os observando.
"Não diga isso perto de Elena e Richard. Iria desapontar os dois."
"Isso é verdade. Você sempre coloca sua máscara de indiferença e frieza na presença deles. Queria te perguntar já faz um tempo. Porque faz isso? Fez questão que Richard passasse um tempo conosco, mas não a vejo conversar com ele nem como amigos."
"Se eu não fizesse isso, você teria uma vantagem sobre mim."
"Elena? Tem ciúme de Elena?"
"Você não aceitou mandar ela embora."
"Mas aceitei não me deitar mais com ela. Isso deve valer alguma coisa, já que você se recusa e ela é a única disponível..."
"Você a ama."
"Assim como você ama Richard."
"Eu nunca me deitei com Richard."
"Porque eu impedi. Tanto quando você era a namorada dele, quanto quando o escolheu."
Emma se calou. Queria evitar aquele assunto. Sentia que uma sombra se aproximava deles sempre que falavam de outras pessoas, principalmente de Richard. Mas Andrey pareceu não perceber.
"Onde será que foram? Estavam a nos observar a pouco, da sacada."
"Um pouco de sexo, talvez?"
"Percebi uma pontada de intriga em seu comentário."
Emma se levantou.
"Se lhe soou como intriga é porque se ressente de ela poder estar dormindo com outro que não seja você. Vá lá Andrey. Esqueça que pedi para não tocar nela. Isso não é importante. Faça companhia a seu amigo. Sei que gosta. Quem sabe ela não lhe dá o filho que tanto deseja? Não espere por mim para isso. Posso demorar a me decidir e você tem um prazo." Emma disse e saiu às pressas. Sabia que iria acabar discutindo se insistisse nesse assunto, mas era inevitável. Ele estava queimando por dentro. Ávido para ter uma mulher em sua cama. Ela sabia. Era um homem viril e jovem. Até para as empregadas casadas ela viu o olhar cobiçoso dele. E naquele lugar, ele poderia morrer por isso.
Emma passava como um vendaval pelo corredor que levava ao seu quarto quando ficou de frente com Richard. Recém saído do banho, já que seus cabelos ainda estavam molhados.
"Me procurando?"
"Porque eu faria isso?"
"Pediu que eu ficasse. Quase exigiu e agora me trata com indiferença. O que pensa que sou?"
"Me diga que não acabou de fazer sexo com Elena e lhe respondo."
Richard ficou branco como a cera e Emma, adotando seu olhar frio e indiferente tentou passar por ele que segurou seu braço.
"Se está com ciúme é só ir para o meu quarto essa noite."
"A cada dia que passa, mais eu acredito que isso jamais vai acontecer." Emma disse olhando a mão dele em seu braço de forma significativa.
Richard se sentiu insultado de forma que nunca havia sido. Ele a amava, e passaria a fazer como Andrey que não media esforços para ter o que quer.
"Em breve vai entrar em meu quarto, se despir e implorar que eu faça amor com você!" Ele disse irritado, sabendo que aquilo iria realmente acontecer. De alguma forma. Não percebeu que apertava com força desnecessária o braço dela.
"Largue ela, Richard."
Os dois olharam para trás. Andrey estava com as mãos dentro de seus bolsos da calça e escorado na parede como se já estivesse ali a bastante tempo. Sua voz era tranquila e por isso mesmo Richard sabia que eram uma ameaça e a soltou.
"Não se esqueça do que lhe disse, Emma." Ele alertou e Emma o fitou furiosa e saiu correndo.
Andrey continuou em sua posição.
"Não vai conseguir ela para você a ameaçando Richard..."
"Não foi uma ameaça. Foi uma profecia. E além do mais isso funcionou para você."
"Se tivesse funcionado não estaria dormindo sozinho."
Richard sorriu como se ainda fosse o melhor amigo de Andrey. Havia momento em que ainda eram os melhores amigos. Raros. Mas aconteciam sem que nem eles percebessem.
"Pode pedir a empregada que cante para você dormir antes que saia furtivamente de seu quarto toda descabelada."
"Não sei do que está falando." Andrey franziu a testa, mas seu olhar era travesso.
Richard revirou os olhos.
"Não precisa mentir para mim. Não vou entregar você para Emma."
"Emma deixou margem para interpretação quando disse que eu não podia me deitar com Elena até que nós decidíssemos o que seria melhor para nós. Não disse sobre me deitar com outras mulheres."
Richard riu, dando de ombros.
"Só não se esqueça que as leis aqui são diferentes. Você arruinou o futuro daquela empregada. Nenhum homem daqui vai querer ela... Faltando uma parte. E quanto a Emma... Acredito que ela não vai entender seu argumento, apesar de ser muito bom."
"Posso levar ela como babá de Caio para nosso país e mandar que coloquem um hímen nela novamente. Como acha que a convenci a se deitar comigo?"
"Ela sabe o que está perdendo? Você... Quando teve oportunidade, mostrou a ela o que está perdendo sem se deitar com um de nós?" Richard não precisou dizer o nome de Emma para que Andrey entendesse de quem ele estava falando
"O que você acha? Porque acha que Elena ainda me deseja?"
"Não era assim no princípio. Talvez você tenha pegado muito leve com ela, como fez com Elena..."
"Sei o que está pensando Richard, mas não vai acontecer como aconteceu com Elena." Andrey disse pensativo, pesando as palavras do amigo.
"Não vai Andrey. Nisso você tem toda razão. O que vai acontecer é ela ser toda minha pelo tempo em que eu quiser. E não são os seus filhos que ela vai gerar. Vão ser os meus ou os de mais ninguém."
"Você parece certo do que diz. Está despertando minha piedade."
"Porque estou certo. Acabei de me lembrar de uns detalhes que vão fazer toda a diferença. Além do mais, você sabe que ela me ama."
Andrey se aproximou de Richard sem tirar as mãos do bolso e ficou parado ao lado dele. Eles ficaram um virado para o lado contrário do outro.
"Ela não ama você. Só acredita que Elena é rival dela e é só." Andrey disse e saiu pelo corredor.
Richard ficou pensativo e olhou para o lugar de onde Andrey veio. Sabia onde precisava ir para conseguir o que queria, mas teria que deixar raiar o dia. Passaria mais uma noite na incerteza. Ele voltou e foi para a sala de jantar e se serviu de vinho enquanto os outros não chegavam. Andrey tinha conhecimento que ele estava transando com Elena e não estava se importando. Isso não era bom, pois ela seria o único consolo dele em um futuro próximo.