Como esperado, pisar na escola era um inferno quando os rumores estavam fortes. Reviver o momento em que sentia-se incapaz de dar um único passo por ter olhos atentos sobre si era o mais sufocante. Recriminações, olhares repletos de malícia e sorriso maldosos seriam direcionados para si.
O chamariam de sem vergonha, correlacionariam a sua classe com as coisas mais sujas que existem na humanidade.
Engolindo em seco, Theodore não conseguia dar o próximo passo. Seu coração batia acelerado quando sua presença fora notada e as pessoas falavam dele sem se importarem em serem discretas. Até avaliava o que eles poderiam ter em mãos, temendo que arremessassem coisas em sua direção como nos filmes americanos.
Estava com medo.
Muito medo.
— Ah finalmente consegui guardar energia o suficiente pra hoje. — Dizia Nicolas ao parar do lado direito de Theodore, movendo os braços em aquecimento. — No treino vou acabar com a raça desses fedelhos que ousaram jogar tão pateticamente.
— Não se esqueça de agradecer ao meu colega Bruno por ter feito um bom trabalho junto contigo, viu? — Sorria Lilian ao parar no lado esquerdo de Theodore.
— Quem é você mesmo?
— O seu maior pesadelo. Bom dia querubim!
— Bom dia.... — Respondia Theodore ainda surpreso com a chegada repentina daqueles dois.
— Querubim! Você viu contra quem vamos jogar no campeonato? Ouvi dizer que são fortes!
— Já está gritando tão alto Sam... Faz favor de não se pendurar no seu assistente, se não ele vai te chutar pra longe. — Dizia Lucas já brigando com seu irmão mais novo.
Olhando em sua volta, Theodore se dava conta de quantos amigos havia feito naquele ano. Deveria ser grato por ter conhecido Lilian, certamente ela era responsável pelas maiores mudanças em sua vida. Só que mesmo tendo tantos amigos, o ômega estava receoso em passar pelos portões da escola.
Recebendo um empurrão de Lilian e Nico, fitando-os sobre o ombro, Theodore tropeçara dando os primeiros passos sob os olhares atentos.
— Querubim, passe na minha sala que temos uma garota boa de arrumar cabelos. Ela vai dar um jeito em você.
— Lilian...
— Mantenha a cabeça erguida, querubim. Você não está sozinho.
O seu pequeno grupo de amigos permanecera consigo na entrada da escola, debaixo da tabebuia como sempre fazia. Lucas e Sam brigando o tempo todo sobre esportes, Lilian e Nicolas se alfinetando por tentarem ter a atenção de Theodore para si.
Quem olhasse para aqueles jovens reunidos, podiam se sentir aquecidos com a felicidade deles em conversarem tão animadamente. Dava a sensação quentinha no peito ver o ômega loiro sorrir genuinamente mostrando suas presinhas, e acenar quando um ou outro estudante o cumprimentava.
Todo o medo de outrora se fora graças ao apoio de seus amigos. Pela primeira vez ele sentia esperança de vencer as barreiras que haviam naquela escola. Desde que não estivesse sozinho.
— Bom dia, Theo.
A voz de Gabriel e seu sorriso cavaleiro ao acenar para os demais meninos da roda fora recebida com risadas repletas de malícia e brincadeiras.
— Bom dia, Gabriel.
— Lá vem ele roubar o querubim. — Resmungava Lilian formando um bico nos lábios — Queria ser da sala de vocês.
— Ainda bem que não é.
— É sério, você e o Nicolas não gostam de mim. Tá vendo só querubim, briga com esses feiosos.
Theodore rira afagando os cabelos de Lilian.
— Você é uma adversária forte pra eles, apenas isso.
Gabriel abrira espaço no pequeno grupo conseguindo se enfiar até sentar do lado de Theodore e passar o braço por seus ombros. Mesmo que estivessem em meio ao pátio sob a vista de todos os estudantes, aquele alfa parecia pouco se importar com os rumores.
— Ah, está chegando a data final do concurso de beleza. — Dizia Lilian segurando os ombros de Sam e o chacoalhando — Precisamos pensar em alguma coisa pra dar um plus em nosso querubim.
— Tava pensando em mudar os brincos dele. — Dizia uma menina, a que escrevia a história no Orkut, chegando na roda de amigos balançando uma pequena sacolinha. — Bom dia, pessoal.
— Puta merda, tá enchendo de gente que não conheço, que preguiça.
— Nico, olha a boca... Então, o que estão planejando dessa vez?
— Espera, a ideia dos brincos veio disso? — Quis saber Gabriel, olhando a garota que estendia uma pequena sacolinha para Theodore.
— A sua cara quando viu o querubim de brincos hahahaha foi sensacional. Queria ter tirado uma foto.
Abrindo a sacolinha, Theodore retirou alguns brincos novos. Alargadores falsos e até um transversal. Acariciando as próprias orelhas o ômega imaginava que Lilian ainda não havia desistido de brincos transversais. Parecia que seu gosto por brincos estava se tornando um obsessão, e ele seria o seu bonequinho de testes.
— Eu teria que furar de novo pra esse aqui.
Sentindo um peso nos ombros, Theodore virara para Gabriel percebendo seu olhar intenso ora nos brincos ora em sua orelha. Desde que furara as orelhas o alfa parecia obcecado por elas. Em momentos íntimos, ele mordiscava e brincava com os brincos causando arrepios no ômega.
Percebendo aquele detalhe, Theodore compreendera o motivo de sua amiga ter insistido em brincos ao invés de uma mudança mais leve como no corte de cabelo e vestes. Engolindo o sorriso que queria surgir, o ômega fingira desentendimento ao arquear a sobrancelha o questionando.
— Por que tá me olhando desse jeito?
Gabriel suspirou fechando os dedos em punho erguendo em direção de Lilian.
— Sou muito grato pela visão divina do Theo de brinco.
— Ah pronto, a anã de jardim conseguiu driblar o bosta júnior. — Resmungava Nicolas revirando os olhos.
— É claro que é grato, e pode apostar que ele vai ficar maravilhoso com esse transversal. — Respondia a garota dando um soquinho em Gabriel, estando toda sorridente com seu triunfo.
Mais um plano de Lilian se concluíra com sucesso.
A diversão do pequeno grupo logo fora desfeita quando o sinal tocara dando início às aulas. Tendo cada um seguindo pra sua sala, Gabriel se levantara estendendo a mão para Theodore. Quando segurara e ficara em pé, esperava o alfa soltar de si para entrarem na sala. No entanto ele mantivera suas mãos unidas, e até entrelaçara os dedos.
O rubor tomara a face de Theodore junto da felicidade. Poderia emanar flores de si, tamanha a primavera que se chegava dentro de si. E enquanto seguiam para dentro do prédio, ouvira algum aluno dizer.
— Para com essa nojeira!
Tanto Gabriel quanto Theodore pararam de andar virando-se para trás encontrando o círculo de amizade dos Mckenzie inteiramente os observando. Milles estava junto fazendo um discreto sinal para que continuassem a caminhar sem se importarem com aquela gritaria, mas o ômega não quis saber.
Não quando já havia fugido por tempo demais.
Com a mão livre puxara a nuca de Gabriel e o beijara ali mesmo no pátio. Os estudantes que pararam para ver aquela cena ficavam surpresos, enquanto outros sorriam orgulhosamente.
Lançando um olhar de canto para o sujeito que gritara, Theodore abrira um sorriso de canto e seguira o seu caminho para o prédio. Não precisou de palavras para argumentar, nem entrar em uma briga física. Apenas mostrara, dentro dos seus conformes, que ele era livre para amar quem quisesse.
E o escolhido seria Gabriel.
— Você faz esse tipo de coisa e depois fica todo vermelho. — Brincava o alfa cutucando as bochechas rosadas do ômega.
— Fico nada, é imaginação sua!
Rindo divertido, Gabriel abraçava a cintura do ômega até entrarem na sala de aula, sendo evitados por seus colegas de classe. Jogando a mochila sobre a carteira o ômega não considerou aquela reação como grandiosa, já era de costume ser evitado. Contudo, fora nítido a surpresa dos demais alunos quando Thunder se aproximou de Gabriel e Theodore com uma folha em mãos conversando confortavelmente.
A julgar pelo ocorrido da casa de Milles, Thunder estaria daquele jeito por enxergar um caminho dourado rumo ao relacionamento que tanto sonha em ter com Sadie Mckenzie. Ao menos ele estava sendo sincero sobre seus sentimentos e não fingindo amizade com eles.
Pelo menos era o que Theodore esperava.
— Galeraaaa o professor Marcos pediu pra eu entregar isso aqui. É a chave do campeonato.
— O Sam estava falando sobre isso lá na entrada. — Comentara Gabriel interessado. — É um time forte?
— Pra caralho!
— Vamos ter que aprender algumas técnicas novas então, não é senhor assistente?
Gabriel arqueara as sobrancelhas para Theodore, que lia os nomes dos times participantes do campeonato. Coçando o queixo com as pontas dos dedos o ômega concordava com a cabeça.
O campeonato regional começaria logo após a semana de provas. Estava um tanto quanto próxima e parecem usar as férias de inverno a seu favor. Teriam de começar a treinar com afinco naquela mesma semana, naquele mesmo dia, se quisessem permanecer na quadra por mais tempo.
— É... Teremos muito trabalho pela frente.
Se até mesmo Thunder parecia confortável, então o restante da turma só pode voltar ao seus conformes. Não que o rapaz estivesse falando com Nicolas, os dois se ignoravam muito bem, porém desde que Gabriel estivesse fora do seu caminho para a garota ômega mais popular, ele seria amigável.
Pelo menos em sala de aula Theodore tinha paz. Nicolas estava acordado, por um milagre gigantesco, e sentado perto de si fazendo trabalho. Como sempre sua aura mau humorada mantinham afastadas as pessoas. Infelizmente Gabriel era um adversário a altura que não desgrudara de Theodore também.
E assim o seu dia passou, até mesmo a atmosfera do treino era outra. Os jogadores estavam mais receptivos às opiniões de Theodore, pedindo sua ajuda para o treino de recepção de bola. O ômega chegava a brilhar seus olhos tamanha a felicidade em sentir ser útil para o seu time.
Receber agradecimentos, pedidos de ajuda, cumprimentos ou até mesmo um singelo sorriso amigável era o suficiente para Theodore sentir prazer em existir. Até parecia que não existira um momento da qual desejasse fugir daquele lugar por considerá-lo um inferno.
Caminhando ao lado de Gabriel segurando sua mão, o ômega sorria ternamente. Queria se beliscar por achar estar sonhando demais. Um sonho longo e real.
— Foi um ótimo dia, não é? — Dissera Gabriel, olhando o ômega estando levemente inclinado em sua direção.
— Obrigado, Gabriel.
— Pelo quê?
— Quando eu falei pro time que a gente tava ficando, acabei falando mais por estar ciúmes. — Admitira o ômega, rindo baixo do quão bobo aquelas palavras pareciam ser, agora que foram ditas tão alto — E nem pensei que talvez você pudesse ficar desconfortável.
— Acho que os meninos tinham razão sobre uma coisa. Ficar negando só aumenta o problema. E a gente tem um laço forte, não é?
Theodore concordara com a cabeça.
— Bem forte.
— Então, posso gritar pro mundo inteiro que eu gosto de você.
Se Theodore caísse duro naquele mesmo momento, a culpa seria daquele alfa charmoso de sorriso cavaleiro. O maldito sabia muito bem como usar o seu charme para encantar aquele ômega. No entanto, o loiro não se importava de cair naquela armadilha.
Ele amava Gabriel.
Os dois garotos sorriam um para o outro e voltaram a caminhar saindo da escola. Quando Theodore erguera a cabeça para admirar o pôr do sol, percebera o carro parado na frente com um sujeito alto encostado nele.
Imediatamente seus pés pararam de caminhar quando seus olhos claros se arregalavam em reconhecer aquele sujeito. Gabriel olhara confuso para o ficante, e seguindo seu olhar não reconhecera o sujeito de primeira.
— Há quanto tempo, Theodore.
A mão do ômega ficara gelada no mesmo instante, e a cor sumia de seu rosto. Gabriel não gostara nem um pouco de ver aquela reação tão surpresa, muito menos do nome que escapava dos lábios de Theodore.
— Jake?