A cafeteria estava levemente cheia, mas Theodore ainda conseguira um bom lugar para conversar com Jake.
Apesar de ainda não acreditar que ele estava ali na sua frente. Era um tanto quanto estranho agir amigavelmente depois de seu sumiço um ano atrás. Ainda mais sabendo que fora expulso da família por estar se relacionando com outro garoto.
Não teria guardado rancor de si?
— Vejo que não mudou nada, formiguinha. Estou te deixando nervoso?
— Um pouco. — Admitia o ômega entregando o menu para o alfa. — Não sei bem como agir...
— Estou bem como pode ver. — Ria Jake pegando o menu olhando as opções. Então, abrira um sorriso apontando para um em específico. — Aposto que você pede esse café doce com chocolate e nozes.
— Como sabe? — Questionava Theodore surpreso.
— É o mais doce do cardápio, é claro que seria a escolha de uma formiguinha. — Ria Jake ao fazer o pedido daquele café adocicado para ambos. Assim que o atendente se afastou da mesa, o alfa se apoiou na mesma olhando o ômega. — Por que nunca respondeu minhas mensagens? Pensei que tivesse chateado comigo.
— O que eu poderia dizer? A culpa é minha por ser um ômega.
— Ah, mas esse papo de novo? Quantas vezes eu tenho que te dizer que deveria ser orgulhoso justamente por ser um ômega? Theodore, eu vi que estava feliz junto com aquele cara. Não precisa mais recriminar, seja você mesmo.
— Isso não significa que não trouxe problemas pra você e sua família.
— Assim como a sua. — Jake sorrira quando Theodore finalmente o olhara direito. — Por que não me contou sobre o patrocínio?
— Descobri recentemente também. Na verdade, foi só agora que fiz as pazes com meu pai.
— Ele continua tendo a mão pesada? Caraca, o soco dele não é brincadeira, fiquei sentindo dores a semana toda.
— Nem me fale. Mas ele pediu desculpas e um tempo pra se adaptar. Aconteceu muita coisa nesse meio tempo. — Sorria Theodore timidamente, pouco a pouco ficando mais a vontade com o alfa platinado. — Mas por que voltou à cidade?
— Sendo sincero? Pra ir na cooperativa do seu pai. — Antes que Theodore o questionasse, Jake erguera a mão. — Trabalhei duro pra encontrar alguém que investisse na cooperativa. Pode ser bem menos do que a minha família costumava pagar, mas acho que dá pra ajudar.
— Por quê? Por que quer ir tão longe?
— Isso aconteceu por meus pais não gostarem de eu ter saído do controle deles. É um pedido de desculpas por ter atrapalhado o trabalho do seu pai. É tudo o que posso fazer.
Theodore queria chorar. Seu pai havia dito que lidaria com as questões do trabalho, principalmente a respeito do incidente com o peão. Mais uma vez ele era mantido no escuro sem saber o que estaria acontecendo. Só que agora Jake estava lhe dando uma luz ao fim do túnel.
Se sentira pequeno e impotente. Sem força alguma para reparar os danos como aquele alfa estava decido a fazer. Deveria trabalhar arduamente para ter um bom futuro quando adulto, e dar uma vida digna para seus pais. Até que sentissem orgulho dele.
— É muita bondade a sua, Jake. Você tem mais coragem que eu, pra ser sincero.
Jake estendera a mão segurando a de Theodore, apertando levemente.
— Você também tem sua parcela de coragem. Milles me contou o que tá rolando na escola. Estou orgulhoso de ti, Theodore.
O rubor tomara posse das bochechas de Theodore. Era surpreendente como ele ficava tímido na frente de Jake. Quer dizer, como ele podia dizer aquelas palavras e sorrir tão docemente, deixando nítido o quão verdadeiras eram suas palavras? E ainda, ouvi-las sem sentir envergonhado.
Fora muito sortudo de uma vez ter se relacionado com ele.
— Obrigado, Jake.
Um atendente trouxera os pedidos, e então Jake começara a contar sobre sua vida na capital. Theodore ficara impressionado em descobrir que ele também tivera dificuldade para se estabelecer, já que não tinha dinheiro e apoio algum para ter o que comer. Ao que contava, tivera a sorte de encontrar um trabalho em um bar como garçom, fazendo amigos e conseguindo dividir um apartamento pequeno.
Jake estava estudando para entrar na faculdade, estudar o agronegócio, e por isso tem feito contato com algumas pessoas do meio. Uma delas estaria interessada em investir na cooperativa, sendo o motivo de Jake ter retornado por um tempo.
Como sempre, Theodore não conseguia não se vislumbrar das história de Jake. Era simplesmente fascinante como ele podia sorrir tão animado, mesmo tendo passado por poucas e boas desde o rompimento deles. E ainda tratar Theodore tão docemente.
— Mas chega de falar de mim, quero saber de você. Já vi que está namorando de novo.
Theodore rira coçando a nuca. Era estranho conversar sobre relacionamentos com o seu ex.
— Não estamos namorando, mas ficamos por um tempo. Não que isso importe muito, quer dizer... São rótulos, não?
— Ou seja, você está esperando feito uma pulguinha que aquele cara te peça em namoro, não é?
— Aham.
Os dois riram, já mais confortáveis na presença um do outro.
— Ele parece ser bem ciumento. O jeito que olhou pra mim foi... Assustador. — Dizia o alfa, bebendo um gole do café adocicado. — Isso aqui é bom mesmo.
— Gabriel é ciumento, mas acho que isso é por sermos almas gêmeas.
Jake engasgara com a bebida tendo um acesso de tosse. O ômega pegara alguns guardanapos estendendo para o alfa, que segurou prontamente. Chamando o atendente para pedir água, Theodore esperou o alfa se recuperar pacientemente. Era a reação mais natural, certo?
— Você está bem?
— Estou.. Argh, bem. — Jake puxara a água e bebera antes de respirar fundo finalmente se acalmando. — Uou, isso foi um golpe certeiro. Eu já fiquei surpreso de saber do Milles, mas agora você?
— É estranho, não é? Quer dizer, sentir de repente que aquela pessoa foi destinada a ser seu par.
— Acho que é a primeira vez em que conheço alguém por ter encontrado sua alma gêmea. Faz mais sentido ainda que ele tenha me olhado daquele jeito. — Parecendo se lembrar de alguma coisa, Jake inclinou-se na mesa novamente fitando seriamente o ômega. — Vocês já se morderam?
— É claro que não!
— Imaginei, você sempre foi cuidadoso sobre mordidas. — Encostando na cadeira e cruzando os braços, Jake então suspirou pesadamente. — Quando estava comigo você sempre falou sobre ter medo de se atar a alguém ruim. O que acha desse cara então?
— Gabriel cuida bem de mim, e eu faço meu melhor pra cuidar dele também. Quer dizer, estamos apenas começando então não sei dizer como seremos no futuro.
— Faz sentido... Meu instinto se sentiu ameaçado com ele. — Resmungava Jake. — E ele disse que ia te visitar no quarto hoje a noite, vocês já fizeram...
Theodore apenas concordou com a cabeça, mesmo que as maçãs do rosto ficassem quentes subitamente.
— E não foi forçado. Ele me pediu com antecedência e eu pensei bem antes de aceitar. Não quero que pense que Gabriel me forçou alguma coisa.
— Até porque se ele forçasse certamente seu pinscher de estimação não ia deixar ele vivo.
— Você e o Milles falam iguaizinhos, chega a dar medo.
— Se eu souber que ele te forçou algo, também cairia na porrada. — Avisava o alfa — Aliás... Se aquele cara se sentiu ameaçado comigo, então tem grandes chances dele tentar te morder.
Theodore misturava o chantili com o café quando escutara aquelas palavras, erguendo os olhos claros imediatamente para Jake.
— Como é?
— Se vocês são almas gêmeas, então é natural que o instinto dele o faça te morder. Pra garantir que ninguém toque em seu ômega.
— Gabriel não faria isso. — Dissera Theodore apertando o copo — Ele é paciente e consegue controlar bem seus instintos.
— Assim espero. Por que eu pretendo ficar aqui essa semana, e não vou gostar nem um pouco se aquele cara quiser te afastar de mim por eu ser um alfa.
No momento em que o céu ficara estrelado, Jake levara Theodore para casa assim como prometido. Apesar de continuarem a conversar sobre outros assuntos, o loiro não deixara de pensar a respeito do conselho que o seu ex namorado lhe dera.
Entrando em casa, o ômega ficara mais um tempo com sua família. Brincara com Lisa, que estava manhosa querendo grudar na perna do irmão mais velho para ganhar atenção. Certamente aquele foi outro golpe baixo que Theodore levava de sua fofa irmã.
Após o jantar, ele fora para o seu quarto fazer sua lição de casa e estudar por mais um tempo. É claro que vez ou outra ele escapava sua atenção para o computador para dar uma olhada no Orkut e no MSN, mas não vira Gabriel online.
Queria conversar com ele, sentia necessidade de ser transparente com o alfa. Se contasse a intenção de Jake em estar na cidade, Gabriel não precisaria ficar enciumado, certo? Ao mesmo tempo não queria contar, pra saber o quanto o alfa confiaria em si.
Estar com alguém era completamente diferente dos filmes de romance da qual costumava assistir. Theodore era um mero espectador que tinha todas as informações em mãos, podendo julgar as atitudes dos personagens com clareza. Mas viver um romance era estar limitado à sua verdade.
Correndo o risco de nem ela ser tão verdadeira assim.
O que Gabriel pensava?
O que ele queria?
Será que confiava em si? Ou jogaria o discurso de que não confia no Jake?
Desistindo de estudar, o ômega fora tomar um banho. Demorara debaixo do chuveiro, já que continuara a pensar no assunto. Quando retornara vestindo apenas a calça de moletom do seu pijama, Theodore se assustara em ver Gabriel pendurado na árvore do vizinho espiando seu quarto.
Esquecera de abrir a dita janela?
Rapidamente ele fora abrir e ajudar o alfa a entrar em seu quarto, sentindo o cheiro de Gabriel invadir o cômodo e acalmar seus nervos.
— Desculpa, eu devo ter esquecido de abrir a janela — Sussurrava o ômega olhando surpreso para o ficante.
— Tudo bem, na verdade eu... Uau.
Inclinando a cabeça sem compreender, Theodore olhara para si mesmo notando estar sem camisa. Gabriel ficara ruborizado desviando o olhar, um tanto quanto gracioso na opinião de um certo ômega. Até ponderara em ir pegar uma camisa, mas optara por ficar daquele jeito mesmo.
— Na verdade o quê?
— É... Eu não ia vir, mas aqui estou eu.
Theodore ria da tentativa falha de Gabriel não olhá-lo, conseguia notar suas espiadas de canto para seu corpo. Ora essa, ele não era magro como Nicolas, mas também não chegava a ser corpulento como Milles e Jake. Um tanto quanto fortinho com a barriga lisa.
Em meio a sua diversão em presenciar o ficante tão encabulado, Theodore notara os machucados na mão de Gabriel. Segurando seu pulso com delicadeza, o ômega olhava de perto as feridas.
— Por que está machucado? Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade eu soquei uma árvore. — Admitia o alfa, sem retribuir o olhar do ômega.
Puxando Gabriel para se sentar em sua cama, Theodore fora até a sua cômoda atrás de uma pomada. Quando se sentou ao lado dele, espalhara a pomada sobre a ferida com todo esmero.
— Por que fez isso? Olha só o estado da sua mão...
— Eu fiquei com ciúmes. — Dissera baixo, e dessa vez um retribuía o olhar do outro. Gabriel aproximou seu rosto do ômega, tendo poucos centímetros distanciando seus lábios quando ele sussurrara — Theo, eu quero muito te morder agora.