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Chapter 118 - Pedido de namoro

Ter uma mordida era tão importante quanto perder sua virgindade ou se casar com alguém. As pessoas tomavam cuidado quando se tratavam daquele assunto, buscando não se morder tão levianamente por ser um vínculo que duraria a vida inteira. A maioria dos casais, mesmo tendo uma vida conjugal com filhos, não se mordiam já que sabiam não serem almas gêmeas.

Houveram casos de ômegas serem mordidos contra sua vontade. Alfas dominadores que se tornavam obcecados por seus parceiros, tiravam sua liberdade ao forçar um vínculo criado. Suas vidas jamais seriam as mesmas quando tivessem em uma situação tão assustadora. Toda mãe que se preze ensina aos seus filhos a importância de se protegerem de alfas, ou de qualquer outra pessoa durante o seu cio.

A vida não era tão bela para os ômegas. Principalmente os garotos ômegas.

Por esse motivo Theodore sempre deixara claro, tanto para Jake quanto para Gabriel, que não gostaria de ser mordido. E mesmo o último sendo sua alma gêmea, o ômega não deixava de ter receio. Afinal, se conheceram naquele ano.

A mão do loiro ficara gelada no mesmo instante em que ouvira aquelas palavras. Mesmo tendo Gabriel tão perto de si o olhando diretamente nos olhos enquanto quebrava a distância, Theodore estava em uma luta interna. Queria fugir ao mesmo tempo que desejava permanecer.

Virando o rosto para romper aquela proximidade, o ômega franzia a testa. Assim como Jake havia dito mais cedo, Gabriel desejaria mordê-lo para mostrar que ele já tinha um alfa. Protegeria a pessoa que tornara sua. Um gesto egoísta.

— Por que tão de repente? Até agora nem ponderou essa ideia.

— Porque estou com ciúmes. — Respondia Gabriel, segurando a mão de Theodore e buscando seus olhos — É a coisa mais estranha sentir que a pessoa que você gosta pode ser perdida, porque alguém mais bonito ou interessante surgiu.

Ele queria mordê-lo. Theodore já sentia suas pernas tremerem levemente e o seu estômago começara a se revirar de ansiedade. O que deveria fazer? Como poderia lidar com aquela situação? É claro que o seu instinto ômega parecia dar vários pulinhos de felicidade, já que o seu alfa queria marcá-lo. Era natural. Mas o lado humano de Theodore racionalizava se negando a entregar tudo de bandeja.

Gabriel soltara a mão de Theodore para acariciar seu rosto, tendo os olhos claros finalmente sobre os seus. Abrindo um fino sorriso, ele mantivera uma distância segura do ômega, apesar de ainda tocá-lo.

— Eu não vou te morder, Theo. Eu desejo, e muito, fazer isso só pra me sentir seguro. Mas eu sei que você não quer as coisas desse jeito. — Sorria o alfa ouvindo Theodore suspirar aliviado, apesar de ainda permanecer tenso — Tentar o meu melhor pra não te dominar não significa que eu não queira. Só saiba que estou lutando contra meus instintos e isso é difícil, mas o faço porque eu gosto de você.

Soltando o ar preso em seus pulmões, Theodore deixara sua mão sobre a de Gabriel apertando seus dedos. Virou o rosto para selar sua palma, tornando a esfregá-la em sua bochecha.

Que tolo.

Muito tolo.

Era assim que confiava em Gabriel?

Com qual convicção havia usado para defendê-lo quando Jake avisara que ele tentaria mordê-lo? Onde estava ela agora mesmo? Duvidara do seu alfa.

Theodore simplesmente se sentia envergonhado.

— Estou vendo que foi difícil, olha só o estado da sua mão. — Voltando a olhar as feridas, Theodore balançava a cabeça. — O que você sentiu é um pouco do que passei todo esse tempo te vendo com a Sadie.

Gabriel erguera o rosto para o ômega, o observando voltar a cuidar de sua ferida. Sua expressão suavizara, e agora ele sorria levemente.

— Você se sentiu desse jeito?

— Gosto de você desde o primeiro trabalho que fizemos juntos na biblioteca. — Admitia o ômega, dando uma espiada no alfa só admirar o leve rubor em suas bochechas — Gostar de um cara que se acha hétero é um saco.

— E você já quis me morder? — Quis saber o alfa, tendo Theodore parado o que fazia para refletir.

— Acho que desde que Nico mordeu Milles eu fico pensando sobre o assunto. Talvez seja mais presente quando estamos juntos fazendo...

Gabriel soltara um riso baixo quando o ômega ficara envergonhado subitamente. Segurando sua cabeça para encostarem suas testas, o alfa não deixara de apreciar aquele ômega tão belo.

Estava prestes a beijá-lo, para mostrar que tudo estava bem entre eles, quando a porta do quarto fora subitamente aberta com a presença de duas pessoas.

— O irmãozão está bem aqui, não precisa chorar...

Os dois adolescentes se viraram surpresos para o homem alto de cabelos ruivos que segurava uma pequena garota chorona de cabelos loiros e olhos claros. O silêncio anunciava o processamento de informações constrangedoras que o momento proporcionava aos três mais velhos.

Até que Lisa voltasse a chorar escapando dos braços do pai para correr até o irmão mais velho.

— Irmãozão! — Chorava a pequenina dando a volta na cama para ir até Theodore, ignorando por completo a presença do alfa no quarto.

Estendendo os bracinhos, Lisa pulara nas pernas de Theodore que a segurou a pegando no colo.

— Por que está chorando? Aconteceu algo?

— Um bicho entrou em casa pra levar embora o meu irmãozão!

Lisa agarrou-se no pescoço de Theodore, continuando a chorar. O ômega olhara de relance para Pete, que cruzava os braços fuzilando Gabriel com o olhar.

Jamais imaginara que pela segunda vez seria pego no flagra em um quarto com um alfa. A sua sorte era de que estavam fazendo nada demais.

— É...

— Estarei esperando lá em baixo. — Dissera Pete espreitando os olhos para Gabriel. — E vista uma blusa, Theodore.

Saindo do quarto, Pete deixara a porta aberta como um claro sinal de que aqueles dois não deveriam fazer gracinhas. Principalmente ao deixar Lisa no quarto. Os dois jovens trocaram olhares e suspiravam envergonhados pela situação.

— Eu te trouxe problemas, não é?

— Iriam descobrir mais cedo ou mais tarde. Pode pegar uma camisa pra mim, por favor?

Enquanto Gabriel levantou-se da cama para ir até o armário, Theodore ajeitava a irmã no colo tentando acalmá-la. Lisa estava manhosa nos últimos tempos, sempre grudada no irmão e sendo ciumenta. Até mesmo chegara um dia em que sentira o cheiro de Gabriel nas roupas do ômega.

Agora que o dito alfa estava justo ao seu lado, ela não desgrudava de seu amado irmão.

— O irmãozão está aqui, não precisa chorar, hm? Calma, calma.

— Ela é a sua cara — Comentara Gabriel ao estender a camisa.

— Puxamos nossa mãe, apesar de Lisa ser uma beta. — Dizia Theodore sentando a irmã no seu colo. — Deixa eu vestir a camisa rapidinho, Lisa.

— Não! — Respondia a garota afundando seus dedinhos nos ombros de Theodore e se negando a soltá-lo.

— Lisa, o irmãozão está com frio. Preciso me vestir se não fico dodói.

A fala mansa surtira efeito. A garotinha soltara o irmão formando um bico manhoso nos lábios, mas quando Theodore passara a camisa por seu braço direito, a garotinha se agarrou nele. Fora necessária a ajuda de Gabriel pro ômega terminar de se vestir e assim os dois deixarem o quarto.

Enquanto desciam as escadas, Gabriel olhava curioso para Lisa. Ela o encarava ainda com bicuda, deixando claro os ciúmes que sentia. Mas para o alfa era impressionante a semelhança entre os irmãos. Ela era uma versão feminina e infantil de Theodore.

Lindinha.

Gabriel não deixara de sorrir com o próprio pensamento. E seu sorriso gentil, mas genuíno, parecera quebrar uma barreira já que Lisa ficara envergonhada desviando os olhos.

Chegado na sala onde Pete os esperavam, os dois meninos se sentaram lado a lado no estofado reparando na tentativa, falha, do beta em parecer bravo.

— Ahn... Esse é meu padrasto, Pete. — Apresentava Theodore, um tanto quanto encabulado. — Pete, esse é Gabriel.

Os olhos de Pete se arregalaram de imediato.

— Gabriel? O Grabriel? — Recebendo um olhar desesperado e recriminador de seu enteado, Pete pigarreara voltando a sua pose séria. — Como entrou no quarto do meu filho?

— Pela janela, senhor. Peço desculpas por meu comportamento inadequado.

Pete espreitou os olhos para Theodore. O garoto falava bem, o que era um belo golpe baixo. Theodore segurava a irmã no colo, que continuava a observar Gabriel. Não sabia a quem dar atenção para o padrasto ou para a irmã enciumada.

— Estávamos só conversando, Pete. Na verdade, eu estava justamente cuidando da mão dele.

— Por acaso minha casa virou unidade de saúde?

Até mesmo Theodore ficara surpreso com a resposta ríspida de Pete. Nenhum dos meninos tivera a ousadia em respondê-lo.

— Ainda bem que fui eu quem entrou no quarto. Se fosse a sua mãe...

Gabriel paralisara no mesmo instante. Por acaso a mãe de Theodore era brava? Será que ela implicaria com eles? Brigaria com o ômega? Gabriel não queria deixar o ficante com mais problemas além daqueles. Viera ali só pra ser sincero, nada além disso.

— Nem brinque com isso. Onde ela está?

— Tomando banho, é claro. Olha, meu jovem, recomendo uma saída segura pela porta dos fundos. — Dizia Pete apontando para a cozinha. — Vai ser bom para a sua vida.

— O quê?

O desespero ficara mais nítido no semblante de Gabriel. Que situação era aquela?

Mas mal tivera tempo de se mover. Uma mulher usando roupão florido aparecera nas escadas esticando o pescoço para saber o que acontecia na sala. O cheiro dela já anunciava sua chegada, deixando Theodore e Pete calados e paralisados.

Era a primeira vez que via o ômega tão tenso. E o alfa só poderia imaginar que a mulher brava havia chego.

— Ué, temos visitas?A essa hora?

Theodore olhara para o padrasto em um pedido de ajuda, mas ele apenas negara com a cabeça. Revirando os olhos, Theodore coçara a nuca apontando para o alfa sentado ao seu lado. Não tinha jeito, a verdade teria de ser dita agora que ela chegara.

— É o Gabriel...

Num rompante a mulher descera as escadas, correndo em direção da sala atropelando o estofado e o tapete para chegar perto dos meninos. Gabriel assustou-se com a rapidez que ela havia chegado até si, ficando perto o suficiente para avaliá-lo.

E assim como se surpreendera ao ver a menininha, notava que Theodore havia herdado os traços de sua mãe. A genética era algo fantástico naquela casa.

— Você é Gabriel, então... Finalmente.

— Perdão... Como é?

— Mamãe, por favor....

— Tarde demais Theodore, ela vai começar.

A mulher loira segurou as mãos de Gabriel o fitando-o com um brilho nos olhos.

— Finalmente te conheci. Ah, o famoso Gabriel. Só pude te ver de longe, já que Theo não me permite sair do carro quando o deixamos no ginásio.

— Ela tá me dedurando? — Reclamava Theodore para o padrasto.

— É só o começo, você sabe disso. — Respondia o beta, coçando a nuca.

— A-Ah... Então já ouviu falar sobre mim?

— Theodore é tímido demais, mas vejo que não mentiram quando disseram que era um rapaz bonito. E um alfa. Oh, veja só sua mão, que lástima... Querido, onde está os primeiros socorros?

Gabriel lançara um olhar desesperado para Theodore, tendo o ômega umedecendo os lábios ao se preparar psicologicamente para a batalha árdua que começaria.

— Eu já passei pomada na mão dele, mamãe.

— Mas é claro! Mas tem que cuidar bem disso, não deve machucar sua mão, se não como vai segurar a do meu filhote? Não pode!

Piscando aturdido, Gabriel não sabia para quem olhar. Por outro lado, Theodore queria se fundir ao estofado fingindo ser um avestruz para escapar daquele constrangimento.

— Querida, acho que devemos nos atentar a questão de que alguém entrou secretamente em nossa casa.

— É mesmo? Por onde entrou?

— Pela janela, senhora. Mas eu...

— Como? Não tem como passar pela janela...

— Ele usou a árvore do vizinho. — Dissera Theodore, desistindo de remediar a situação. Era melhor dizer a verdade até que a empolgação dela terminasse.

A mulher beta sufocou um grito, indo para o lado do marido o chacoalhando pelo braço.

— Temos de agradecer o vizinho! Eu sabia que era uma boa ideia ele ter aquela maldita árvore.

— Mês passado você estava reclamando da sujeira que faz na calçada, e agora quer enaltecer.

— Não seja assim, querido. Veja só o benefício que ela nos trouxe. Finalmente conhecemos o namorado do nosso Theodore.

Theodore e Gabriel entreolharam-se e enrubesceram, para a euforia de uma certa mamãe. Eles disfarçavam, ou tentavam, a relação que tinham, mas o faro daquela mulher era astuto demais. Theodore queria contradizer, já que a relação não fora oficializada. No entanto, Gabriel se arrumara no estofado erguendo os ombros ao segurar a mão do ômega.

— Eu sinto muito por ter demorado em vir me apresentar formalmente. Mas espero que possam dar o consentimento para que eu namore o seu filho.

Gabriel Jones deveria ser preso pela polícia. Preso por deixar aquele ômega completamente sem palavra e ainda mais apaixonado. Era a primeira vez que alguém se apresentava para sua família e fazia um pedido formal para namorar.

Quando via aquele tipo de cena acontecer nos filmes românticos que tanto adora, Theodore invejava as protagonistas. Quão sortudas elas eram por atraírem rapazes corajosos de enfrentar os futuros sogros para fazer um pedido daqueles. Não seria um claro sinal de que estavam sérios sobre sua relação?

Agora aquilo acontecia consigo.

E Theodore estava boquiaberto.

— Vocês ainda não estavam namorando? Mas aqueles dias em que o Theodore ficou sem vir pra casa...

— Ora, isso não quer dizer que está querendo assumir a responsabilidade do que fizeram?

O olhar afiado de sua mãe arrepiara a pele do ômega. Agora ela sabia que seu filho tivera relações sexuais com uma pessoa que nem era seu namorado. Certamente a palestra sobre os cuidados que um ômega deveria ter seria dada mais tarde, ou ao longo da semana.

— Na verdade eu esperava fazer mais apropriado. — Dizia Gabriel coçando a nuca. — Como Theo gosta de romantismo, talvez um jantar ou um piquenique. Mas... Já que conheci vocês, é melhor aproveitar a oportunidade.

Gabriel entrelaçara os dedos aos de Theodore, fazendo o coração do ômega acelerar e seu cheiro ficar evidente. Como o amava. Pelos céus, como o amava. Alguém seria capaz de explicar como seria capaz de um mero adolescente ter tantos sentimentos guardado e direcionado para outra pessoa? Eram muitos, em grandes quantidades.

— Acho que não tem como negar quando se tem essa visão. — Comentava a mulher deitando a cabeça no ombro do marido, ao ver o filho daquele jeito. — Por mim tudo bem.

Pete suspirava ao passar o braço em volta dos ombros da esposa a abraçando.

— Se vai fazer o nosso filho feliz, então não vejo problemas.

Theodore queria começar a chorar de emoção. Tinha a melhor família, e agora um namorado. Olhando para Gabriel, o ômega sorria mostrando suas presas ao ter sua mão beijada pelo alfa. Se ele não tinha vergonha alguma de assumir a relação na frente da escola, parece que o mesmo se aplicava para os seus pais.

— Nós também! Nós também! — Repentinamente dissera Lissa, sorrindo docemente mostrando a primeira janelinha entre seus dentes.

— Nós? Quem seria nós, minha filha?

A garotinha balançara a cabeça esfregando as bochechas na barriga de Theodore, sem responder a sua mãe. Mirando os olhos azulados para o alfa, ela segurou a mão dele que ainda estava unida ao do ômega, e puxara para fazer parte do seu abraço.

— Sabia que o irmãozão gosta de pipoca com chocolati?

Gabriel soltara um riso baixo ao notar ser aceito por aquela família, o alfa inclinou-se na direção da garotinha.

— Combina com ele, não é?

— Combina! Combina! — Dizia alegre uma Lisa.

Mais tarde, Gabriel estava se despedindo para voltar à sua casa. Levando-o para o portão, Theodore segurara seu braço ainda sem estar preparado para se despedir. Queria ficar com ele mais um pouco, aproveitar sua presença e sentir seus toques. Sentir o seu cheiro.

— Obrigado por ter vindo. E por tudo o que faz por mim.

Gabriel compreendera os significados daquelas palavras, retrocedendo alguns passos para abraçar o ômega e selar seus lábios adocicados.

Sob o céu estrelado daquela noite de outono, Theodore Moss receberia as palavras mais aguardadas desde o momento em que se apaixonara pelo aluno transferido. Palavras essas que faziam seu coração acelerar e um sorriso brotar em sua face.

— Eu te amo, Theo.

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