Emma entrou na barraca e ao contrário do que pensou, que Richard teria preparado a cabana para ser habitada, ela não estava vazia. Não tinha nem mesmo um pedaço de papel para ela não ter que se deitar na poeira. Ela saiu da cabana e foi até o barulho do rio e decidiu que dormir ali, era mais confortável, pois tinha grama para amparar seu corpo. Ela dormiu logo.
Acordou sentindo um bicar de leve em sua orelha e percebeu que já era dia. Lembrou do que aconteceu na noite passada e segurou as lágrimas. Olhou a sua volta para ver o que a tinha bicado, mas não havia nenhum animal ali. Ela se levantou sem se importar em como aquilo era estranho e depois de tirar sua roupa, foi para dentro do rio com água gelada e se lavou.
Quando saiu viu a mulher que sempre estava no caminho das tâmaras, com sua coruja em um de seus ombros, a fitando com olhar triste. Emma se aproximou dela, porque ela estava muito perto de onde deixou suas roupas e sem dizer nada começou a se vestir. Entendeu que foi a coruja que bicou sua orelha.
"Emma, ainda se recusa a falar comigo? Você podia ter evitado tudo isso que aconteceu e o que vai acontecer, se apenas tivesse me escutado."
Emma terminou de se vestir e a fitou indiferente.
"Sabe como sair daqui?"
"Sei, mas não posso tirar você. Hórus a ligou a essa floresta..."
"Então não tem nada para me dizer que me interessa." Emma disse e se afastou sem olhar para trás.
Ela tinha certeza que tinha caminhado em linha reta, mas viu apavorada após duas horas de caminhada que estava novamente diante da cabana. Aquela mulher tinha razão. Não sabia que feitiço Richard havia usado. Ela sabia que não conseguiria sair da floresta.
Sentou em uma pedra ali perto da cabana e pensou em Andrey e em Caio. Será que eles estavam procurando por ela? Preocupados? Ou Andrey estava achando que ela havia fugido novamente? Ela não queria estragar a festa de Caio...
"Nenhuma das duas opções."
Emma fechou os olhos como se buscasse paciência em seu interior, quando ouviu a voz da mulher novamente.
"Você não tem nada melhor para fazer? Estava lendo meus pensamentos? Emma perguntou sem olhar para trás.
"Aqui nessa floresta, as vezes é possível fazer isso. Ler os pensamentos."
Emma ficou em silencio.
"Emma, precisa se alimentar. Tem uma macieira bem ali adiante... Você não acha que é melhor falar comigo? Eu sou sua melhor chance. Andrey não pode ajudar você!"
"Pelo jeito é algo que vocês dois tem em comum, então." Emma disse irônica.
"Eu não posso ajudar você a sair, mas se tivesse me ouvido teria te ajudado a não entrar..."
"Entendi. Mas agora que já estou aqui, como vai me ajudar?"
"Richard e Elena cometeram um ato muito cruel e isso deixa uma marca na pessoa. Então não vai precisar se vingar deles, porque o destino vai se encarregar disso."
"Não me lembro de ter falado em vingança com você."
"Mas eu sei que esse desejo deve estar ardendo em seu peito."
"Era essa a ajuda que queria me dar?"
"Minha ajuda é um conselho. Vá até Richard. Enquanto mais rápido você der a ele o que lelé quer, mais rápido você sairá daqui."
Emma se voltou para trás e a fitou fria e indiferente.
"Acha que vou me deitar com aquele imundo que fez algo imperdoável comigo, com meu bebê?" Emma disse e virou novamente para frente. "Se era essa a sua ajuda, já realizou a sua tarefa e acredito que não tenha mais nada a fazer aqui."
"Prolongar isso, vai tornar as coisas mais difíceis para você, mas se é o que deseja... Lembre que Caio está nas mãos de Elena."
Um sino de alerta soou na mente de Emma e ela se voltou para trás, mas a mulher havia ido embora. De qualquer forma, aquela última frase era como se ela... Como se Caio corresse um grande perigo.
Emma se levantou pensativa e foi até a macieira e arrancou quatro e as comeu enquanto pensava no que faria a seguir. Algo lhe dizia que Caio corria perigo. Um perigo que sua presença poderia evitar.
Ela se levantou e começou a procurar pelo lugar onde havia a pedra em que fizeram sua arte macabra. Ela seguiria o conselho da mulher. Se o que Richard queria era ter o corpo dela, ela daria isso a ele. Não podia ser pior que Henrique. E não podia parar para se preocupar com fidelidade a Andrey. Acreditava que ele iria preferir ela de qualquer forma a outra opção.
Ela andava e gritava por Richard. Quando o viu sentado na pedra em que a deixou a fitando calmo, ela teve ânsia de quebra o pescoço dele. Talvez o efeito da magia que colocou nela morresse com ele. Mas como não podia correr esse risco, ela chegou bem perto dele e o fitou com ódio.
"Pegue o que quer Richard, e depois me deixe partir." Emma disse e se despiu diante dele.
Richard a fitou tranquilo.
"Não vai ser assim Emma. Você vai me implorar para penetrar em você." Ele disse com um sorriso debochado enquanto fitava a nudez dela com ardor. "Vai se ajoelhar aos meus pés e pedir que foda com você."
Emma não conseguia colocar seu olhar de indiferença. Odiava Richard demais para conseguir disfarçar seu ódio. Ela se ajoelhou diante dele e os olhos dele a acompanharam curiosos.
"Por favor, Richard. Eu imploro que que foda comigo!"
Richard se levantou sério sem tirar os olhos dela.
"Quando você me implorar, vai querer mesmo que eu faça isso. Não vai ser apenas para sair daqui, Emma. Vai ser porque sem eu tocar você e penetrar seu corpo, alguém que ama muito vai morrer. Você vai desejar mesmo que eu faça isso. Mas por ora, já é o bastante seu ódio. É mais do que sua indiferença e já acho que é progresso."
Emma se levantou e ergueu o queixo para poder encarar Richard.
"Você é um monstro! Me dá nojo! Não sei como um dia amei você... Não sei como pode ainda acreditar que vou desejar você um dia depois do que fez. Me tome aqui e agora, Richard, e acabe de uma vez com isso!"
"Não. Vai ser como eu disse. Você vai me querer dentro de você, não por ódio, mas por amor. Mesmo que não seja amor por mim. Mas se quiser vir comigo agora, será bem cuidada e alimentada e poderá ver seu filho e Andrey." Ele disse com um sorriso misterioso.
Emma pegou sua roupa no chão e começou a se vestir novamente, pensativa. Tirar a vida dele ainda era uma opção muito tentadora. Ela sabia como fazer. Ele estava perto. Não conseguiria escapar de uma surpresa.
Ela terminou de se vestir e Richard estendeu a mão para ela. Emma fingiu que iria aceitar, mas foi rápida e com apenas um movimento estava atrás dele com os braços envolvendo seu pescoço e cochichou em sua orelha:
"Isso é pelo meu filho, seu desgraçado!" Ela disse e com um agilizar do braço, quebrou o pescoço dele antes que ele pudesse lutar contra ela e soltou o corpo inerte no chão.
Emma o fitou por alguns instantes com o ódio lhe queimando coração e pensando que a morte dele foi rápida demais quando ouviu o som de uivos de lobos e um tropel de patas. Ela cuspiu no corpo de Richard e saiu dali correndo.
Por mais que corresse e tentasse atravessar a floresta, sempre terminava diante da cabana. Depois de incontáveis voltas, ela decidiu que aquela noite devia dormir na cabana, por mais desconfortável que fosse e entrou, fechando a porta velha atrás de si. Mas havia duas novidades esperando por ela no lugar. A mulher com sua coruja e uma cama. A mulher estava tranquila a fitando em um canto da cabana e apenas observou Emma, cansada, se arrastar para cima da cama. Ela deitou e fechou os olhos. O colchão era macio.
"Você fez algo ruim hoje..." A mulher disse, mas não havia repreensão na voz dela.
"Não me parece muito infeliz depois que matei seu filho." Emma disse sem abrir os olhos e o silencio que se seguiu foi reconfortante. Mas não durou muito.
"Acha que sou Isis?"
"Não. Sei quem você é Atena. E sei que pelo passar dos séculos passou a amar seu sobrinho como seu filho."
"Não vou discutir sobre isso com você." Atena disse aborrecida. "Você percebeu que venho tentando ajudar?"
"Não vou adorar você. Pe4rde seu tempo comigo."
"Sei que não vai. Porque você é uma idiota. Acha mesmo que pode matar Hórus? Só deixou ele mais furioso. Tão furioso que criou uma espécie para se vingar... Durma Emma. Você está cansada. Mas amanhã corrija seu erro. Não deixe que Hórus solte essa nova espécie para que saia dessa floresta. Ele faria que as suas gerações fossem perseguidas por... Essas criaturas."
Emma sentiu que estava sozinha e dormiu exausta.