Para Gabriel, existia uma única pessoa que era merecedora de toda a sua raiva e ciúmes. Uma pessoa que jamais vira na vida, cujas histórias eram o suficiente para despertar o seu lado possessivo. Não queria ser daquele jeito com Theodore, principalmente quando descobrira ser sua alma gêmea. Só que era incontrolável o desejo de dominar.
De mostrar que ali ele era o alfa.
Vira a foto daquele sujeito no Orkut e o depoimento escrito que nunca abandonara o perfil de Theodore. Parecendo ser uma brincadeira graciosa de duas pessoas que sempre tiveram intimidade. E sempre que tudo parecia ir bem alguém falava aquele maldito nome.
Jake Mckenzie.
Alto, cabelos platinados e olhos claros. Tinha ombros largos e era nítido a sua musculatura mesmo que usasse roupas casuais e folgadas. Gabriel temia que uma briga física o deixaria no chão em segundos, apesar do sujeito estar sorrindo docemente ao se desencostar do carro.
Gabriel apertara a mão de Theodore o puxando para trás, como se o escondesse em suas costas. Seus olhos castanhos se espreitavam para o sujeito, que finalmente notara a sua presença parecendo não compreender a situação.
Como os dois adolescentes não saíram do lugar, fora Jake quem se aproximara com as mãos no bolso e um sorriso angelical no rosto.
— Bem que imaginei que sairiam tarde do treino.
Theodore piscava aturdido ainda descrente de ver aquela pessoa parada na sua frente. O calor que envolvia sua mão o despertara do torpor, e imediatamente o ômega pigarreara tentando se acalmar.
— Hm.. Sim. O que está fazendo aqui?
— Te esperando é claro. — Ria Jake, virando-se para Gabriel. — E esse é...?
Rapidamente Theodore olhara para Gabriel, que em momento algum deixara de fuzilar o platinado com o olhar frio. Até mesmo o ômega se assustara ao perceber a frieza daqueles olhos e a leve ruga que crescia em sua testa. Ainda assim, Theodore apertara seu braço tentando ganhar sua atenção.
— Gabriel. É o nosso levantador.
— Ah, ouvi falar de você. — Sorria Jake estendendo a mão para Gabriel. — Prazer em te conhecer, sou Jake Mckenzie.
O inimigo estava se apresentando com direito a uma aura de verão em sua volta. Era como se ele nem considerasse Gabriel seu inimigo. Vestindo a sua máscara, o alfa abria o seu costumeiro sorriso e apertara a mão do mais velho retribuindo o cumprimento.
— O prazer é todo meu. Ouvi muito a seu respeito desde que entrei na escola e no time. Fiquei curioso pra conhecê-lo.
— Ouviu é? Deve ser tudo mentira. — Ria Jake ao soltar a mão do alfa e voltar a olhar pelo pátio da escola. — Mas parece que nada mudou por aqui. É um tanto quanto nostálgico.
— Disse que estava me esperando. Tem alguma coisa que precise falar comigo?
Jake virou-se para Theodore concordando com a cabeça.
— Na verdade, sim. Se importa de tomar um café comigo? A conversa vai ser um pouco longa.
Theodore olhara de canto para Gabriel e apertara sua mão. O alfa sorria levemente tornando a puxar o ômega para trás de si.
— Sinto muito, mas já prometi levar Theo pra casa. Está ficando tarde.
Jake lançara um olhar afiado para Gabriel, durando apenas alguns segundos antes que ele soltasse uma risada baixa.
— Vim com o carro do meu colega de quarto, então posso deixá-lo em casa em segurança.
Nenhum dos alfas queria ceder, e tampouco prolongar a discussão. Gabriel virou-se para o ômega esperando sua resposta, apesar da confusão estar estampada. Provavelmente estaria procurando uma saída que não deixasse ambos desconfortáveis, mas Gabriel já estava naquele caminho.
Só de saber que aquele sujeito estava na cidade era o suficiente para o seu sangue ferver.
Deveria ser um bom parceiro que não fica em cima de seu ômega o tempo todo? Ou jogaria os panos para o alto e impediria que aqueles dois se encontrassem?
Não precisaria temer aquilo se tivesse mordido Theodore.
Uma lâmpada acendera em sua cabeça, mesmo que contra gosto. Virando-se para Theodore o alfa mantivera sua máscara.
— Se precisam conversar, então está tudo bem. Sei quando não sou necessário.
— Tem certeza?
— Irei pra sua casa de noite, então. Deixe a janela aberta, é tudo o que peço.
Ver as bochechas avermelhadas daquele ômega fora o seu prêmio de consolação, e como se não bastasse o alfa ainda depositara um selar rápido nos lábios de Theodore. Tudo para que o sujeito infeliz pudesse ver, claramente, que aquele ômega era seu.
— Tudo bem então... Acho que devo ir. — Theodore arrumara a bolsa em seus ombros indo para o lado de Jake. — Tem uma cafeteria de uma amiga aqui perto da escola, podemos conversar lá.
— Por mim tudo bem, formiguinha. — Sorria o alfa platinado seguindo o ômega, mas não antes de virar sobre o ombro e lançar um sorriso vitorioso para Gabriel. — Foi bom te conhecer, Gabriel.
Assistir Theodore ir embora com outro cara fora uma tortura para o seu coração. Principalmente por saber que aquele sujeito já tivera intimidade o suficiente com o loiro, ao ponto de ter visto as mesmas coisas bonitas que ele. Gabriel nunca fora fã da competitividade, mas aquele maldito era atraente o suficiente para que Gabriel se sentisse em perigo.
Quando os dois entraram no carro e deixaram a frente da escola, Gabriel finalmente desfizera seu cavaleiro sorriso e fechara as mãos em punho. Chegava a tremer de raiva.
Por que ele teria sorrido daquela maneira, como se estivesse ignorando os claros avisos de que Theodore era seu agora? Que tipo de pessoa seria Jake? Todos o pintavam como alguém legal, um exemplo a ser seguido, mas Gabriel não conseguia ver nada bonito daquele cara.
Indo até a árvore mais próxima, Gabriel começara a socar o tronco descontando a sua raiva independente da dor que sentia nos nós de seus dedos. Só imaginava aquele sujeito corpulento no lugar do tronco, sentindo a necessidade de socá-lo cada vez mais.
— Ei, ei, está se machucando, para com isso Biel!
Milles surgia do lado do alfa segurando seu pulso fortemente. Mesmo assim Gabriel fuzilava aquela árvore odiosamente. Rosnava para ela tendo todo o calor do seu corpo se transformando em labaredas incessantes.
O aperto de Milles sobre seus pulsos eram as únicas forças capazes de impedir aquele alfa de continuar a sua vingança em uma mera árvore. Cuidadosamente Milles virara o amigo para ficar de frente para si, engolindo em seco em ver o quão assustador ele ficava quando enciumado.
— Cara, respire fundo. O que o Theodore vai pensar se ver esses machucados?
— Que ele é mentiroso. — Dizia Nicolas com seu sorriso zombeteiro, parando na frente de Gabriel. — Adoro quando eu tenho razão sobre a podridão de alguém.
— Não fode. — Rosnava Gabriel.
— Devo ligar pro Theo e pedir pra que ele volte aqui só pra acalmar o namorado ciumento dele? Ah, espera, vocês não estão namorando.
— Nicolas cala a boca. — Retalhava o alfa loiro, recebendo um revirar de olhos do mais baixo. — Olha eu já disse pro Jake que o Theodore está contigo. E o meu primo não é baixo de tentar fazer alguma coisa, dá pra confiar.
Gabriel virou os olhos para Milles, arqueando a sobrancelha junto com um sorriso débil em seu rosto.
— Então você sabia que ele tava na cidade.
— Ele tá na minha casa, é claro que eu sabia.
Forçando Milles a soltar seus pulsos, Gabriel passava os dedos sobre os cabelos respirando fundo. Precisava se acalmar, é claro. Havia escolhido engolir seu ciúme para que Theodore não se sentisse sufocado ou então começar uma discussão desnecessária.
— Ainda bem que tenho um ótimo amigo que me avisa dessas coisas.
— Avisar o quê? Olha, sabe o cara que você tem ciumes porque é melhor que você? Então, ele voltou pra cidade. Mas não pira não, viu? — Respondia Nicolas sarcasticamente, cruzando os braços.
— E se ele ainda gostar do Theodore? — Dissera Gabriel para Nicolas. — Eu sei que o Theodore gosta de mim, mas isso não significa que eu fique confortável sobre todo cara que se aproximar dele. Quer dizer...
— Relacionamento é isso, cara. Confiança. — Dissera Milles apertando o ombro do amigo tentando confortá-lo. — Vocês se assumiram pra escola toda, estão juntos há semanas. Só porque um ex apareceu, não significa que deve pirar.
— E por acaso vocês dois confiam um no outro?
— Nem fudendo — Respondera o casal uníssono.
Gabriel revirara os olhos, tornando a acariciar sua testa.
— Que bom que vocês podem servir de exemplo sobre o que não fazer numa relação.
— Ah, minha mão tá coçando. Quero descer o cacete nesse imbecil. — Tornava a reclamar Nicolas antes de avançar em Gabriel segurando sua gola da camisa. — Escuta aqui, principezinho, meu melhor amigo não é uma vadia que pula de cama em cama. Então é melhor você engolir esse seu maldito ciúme e começar a confiar nele, se não faço questão que acorde com a boca cheia de formiga.
Fora necessário uma força esmagadora vinda de Milles para soltar Nicolas de Gabriel.
O alfa sabia muito bem que o outro tinha razão. Estava sendo incoerente com vários posicionamentos seus sobre relacionamento. A questão era se tratar de sua primeira vez. Primeira vez que se relacionava com outro cara. Primeira vez que sentia uma conexão forte junto do desejo insano de tê-lo para si. Primeira vez que se sentia ameaçado por outro alfa...
Como deveria controlar tudo aquilo?
Como seria capaz de controlar aquele ardume infernal que corria dentro de suas veias? Era simplesmente impossível! Onde estava o maldito manual da vida, que poderia ensiná-lo a lidar com situações como aquela? Quando justamente não queria ser aquele tipo de pessoa.
— Converse com ele, ok? — Aconselhava Milles depois de conseguir empurrar Nicolas para longe do outro alfa. — Mas também escute o Theodore terá a dizer. Vocês podem ser a alma gêmea um do outro, mas isso não significa que tudo será flores. Terá que trabalhar duro se quiser que seja.
Estando sozinho na escola, Gabriel suspirava se sentando no chão.
Jake é incrível.
Jake joga bem.
Jake isso e aquilo.
Sempre assombrado por alguém cujo rosto jamais vira pessoalmente. E agora que ele surgira na sua frente, era impossível se sentir seguro.
Não apenas o lado humano de Gabriel era possessivo, mas o seu instinto alfa queria brigar por um ômega. Engolindo seus sentimentos revoltantes, Gabriel escolhera seguir para sua casa.
De maneira alguma deixaria Theodore vê-lo daquela maneira.