Emma acordou sentindo dor de cabeça. Abriu os olhos e não reconheceu o teto com a tinta descascando. Sentou na cama estreita e suja em que estava deitada e a dor de cabeça deu uma forte pontada. Em um banco pequeno ao lado da cama tinha uma cartela de aspirina e um copo com água. Ela tomou duas aspirinas e bebeu toda a água antes de avaliar onde poderia estar. Olhou em sua volta enxugando com a costa da mão a água que escorreu por seu queixo e franziu a testa. Foi até a parede. Era feita de aço. Olhou por todo o ambiente e só havia a cama e um balde que ela imaginou que devia ser para suas necessidades. A cama era estreita e suja. E as paredes de aço era do tom cinza. Ela viu a maçaneta camuflada e descobriu que ali devia ser a porta. Foi até lá e a esmurrou, gritou por socorro e depois de meia hora fazendo essas coisas, desistiu. Devia estar em algum lugar isolado. Sentou na cama estreita e ficou esperando. O que será que aqueles dois pretendiam? Porque ela não tinha dúvidas que foram eles que mandaram que a sequestrasse. Será que pretendiam matar ela de fome e sede? Ou de tédio? Ouviu um barulho vindo da porta e uma mão com luva preta entrou por uma pequena abertura na porta bem embaixo. Deixou um prato de sopa e ela foi buscar. Olhou a pequena abertura, mas era pequena demais para que pudesse escapar. Voltou para a cama e descobriu que era o mesmo ensopado que mandou eles experimentarem. Muito engraçado. Ela estava morrendo de rir por dentro e levantou o dedo do meio, como se eles pudessem ver seu gesto e ouvir seus pensamentos. Assim que terminou a refeição jogou a tigela na parede apreciando o barulho e os cacos voando para todos os lados. Sentiu sono. Devia se socar! Haviam drogado sua comida! Como ela pôde ser tão burra? Ela conseguiu se recriminar antes de adormecer profundamente.
Quando acordou com as costas doendo por causa do colchão ruim ela se sentou e Richard e Andrey estavam sentados em cadeiras velhas de madeira que deviam ter trazido enquanto ela dormia, diante dela a fitando em silencio. O que ela achava mais cruel era que não sabia se era noite ou dia.
"Emma, estamos aqui para que faça sua escolha." Richard disse sério. "Se não escolher um de nós dois, vamos compartilhar você. Então, se você não gosta de sexo a três é bom que diga agora."
"Vocês pensam que são deuses só porque tem mais dinheiro do que a maioria das pessoas? Já imaginou se tivessem o mesmo tanto de decência como tem de dinheiro?"
"Não podemos ficar sem você..." Richard disse tentando se explicar.
"Isso não me importa. Sou uma pessoa. Não podem me tratar como um objeto. As coisas não funcionam mais assim. Vocês vieram do século passado? Tem ideia do quanto estão agindo como seres irracionais?"
"Isso não nos importa." Andrey disse irônico devolvendo as palavras dela. "Pegamos o que queremos porque podemos!"
"São dois cretinos."
"Você teve orgasmos múltiplos com um desses cretinos." Andrey observou malicioso.
Emma sentiu seu rosto arder. Será que ele andou falando da intimidade deles para Richard? Será que contou que ela havia se vendido para ele duas vezes?
"Eu não desejo ficar com nenhum dos dois. E não vou ficar. Não tem como vocês me arrastarem por aí sem minha vontade. Ouviriam meus gritos e isso iria chamar a atenção de outras pessoas. Eu sou livre. E continuarei sendo."
Andrey e Richard se entreolharam e sorriram como se escondessem um segredo. Emma se irritou com aquela cumplicidade entre os dois.
"Porque não procuram Elena com essa proposta? Eu não tenho interesse."
"Não seja idiota Emma." Richard disse com um sorriso divertido. "Elena já fez a escolha dela. E isso não quer dizer que vamos abrir mão de você."
"Com qual dos dois ela está?" Emma não pôde evitar a curiosidade.
"Com ambos." Andrey disse se mexendo incomodado na cadeira.
"Vocês... Querem ficar com nós duas?"
"É claro!" Andrey disse abrindo um sorriso debochado. "Não vejo motivos para nos privarmos dos prazeres que vocês duas podem nos proporcionar."
"Isso soa tão nojento..." Emma disse balançando a cabeça, mas não estava preocupada. Eles não iriam ficar com ela sem sua cooperação e isso significava que não iriam drogar ela para que eles fizessem o que queriam. Se bem que se eles dissessem que a deixariam em paz depois de uma noite com eles, ela poderia pensar no caso.
"Não ficarei mais com Elena se me escolher." Richard disse olhando a com ternura. "O que sinto por você me transformou em alguém que não sinto orgulho quando olho no espelho."
"Prefiro morrer do que ter que ficar com um de vocês. Entendam que não quero mais me relacionar com ninguém. Nem mesmo como uma amiga."
"Vai entrar para um convento? Você não leva jeito..." Andrey disse debochado.
Emma o ignorou e se voltou para Richard.
"Onde estamos?"
"Isso!" Andrey disse como se o time dele tivesse feito o gol decisivo. "Era essa pergunta que estávamos esperando!"
Emma olhou desconfiada para Richard.
"Onde estamos Richard?"
"Pense em um lugar onde o índice de pobreza é superior a noventa por cento da população que não vai pensar duas vezes em entregar uma fugitiva em troca de alguns euros? Um país bom para os bilionários como eu e Richard morarmos? E... Não podemos nos esquecer do mais importante, as mulheres não tem direitos. E estão em guerra. Mas conseguimos um lugar bem afastado e tranquilo. Tudo por causa do dinheiro que você está desdenhando. E tudo por você." Andrey disse tranquilo.
Emma entendeu. Estavam em algum país da Arábia. E ela facilitou para eles quando veio para Chipre. Eles deviam estar vigiando seus passos a muito tempo na pousada do Texas. Ela cruzou os braços. Sua vontade era a de chorar. Sabia que não conseguiria fugir dali. Não sem ajuda e ela não teria acesso ao seu dinheiro estando ali para recompensar alguém o suficiente para se arriscar a quebrar as regras.
Ela se voltou para Andrey.
"Parece que você está muito certo de que será minha escolha..."
"Tenho motivos para isso..."
Emma fitou Richard.
"Se você me prometer não me tocar contra minha vontade escolho você."
Andrey riu e olhou para Richard.
"Você... Não vai fazer amor comigo?" Richard perguntou triste.
"Não até que eu tenha vontade."
"Isso pode ser hoje ou nunca. Sou homem e não posso ficar..."
"Continue com Elena até lá." Emma disse o interrompendo.
Richard olhou para Andrey e depois se voltou para Emma.
"Fiz um acordo com Andrey. Não podemos aceitar você dessa forma... Tem que aceitar ser minha completamente ou dele ou nossa."
Emma sentiu o rosto corar. Ela teria mesmo que escolher quem a violaria?
"Porque eu não fico um dia e uma noite com cada um e depois deixem me ir livre?" Isso não era o que ela queria, mas tinha que tentar alguma coisa para não ser condenada a passar o resto de seus dias com um deles.
"Não disse a você Richard que ela é tão vadia quanto Elena? Vende o corpo dela por qualquer centavo..." Andrey disse balançando a cabeça enojado.
"Elena não nos cobra nada. Ela fica por prazer..." Richard emendou.
Emma então soube que se não escolhesse naquele momento, ambos iriam entender que ela queria os dois. Foi uma idiota em fazer aquela proposta.
"Richard... Eu escolheria você, mas não tem nada a me oferecer. E Andrey está com meu filho."
"Se o escolher nunca mais vai ver seu filho! É mais fácil eu lutar por ele na justiça por você do que Andrey voltar a deixar que você tenha contato com Caio."
Emma se voltou para Andrey.
"É verdade?"
"Não completamente. Para começar você só vai ver ele uma vez por mês. Se for uma boa garota e dentro de três meses permitirei que converse com ele por chamada de vídeo e quando ficar grávida a levo para vivermos juntos. É mais do que você merece. Mas é a mulher com quem quero ter meus filhos."
"Se o escolher..." Richard disse apontando Andrey. "Vai viver numa casa onde Elena é a dona. Ela vai colocar você como faxineira e vai te humilhar todos os dias."
"E se escolher Richard..." Andrey disse com calma. "Não vai sofrer nada disso, mas também jamais voltará a ver Caio. Não importa que Richard entre na justiça. Esses meses que você ficou longe do menino estão todos documentados. E se o um por cento de chance que você tem de ganhar essa causa acontecer, Caio vai estar tão escondido que mesmo que você passe uma vassoura no mundo você não o encontrará. Mas acho que isso não vai pesar na sua escolha. Não se importou em fugir e deixar seu filho para trás... Já pensou quantas testemunhas você me forneceu? E além do mais vai ter outros filhos. Richard quer ter um filho com você também."
Emma se voltou pensativa para Richard.
"Vocês são os dois homens mais nojentos do mundo e sei que não posso confiar em nenhum de vocês dois. Mas o maior mal é você, Andrey. E já que tenho que escolher... Eu fico com Richard."
Andrey respirou fundo e se levantou saindo do cômodo sem olhar para trás e sem dizer mais nada. Richard sorria feliz e Emma, pelo pouco que conhecia de Andrey, sabia que aquela reação dele era mais preocupante do que se ele tivesse se revoltado. Mas Richard já estava segurando sua mão e a beijando. Ele saiu da cadeira e sentou ao lado de Emma e como ela se esquivou ao seu beijo começou a beijar ela no pescoço e suas mãos voaram para seus seios, mas Emma se retraiu e se levantou.
"Não está pensando que vou ficar com você aqui, não? Jamais! Quero um hotel de luxo e um banho antes. Nem eu mesma gosto do cheiro que tenho agora." Ela disse o fitando fria e indiferente, mas a verdade é que queria ter uma chance de escapar e sabia que com Richard isso seria mais fácil, pois ele não era homem de premeditar as coisas.
Richard ficou com as bochechas rosadas.
"Claro que não. Me perdoe por... Eu estou louco por você Emma. Mas vamos sim para o hotel."
"Você sabe onde é a casa de Andrey aqui?"
"Não. Você está em um contêiner e ele achou melhor que Elena partisse para a casa dele e nós ficássemos em um hotel mais próximo daqui. Não peguei o endereço de onde ele ia ficar com você."
"Richard! Andrey não teria esse tipo de consideração nem comigo e nem com você. Se não foi para a casa dele aqui seja lá onde estamos é porque ele tem certeza que você jamais o encontraria."
"Foda-se Andrey e a casa dele. Podemos viver no hotel até que compremos uma casa do seu gosto e escolha."
"Você não está me ouvindo Richard! Andrey é minucioso e pensa em todas as possibilidades e detalhes. Ele não aceitaria uma derrota assim tão fácil."
"Não precisa ter medo de Andrey. Nós concordamos que aceitaríamos sua escolha..."
"Andrey não abre mão das coisas que ele quer..."
"Chega Emma! Está arrependida de sua escolha? Porque eu a proíbo de falar em Andrey novamente."
Emma o fitou com um desejo grande de que ele a compreendesse, mas com um suspiro entendeu que talvez ele tivesse razão e estava sendo só uma paranoica.
Richard se levantou e agarrando a mão de Emma a levou para fora do container e Emma percebeu que era noite e que não havia mais nada ali. Estava escuro demais. Richard soltou sua mão para pegar o celular e ligar a lanterna quando sem saber como Emma viu o celular dele cair e logo depois o som do corpo dele tombando. Ela sentiu uma mão em sua boca a impedindo de gritar e outra agulhada que levou embora seus sentidos.
Richard sentiu o sol queimar seu corpo. Estava deitado na areia. Lembrava vagamente de ter sentido uma agulhada no braço e depois perder os sentidos. Sabia que isso só poderia ser obra de Andrey. Nem mesmo no container ele o deixou. Richard estava irritado com a falta de caráter de Andrey. Ele havia empenhado sua palavra! Começou a andar com raiva pela areia. Devia ter ouvido Emma. Encontrou seu celular e ligou para Andrey. Logo foi atendido.
"Andrey! Não pensei que poderia ser tão monstruoso!"
"Do que está falando Richard. Diga sem rodeios pois você sabe que não deixam usar o celular dentro do avião."
"Que avião?"
"Você bebeu? Estou no aeroporto. Acho que não tenho mais nada a fazer aqui." Andrey disse e Richard ficou confuso, pois ouviu ao fundo chamados comuns de aeroportos.
"Andrey... Não foi você quem a pegou?"
"Seja claro, Richard! Não tenho tempo para enigmas!"
"Andrey... Alguém nos atacou ontem e levou Emma..."
Richard ouviu o silêncio do outro lado.
"E porque devo me preocupar com isso? Tem recursos para procurar ela sozinho. Não é mais problema meu. Ela escolheu você, lembra?"
"Não sei nem por onde começar..."
"Richard, pense bem se quiser que fique e a encontre, pois se eu colocar meus recursos para a encontrar não vou deixar ela para você. Escolha agora!"
Richard olhou e viu uma pequena barraca na areia e aquilo lhe pareceu um bom sinal. Iria a encontrar. Ela havia o escolhido.
"Eu vou procurar ela com meus próprios recursos, Andrey... Boa viagem de volta."
"Não estou voltando para Chicago. Meu filho já está em outro país onde passarei a viver com ele sem que você ou Emma venha nos perturbar. Não quero mais ver nenhum de vocês dois."
"Um dia Emma me disse isso também e você está se repetindo... Seja feliz Andrey. Desejo isso de todo meu coração."
"Já sou Richard."
Richard desligou o celular e se aproximou da barraca. As pessoas ali não falavam seu idioma, mas ele conseguiu se fazer entender quando mostrou dinheiro a eles. Achou estranho que tivessem levado apenas Emma. Deixaram seu celular e o seu dinheiro e o carregaram para um lugar distante. Isso era muito estranho! Carregaram seu celular até onde o jogaram e deixou para que ele o encontrasse. Pegou o celular no bolso quando conseguiu que eles o levassem em um jipe até seu hotel. Não fazia ligações a não ser para Andrey que não mais o atendia. Richard então entendeu o que Emma tentou desesperadamente lhe dizer. Andrey não era confiável. Certo de que o celular não prestava mais, pois devia estar clonado, Richard o lançou no mar de areia. Andrey nunca havia pensado na possibilidade de dar uma escolha a Emma.
Andrey desligou o celular com um sorriso debochado e olhou para a cama de casal. Emma dormia como um anjo. Ele se levantou da poltrona em que estava e desligou o som com ambiente de aeroporto. Esse povo inventava cada tecnologia! Ele pensou sorrindo e trancou a porta pelo lado de fora deixando Emma desacordada.